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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.2 CONDIÇÃO METABÓLICA

O peso absoluto do hepatopâncreas não foi influenciado (P>0,05) pela salinidade ou pelos tipos de dieta, mas houve efeito isolado (P<0,05) destes fatores no IHS (TABELA 8).

TABELA 8 – CARACTERÍSTICAS DO HEPATOPÂNCREAS E CONCENTRAÇÃO PLASMÁTICA DE METABÓLITOS EM JUVENIS DE TILÁPIA DO NILO (Oreochromis niloticus) CULTIVADAS EM NÍVEIS CRESCENTES DE SALINIDADE RECEBENDO DIETA CONTENDO INGREDIENTES DE ORIGEM ANIMAL E VEGETAL (AV) OU APENAS INGREDIENTES DE ORIGEM VEGETAL (V)

VariávelI Dieta Salinidade (g.L-1)

I HP: hepatopâncreas; IHS: índice hepatossomático; PT: proteínas totais; TG: triglicerídeos.

II EPM: erro padrão da média.

III Equação de regressão:

IHS = 1,910 + 0,0211*S (R2 = 0,93)

PT = 2,713 + 0,0488*S – 0,00238*S2 (R2 = 0,97) S = salinidade (g.L-1).

Médias seguidas por letras minúsculas diferentes na linha diferem pelo teste de Tukey (P<0,05), e médias seguidas por letras maiúsculas diferentes na coluna diferem pelo teste F (P<0,05).

FONTE: a autora (2018).

Apesar do teste de médias ter apontado que os valores médios dessa variável para os níveis de salinidade foram semelhantes entre si, a análise de regressão indicou que a mesma aumentou linearmente de 1,92 para 2,51% entre 0 e 30 g.L-1 de salinidade (TABELA 8; FIGURA 3). De acordo com a equação de regressão, houve aumento de 0,02% no IHS com o incremento de 1 g.L-1 de

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salinidade. Quanto ao efeito da dieta, o IHS foi maior na dieta AV comparada com a dieta V (2,44 vs. 2,03%; TABELA 8).

FIGURA 3 – EFEITO DA SALINIDADE NO ÍNDICE HEPATOSSOMÁTICO (IHS) EM JUVENIS DE TILÁPIA DO NILO (Oreochromis niloticus)

FONTE: a autora (2018).

A salinidade não influenciou (P>0,05) as concentrações plasmáticas de glicose, colesterol e TG, mas ocasionou efeito quadrático (P<0,05) na concentração plasmática de PT (TABELA 8; FIGURA 4). Com base na equação de regressão, o valor máximo estimado para este metabólito foi de 2,96 g.dL-1 para a salinidade de 10,26 g.L-1.

Houve efeito isolado (P<0,05) da dieta nas concentrações plasmáticas de colesterol e TG, que foram maiores na dieta AV (145,3 e 74,9 mg.dL-1) comparada com a dieta V (115,3 e 56,0 mg.dL-1; TABELA 8). Esse efeito é explicado pelo maior teor de gordura da dieta AV comparado à dieta V (12,3 vs. 0,9% MS; TABELA 1).

1,92

2,06

2,45

2,51

IHS = 1,910 + 0,0211*S R² = 0,93 1,50

1,75 2,00 2,25 2,50 2,75 3,00

0 10 20 30

IHS (% PC)

Salinidade (g.L-1)

FIGURA 4 – EFEITO DA SALINIDADE NA CONCENTRAÇÃO PLASMÁTICA DE PROTEÍNAS TOTAIS (PT) EM JUVENIS DE TILÁPIA DO NILO (Oreochromis niloticus)

FONTE: a autora (2018).

Além de apresentar sua função digestiva, as células hepáticas armazenam glicogênio, sintetizam proteínas plasmáticas (HEATH, 1995) e também atuam no metabolismo de carboidratos e armazenamento de lipídios, tendo um papel crucial na síntese e oxidação de ácidos graxos (HINTON e LAURÉN, 1990; STEVENS e LOWE, 1995). Dessa forma, lesões ou alterações nesse órgão podem causar severas complicações no metabolismo do organismo.

No presente estudo, o efeito da salinidade no IHS está possivelmente relacionado com o metabolismo osmótico, pois além de afetar diretamente o trato gastrointestinal devido ao seu papel osmorregulador, a salinidade também está envolvida com o suprimento de nutrientes para outros órgãos e tecidos que ajustam os osmóticos (NITZAN et al., 2017). Considerando que o hepatopâncreas é o principal local de síntese de gordura nos peixes, o aumento da salinidade pode ter sobrecarregado esse órgão, fazendo com que a síntese de nutrientes, principalmente de gordura, fosse maior nas salinidades mais elevadas.

A dieta também influenciou o IHS, que foi maior nos peixes que receberam a dieta AV. Rafael e Braunbeck (1988) observaram que peixes alimentados com ração artificial apresentaram maior GPT e maior massa hepática comparados aos que tiveram acesso apenas à alimentação natural. Como consequência houve aumento do IHS nos peixes arraçoados. Esses resultados demonstram que a dieta interfere no desenvolvimento dos órgãos do sistema digestório e endócrino dos peixes.

2,71

50

A hematologia é uma ferramenta importante para a compreensão do metabolismo dos organismos, em que as análises sanguíneas permitem avaliar a influência das condições nutricionais e ambientais na saúde dos peixes (RANZANI- PAIVA et al., 2004). O tecido sanguíneo é responsável pelo transporte de metabólitos e nutrientes, incluindo íons inorgânicos, e a análise dos parâmetros bioquímicos do sangue pode ser utilizada para avaliar e caracterizar um organismo (OSUIGWE e OBIEKEZLE, 2007; ABBAS e SIDDIQUI, 2009, 2013). No presente estudo a salinidade não influenciou (p>0,05) as concentrações plasmáticas de glicose, colesterol e TG. Esses resultados corroboram com os relatados por Jarvis e Ballantyne (2003) ao avaliarem as respostas metabólicas à aclimatação da salinidade (0, 5, 10 e 20 g.L-1) em juvenis de esturjões (Acipenser brevirostrum). Os mesmos autores destacaram a importância da glicose, que é um combustível essencial para vários tecidos, e ressaltaram que é desejável que os níveis plasmáticos de glicose permaneçam inalterados durante toda a fase de cultivo.

Embora a salinidade não tenha interferido nas variáveis citadas acima, houve efeito isolado da dieta nas concentrações plasmáticas de colesterol e TG, que foram maiores na dieta AV, o que é atribuído ao maior teor de gordura desta dieta comparado à dieta V. Apesar da formulação das rações atenderem a exigência da espécie (NRC, 2011), houve diferença na composição química devido à utilização de diferentes ingredientes.

Devido ao objetivo de suprir a exigência mínima de ácidos graxos (18:2 n-6 e 18:3 n-3) na ração V, a quantidade de óleo de soja utilizado na ração AV foi superior à ração V (6,74 vs. 1,00% MS; TABELA 1), o que elevou os teores de EE e EB da ração AV. O óleo é uma das fontes não proteicas de energia que pode ser utilizada na dieta para melhorar a eficiência de utilização da proteína, estando prontamente disponível para os peixes (LI et al., 2014). Possivelmente, no presente estudo, essa energia não proteica foi poupada do metabolismo energético e utilizada para o crescimento e deposição de gordura nas tilápias alimentadas com a ração AV, diferentemente da ração V, na qual havia baixo nível de fontes não proteicas. Nessa condição, os peixes utilizaram a energia para atender as demandas do metabolismo, principalmente do processo osmorregulatório.

Outro fator que pode refletir o nível metabólico do organismo e sua adaptação às variações ambientais é o nível plasmático de PT (ZOWAIL et al., 1994). Segundo Ranzani-Paiva e Silva-Souza (2004), o plasma sanguíneo é

composto por 90% de água e 7% de proteínas (globulinas e albumina) que são imprescindíveis para a manutenção da pressão osmótica, sendo ainda composto por metabólitos como hormônios, enzimas e diversos eletrólitos. Há um constante turnover proteico nos peixes, o que permite uma aclimatação mais rápida às mudanças ambientais do que ocorreria sob a dependência exclusiva de mecanismos enzimáticos (COWEY e WALTON, 1989). No entanto, as taxas de turnover proteico podem mudar com as variações das condições ambientais. Dessa forma, mudanças nas taxas de turnover proteico podem ter determinado o comportamento quadrático da concentração plasmática de PT entre os níveis de salinidade no presente estudo.

Ao avaliar os parâmetros hematológicos de tilápias do Nilo em resposta ao aumento da salinidade (0, 10, 20 e 25 g.L-1), Pereira et al. (2016) obtiveram resultados próximos ao do presente estudo, demonstrando que as PT tiveram aumento significativo com os níveis de salinidade e que os valores da mediana foram maiores nos peixes mantidos em salinidade de 10 g.L-1. Resultados semelhantes foram encontrados por LeaMaster et al. (1990) ao avaliarem os efeitos da salinidade (0 a 32 g.L-1) nos parâmetros hematológicos de tilápia hibrida (O.

mossambicus x O. macrochir). No referido estudo verificou-se que os níveis séricos de PT foram maiores em tilápias expostas à água salgada do que nas criadas em água doce. No entanto, os resultados descritos acima e os observados no presente estudo diferem dos relatados por Jarvis e Ballantyne (2003), que ao avaliarem as respostas metabólicas à aclimatação da salinidade em juvenis de esturjões (Acipenser brevirostrum), observaram que os níveis plasmáticos de PT não foram afetados pela salinidade. Possivelmente a diferença nesses resultados está relacionada às características das espécies, pois peixes marinhos têm comportamentos metabólicos diferentes dos peixes de água doce que são adaptados à salinidade.

Segundo Pereira et al. (2016), mudanças nas características hematológicas dos peixes teleósteos podem ser resultantes do estresse causado pelos altos níveis de salinidade aos quais os animais são submetidos. Durante o processo de adaptação às mudanças de salinidade, os peixes sofrem estresse em consequência do desequilíbrio osmótico, alterando o volume plasmático, o que afeta diretamente os níveis séricos de PT (Ranzani-Paiva et al., 2004). Para Farghaly et al. (1973), o aumento das PT com a salinidade ocorre para manter a função de osmorregulação

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do sangue e pode ser interpretada como uma adaptação ao aumento gradativo da salinidade.

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