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Capítulo 3: Concepções sobre inclusão escolar e atuação de professores do ensino médio

3.3 Condições do trabalho docente no Ensino Médio

Um dos desafios para a escola média brasileira é buscar sua universalização com qualidade social, para tal a formação do professor é essencial, conforme abordado no capítulo anterior. Além disso, a infraestrutura das instituições e a questão da valorização econômica e social do professor também são primordiais para alcançar uma educação de qualidade.

Segundo Costa (2013), em 2010, o número de professores do Ensino Médio no Brasil atingiu um contingente de 477.273, tal número, todavia, tende a aumentar nos próximos anos, principalmente devido a ampliação da obrigatoriedade da Educação Básica dos 4 aos 17 anos. Costa e Oliveira (2011) pontuam que “são profissionais dos quais se cobram os mesmos requisitos de formação, mas que são contratados e se encontram submetidos a distintas possibilidades salariais, carreira e condições de trabalho” (p. 734), comparando-os com os demais profissionais que atuam na Educação Infantil e no Ensino Fundamental.

De acordo com Costa e Oliveira (2011), a partir do ano de 1988, os Estados e Municípios passaram a responder de formas diferentes por suas obrigações em relação à educação e possuem autonomia para instituir suas próprias carreiras e remuneração dos professores. Portanto, é preciso considerar que as condições de trabalho e emprego dos profissionais do Ensino Médio admitem diferentes situações nas redes públicas em que estão incorporados.

Entretanto, no ano de 2016, foi aprovado o projeto de Lei do Senado nº 114, de 2015, a qual altera a Lei nº 11.738, de 16 de julho de 2008, para instituir novo piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da Educação Básica. Desse modo, fica estabelecido que

Art. 2º O piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da Educação Básica será de R$ 2.743,65 (dois mil, setecentos e quarenta e três reais e sessenta e cinco centavos) mensais, para a formação em nível médio, na modalidade Normal, prevista no art. 62 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. (BRASIL, 2015d, p.1) Imbernón (2009) afirma que “o nível cultural de um país se comprova pelo salário de seus professores. E muitos países têm um nível cultural excessivamente baixo, com seus docentes mal remunerados” (p.14). Além disso, Gatti e Barreto (2009) alegam que:

Políticas na direção de qualificar melhor a educação básica passam pela formação pré-serviço e continuada dos docentes, mas passam também pela renovação constante da motivação para o trabalho do ensino, pela satisfação com a remuneração e a carreira, o que implica a implementação de várias ações de gestão do pessoal do ensino de modo integrado. (GATTI; BARRETO, 2009, p. 256) Outra questão que merece destaque refere-se às longas jornadas de trabalho do professor do Ensino Médio. Costa (2013) alega que os professores possuem uma extensa jornada em termos de horas dedicadas à docência, este fato configura-se como um complicador da qualidade do trabalho, pois, muitas vezes, detêm mais de um emprego, precisando lecionar em mais de um período, geralmente em salas superlotadas e com pouca infraestrutura.

Arelaro et. al. (2014) sinalizam que uma jornada de trabalho compatível com a especificidade do trabalho docente está diretamente relacionada à valorização do magistério e à qualidade do ensino, uma vez que a dupla ou a tripla jornadas comprometem o desempenho do professor.

Segundo Costa e Oliveira (2011) “o acúmulo de tarefas e funções pelos professores traz consequências para o corpo e, sobretudo, para a mente, podendo resultar em processos de autointensificação” (p. 741). Todos esses fatores apresentados sobre as condições do trabalho docente acabam por tornar a profissão desinteressante para os futuros jovens universitários. Dessa forma:

A precarização e a intensificação do trabalho docente se manifestaram no estudo principalmente em quatro circunstâncias que se interpenetram e envolvem os professores da Educação Básica no Brasil: formação indevida, infraestrutura imprópria, remuneração inadequada e jornada de trabalho intensificada, entre outros fatores, os quais contribuem para que as condições de trabalho docente nas escolas públicas não sejam as mais favoráveis ao bom andamento da educação e ao conforto para os que nela atuam (COSTA, 2013, p. 201).

Nesta perspectiva, acredita-se que seria preciso melhorar as condições de trabalho do professor, o mesmo ter uma remuneração justa e que lhe permita ter qualidade de vida, investimentos em programas de formação inicial e continuada. Pimenta (1999) acredita que formação, condições de trabalho, salário, jornada de trabalho, gestão e currículos são elementos indissociáveis. Já Costa e Oliveira (2011) afirmam que “uma educação de qualidade social no Brasil só pode ser vislumbrada se as condições de trabalho forem melhoradas” (p. 744).

Nessa direção, Silva (2009) objetivou comparar as condições de trabalho e saúde considerando aspectos físicos e emocionais de três grupos de professores que atuavam no Ensino Fundamental, como também investigar possíveis implicações na prestação de serviços aos alunos. Participaram 60 professores, sendo divididos em três grupos: 20 professores que atuavam no ensino comum sem a inclusão de alunos PAEE; 20 professores de turmas com inclusão destes alunos e 20 professores que atuavam em sala de recursos. Para a coleta de dados foram utilizados: roteiro de entrevista sobre a percepção do trabalho docente para levantar os riscos ocupacionais presentes no trabalho e o protocolo Maslach Burnout

Inventory para avaliar a presença de burnout. De modo geral, os resultados revelaram que os grupos apresentaram similaridades, sendo que poucas diferenças foram encontradas. Em relação às condições de trabalho - ambiente de trabalho, organização de trabalho, materiais, equipamentos e recursos pedagógicos – estas foram consideradas adequadas.

Com base no estudo apresentado, apesar da existência de três grupos distintos em relação à atuação com alunos PAEE: professores que tinham este alunado em sala regular, professores que não tinham esses alunos, e professores da sala de recursos; presume-se que todos estes professores têm direito a usufruir de plenas condições de trabalho, isto é, um número compatível de alunos por sala, materiais e recursos para desenvolverem suas aulas, um bom ambiente de trabalho. Quando tais condições existem no ambiente escolar, adoecimentos, reclamações, cansaço podem ser evitados, uma vez que o professor precisa se sentir preparado, amparado e satisfeito para desempenhar um trabalho de qualidade.

Além disso, Gatti e Barretto (2009) elencam seis pontos que precisam ser considerados ao se discutir sobre as condições do trabalho docente e a sua valorização profissional. O primeiro diz respeito aos cuidados com a formação inicial, procurando qualificar melhor os futuros professores na graduação. O segundo refere-se à existência de concurso para ingresso na carreira, isto é, seria o primeiro passo para qualificar os professores quanto à docência. O terceiro remete à ausência de avaliação do desempenho em estágio probatório, mesmo estando prevista em formato de lei. O quarto aponta para a necessidade de elaboração de políticas integradas que visem à formação pré-serviço e continuada dos professores. O quinto corresponde a ações que busquem melhorar as perspectivas de carreira docente, e a visão sobre esta profissão na sociedade em geral, como também, entre os próprios professores. Já o sexto relaciona-se aos planos de carreira, pois muitas vezes, os professores precisam deixar a sala de aula para “subirem na carreira”, desse modo, deveria existir outra maneira dos professores continuarem em sala e conseguirem melhoras na mesma.

De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação inicial em nível superior e para a formação continuada (2015c), destaca-se o Artigo 19, que como forma de valorização do magistério público nos planos de carreira e remuneração, deverá garantir:

Art. 19 [...] deverá ser garantida a convergência entre formas de acesso e provimento ao cargo, formação inicial, formação continuada, jornada de trabalho, incluindo horas para as atividades que considerem a carga horária de trabalho, progressão na carreira e avaliação de desempenho com a participação dos pares, asseverando-se: I - acesso à carreira por concurso de provas e títulos orientado para assegurar a qualidade da ação educativa;

II - fixação do vencimento ou salário inicial para as carreiras profissionais da educação de acordo com a jornada de trabalho definida nos respectivos planos de carreira no caso dos profissionais do magistério, com valores nunca inferiores ao do Piso Salarial Profissional Nacional, vedada qualquer diferenciação em virtude da etapa ou modalidade de educação e de ensino de atuação;

III - diferenciação por titulação dos profissionais da educação escolar básica entre os habilitados em nível médio e os habilitados em nível superior e pós-graduação lato sensu, com percentual compatível entre estes últimos e os detentores de cursos de mestrado e doutorado;

IV - revisão salarial anual dos vencimentos ou salários conforme a Lei do Piso; V - manutenção de comissão paritária entre gestores e profissionais da educação e os demais setores da comunidade escolar para estudar as condições de trabalho e propor políticas, práticas e ações para o bom desempenho e a qualidade dos serviços prestados à sociedade;

VI - elaboração e implementação de processos avaliativos para o estágio probatório dos profissionais do magistério, com a sua participação;

VII - oferta de programas permanentes e regulares de formação e aperfeiçoamento profissional do magistério e a instituição de licenças remuneradas e formação em serviço, inclusive em nível de pós-graduação, de modo a atender às especificidades do exercício de suas atividades, bem como os objetivos das diferentes etapas e modalidades da educação básica. (BRASIL, 2015c, p. 15-16)

Conforme previsto no artigo supracitado, aspectos como a formação inicial e continuada, jornada de trabalho, progressão na carreira e remuneração devem ser assegurados aos professores visando sua valorização e condições de trabalho, visto que são aspectos que se complementam.

Com base nas discussões apresentadas neste capítulo e considerando o contexto da inclusão escolar, ressalta-se a importância da articulação entre temáticas sobre concepção, práticas pedagógicas e condições do trabalho docente, uma vez que são interdependentes e repercutirão na atuação do professor.