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5. CAPÍTULO 3 PRODUÇÃO DE MUDAS DE ESPÉCIES ARBÓREAS

5.3 MATERIAL E MÉTODOS

5.4.5 Condição foliar dos indivíduos sobreviventes

Considerando os fragmentos conjuntamente (geral), 23,5% dos indivíduos perderam as folhas uma semana após o transplante, enquanto a maior parte (76,5%) as manteve. Nenhum indivíduo inseriu folhas novas devido ao curto período de tempo (uma semana). Na avaliação realizada 3 meses após o transplante, a maior parte dos indivíduos (72,4%) inseriu folhas novas, e uma minoria (aproximadamente 7%) mantiveram somente as folhas cortadas. Na avaliação realizada após 6 meses, aproximadamente 76% dos indivíduos inseriram novas folhas, os quais foram considerados como vivos (Tabela 15).

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TABELA 15: Condição foliar do total de indivíduos resgatados em Floresta Estacional Semidecidual (Carandaí, MG) e transplantadas em viveiro (Viçosa, MG). Sendo: N = valor absoluto; % = valor relativo.

Geral Fragmento médio

Fragmento inicial Avaliação* Situação das

folhas ** N % N % N % Perdeu 227 23,5 111 17,8 116 33,9 A0 Manteve 739 76,5 513 82,2 226 66,1 Inseriu 0 0,0 0 0,0 0 0,0 Perdeu 201 20,8 141 22,6 60 17,5 A3 Manteve 66 6,8 60 9,6 6 1,8 Inseriu 699 72,4 423 67,8 276 80,7 Perdeu 218 22,6 163 26,1 55 16,1 A6 Manteve 17 1,8 15 2,4 2 0,6 Inseriu 731 75,7 446 71,5 285 83,3 Total 966 100 624 100 342 100

Sendo: *A0 = uma semana após transplante para o viveiro, A3 = 3 meses após transplante, A6 = 6 meses após transplante; **Perdeu = planta sem folhas, Manteve = planta manteve folhas (somente as cortadas), Inseriu = planta inseriu folhas novas.

A comparação entre os fragmentos indicou diferença entre as proporções da situação das folhas em todas as avaliações realizadas (avaliação 0 meses: χ² = 31,972, p = 0,0000; avaliação 3 meses: χ² = 27,782, p = 0,0000; avaliação 6 meses: χ² =18,127, p = 0,0001). A perda de folhas na primeira semana após o transplante foi superior para os indivíduos provenientes do fragmento inicial quando comparado ao fragmento médio. No entanto, na avaliação realizada 3 meses após o transplante, melhor recuperação dos indivíduos ocorreu no fragmento inicial (menor perda e manutenção de folhas, com maior inserção destas). Na avaliação realizada após 6 meses, os indivíduos oriundos do fragmento inicial continuaram a apresentar melhor recuperação, proporcionando a maior taxa de sobrevivência, provavelmente devido a este fragmento ter maior quantidade de pioneiras, que comprovadamente apresentam maior sobrevivência (GONÇALVES et

al., 2000; VIANI, 2005; VIANI & RODRIGUES, 2007; VIANI et al., 2007).

A comparação entre as espécies (≥ 10 indivíduos sobreviventes) apresentou comportamento diferenciado. Algumas espécies perderam facilmente suas folhas na primeira semana após o transplante, inserindo folhas novas posteriormente, enquanto outras mantiveram suas folhas (Tabela 16).

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TABELA 16: Condição foliar das principais espécies (≥ 10 indivíduos sobreviventes) resgatadas em Floresta Estacional Semidecidual (Carandaí, MG) e transplantadas em viveiro (Viçosa, MG).

Avaliação*

A0 A3 A6 Espécie

Situação (%)** Situação (%) Situação (%)

P M I P M I P M I

Bauhinia forficata Link 43,4 56,6 0,0 18,9 0,0 81,1 17,0 0,0 83,0

Campomanesia guaviroba (DC.) Kiaersk. 8,7 91,3 0,0 4,3 0,0 95,7 0,0 0,0 100,0

Casearia decandra Jacq. 10,0 90,0 0,0 0,0 10,0 90,0 0,0 0,0 100,0

Casearia sylvestris Sw. 6,7 93,3 0,0 0,0 0,0 100,0 0,0 0,0 100,0

Croton floribundus Spreng. 41,7 58,3 0,0 25,0 0,0 75,0 25,0 0,0 75,0

Cupania vernalis Cambess. 20,8 79,2 0,0 20,8 0,0 79,2 8,3 0,0 91,7

Machaerium acutifolium Vogel 15,4 84,6 0,0 3,8 0,0 96,2 0,0 0,0 100,0

Machaerium nyctitans (Vell.) Benth. 20,8 79,2 0,0 2,1 0,0 97,9 2,1 0,0 97,9

Myrceugenia rufescens (DC.) D. Legrand & Kausel 33,3 66,7 0,0 6,7 6,7 86,7 0,0 6,7 93,3

Myrcia splendens (Sw.) DC. 5,1 94,9 0,0 5,1 25,6 69,2 0,0 2,6 97,4

Nectandra oppositifolia Nees & Mart. 0,0 100,0 0,0 3,3 6,7 90,0 0,0 0,0 100,0

Ocotea sp. 1 0,0 100,0 0,0 4,0 36,0 60,0 0,0 16,0 84,0

Piptadenia gonoacantha (Mart.) J.F. Macbr. 51,2 48,8 0,0 20,6 0,5 78,9 22,0 1,0 77,0

Platypodium elegans Vogel 9,1 90,9 0,0 18,2 0,0 81,8 0,0 0,0 100,0

Psychotria sessilis Vell. 11,5 88,5 0,0 0,0 15,4 84,6 0,0 3,8 96,2

Rapanea ferruginea (Ruiz & Pav.) Mez 3,4 96,6 0,0 5,1 6,8 88,1 3,4 1,7 94,9

Vernonia diffusa Less. 7,1 92,9 0,0 0,0 7,1 92,9 0,0 7,1 92,9

Média 17,0 83,0 0,0 8,1 6,8 85,1 4,6 2,3 93,1

*A0 = uma semana após transplante para o viveiro, A3 = 3 meses após transplante, A6 = 6 meses após transplante; **P = Perdeu (plântula sem folhas), M = Manteve (plântula somente manteve folhas cortadas), I = Inseriu (plântula inseriu folhas novas).

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A perda de folhas é uma das muitas medidas funcionais desencadeadas pelas plantas para sobreviverem em condições de estresse (TROVÃO et al., 2007).

Piptadenia gonoacantha destacou-se por ser a espécie em que mais da metade dos

indivíduos que sobreviveram perderam as folhas ainda na primeira semana de transplante; entretanto, recuperou-se, sendo que 77% dos indivíduos desta espécie inseriram folhas novas até a avaliação final. Bauhinia forficata e Croton floribundus também apresentaram valores de perca de folhas consideráveis (superior a 40%), recuperando-se posteriormente. No outro extremo, Nectandra oppositifolia, Ocotea sp.,

Rapanea ferruginea, Myrcia splendens, Casearia sylvestris e Vernonia diffusa são espécies que apresentaram menores perdas de folhas após o transplante. Essas últimas foram descritas por Lorenzi (2002) por apresentarem folhas rijas, persistentes, coriáceas ou sub-coriáceas, fator que pode explicar esse comportamento.

A comparação entre os valores médios mostrou predomínio da manutenção de folhas na primeira avaliação (0 meses). No entanto, a emissão de folhas novas (fator levado em consideração para avaliar um indivíduo vivo) foi significativa nos três primeiros meses após o transplante para o viveiro, sendo que 85,1% dos indivíduos que permaneceram vivos emitiram folhas novas. Entre o terceiro e o sexto mês de transplante; contudo, a taxa de inserção de folhas novas foi de apenas 8% (Figuras 33 e 34).

FIGURA 33: Comparação da condição foliar das principais espécies sobreviventes resgatadas em Floresta Estacional Semidecidual (Carandaí, MG) e transplantadas em viveiro (Viçosa, MG). *Barras seguidas pela mesma letra, para a mesma avaliação, não diferem estatisticamente entre si pelo teste t, ao nível de 5% de probabilidade de erro.

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FIGURA 34: Comparação da condição foliar das principais espécies sobreviventes resgatadas em Floresta Estacional Semidecidual (Carandaí, MG) e transplantadas em viveiro (Viçosa, MG). *Barras seguidas pela mesma letra, para a mesma situação, não diferem estatisticamente entre si pelo teste t, ao nível de 5% de probabilidade de erro.

Esses resultados vão ao encontro dos estudos realizados por Viani (2005) e Viani & Rodrigues (2007), pois observaram que, além de maior taxa de mortalidade, maior porcentagem dos indivíduos sobreviventes emitiram folhas no período de 3 meses após o transplante, diminuindo nas avaliações seguintes. Ao compararem a percentagem de emissão de folhas com as classes de altura, esses autores notaram que indivíduos de menor porte (até 10 cm de altura) responderam de forma mais rápida ao transplante, ou com rebrota e emissão de folhas novas, ou com a morte. Indivíduos maiores (entre 11 e 30 cm de altura), por sua vez, permaneceram por um tempo num estado de latência, murchando e perdendo suas folhas, sem rebrotarem, mas ao mesmo tempo sem darem indícios de estarem mortos.

133 5.5 CONCLUSÕES

O fragmento florestal de estádio médio apresentou comparativamente maior número de indivíduos e de espécies que o fragmento de estádio inicial, apesar da mesma área amostral, o que é explicado pelo avanço do processo sucessional.

A sobrevivência das plântulas, considerando a média de ambos os fragmentos, foi de 79,3%, sendo estatisticamente superior no fragmento de estádio inicial, possivelmente por este apresentar maior número de indivíduos de espécies pioneiras, os quais apresentam maior taxa de sobrevivência quando comparados aos de não-pioneiras. Altas taxas de sobrevivência foram observadas principalmente em espécies pioneiras, mas algumas não-pioneiras também tiveram alta sobrevivência, apresentando- se variável quando as espécies são comparadas individualmente, o que é justificável pelas suas características intrínsecas.

Plântulas com altura superior a 40 cm apresentaram menor taxa de sobrevivência, motivo pelo qual não devem ser resgatadas. Além disso, indivíduos grandes exigem maiores esforços para sua retirada, problemas de espaço e transporte, maiores recipientes com maior volume do substrato, e conseqüente aumento do custo da restauração florestal.

Considerando as principais espécies resgatadas, algumas se destacaram por apresentar maior crescimento em altura no viveiro, assim como outras pela secagem de sua parte aérea, com posterior rebrote.

O período representado pelos primeiros 3 meses após a transferência para o viveiro é o mais crítico para a sobrevivência das plântulas. Neste período, indivíduos de pequeno porte respondem de forma mais rápida ao transplante, ou com rebrota ou com a morte.

Portanto, resgate de plântulas de áreas naturais para viveiro é uma alternativa simples e viável de produção complementar de mudas de espécies nativas com alta diversidade, eliminando etapas difíceis de serem executadas no processo de produção de mudas oriundas de sementes, principalmente quando não houver um programa estruturado de coleta e beneficiamento destas.

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