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CONDIÇÕES E RELAÇÕES DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NO SISTEMA PÚBLICO DE SAÚDE NA FRONTEIRA DE FOZ DO IGUAÇU

3 A ATENÇAO Á SAÚDE DOS TRABALHADORES DO SETOR SAÚDE NA “CENA CONTEMPORÂNEA”

5 A SAÚDE DO TRABALHADOR NA FRONTEIRA IGUAÇUENSSE: AS RESPOSTAS PROFISSIONAIS E INSTITUCIONAIS DO SERVIÇO SOCIAL NO

5.2 CONDIÇÕES E RELAÇÕES DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NO SISTEMA PÚBLICO DE SAÚDE NA FRONTEIRA DE FOZ DO IGUAÇU

Foz do Iguaçu é um município situado na fronteira do Brasil com o Paraguai e Argentina. Localizado na região do extremo oeste do Estado do Paraná. O município ocupa uma posição geográfica privilegiada: ao sul, faz divisa com Puerto Iguazu – Argentina, e a oeste, com Ciudad Del Este - Paraguai. Esse limite territorial que demarca as divisas com os dois países caracteriza o município como linha de fronteira e uma cidade gêmea. Desta localização geográfica é que se originou a denominação tríplice fronteira.

O Brasil se liga ao Paraguai pela Ponte Internacional da Amizade e à Argentina pela Ponte Tancredo Neves, a Ponte da Fraternidade. Paraguai e Argentina usam o território brasileiro como ligação. Ônibus regulares de linha circular urbana internacional fazem o transporte de passageiros entre as três cidades há muitos anos, como se fizesse uma rota de bairro/centro/bairro de qualquer cidade (ACIFI, 2003, p.6).

Considerando a classificação adotada pelo Ministério da Integração Nacional (MI), Foz do Iguaçu é uma fronteira que integra o Arco Sul do território nacional. É considerada a

cidade mais importante da região da tríplice fronteira, contando com um afluxo turístico de diversos países, de outras regiões do Estado brasileiro e do Cone Sul, apresentando as melhores condições de acessibilidade da fronteira do sudoeste. (PEITER, 2005).

As primeiras preocupações com a fronteira brasileira (nacional) e paraguaia (internacional) datam da segunda metade da década de sessenta, são decorrentes do reclame da posse do rio Paraná pelos dois países (Brasil e Paraguai), devido aos anúncios da construção de um mega-empreendimento, denominado Usina Hidroelétrica de Itaipu (UHI), a qual transformaria a riqueza hidráulica em fontes permanentes de divisas associada à fartura de trabalho e de dinheiro (MAZZARROLLO, 2003).

Verifica-se que a cidade, até meados da década de 1960, caracterizava-se como um “paraíso perdido”, capaz de responder a todas as solicitações demandadas pelos seus munícipes. Porém, com o início da construção da UHI, a pacatez de cidade interiorana começou a se desintegrar dando lugar a novas estruturas que se moldavam rapidamente à fronteira, a partir das novas relações sociais produzidas com a chegada da Itaipu.

Por fim, como resultado dessa modernidade implementada na selva subtropical, na fronteira do Brasil com o Paraguai e Argentina, expressa, em sua configuração acabada, pela usina de Itaipu e pelo poder que dela emanava e que a todos envolvia, buscamos destacar aquilo que mais marcante sobrou como herança da implantação daquele projeto para a cidade e sua população: a transformação do espaço urbano de forma radical e abrupta; a emergência de uma população pobre, que passou a buscar alternativas de sobrevivência através de empregos informais, de expedientes ilegais, que desembocam num incremento significativo da criminalidade (CATTA, 2002, p.21).

Foz do Iguaçu foi rapidamente transformando-se num polo receptor de pessoas vindas de todas as regiões do Brasil e de outros países que, seduzidas pelas possibilidades trazidas pelo projeto modernista de construção da UHI, chegavam à cidade em busca de melhores condições de vida e trabalho. Catta (2002) e Mazzarrollo (2003), afirmam que a grande densidade populacional concentrada no espaço da fronteira proporcionava, aos olhos das pessoas residentes em Foz do Iguaçu, um cenário grotesco. Cenário demarcado pela falta de higiene e pelo número excessivo de ambulantes revendendo produtos adquiridos no Paraguai, além de índios argentinos e paraguaios que ali faziam ponto para vender seus artesanatos.

A partir dos anos 70, o município foi rapidamente constituindo-se em uma zona fronteiriça marcada pelo distanciamento da vida nacional da qual fazia parte, por estar muito distante do governo central, pólos de tomada de decisão da vida nacional (MULLER, 2003a).

Tem-se um Estado brasileiro que estabelece divisa nacional com o Paraguai através do município de Foz do Iguaçu, marcado por particularidades distintas influenciadas pela organização do espaço, base econômica e fluxo inter/transfronteira que proporcionam características particulares à formação de uma identidade cultural e fronteiriça (MULLER, 2005b).

O trânsito desses estrangeiros sempre foi livre e constante entre as cidades vizinhas da fronteira, Foz do Iguaçu, Ciudad Del Este e Puerto Iguazú. Assim, observamos que nessa fronteira as inter-relações culturais, econômicas, sociais e políticas não poderiam ser senão de tal freqüência e intensidade que costumes, experiências, gostos, moedas e língua se intercambiavam e se misturavam, num hibridismo digno de uma mini-Babel do Século XXI. Ou, quem sabe “uma reedição tardia, talvez” uma caricatura da tradição do século XIX, num espaço de fronteira onde de fato a fronteira inexiste, onde tudo é possível, desde transitar, até engajar-se no mercado de trabalho (CATTA, 2002, p. 30).

Para os munícipes de Foz do Iguaçu, a fronteira nunca existiu. A situação desencadeada gerou um novo complexo urbano aprofundando a transnacionalização pela facilidade do trânsito inter/transfronteira decorrente do livre acesso e circulação, tanto de pessoas quando de mercadorias. Esse espaço passou a contar com um alto índice de indivíduos binacionais ou transfronteiriços, em que os binacionais são aqueles cujo domicílio está situado de um lado da fronteira, mas que, por motivos diversos, transitam permanentemente entre fronteiras. Já os transfronteiriços são cidadãos ou famílias da mesma nacionalidade, mas que vivem de lados diferentes da fronteira (brasileiros que residem no Paraguai e considera-se também a situação inversa). (ASTORGA, 2002, p.29).

Pois o complexo urbano formado pelas três cidades da fronteira que supera a casa dos 770.000 habitantes, banhadas pelos rios Iguaçu e Paraná, formam um conjunto sui generis que mescla nações, raças, línguas, costumes e moedas que convivem em harmonia. Assim a integração, faz pare do dia-a-dia dessas cidades de tal sorte que parece não haver fronteiras. De maneira geral as pessoas transitam como se estivessem no seu próprio bairro, bastando portar um documento de identidade que muitas vezes não é preciso exibi-lo. (ACIFI, 2002, p.3).

Foz do Iguaçu pode ser classificada como uma “fronteira viva”, a qual Padrós (1994, p.76) denomina como” caracterizada por uma presença demográfica relativamente importante e por uma estrutura social complexa,” manifestando uma “integração informal que sobrevive às conjunturas políticas e de corte”. As relações e processos sociais construídos nesses espaços derivam da forma de organização e fortalecem as economias locais e regionais, levando o homem fronteiriço a criar estratégias para sobrevivência nestas regiões.

Deve-se destacar que, pela intensa troca entre as populações fronteiriças, Foz do Iguaçu se caracteriza como uma interação transfronteiriça do tipo Sinapse, na qual os grupos que se situam além da linha de fronteira têm maior alcance da extensão territorial. Potencializa a interação tipo Sinapse o intenso e permanente intercâmbio transfronteiriço ativamente apoiado pelos Estados, por acordos binacionais e, até mesmo, por pactos verbais.

A fronteira de Foz do Iguaçu deve ser apreendida como um fenômeno social, fundada numa visão crítica de território portador de peculiaridades inerentes à sua formação sócio-espacial, nas quais as identidades fronteiriças são formadas em função dos processos sócio-históricos e de suas instituições (PEITER; 2005; SANTOS, 2001). Assim, debater sobre a fronteira significa:

Pensar o fenômeno fronteira requer uma reflexão ampla que atenda vários fatores colocados de modo imbricado e que fazem parte das dinâmicas sociais de diferentes contextos. Ao definirmos um espaço especifico para analisar tal fenômeno é fundamental acionar uma série de dispositivos que dêem conta da questão tratando-a como processo. Trabalhar sobre tal perspectiva pressupõem um engendramento entre os diversos campos que constituem o tecido social, em especial, o tecido social urbano, levando em conta a diferença, considerando que esta é essencial para o significado e que este é crucial a cultura (MULLER, 2005, p.3).

A fronteira de Foz do Iguaçu com o Paraguai apresenta uma dinâmica permanente de superação de desafios para a criação de uma identidade fronteiriça, marcada pela diversidade de culturas e modos de ser distintos, afastada do rótulo do comprismo, contrabando, narcotráfico, através da construção cotidiana de estratégias de aproximação. Nesse espaço, criam-se alternativas de articulação para possibilitar maior aproximação entre os homens fronteiriços.

No âmbito do Serviço Social, a fronteira vem sendo introduzida e ganhando merecido destaque no debate da saúde, através do Grupo de Pesquisa Estado Sociedade Civil, Políticas Públicas e Serviço Social, vinculado ao Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e o Núcleo de Estudos e Pesquisa em Saúde e Trabalho do Curso de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul(URGRS).

É inconteste que as investigações desenvolvidas por esses grupos despontam como uma iniciativa de significativa relevância e notável reconhecimento que tem colocado em discussão a temática fronteira, saúde, serviço social e intervenção profissional através projetos de pesquisas de diferentes envergaduras, direções e objetos como pode-se identificar pelas indicações a seguir; Projeto: Edital Universal 01/2002 - Fronteira MERCOSUL: um

estudo sobre o direito à saúde – 2003-2005; Edital MCT/CNPq 61/2005 - Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas - Fronteira MERCOSUL: A institucionalidade dos sistemas municipais de saúde e o direito a saúde-2006 -2008; Edital MCT/CNPq 02/2006 – Universal - O direito à saúde na perspectiva da população residente na linha da fronteira MERCOSUL – 2006 -2008 e, por fim o projeto a implementação dos Programas Sis Fronteira e Pacto Pela Saúde – perspectivas para a ampliação do direito à saúde aos usuários estrangeiros na Fronteira Arco Sul Edital MCT/CNPq 14/2009 – Universal, essas propostas investigativas foram desenvolvidas nos municípios brasileiros que fazem fronteira com os países do Arco Sul, e seus dados serão revisitados com a prerrogativa de subsidiar o desenvolvimento da tese.

Os projetos acima mencionados trouxeram inúmeras contribuições que ampliaram a compreensão e subsidiaram a implantação de políticas de saúde nas regiões fronteiriças, além de retratar precisamente as peculiaridades de cada faixa e linha de fronteira; a organização do serviço social nesses espaços; as características da intervenção assistente social, além de condensar dados sobre as condições e relações de trabalho dos assistentes sociais que, à época, não se constituíram objeto de análise; e ainda a oportuna situação face à formulação da tese de doutoramento da autora, no tempo presente o banco de dados dos respectivos projetos e grupos de pesquisas serão a base empírica da pesquisa considerando as devidas autorizações pelos lideres. (Vide anexo).

Com a execução do projeto Fronteira Mercusul, identificou-se, em 2005, os assistentes sociais atuantes no sistema de saúde pública na linha de fronteira de Foz do Iguaçu, em sua maioria apresentavam relações de trabalho contrárias às presenciadas na era pós-fordista, ou seja, contratos de trabalho com vínculos instáveis, precários com baixa remuneração e proteção social. Para fins desse trabalho, considera-se relação de trabalho todos os mecanismos de regulação que filia uma pessoa a uma empresa numa relação de compra e venda da força de trabalho para desempenhar determinada função. O mecanismo de regulação consiste em: contrato de trabalho, no qual se regulamenta e fixa o valor da força de trabalho vendida, tempo de utilização diária, semanal e mensal da força de trabalho pelo empregador, horário em que a força de trabalho estará à disposição para uso da empresa, e outros benefícios figurados no sistema de proteção social brasileiro.

Assim, a relação de trabalho constitui-se na regulação necessária para segurança, tanto do empregador quando do empregado, considerando que esse instrumento jurídico institui certa estabilidade para ambos. No Brasil as relações de trabalho são orientadas pela

consolidação das Leis Trabalhista (CLT), e pela Lei Complementar 9.527/97 que constituem o regime jurídico único para os servidores públicos civis.

Os assistentes sociais sujeitos da pesquisa desenvolvem suas atividades profissionais na rede de serviços públicos de saúde de Foz do Iguaçu, nos níveis da atenção básica e assistência especializada. Participaram das discussões e entrevista, oito (09) profissionais que se encontram assim distribuídas no quadro funcional. Seis (06) desempenham função na média complexidade, duas (02) prestam serviços ligados a atenção básica, e uma (01) em uma entidade não governamental na condição de cedida. Foram incorporadas ao quadro funcional da Prefeitura do município via concurso público e desempenham suas atividades nesta instituição entre 7 e 16 anos aproximadamente. (SILVA, 2005, p.68).

Verifica-se que as relações de trabalho do assistente social, em 2005, eram caracterizada por vínculos estáveis, uma vez que a inserção dos profissionais no sistema de saúde do município deram-se via concurso público, e todos já estavam seguindo carreira considerando o tempo de vinculação à secretaria de saúde que ultrapassava o período de estágio probatório.

Na execução do projeto Sis Fronteiras e Sis Pacto, iniciado em 2009 e finalizado em dezembro de 2011, a situação de predominância das relações de trabalho estáveis já haviam se alterado, pois identificou-se a adesão do municípios às novas formas de gestão e organização do trabalho para contratação de trabalhadores na área da saúde. Constatou-se a inserção do trabalho cooperado e terceirizado na media e alta complexidade, com vínculos de trabalhos instáveis, precários e acompanhados de jornadas de trabalho extenuantes para os trabalhadores de saúde inclusos os assistentes sociais.

Hoje há uma preocupação da secretaria de saúde em Foz do Iguaçu é extinguir, acabar com os serviços terceirizados principalmente no hospital municipal, mas o município ainda não tem recurso nem quadro de pessoal para gerir o hospital sozinho, assim temos que terceirizar pelo baixo custo. (KA, 2012)

A fala do gestor, num primeiro momento, revela que, na conjuntura de 2005 o município ainda não fazia uso dos instrumentos de gestão e organização do trabalho, típicos do modelo pós-fordista, que levam à precarização, respaldado pelo uso inadequado e com sentido inescusável da categoria trabalho, enquanto atividade que se realiza em função do atendimento das necessidades humanas para justificar a utilização deliberada e indiscriminada de dispositivos inconstitucionais.

No momento seguinte a arguição do gestor aponta que, no limiar de seis anos, (período compreendido entre 2005 a 2011 quando da coleta de dados do projeto Sis Fronteira

e Sis Pacto), houve a incorporação pela gestão municipal dos mecanismos introduzidos no mercado de trabalho brasileiro pela reestruturação produtiva, que tem a terceirização como estratégia de recomposição do lucro e da acumulação.

A incorporação, ainda que inconsciente, da terceirização pelo gestor do sistema municipal de saúde de Foz do Iguaçu, por seus efeitos deletérios e perversos nas condições de vida e de saúde do trabalhador, endossa a adesão e cumprimento dos preceitos da reforma de Estado que, considerando a saúde como uma atividade não exclusiva do Estado, é resguardada ao ente federado, em caráter de complementaridade e suplementaridade, repassar a terceiros, ou seja, à sociedade civil organizada, a prestação de ações e serviços de saúde.

A terceirização no âmbito da saúde vem sendo utilizada desmedidamente sob a justificativa da necessidade do saneamento econômico-financeiro da máquina pública, e, por se constituir uma alternativa para a oferta de serviços a baixo custo, tornar mais viável ao gestor terceirizar ao invés de solicitar a realização de concursos públicos.

A forma como a terceirização vem sendo utilizada pelos gestores de saúde tem ocultado o seu real e perverso significado, pois essa estratégia, em alta na era pós-fordista, altera as relações de trabalho por meio da desregulamentação do mercado e da força de trabalho, da flexibilização das legislações trabalhistas, da fragmentação do trabalho coletivo, obstruindo a construção da consciência de classe, fator que favorece ao empresariado o aumento do controle sobre o trabalho.

Outras indicações de significativa relevância evidenciadas na revisitação do banco de dado dos projetos foram as características distintas derivadas da mobilidade humana na região fronteiriça, pois o permanente e fácil acesso transfronteira acresce o número de usuários que buscam e pretendem ser atendidos no sistema municipal de saúde de Foz do Iguaçu. Essa situação tem gerado preocupações de variadas dimensões, dentre as quais duas nos interessam, a primeira é o acréscimo de usuários no sistema de saúde não acompanhados de recursos financeiros, pois os brasileiros que residem no Paraguai ou Argentina não são considerados munícipes iguaçuensse pelo censo do IBGE; no entanto, não prescindem da cidadania brasileira, o que gera uma contradição entre os indicadores utilizados pelos repasses de recurso financeiro per capita na saúde e a dinâmica fronteiriça, tornando-se uma incontestável justificativa para adoção da terceirização.

A segunda dimensão consiste na intensa procura dos serviços de saúde no sistema público de Foz do Iguaçu brasileiro por estrangeiros, principalmente paraguaios e argentinos, face às discrepâncias e assimetrias da saúde pública entre os países. Os estrangeiros, sabedores da gratuidade dos serviços de saúde no Brasil, em sua maioria, valem-se de

diversificadas estratégias para serem atendidos na emergência. Uma das alternativas mais utilizadas é permitir propositalmente o agravamento das doenças, considerando que a situação, além de aportar um senso de urgência frente ao risco iminente da morte, obriga à emergência atender, sob pena de responder civil e criminalmente, já que a recusa de atendimento caracterizado emergência ou urgência é caracterizado negligência.

Essas situações na ótica do gestor tem onerado o sistema local de saúde, pois obriga o município a atendê-los, mesmo na condição de estrangeiro irregular, elevando os gastos com os serviços de média e alta complexidade. Diante da complexa situação vivida no sistema de saúde brasileiro na região de fronteira, muito mais que uma estratégia, a terceirização torna-se uma medida de alívio ao gestor que, ao repassar para a iniciativa privada a prestação de serviços, serão essas organizações que ficarão no prejuízo por atender estrangeiros com quadros clínicos agravados, na emergência. Verifica-se uma terceirização dos problemas de financiamento e custeio das ações e serviços para a iniciativa privada.

A procura é intensa pelos brasiguaios por serviços de saúde gratuitos que não maioria das vezes são negados, não levando-se em conta o risco de morte. Há pressão para o não atendimento ao brasiguaio. O aumento constante da demanda é, também, em função da valorização ou desvalorização do dólar. Pois se o dólar sobe muito a cidade esvazia e as pessoas não tem dinheiro e buscam o SUS, para o atendimento. Se o dólar baixa muitos brasileiros vem do Paraguai para passar muamba na ponte e também acabam usando os serviços de saúde aqui e nem sempre conseguem (RJ, 2006).

A alteração das relações de trabalho na região fronteiriça teve pouco ou quase nenhum impacto direto nas condições de trabalho dos assistentes sociais e demais trabalhadores de saúde. Isso porque em 2005, na elaboração do relatório de conclusão do projeto de pesquisa Fronteira Mercosul, deparou-se com condições de trabalho deterioradas, estressantes, com jornadas extenuantes que ainda foram identificadas em 2011 com a realização do programa Sis Fronteira e Sis Pacto.

Neste trabalho o termo condições de trabalho está sendo empregado para designar, o ambiente físico, o ambiente físico, o ambiente biológico as condições de higiene e segurança no trabalho, as características antropométricas dos postos de trabalho e a capacidade cognitiva, mental e intelectual de responder às demandas do setor.

O exercício profissional do assistente social na região fronteiriça apresenta peculiaridade distinta, em que a própria fronteira aparece como condição de trabalho por apresentar uma dinâmica diferenciada materializada na conjunção local e internacional,

impondo dilemas e desafios à intervenção de ordem jurídica, política, técnica, ética, geográfica, financeira que tensionam e impactam na intervenção da categoria.

Eu vejo que é muito diferente trabalhar numa região de fronteira, primeiro porque a problemática social é muito diferenciada né. A gente trabalha com carências sociais de países que a gente não conhece a cultura, não conhece a política, a gente não conhece também as legislações. A gente trabalha também com direitos Internacionais. Como é trabalhar com direitos internacionais. Esta é a grande diferença de se trabalhar na região de tríplice fronteira (RE, 2006).

Verifica-se que as questões culturais, econômicas, financeiras e políticas não são homogêneas ao longo da fronteira, com destaque relevante a dimensão cultural, considerando que os grupos de nacionalidades distintas que habitam essa região preservam as tradições