• Nenhum resultado encontrado

Condições de Trabalho em uma Economia Capitalista

2.3 CONDIÇÕES DE TRABALHO SOB A ÓTICA DAS LEIS TRABALHISTAS DO

2.3.3 Condições de Trabalho em uma Economia Capitalista

O Direito do Trabalho no Brasil, representa normas de consolidação e proteção ao emprego, e confere uma das principais políticas públicas do país, proporcionando uma efetiva inclusão social, dignidade ao ser humano e melhoria da condição socioeconômica (ROCHA, 2017). Pode-se observar sob a perspectiva da CF/88, a ênfase dada ao trabalho, não apenas em princípios da dignidade, mas também em seu valor social (ANDRADE; MORAES, 2017). De modo que, traz como um de seus fundamentos, presente no Art. 1° Inciso IV “os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa” (BRASIL, 1988, p. 1).

Sobre o custo excessivo que o processo de regulamentações pode gerar às empresas, Almeida e Poole (2013) comentam que a CF/88 impôs custos trabalhistas elevados aos empregadores e citam algumas alterações: (i) o aporte da folha de pagamento do trabalhador aumentou de 18% para 20%; (ii) a pena por demitir sem justa causa aumentou de 10% para 40% do total de contribuições para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS); (iii) e com o fim do contrato, o trabalhador obtém o direito de receber até duas horas por dia para buscar novo emprego.

Além disso, também são relatados benefícios aos trabalhadores, que por sua vez, conquistaram direitos como: (i) redução do período máximo de trabalho na semana de 48 para 44 horas; (ii) aumento do prêmio salarial de horas extras de 20% para 50% do salário regular; (iii) o número máximo de horas de um turno contínuo caiu de oito para seis horas; (iv) a licença maternidade aumentou de três para quatro meses (ALMEIDA; POOLE, 2013).

Corroborando, a Constituição Federal (BRASIL, 1988) contempla no Art. 7º outros direitos dos trabalhadores urbanos e rurais como sintetizado a seguir: (i) relação de emprego protegida; (ii) seguro-desemprego; (iii) FGTS; (iv) salário mínimo; (v) piso salarial; (vi) irredutibilidade do salário; (vii) garantia de salário, nunca inferior ao mínimo; (viii) décimo terceiro salário; (ix) remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; (x) proteção do

salário na forma da lei; (xi) participação nos lucros, ou resultados; (xii) salário-família; (xiii) duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e 44 horas semanais; (xiv) jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento; (xv) repouso semanal remunerado; (xvi) remuneração do serviço extraordinário; (xvii) gozo de férias anuais remuneradas; (xviii) licença à gestante; (xix) licença-paternidade; (xx) proteção do mercado de trabalho da mulher; (xxi) aviso prévio proporcional ao tempo de serviço; (xxii) redução dos riscos inerentes ao trabalho; (xxiii) adicional de remuneração para as atividades penosas; (xxiv) aposentadoria; (xxv) assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até cinco anos de idade em creches e pré-escolas; (xxvi) reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho; (xxvii) proteção em face da automação; (xxviii) seguro contra acidentes de trabalho; (xxix) ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho; (xxx) proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; (xxxi) proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência; (xxxii) proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos; (xxxiii) proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de 18 anos de idade e de qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de 14 anos; (xxxiv) igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso.

Por outro lado, Biavaschi (2016) comenta que existe uma vertente que insiste na alteração das normas impostas pela CLT, com a justificativa de tornar o país mais competitivo e produtivo. Mas de acordo com Pirotta e Pirotta (2002) trata-se de um projeto de flexibilização da legislação, transferindo para convenções e acordos coletivos uma abrangência maior do que a própria lei, com o argumento que empresários e trabalhadores têm capacidade de entender quais condições de trabalho são mais relevantes.

Em relação a esse contexto, Araújo, S. (2013) comenta que ocorre uma precarização do trabalho, gerada pelo desenvolvimento do capitalismo vigente e acentuada pela fragilidade do trabalhador em virtude do capital. Em nações capitalistas emergentes como o Brasil, os impactos ao sistema econômico e social são diferentes e o processo de precarização afeta a maioria dos setores, contribuindo para a deterioração das condições de trabalho, perda de direitos, contenção das garantias e benefícios, tornando a situação dos trabalhadores vulnerável. Ainda a respeito da vulnerabilidade do trabalhador, Perondi (2017) destaca que há

uma tendência de o trabalhador negociar as condições de sua própria precarização, possibilitando a existência de inúmeros contratos de trabalho em uma só instituição.

Acompanhada dessas transformações de mercado, duas alterações são propostas: a flexibilização dos regimes trabalhistas (jornadas, salários, mobilidade funcional) e a desregulamentação da CLT (COSTA, 2005). Mas, essa adaptação das empresas a uma economia globalizada, tem provocado reflexos negativos nas condições de trabalho, como por exemplo, a prática denominada como terceirização, que torna precária as circunstâncias dos trabalhadores em diversas formas: criando classes de trabalhadores menos organizados; aumentando a rotatividade nos cargos; expondo o trabalhador a fornecer mão-de-obra a

empresas com recursos escassos (PIROTTA; PIROTTA, 2002). Dessa forma, o processo de

flexibilização em tempos de crise econômica, reflete no trabalhador, pois com a adequação as empresas podem adaptar-se na produção, emprego e nas condições de trabalho dos empregados (ANDRADE; MORAES, 2017).

No caso do Brasil, pode-se observar que a legislação é detalhada, mas os empregadores podem dispensar seus colaboradores sem muita dificuldade e, nos trabalhos em que existe alta rotatividade, os salários podem variar em benefício das empresas, sem mesmo infligir a lei (BALTAR; KREIN, 2013). Salário esse, que é a base da maioria da população brasileira e referência para outras remunerações, mesmo sendo definido por políticas de controle econômico e social do governo (COSTA, 2005).

Concluindo, Rocha (2017) salienta que o Direito do Trabalho foi conquistado com muita dificuldade, não podendo ser objeto de alterações que venham afetar o trabalhador brasileiro, pois representam a esperança de um povo que luta diariamente pela sobrevivência.