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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.2. Estudo Detalhado de uma LIC

4.2.2. Análise Termodinâmica

4.2.2.6. Condições de Grande Escala

As FIGURAS 35, 36, 37 e 38 mostram os campos da temperatura do ar, razão de mistura, vento horizontal em superfície e em 850 hPa, respectivamente, obtidos a partir das simulações com o modelo MM5, para o domínio 1. Este domínio permite analisar o ambiente de grande escala no qual a LIC selecionada se formou e evoluiu. Para haver compatibilidade entre a análise termodinâmica com as condições sinóticas associadas com esta LIC, os campos serão analisados nos horários: 12 UTC (dia 17), 18 UTC (dia 17) e 06 UTC (dia 18).

A FIGURA 35 mostra o campo de temperatura em superfície. Na FIGURA 35a, nota-se que “antes” da ocorrência da LIC, a temperatura é homogênea ao longo da costa, com valores entre 24°C a 26ºC. Esta homogeneidade é característica de regiões tropicais, onde as temperaturas variam muito pouco no tempo e no espaço, considerando a grande escala. A FIGURA 35b mostra que na fase de maior atividade convectiva da LIC, o campo de temperatura apresentou valores superiores a 28°C. Este aumento também ocorreu sobre o oceano, mantendo a homogeneidade. Por outro lado, na FIGURA 35c pode-se notar um declínio nos valores de temperatura em Soure e em Bragança condicionado, pelo menos em parte, à dissipação da LIC. As temperaturas mais no interior do continente apresentaram um declínio enquanto que, sobre o oceano, as temperaturas permaneceram praticamente inalteradas, com valores superiores a 26°C.

Verifica-se que as maiores oscilações de temperatura ocorreram sobre o continente, onde os valores estavam elevados. Entretanto, não ficou evidente um gradiente horizontal de temperatura significativo que justificasse a presença de uma brisa marítima, caracterizada pelo aquecimento diferenciado entre o continente e o oceano com gradientes de temperatura em torno de 1°C/20km (Atkinson, 1981). A brisa marítima ocorre em resposta a um aquecimento diferencial, à superfície, entre o continente e o oceano. Numa região costeira, pode haver um gradiente de temperatura da ordem dos 10°C em poucas dezenas de quilômetros. Mesmo que a FIGURA 35b tenha mostrado um aquecimento sobre o continente maior do que sobre o oceano, isto não implica em um gradiente significativo, pois a variação foi de poucos graus em muitos

quilômetros. Espera-se que, na análise do domínio 2, a ser apresentada na próxima seção, este gradiente seja caracterizado.

(a) (b)

(c)

FIGURA 35 – Campos de temperatura do ar (°C) em superfície, no domínio 1, obtidos com o modelo MM5. (a) “antes”, (b) “durante” e (c) “após” a ocorrência da LIC nos dias 17-18 de abril de 2002.

A FIGURA 36 mostra os campos de razão de mistura associados à ocorrência da LIC. Na FIGURA 36a é possível notar o alto teor de umidade ao longo da costa, com valores superiores a 19 g/kg. Este ambiente úmido e quente (como mostrou a FIGURA 35a) indica uma condição favorável ao futuro desenvolvimento da LIC. Observa-se ainda que a localização do alto teor de umidade coincide com o posicionamento desta LIC. Entretanto, na FIGURA 36b, correspondente ao período “durante” a LIC, nota-se uma configuração diferente daquela observada “antes”, marcada pelo desaparecimento da camada úmida ao longo da costa. Neste período, é observado um decréscimo de 2 g/kg na razão de mistura, mostrando que houve um ressecamento no ambiente em que a LIC estava inserida. Este ressecamento pode ser observado tanto em Soure quanto em Bragança.

Associando o campo de umidade com o campo de temperatura, é possível observar que esta LIC ocorreu em situação de aquecimento e de ressecamento da atmosfera, condição paradoxal ao desenvolvimento de uma atividade convectiva. A FIGURA 36c mostra que, com a dissipação do sistema, há uma fina faixa sobre a costa nordeste do Brasil com valores superiores a 19 g/kg. Estes valores são semelhantes àqueles observados “antes” da ocorrência da LIC, mas com uma diminuição significativa da área onde estão localizados.

(a) (b)

(c)

FIGURA 36 – Campos de razão de mistura (g/kg) em superfície, no domínio 1, obtidos com o modelo MM5. (a) “antes”, (b) “durante” e (c) “após” a ocorrência da LIC nos dias 17-18 de abril de 2002.

Os campos de vento horizontal em superfície são mostrados na FIGURA 37. Na FIGURA 37a nota-se a existência de ventos muito fracos sobre o continente e bem maiores sobre o oceano, com um gradiente quase perpendicular à costa. Ao longo da costa, os ventos são calmos e não ultrapassam 5 m/s. O escoamento em direção à costa é marcado pela entrada de ventos de nordeste e também de leste, característicos desta região. Nota- se, também, a confluência dos ventos Alísios sobre o Oceano Atlântico, ao longo da linha do Equador. A FIGURA 37b mostra o comportamento deste campo “durante” esta LIC. Pode-se observar uma entrada de ventos mais fortes do oceano, avançando em direção à costa. Com isso, ocorre um leve aumento na intensidade dos ventos. Nesta FIGURA é possível notar uma característica diferente no escoamento, principalmente sobre o continente, marcada pela entrada de ventos quase que de leste, principalmente na região ao longo do Equador. Este comportamento faz parte da circulação geral da atmosfera. Além disso, pode-se observar a confluência de ventos de nordeste e de leste, caracterizando a ZCIT. Observa-se, também, a predominância de ventos de leste perto da costa durante todo o período analisado. Por fim, a FIGURA 37c (“após” a LIC) mostra que a entrada de ventos fortes vindos do oceano aproxima-se mais da região costeira, proporcionando uma aumento na intensidade do vento ao longo da costa, com valores de 6 a 8 m/s. Entretanto, sobre o continente, os valores de velocidade são muito baixos, inferiores a 3 m/s. As condições de vento horizontal “antes” e “após” a LIC são muito semelhantes.

(a) (b)

(c)

FIGURA 37 – Campos de vento horizontal (m/s) em superfície, no domínio 1, obtidos com o modelo MM5. (a) “antes”, (b) “durante” e (c) “após” a ocorrência da LIC nos dias 17-18 de abril de 2002.

A FIGURA 38 mostra o campo de vento horizontal, observado no nível de 850 hPa, associado aos períodos “antes”, “durante” e “após” à ocorrência da LIC. O nível de 850 hPa foi aquele que, para esta LIC, apresentou os maiores valores de velocidade horizontal.

Na FIGURA 38a nota-se que o escoamento é paralelo à costa e a intensidade varia entre 6 e 7 m/s, aproximadamente. Estes valores são relativamente fracos, porém são importantes para analisar o jato de leste discutido anteriormente. Estes jatos revelam que o cisalhamento do vento em níveis baixos é importante para o desenvolvimento das nuvens Cumulonimbus (Cohen, 1989). Na FIGURA 38b verifica-se que “durante” a ocorrência da LIC, existe um pequeno aumento nas velocidades, principalmente sobre o Estado do Maranhão, que apresenta um núcleo de ventos fortes, da ordem de 10 m/s. Vale lembrar que esta LIC se estendeu desde a Ilha do Marajó, no Estado do Pará, até o Estado do Rio Grande do Norte, no nordeste brasileiro. O escoamento permanece paralelo à costa, em relação ao período anterior.

No período “após” a ocorrência da LIC (FIGURA 38c), observam-se ventos mais fortes, tanto sobre o oceano quanto sobre o continente, com valores de 11 m/s. O escoamento deixa de ser paralelo à costa e passa a ser totalmente de leste entre as latitudes de 3°S e a 5°N, aproximadamente.

(a) (b)

(c)

FIGURA 38 – Campos de vento horizontal (m/s) em 850 hPa, no domínio 1, obtidos com o modelo MM5. (a) “antes”, (b) “durante” e (c) “após” a ocorrência da LIC nos dias 17-18 de abril de 2002.

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