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e 17 de Abril de 1925 nas Caldas da Rainha O jornal dá pouca importância a este

1.3. Condições de exercício da actividade docente

1.3.1. Condições materiais e higiénicas das escolas

Um dos maiores problemas que os professores tinham de enfrentar nas escolas eram as próprias condições de trabalho, daí A Federação Escolar e os professores que aí escreviam, terem dedicado muitos artigos a este tema. O diploma de 29 de Março de 1911247 no seu capítulo IV art. 36.° aponta para uma escola «(...) instalada em edifícios

próprios; sendo também necessário que todas possuam o mobiliário e material didáctico indispensável, para bem corresponderem ao seu objectivo». Também A Federação

Escolar descreve como deveriam ser os edifícios das escolas primárias. A 8 de Outubro

de 1910 exige-se que nenhuma escola seja posta a concurso sem que estejam asseguradas por peritos as boas condições do edifício e respectivo material. Com a finalidade de melhorar a situação, foi durante o mês de Junho de 1912 publicado no jornal uma rubrica dedicada a questões de ensino como a higiene e a mobília nas escolas pelo professor Pompeu Faria de Castro, que apresentamos na seguinte imagem:

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A 9 de Novembro de 1913 o inspector Vidal Oudinot descreve a escola ideal da seguinte maneira: «1.° deve haver uma casa apropriada com lavabos modernos; 2.° substituição dos quadros parietais por suportes graciosos, plantas de sala das quais as crianças tratarão; 3.° rectângulos de cartão, madeira ou zinco com máximas ou pensamentos adequados; 4.° arsenal pedagógico moderno» .

A 22 de Junho de 1913 o inspector Augusto Gomes de Oliveira escreve um artigo descrevendo os edifícios escolares aprovando apenas os que foram obra do benemérito

Decreto de 29 de Março de 1911

A Federação Escolar, 2" fase, ano II, n.° 91, 8 de Outubro de 1910, "Reclamações do professorado primário português", p. 3 A Federação Escolar, 2° fase, ano II, n." 91,23 de Junho de 1912, "Questões de ensino", p. 1/2

Conde de Ferreira . Critica os edifícios Adães Bermudes «em harmonia com os quais se construíram dezenas de edifícios escolares por esse país fora, e que, tanto sob o ponto de vista técnico como pedagógico, deram os resultados que todos conhecemos. Os edifícios escolares, construídos segundo este modelo não comportam, em geral, a população escolar a que foram destinados, nem possuem condições de adaptação às necessidades sempre crescentes, dessa população». O autor acha ainda que os edifícios deviam ser construídos tendo em conta a especificidade de cada local252. Sabe-se porém

que a maioria das escolas primárias não era construída de raiz para esse efeito mas

alugadas, funcionando em edifícios impróprios. Podemos encontrar em A Federação

Escolar vários relatos da realidade das condições da escola portuguesa durante a Ia.

República e embora o número de escolas tenha aumentado 253 a descrição que se faz das

mesmas demonstra que estão longe das condições ideais.

Bastaria a transcrição de alguns artigos publicados em A Federação Escolar para percebermos as misérrimas condições de trabalho a que estavam votados os professores espalhados por esse país fora. Sem pretendermos ser exaustivos iremos transcrever alguns desses relatos a fim de compreendermos melhor a situação de então e de agora. Não esqueçamos porém a herança pesada da Monarquia. No fim deste regime, a 22 de Janeiro de 1910 pode ler-se: «Poucos são os edifícios escolares que obedecem às regras pedagógicas e higiénicas e em poucas escolas se encontra mobiliário que obedeça às mesmas regras. Isto significa que as crianças são obrigadas a permanecer algumas horas constrangidas, em carteiras que as definham e prejudicam altamente. Junte-se a isto a carência absoluta de material de ensino, museus, bibliotecas escolares, cantinas, assistência, instalação apropriada para o exercício de trabalhos manuais que, como é sabido desenvolvem a inteligência infantil, a atenção, a disciplina, e constatar-se-á imediatamente que muito é preciso trabalhar para que a escola popular seja o que deve e

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precisa ser» .

A 12 de Novembro de 1910 o professor Diogo d'Almeida Campos descreve a sua escola em Rio de Moinhos: «Vimos por isso aqui hoje descrever as misérrimas condições em que se acha a nossa escola - que é, antes, um pardieiro que não foi construído para albergar criancinhas, mas para nele se encerrarem culpados de delitos

251 Filantropo português (viveu entre 1782 a 1886) que ganhando fortuna no Brasil consagrou-se a obras de benemerência em

Portugal construindo 120 escolas primárias.

252 A Federação Escolar, 3." fase, ano 11, n.° 69, 22 de Junho de 1913, "Edifícios escolares", p.l

253 A Federação Escolar, 2." fase, ano II, n.° 91, 12 de Novembro de 1910, "Bons prenúncios": « O governo criou num mês nada

menos de 60 escolas primárias». A Federação Escolar, 2." fase, ano II, n.° 91, 13 de Outubro de 1912, "Em frente!": «A República tem velado a favor da instrução, não há dúvida. Mas muito urge mais fazer. Tem criado muitas escolas. Isso não basta».

vários. Não é mais nem menos do que a antiga cadeia da comarca extinta de Rio de Moinhos. Funciona como escola há mais de 30 anos, apesar das constantes reclamações dos professores que a têm regido e sub-inspectores que a hão visitado. A sala de aula é um pequeno cubículo, uma espécie de corredor, que recebe luz apenas por dois postigos que ficam, em relação aos alunos e professor, anterior e posteriormente colocados. Por baixo deste corredor há um caminho público por onde transitam até carros de bois. Os buracos do soalho, abertos aqui e acolá deixam ver esse caminho e asseguram à escola uma "óptima" ventilação. As escadas de pedra que dão acesso a esta gaiola de grilos estão a tal ponto gastas e escorregadias, com os degraus deslocados dos seus lugares, que são um constante perigo para as criancinhas (...). No ano de 1906, um benemérito da instrução, ofereceu um grande e magnífico terreno no local para nele se construir um edifício escolar, bem como a residência do professor que está em condições idênticas às da escola. A Junta de Paróquia fez uma representação ao governo de então, não só oferecendo o terreno, mas pedra e madeira para se construir a escola. Veio o sub- inspector e aprovou o local (...). Até hoje porém nada se sabe e, apesar das nossas constantes reclamações por vias oficiais (...). Isto dá-se numa freguesia cuja frequência regular é de 80 alunos. Medindo o pavimento da sala apenas 28 metros quadrados. Pode um professor porventura numa escola destas, com tal frequência, e onde os alunos se acumulam e morrem de frio no Inverno, despida de todo o material de ensino, produzir alguma coisa?» . O mesmo autor escreve outro artigo a 3 de Dezembro de 1910: «Quase todas as escolas do país necessitam duma completa reforma. Como é do conhecimento de todos, poucos edifícios onde hoje funcionam escolas primárias foram edificadas com o fim de albergarem crianças e neles se ministrar o ensino. Criaram-se escolas na maior parte das freguesias do país sem haver casas apropriadas. Daí deriva o estado miserável, vergonhoso, o estado anti-higiénico e anti-pedagógico em que se encontram. Percorram-se todas essas aldeias, de Norte a Sul, quer escondidas por trás dessas montanhas, quer erguendo-se, formosas, à beira duma estrada, e ver-se-ão, nos mais modestos e desprezíveis "casibeques" as escolas primárias. Quase todas as escolas das freguesias rurais funcionam em salas sem capacidade e luz, construídas ad-hoc sem se atender ao local e a nenhumas condições indispensáveis - por qualquer lavrador que a cedeu ao Estado mediante uma pequena renda.. De modo que nestas escolas não só as criancinhas prejudicam a vista e todo o seu débil organismo, mas o próprio professor esmaga-se para conseguir uma boa disciplina na escola - base indispensável para um

seguro aproveitamento - porque sendo os lugares poucos e os alunos em demasia, estes apinham-se, acotovelam-se, barafustam para poderem elaborar os seus exercícios escolares, não havendo maneira de pôr a classe ou classes em completo sossego»256.

Também a 24 de Dezembro de 1910 o professor Carlos P. da Costa publica uma carta aberta ao Ministro do Interior dizendo: «(...) É provável, será mesmo positivo, que vossa excelência não conheça ainda a vergonhosa instalação duma grande parte das escolas primárias deste país (...) escolas instaladas em casas colmaças, de aspecto triste e sombrio, escolas instaladas no rés-do-chão, sem uma única janela que as livre duma dispneia laboriosa e lhes forneça suficientemente o agente da visão; escolas, enfim, que em vez de serem laboratórios agradáveis, onde se lapidem espíritos infantis, são umas verdadeiras fábricas de organismos disformes e raquíticos. A par desta miséria exterior, existe a penúria interior, isto é, a inquisitorial mobília que muitas escolas possuem, e o abandono do mais indispensável material de ensino» .

Muitos outros artigos existem desta altura criticando esta triste herança monárquica, mas constatamos que o número de artigos não foram diminuindo durante a l.a

República, indicador de que nada foi feito para a melhorar. Por exemplo, a 28 de Julho de 1912 anuncia-se a criação de uma comissão de estudos para arquitectar um plano uniforme em construções escolares, e pode ler-se «(...) poucos edifícios escolares existem no país obedecendo a todos os requisitos pedagógicos e higiénicos. Os poucos que há são de iniciativa particular» .

A 23 de Novembro de 1913 pode ler-se: «O que vemos nós? Edifícios escolares sem condições de higiene e de conforto, aliados ainda a mobiliário que é um instrumento de tortura e de deformação. Os programas rotineiros (...).Os professores acorrentados à miséria situação económica sem incentivos morais que os animem e incitem a promover a realização dessa obra extra-escolar que precisa efectivar-se». Quase dois anos mais tarde ainda se podem encontrar no jornal, notícias como a de 16 de Maio de 1915259

falando dos benefícios dos passeios escolares: «Vencida, porém, esta primeira hesitação, logo reconhecerão a necessidade de furtar as crianças às casas infectadas, ao mobiliário defeituoso, ao meio esterilizador, para as expor ao ar e à luz, onde melhor

A Federação Escolar, 2." fase, ano II, n.°99, 3 de Dezembro de 1910, "A República e a Escola", p.2

A Federação Escolar, 2." fase, ano II, n.° 101,24 de Dezembro de 1910, "Carta aberta ao Ex.mo Sr. Ministro do Interior", p.l A Federação Escolar, 3." fase, ano I, n.° 21, 28 de Julho de 1912, "Construções escolares", p. I

podem assimilar o ensino e criar a harmonia entre as energias físicas e intelectuais o dever e a liberdade» .

A 4 de Agosto de 1923 pode ler-se: «O estado precário e vergonhoso em que se encontra a maioria das nossas escolas, as suas condições anti-higiénicas e desconfortáveis, sob qualquer ponto de vista, também não permitem nelas a permanência dos alunos durante mais de 5 horas, sob pena de isso concorrer para o enfraquecimento físico e moral das populações escolares»261.

A 13 de Outubro de 1923 aborda-se mais uma vez o tema: «Vai passar mais um Inverno sobre as nossas desmanteladas casas de escola! E nem uma telha substituída, nem um vidro em muitas janelas só feitas de caixilhos e caixilhos que apodrecem! Quantas casas que não suportarão mais um Inverno! Consequentemente, quantas famílias de professores que ocupam habitações anexas ficarão sem abrigo! Que isso ainda o professor considera o menos, pois está habituado a lutar com todas as contrariedades que lhe embaraçam a instalação sua e de sua família (...)»262.

A 5 de Janeiro de 1924 o professor António Gomes Nunes Fragoso a propósito dos edifícios escolares escreve: «Causa tédio falar de assuntos como o dos edifícios escolares, já porque ele tem sido demasiado e completamente tratado na imprensa pedagógica. Dizer o estado ruinoso em que se encontram, entre nós infelizmente, os edifícios escolares, na sua quase totalidade, é tarefa fácil, mas desnecessária para nós, professores primários, que, por mal dos nossos pecados ou dos nossos avós, o sabemos por experiência própria. Porém, para os senhores dos altos cargos que habituados a viver em palácios e em casas confortáveis onde nada falta e que, por consequência, se esquecem, ou melhor, não se lembram sequer para não se esquecerem, de que há infelizes que, pela força das circunstâncias, são compelidos a viver ou a permanecer, pelo menos uma boa parte da existência em casebres onde falta tudo, desde o ar e a luz,

até ao mais rudimentar conforto (...) Hoje é o vento que derruba uma dúzia de telhas,

amanhã os caixilhos das janelas deixam cair vidros, as portas, corroídas, se desconjuntam pouco a pouco (...)»263.

A 27 de Maio de 1925 pode comprovar-se mais uma vez a falta de higiene e material pedagógico nas escolas: «(...) Os professores não têm recebido as respectivas verbas para o expediente e limpeza das suas escolas e iluminação de cursos nocturnos;

* A Federação Escolar, 3." fase, ano II, n.° 91,23 de Novembro de 1913, "Hino à vida", p. 1

'' A Federação Escolar, 3." fase, ano 12, n.° 589,4 de Agosto de 1923, "A reorganização do ensino", p. 1 '2 A Federação Escolar, 3." fase, ano 12, n.° 599, 13 de Outubro de 1923, "Edifícios escolares", p.2

durante o qual, com raras excepções, nem uma carteira, nem um mapa, nem o mais pequeno utensílio se tem fornecido às escolas; durante o qual alguns fornecedores não recebem as quantias a que têm direito, proveniente de materiais que forneceram, acrescentando ainda estarem em dívida as rendas de quase todos os edifícios escolares, há cerca de quatro anos, e tudo isto porque uma grande parte das Câmaras não contribuiu para os Cofres do Estado com as verbas devidamente orçadas! Depois vêm os despejos requeridos pelos senhorios das casas, em virtude dos quais se conservam encerradas dezenas de escolas e privada da instrução centenas de crianças»264.

Podemos então perceber o estado ruinoso em que se encontravam as escolas. Também em A Federação Escolar se descreve como "não" são feitas as reparações necessárias aos edifícios quando muito necessário.

A 13 de Outubro de 1923 pode ler-se: «Sabemos que este é o estado da maioria - duma grande maioria - dos edifícios. Sabemos de muitos professores que, cansadíssimos de oficiar às Juntas Escolares reclamando reparações que absolutamente se não podem adiar, lá vão remendando à custa do seu magro bolso uns, até, ao próprio trabalho de suas mãos outros, de coração confrangido (no original) e alma a desiludir- se, tentando reunir os últimos e desesperados materiais de resistência à derrocada eminente. E que outro recurso hão-de lançar mão se os construtores não põem um prego à conta do Estado, habituados como estão ao calote dos anos sucessivos»265.

Também não é de admirar que os professores assumam as reparações das escolas se lermos o artigo de 6 de Abril de 1913 no qual se descreve o percurso de um pedido de reparações ao Estado: «Primeiro o professor reclama ao inspector de círculo qualquer reparação do edifício; o inspector de círculo transmite esta reclamação ao inspector de circunscrição; o inspector de circunscrição transmite a reclamação à Direcção Geral da Instrução Primária; o ministério do interior transmite-a ao Ministério do Fomento para que organize o orçamento; o Ministério do Fomento transmite-a ao Director das obras públicas do respectivo distrito para o efeito do orçamento; o director das obras públicas do distrito encarrega um funcionário da Direcção das obras públicas do distrito de orçamento à obra reclamada pelo professor, este empregado encarrega o orçamento ao Director das obras públicas do distrito, que o manda ao Ministério do Fomento, que por sua vez o envia ao Ministério do Interior; a Direcção Geral da Instrução Primária manda o orçamento à 3.a Repartição da Contabilidade Pública a fim de ela informar se

264 A Federação Escolar, 3." fase, ano 14, n.° 683, 27 de Maio de 1925, "Escolas primárias", p. 1

há ou não verba para a execução da obra orçamentada - que o devolve à Direcção da Instrução Primária com essa informação. Se essa informação é afirmativa, a Direcção Geral da Instrução, precedendo despacho do Ministro do Interior, manda o processo ao Ministério do Fomento para a realização da obra; o Ministério do Fomento manda-o, para esse fim, ao Director das obras públicas do distrito que encarrega um empregado desta direcção de mandar fazer o conserto. Sucede que a obra orçamentada já é muito maior que a reclamada e que a executada, se se quiser salvar o edifício, será muito maior do que a orçamentada. É que o tempo e as chuvas durante tais demoras arruinaram o edifício. Se, como sucede quase sempre, o orçamento excede a verba consignada, a obra não se faz! Por isso chove em quase todas as aulas instaladas em edifícios, que estão em via de ruína. Este espectáculo além de depor contra a administração pública, concorre para que muitos beneméritos não concorram nem leguem para construções escolares» .

Também a 5 de Janeiro de 1924 podemos testemunhar a demora das reparações quando o professor António Gomes Nuno Fragoso escreve: «E o que se diz a respeito dos edifícios pertencentes ao Estado pode dizer-se inalteravelmente acerca dos que são pertença de particulares. Aqueles, por falta de reparações que não se fazendo este ano, por falta de verba que custariam apenas 500 ou 1000$00 em cada um, menos se fazem no ano imediato pois já custariam o dobro ou o triplo, vão-se arruinando dia a dia tornando-se impróprios para o fim a que se destinam. Estes por não se pagarem aos senhorios rendas que lhe permitam mandar proceder às necessárias reparações» .

Como consequências directas destas condições deploráveis das instalações das escolas primárias, eram apontadas por A Federação Escolar, a saúde frágil de professores e alunos, o absentismo e abandono escolar e o consequente analfabetismo, problemas que nem a assistência social conseguia atenuar, como veremos de seguida.

1.3.2. A saúde dos professores e a assistência social

Podemos encontrar inúmeros artigos que correlacionam a frágil saúde dos professores com o facto de passarem muito tempo nas escolas e casas anexas onde não tinham o mínimo de condições de habitabilidade. Assim, a 11 de Fevereiro de 1911 pode ler-se: «Dentre todos os funcionários do Estado os que exercem a missão mais enervante, mais penosa, mais extenuante, aqueles que perdem maior dose de energia

266 A Federação Escolar, 3." fase, ano II, n.° 58, 6 de Abril de 1913, "Uma lei", p. 1

física e mental são indubitavelmente os professores - sobretudo os professores primários. Deste modo, eles envelhecem antes da idade própria da velhice. Às fadigas e às dificuldades inerentes à sua própria profissão, acresce que os professores permanecem durante horas e horas numa atmosfera viciada, respirando um ar em que pairam micróbios de toda a espécie. Por isso o ilustre professor francês Brouardel disse, há anos num congresso, referindo-se à tuberculose: Ela ataca sobretudo os professores, principalmente nas cidades. Mas no campo a situação é pouco melhor. Quais são as causas do mal terrível? Uma existência sedentária, uma vida isolada, triste e concentrada com as crianças mais ou menos predispostas, o ar viciado das escolas e um ordenado pouco em relação com o trabalho rude enervante que as suas funções

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exigem» .

Também a 14 de Setembro de 1913 se publica o relatório apresentado em nome do Bureau International de Fédérations dTnstiteurs onde se sugere que a saúde do professor e aluno está intimamente ligada com a higiene da escola269.

A 28 de Abril de 1917 o professor João Moreno escreve que: «os professores sacrificam os haveres, o tempo, e, muitas vezes a saúde para alcançar uma mesquinha carreira» 7 .

Embora seja uma doença muito temida^ Federação Escolar só publica a l.a notícia

de falecimento devido à tuberculose em 14 de Junho de 1914271.

Para além destas dificuldades sentidas pelos professores no dia-a-dia no exercício da sua actividade nas escolas primárias, a guerra veio agravar o custo de vida e provocar a mobilização dos professores.

A 26 de Março de 1916 é anunciado que a Alemanha declara guerra a Portugal. «Portugal aceitou o duelo e prepara-se já para entrar efectivamente, na luta pela causa sacrossanta da civilização, em que já mais ou menos tomará parte desde que, desde o início das hostilidades, desta carnificina inaudita, se declarou ao lado da sua secular aliada. (...) A este toque terão de acorrer muitos professores primários, abrindo um parêntesis na sua já bem patriótica missão de formar cidadãos e soldados, para serem