• Nenhum resultado encontrado

2.3 Os Parâmetros Os Limites

2.3.2 Condições de Produção

A digressão realizada, no item acima, teve como propósito somar a esta pesquisa, a nossa experiência de trabalho na abordagem de um dos itens propostos pelos PCNs, a utilização da linguagem oral no planejamento e realização de apresentações públicas em que

essas situações venham a fazer sentido. Dessa forma, debruçarmo-nos sobre as propostas dos PCNs para as Práticas de Linguagem, no ensino fundamental, ampliou os horizontes reflexivos para esta pesquisa.

Pode-se ler na lª parte dos PCNs (1998, p.19-22) no subtítulo “Ensino e natureza da linguagem” uma breve abordagem teórica sobre a interação, a teoria do discurso e as formas dos gêneros textuais.

O contexto imediato marcado pela consonância do documento com as modernas teorias discursivo-interacionais situou nosso olhar sobre o funcionamento das aulas de leitura e interpretação de textos em Língua Portuguesa. Os livros didáticos adotados nas três escolas, em que realizamos as gravações das aulas, também eram portadores de uma linguagem consonante com as teorias referidas. Enfim, documentos consonantes, professores jovens, alguns recém-formados, escola dotada de recursos materiais áudio-visuais básicos, alunos com idade correspondente à série de posse do material didático necessário, haja vista o incentivo do governo na doação do livro didático; logo, as condições de produção, em sentido estrito, para a realização das aulas como as relacionadas acima, não poderiam ser as mais “adequadas”.

Buscamos na coleta de dados, através das gravações que, pessoalmente, realizamos, observar o processo de produção de sentidos, uma vez que o problematizamos a partir da hipótese de que o fato de o sujeito-aluno não se configurar como um leitor dos textos lidos na escola, na produção de sentidos esperada, não constitui condição suficiente para se afirmar que ele não seja um leitor proficiente.

As condições de produção mediatas ao processo de produção de sentidos, representadas pelo contexto sócio-histórico, ideológico permitiram que as situações interativo-enunciativas da sala de aula constituíssem os sujeitos que, ao falarem, eram falados.

Ocorre-nos, neste tópico do capítulo, que, também nós, sujeitos-pesquisadores, analisando “os outros” realizávamos, sem intenção consciente, a análise do acontecimento do processo de produção de sentidos nas aulas que regemos. Guiamo-nos, nessa pesquisa, movidas por uma série de imagens, que criamos, produto da ilusão subjetiva que nos constitui a todos. Aguardamos, por isso, na gravação de cada aula, de cada escola, de cada sujeito- professor, uma movimentação de sentidos imaginária, como efeito da antecipação que se caracteriza nos sujeitos.

Deste modo, durante a coleta de dados para a pesquisa, nos surpreendemos em uma metapesquisa, investigando o conjunto de expectativas particulares, acerca da produção de sentidos sobre as aulas que gravávamos. Era o mesmo em um outro processo em funcionamento, porquanto, como sujeitos de linguagem, constitutivamente atravessados pelo inconsciente, não temos acesso às condições de produção de nosso próprio discurso.

Portanto, observação, gravação, exibição, transcrição, releituras e o amadurecimento teórico requerido pela pesquisa se deram, pela “relação existente, entre o já- dito e o dito num dado momento, sob determinadas condições, isto é, entre o interdiscurso e o intradiscurso, na constituição do sentido e a sua formulação”, (ORLANDI, 2000, p.32-33).

O fato de o corpus selecionado constituir-se dos dizeres dos SP e dos SA significa que as condições de produção se estenderão às análises, uma vez que os sujeitos e a situação, de alguma forma, as determinam.

Não desejando antecipar, neste capítulo, reflexões conclusivas acerca da proposta do documento para o ensino da leitura e a execução das aulas propriamente ditas, optamos por atravessar o desvão natural entre a proposta e a ação, entre a teoria e a prática para atingir uma outra margem em que o fio do discurso se dobra sobre fios anteriores. Por isso, o capítulo III - Das Análises apresentar-nos-á a estrutura e o acontecimento da linguagem nas margens indivisas entre o poder e o saber.

CAPÍTULO III

3. DAS ANÁLISES

Hipotetizamos para essa pesquisa que não constitui condição suficiente o fato de os sujeitos-alunos produzirem sentidos desviantes para as leituras de sala de aula, distantes do rol de expectativas aguardadas pelos sujeitos-professores e/ou das propostas do livro didático para se afirmar que os sujeitos-alunos não sejam leitores proficientes. Para tanto, pela observação/gravação das práticas de leitura circulantes nas salas de aula do 4º ciclo do ensino fundamental, correspondente à 7ª e 8ª séries, traçamos como objetivo para esta pesquisa, analisar os dizeres dos sujeitos-professores e dos sujeitos-alunos durante as aulas de leitura/produção de textos.

Sentimos, após a realização dessa tarefa, a necessidade de adotar outro procedimento de análise para melhor compulsar os dados obtidos na gravação das aulas; por isso, formulamos um questionário que foi respondido pelos sujeitos-professores aos quais

tivemos acesso. O dizer dos sujeitos-professores, nesse tipo de suporte, entremostrando as representações imaginárias que atravessam o dizer, oportunizaram as reflexões que passamos a apresentar nos itens abaixo.

Trazemos, a seguir, a análise dos dizeres dos sujeitos-professores, contidos em um questionário (ANEXO l, p.137) elaborado por nós. A adoção desse procedimento de coleta de dados objetivava relacionar aos eventos de leitura, já analisados, as concepções de leitura dos SP e suas representações acerca do processo de produção de sentidos. Dessa forma, tais questionários foram estendidos a um número maior de SP em apenas uma das escolas em que nos foi possível fazê-lo, dada a resistência dos demais. Pensamos que seus dizeres pudessem revelar as circunscrições teóricas e o imaginário que recorta o trabalho com a leitura no ensino de língua portuguesa.

Documentos relacionados