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3 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

3.4 O estudo de interesse/desinteresse dos alunos pelas aulas de

3.4.3 A condição do aluno

É necessário que as pesquisas em educação mostrem o outro sentido da relação professor-aluno. É preciso que busquemos a compreensão daquilo que o aluno pensa, faz, fala, gosta, não gosta, quer ou não quer. Por vezes, inclusive, a livre manifestação dos alunos em sala de aula cria problemas para determinados professores. Alunos criativos costumam ser um problema para os professores. Eles podem dar respostas inesperadas e fazerem perguntas embaraçosas (WOODS, 1999).

Essa situação de constrangimento do professor criado pela atitude crítica, curiosa, inquisitora e questionadora do aluno tem também razões ancoradas em estratégias tradicionais e que precisam ser investigadas. Roden (2010) afirma que

[...] tradicionalmente, alguns professores consideram as questões dos alunos em relação à ciência uma ameaça para sua autoridade e para seu próprio conhecimento e entendimento, e não um aspecto da aprendizagem que deve ser estimulado. Embora atualmente haja maior compreensão, ainda é verdade que alguns professores têm medo das questões de seus alunos em temas com os quais se sentem menos confiantes. Com frequência, isso se deve às percepções dos professores de que devem responder todas as perguntas que lhe fazem, refletindo uma visão equivocada do professor como a “fonte de todo conhecimento” (RODEN, 2010, p. 67).

Nesse trecho, fica claro que o interesse que o aluno pode ter pela aula pode ser desprezado pelos professores que ainda se consideram como o centro do processo de aprendizagem e fontes únicas do saber. A consideração desse interesse para iniciar uma atividade pode ser garantia do envolvimento do educando. Entretanto, cabe salientar, o aproveitamento desse interesse deve ser o ponto de partida para um trabalho, e não o único trabalho (MORAES; RAMOS; GALIAZZI, 2004).

Moraes, Ramos e Galiazzi, (2007) complementam essa abordagem da relação professor-aluno, o questionamento, dizendo que

[...] trabalhar em torno de problemas e de desafios significativos é necessário e essencial para a aprendizagem. Isso pode ser encaminhado pela conexão dos questionamentos com o conhecimento de partida dos participantes e pela derivação das perguntas a serem respondidas do cotidiano dos alunos (MORAES; RAMOS; GALIAZZI, 2007, p. 206).

3.4.3.1 As questões internas dos alunos

Na análise do interesse/desinteresse dos alunos pelas aulas de Química é essencial que se olhe para as questões internas dos alunos, para suas condições sociais, emocionais, psicológicas e cognitivas.

Inicia-se essa análise considerando a capacidade que o aluno tem de pensar e entender as coisas. Não é aceitável a ideia de que os alunos não possam compreender aquilo que o professor tenta lhe ensinar. Talvez o aluno não consiga compreender exatamente aqueles conceitos escolhidos pelo professor, mas certamente terá competência para compreender a outros conceitos. O ato de pensar, de raciocinar e buscar soluções a problemas é difícil e lento. Quando o aluno consegue sua recompensa resolvendo problemas ou solucionando questões, acredita que seu esforço intelectual valeu a pena. Se, após pensar e se relacionar com os colegas, o aluno mesmo assim não conseguir resolver suas questões, poderá considerar que não valha a pena aprender e nem ir à escola. Talvez outras tarefas possam ser mais recompensadoras do que estudar. A frustação a que pode chegar o aluno após ver seu esforço não recompensado também é forte agente desmotivador na escola. Segundo Marchesi,

[...] Um aluno pode fazer um esforço para prestar atenção a uma explicação e, no entanto, não se inteirar de nada. Quando o aluno se dá conta que seu esforço não adianta de muito, costuma chegar à conclusão de que não vale a pena e, em consequência, deixa de prestar atenção. (MARCHESI, 2006, p. 33)

Talvez essa incapacidade de transformar seu esforço em sucesso escolar possa ser representada pelo desinteresse pelas aulas. Quando o aluno percebe que, ao menos minimamente, pode compreender os conteúdos e transformar as ideias mostradas pelo professor em suas próprias ideias; quando percebe que os conteúdos trabalhados podem ser atrativos e ter alguma vinculação com sua vida, seu cotidiano, seu interesse pelas aulas aumenta. Entretanto, reconhecer que os

conteúdos servem somente para que sejam lembrados em uma prova, desmotiva os estudantes.

Percebem-se diferentes interesses nas relações entre alunos, professores e escolas. Escola e professores esperam que o aluno desenvolva competências que não estão nos interesses desses alunos; os alunos esperam da escola características que essa não irá lhe dar; os professores esperam dos alunos competências que estes não estão prontos a desenvolver e que são diferentes daquelas que a escola exige desses mesmos alunos.

Pozo (2009) argumenta que as escolhas do professor têm influência no interesse dos alunos e, em consequência, em sua aprendizagem:

[...] a forma de organizar as atividades de ensino/aprendizagem seleciona e reforça certas atitudes nos alunos, mas na maior parte dos casos não há um propósito explícito de ensiná-las. Contudo, mudar isso que os alunos trazem consigo, que é incompatível com o conhecimento científico ou com a aprendizagem, requer tornar explícito o currículo de atitudes. (POZO, 2009, p. 30)

A idade e o grau de desenvolvimento pessoal e intelectual dos alunos exercem influência sobre o interesse dos alunos. Os estudantes têm seus próprios objetivos e estabelecem atitudes que nem sempre beneficiam seu aprendizado. A escola pode ter participação nos problemas pessoais do aluno. Suas dificuldades na aprendizagem escolar podem desencadear questões emocionais e de conduta na própria escola. Quando os alunos se desmotivam pela aula, começam a apresentar atitudes inadequadas em relação ao estudo das ciências. Ao invés de fazerem suas próprias perguntas e buscarem suas próprias respostas, os alunos satisfazem-se em recebê-las sem esforço. Nesse sentido, passam a considerar sua própria aprendizagem como ação individual e não coletiva.