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Condições para avaliar a Consciência Fonológica.

ANÁLISE Segmentação forçada;

3.6 Condições para avaliar a Consciência Fonológica.

As tarefas de habilidades metafonológicas, aqui tratadas como TCF quando organizadas em conjunto, comumente buscam avaliar a consciência fonológica a partir de propostas de situação de entretenimento ou instrução (Rueda, 1995). São, portanto, considerados instrumentos que possibilitam mensurar e comparar desempenhos em

habilidades metafonológicas de forma objetiva. Para isto, Haase (1990, p. 165) coloca dois critérios que definem a execução de uma tarefa como uma habilidade metafonológica, ou seja, como sendo de consciência fonológica. Estes critérios são os de que a tarefa deve:

a) Ser testada em situação formal, ou seja, em situação de experimentação controlada a fim de se garantir maior fidelidade da avaliação da atividade cumprida pelo sujeito. Segundo o autor, não se deve aceitar uma observação de comportamento verbal espontâneo supondo-se identificar aí um certo grau de consciência fonológica.

b) Ser antecedida de explanação verbal das propriedades fonológicas da unidade testada. Segundo Haase (1990), não sendo possível, o que é comum em se tratando de crianças, aceita-se a demonstração de transferência de aprendizagem de uma experiência para outra.

Um outro critério acrescentado, agora por Coimbra (1997), trata da importância de a tarefa ser administrada individualmente a cada criança, a fim de garantir uma observação particular sem a interferência ou ajuda de outros sujeitos.

Considera-se que para um TCF ter validade suficiente para garantia de que a consciência fonológica seja de fato testada, pelo menos três itens devem ser considerados no que diz respeito ao sujeito avaliado (Coimbra, 1997):

a) Percepção da fala – o estímulo deve ser percebido e a unidade explorada deve ser discriminada adequadamente, pois há de se

considerar que boa parte da consciência fonológica depende da simples percepção da língua falada.

b) Memória – de curto prazo. Mas aqui também abordando também a memória de trabalho, ou seja, o sistema de memória para retenção e manipulação temporária de informações durante o desempenho de uma gama de tarefas cognitivas (Zimmer,1999. A criança tem que lembrar do estímulo e ser capaz de operar nele.

c) Habilidade cognitiva geral – a criança deve raciocinar bem o suficiente para que seja capaz de pensar no estímulo e operá-lo, executando a tarefa solicitada.

Deve-se, então, observar, pelo menos, dois aspectos gerais que dão condições para uma avaliação metafonológica a partir da utilização de um TCF:

Aspectos Gerais Critérios

Relacionados à aplicação do TCF Aplicação em situação formal

Cada tarefa ser antecedida de explanação verbal ou de demonstração

Aplicação ser individual Relacionados ao sujeito avaliado,

que deve ter boa avaliação em

Percepção de fala Memória

Habilidade cognitiva geral

Quadro 22: Aspectos importantes para a validade de um TCF.

Considerando as condições de avaliação da consciência fonológica colocadas por Haase (1990, p. 165), dois critérios devem ser verificados na aplicação dos testes: a situação formal de aplicação e a explanação verbal antecedendo a execução de cada tarefa. E, analisando os TCF que compõem a amostra desse estudo, observa-se

que todos eles foram aplicados em situação formal: em escolas ou em clínicas. Foram, portanto, aplicados em situação de experimentação controlada, não foi aceita nenhuma averiguação de comportamento verbal espontâneo. Isso garante fidelidade da avaliação da atividade metafonológica cumprida pelo sujeito.

Todos os TCF também foram aplicados tendo cada uma das tarefas antecedidas por explanação verbal. Apenas o TCF – Cardoso-Martins (19991) apresenta certo grau de incoerência entre a explanação feita, a exemplificação demonstrada e os itens de testagem propostos. E, quanto a aplicação do teste ser individual, também todos os TCF analisados cumpriram esse critério. Tem-se, portanto, assegurada a importância de a tarefa ser administrada individualmente a cada criança, e, com isso, a garantia de uma observação particular de cada sujeito sem a interferência ou ajuda de outros sujeitos.

Coimbra (1999) coloca critérios para garantia de que a consciência fonológica seja de fato testada, respeitando a avaliação dos sujeitos quanto à percepção de fala, memória e habilidade cognitiva de um modo geral. Verifica-se que dos cinco estudos, três explicitam controle da variável desenvolvimento intelectual - Cardoso- Martins (1991), Cielo (1996) e Coimbra (1997) –, garantindo assim que a criança raciocina bem o suficiente para que seja capaz de pensar no estímulo e operá-lo, executando a tarefa metafonológica solicitada.

A memória e a percepção de fala pode-se dizer que foram controladas através de testes que avaliam o nível de prontidão para alfabetização. Uma tentativa de verificar se a consciência fonológica estaria mesmo sendo avaliada, sem interferência de inadequada percepção da língua falada e/ou da capacidade de uso da memória.

Comparando as propostas de TCF, pode-se diferenciar o TCF - Coimbra (1997) dos TCF – Cardoso-Martins (1991) e TCF – Santos e Pereira (1997) quanto a

proposta metodológica de aplicação dos testes. Coimbra (1997) apresenta os itens de testagem através de bonecos fantoches com a fala gravada em laboratório, dessa forma a autora garante que todos os seus sujeitos tenham a oportunidade de ouvirem as mesmas realizações das palavras, preservando a uniformidade do estímulo recebido pelos sujeitos. E, o fato das palavras serem apresentadas por bonecos forçou que as crianças concentrassem esforços na percepção da fala sem apoio visual. O mesmo não ocorre com a aplicação do TCF – Cardoso-Martins (1991) e Santos e Pereira (1997), não há garantia de que os sujeitos tiveram a uniformidade dos estímulos recebidos na aplicação dos TCF, devendo ser considerada a presença de variação lingüística, obviamente. Fica o alerta ainda mais forte para o trabalho de Santos e Pereira (1997) que pretende orientar fonoaudiólogos para a avaliação da consciência fonológica e que não faz observação explícita sobre as questões relacionadas às diferenças de falares no território brasileiro.