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5.2 CULTURA DE SEGURANÇA EM UTI: PERCEPÇÃO DOS

5.2.1 Resultados quantitativos

5.2.2.1 Cultura de Segurança em UTI – percepção dos trabalhadores de

5.2.2.1.5 Condições de Trabalho

As condições de trabalho têm potencial para afetar a segurança do paciente e podem estar relacionadas às características pessoais dos profissionais, gerenciais ou estruturais da organização, como locais de trabalho estressantes e luminosidade prejudicada. Sabe-se que,melhores condições de trabalho, repercutem na qualidade de vida do trabalhador e,principalmente,na qualidade da assistência prestada ao paciente.

Com esse entendimento, essa subcategoria se formou a partir de percepções dos trabalhadores sobre as condições de trabalho na UTI’A, tendo em vista que esse fator interfere na cultura de segurança da instituição.Assim, pode-se observar que vários pontos foram citados como sinônimos de condições de trabalho, algumas destacadas como fatores positivos dentre o ambiente estudado, outros poucos como fatores negativos.

Destaca-se que, os trabalhadores, quando questionados sobre suas condições de trabalho para desenvolver um cuidado seguro,descreveram a seguinte opinião.

Mas, tu tens tudo muito a mão do que tu precisa. Material não falta. São raras as vezes que falta material, mais nos finais de semana que o pessoal não recoloca mesmo. Tu tem médico para te dar suporte, tem enfermeiro, psicólogo, fisioterapeuta. Eu acho as condições boas de trabalho. (ENF 4) Eu acho que o hospital universitário ele é ótimo. Não é100% mas, tem praticamente tudo que a gente precisa, material. É eu acho que é de boa qualidade, as vezes claro ganha na licitação alguma coisa mas, mas logo cai ai vem algo melhor. E aqui a gente tem ainda as questões da infraestrutura, tipo a cama é boa, a gente tem bastante acessórios para usar, tipo aquele guincho que levanta os pacientes e já ajuda, facilita muito

a gente mesmo. E a gente tem todos os exames aqui, tomografia, raio x eles vem fazer aqui, o laboratório vem coletar, o banco de sangue tudo. (ENF 2)

De acordo com as falas acima, percebe-se que os trabalhadores de enfermagem consideram as condições de trabalho boas na UTI estudada. Para os mesmos, a instituição disponibiliza materiais de qualidade, provê recursos humanos necessários para uma assistência de qualidade e possui aparatos tecnológicos importantes para o tratamentos dos pacientes.

Contudo, foram citadas algumas limitações relativas à estrutura física do setor, que interferem diretamente na segurança do paciente. Tais deficiências são demonstradas nos seguintes depoimentos:

Olha, eu gosto das condições de trabalho na UTI, a única coisa que eu tenho que te colocar é a questão da logística do leito 10 e do leito 7. Isso realmente acho que não ficou legal.(ENF 1)

De estrutura acho que ficou um pouco prejudicado que ali entre os leitos seis e sete, ali tinha uma porta antes, a uti tinha duas portas, daí o CCIH resolveu fechar. Para nós é um pouco ruim porque fica longe por que fica[um técnico de enfermagem] no[leito] um e no [leito] dez, e tem que passar todo aquele corredor, fica um pouco cansativo. Se fosse aberto ali no meio como era antes, mas resolveram fechar. E a falta do banheiro para os pacientes que eu acho que falta também. Mas, no mais, eu acho que é bom, o espaço entre os leitos essas coisas, acho bom. (TEC 12)

Em relação ao espaço, ao excesso de gente. Como eu trabalho a noite, não tenho esse problema do excesso de pessoas, mas, as poucas vezes que eu venho de dia é uma poluição sonora, é muita gente, muita gente em volta de ti. Tu já tem toda aquela parafernalha em volta do paciente, mais quinhentas pessoas em volta de ti, tu trabalha desviando de fio, desviando de máquina, tu não consegue chegar numa bomba de infusão para parar de alarmar porque é muita coisa. Eu acho que o espaço físico ele precisaria ser bem mais ampliado. (TEC 10)

Nas falas dos trabalhadores também veio à tona a questão da sobrecarga de trabalho, e até mesmo essa relação com a segurança do paciente como pode ser observado no depoimento: “Olha, falar de condições de trabalho,é falar em muito trabalho, tipo sobrecarga. Não tem como não falar disso aqui. Talvez seja o principal problema da UTI...e isso interfere direto no cuidado dos pacientes...” (TEC 4).

Outro aspecto lembrado pelos trabalhadores, que está relacionado as condições de trabalho é o número de profissionais.

Olha, quando tem dois enfermeiros fica muito bom. Porque pela constituição ali se pede 6 pacientes por enfermeiro. Então, quando realmente não tem 2 enfermeiros por turno, fica complicado, mas assim... a gente faz mais na

corrida mas consegue dá conta. A demanda fica maior, mas se dá conta.(ENF 3)

Hoje de manhã eu estava falando sobre isso, estava falando sobre isso para os meus colegas..., mandaram a gente fechar as escalas com seis técnicos de enfermagem. Mas para cobrir os atestados tu remaneja e remaneja: ah tu não vem hoje, vem amanhã, ficando vários plantões com cinco técnicos de enfermagem. Então acabamos desfazendo aquilo que a gente já tinha conquistado, que era deixar seis funcionários para dez pacientes, que ai ficava dois com um paciente mas, fica lá no isolamento, e ai aquele que está no isolamento ajuda o outro e ficam dois funcionários com três pacientes, tão graves e pesados lá no fundo, e o outro fica ajudando no salão que são sete pacientes. A estrutura física nossa é horrível nesse ponto. Estava bem e aí fecharam onde tinha ligação com os isolamentos e ficou bem pior, para poder abrir um leito que existia. Na verdade, existia esse 10º leito, então tinha que ser aberto, era lei não adianta, ficou uns sete anos fechado eu acho. (TEC 11)

Na avaliação das condições de trabalho, qualitativamente pode-se dizer que os trabalhadores de enfermagem têm uma boa percepção das condições de trabalho. No entanto, observou-se a necessidade de aprimoramento, principalmente em relação parte estrutural da unidade. Ainda, foi relatado que a sobrecarga de trabalho e, por consequência, o quantitativo de pessoal pode influenciar nas condições de trabalho, refletindo em aumento da carga de trabalho e na percepção dos trabalhadores no que tange as condições de trabalho e, por conseguinte, na segurança do paciente.

Nessa perspectiva considerou-se importante trazer alguns depoimentos, que ratificam a relação da sobrecarga de trabalho com a segurança do paciente. Ambas as temáticas foram abordadas, respectivamente no primeiro e segundo capítulo desse estudo.

É, a alta demanda e a segurança do paciente andam juntos aqui, porque quando o trabalho está muito pesado, quando a demanda é muito alta, tu tem muita tendência ao erro. Não digo só ao erro, mas, a falta do cuidado. Tu vai estar deixando de dar um cuidado àquele paciente quando tu está muito sobrecarregado, quando tem muita coisa para fazer e aí, por ter muita coisa para fazer, de repente, tu não vai estar concentrado para fazer aquilo ali certo e tu é humano, tu pode errar aquilo ali, desde passar a pressão para o computador, tu pode errar um número ali e o médico olhar a pressão, “ah o fulano está hipertenso” e pede para outro “vai lá fulano e administra um anti-hipertensivo”. Uma troca de um número no computador pode acontecer esse tipo de coisa. Então, tudo é muito susceptível ao erro, se não parar assim para fazer é bem provável de acontecerem erros. (TEC 4) O depoimento acima, demostra que o excesso de carga de trabalho tem relação direta com a maior probabilidade das ocorrências de erros no cuidado ao paciente. Além disso, o discurso do Tec 4, contorna a questão da qualidade do

cuidado quando se está sobrecarregado. Essa questão foi mencionada por outros como pode observar no próximo depoimento.

Eu acho que, com mais profissionais, a assistência melhoraria, porque quando tem muita coisa para fazer, ao mesmo tempo, é obvio que não vai sair tudo perfeito. Não tem como sair, ou até quando tu vai colocar um paciente correndo em cima de uma maca, o paciente pode sentir até uma dor ali ao colocar, “bota correndo porque tem que descer de uma vez”. Correndo em cima de uma maca, não andando devagar, com respirador e tubo dentro da boca. Imagina? Tu vai estar manuseando tudo, aquele tubo, correndo. Imagina? Vai estar machucando a traqueia do paciente. Quem sai prejudicado? É só o paciente. O funcionário vai sair sobrecarregado, com dor, mas a gente sai daqui vai para casa, toma um banho, deita e pronto. Eles [os pacientes] estão aqui 24 horas. Eu acho que quando está apertado, está sobrecarregado, a margem de erro é bem maior, até na hora de tu ler uma prescrição. Se tu estás na correria, está sujeito a cometer um erro na administração da medicação, a conferir o que vem da farmácia direitinho olhando rótulos, porque a gente tem muito, até há poucos dias estava vindo dipirona, lasix e metroclopramida que mudaram as embalagens.Então, dipirona com cara de lasix, lasix com cara de dipirona, então... mais uma vez falando da medicação. E uma coisa que a gente cuida aqui na UTI, que também envolve segurança do paciente é a questão da mobilização do paciente, evitar as úlceras, as UPP. Isso também tem sido feito um trabalho, a gente está sempre em cima do pessoal e o pessoal já sabe “agora é hora de virar para qual lado”. Então, isso aí eles estão bem doutrinados, na questão da mobilização do paciente, está na cultura deles, da unidade.(ENF 4)

De acordo com os depoimentos, principalmente, a relação entre a carga de trabalho e a segurança do paciente é percebida pelos trabalhadores. A sobrecarga de trabalho é apontada como uma condição de trabalho a que os trabalhadores de enfermagem da UTI’A estão expostos e influencia o modo como os mesmos desempenham o cuidado, tornando-os mais vulneráveis a cometerem erros, gerando incidentes.

Os dados quantitativos expostos nesse capitulo demonstram que os trabalhadores de enfermagem da UTI possuem uma cultura de segurança positiva para clima de trabalho em equipe, percepção de estresse e satisfação no trabalho e uma cultura de segurança negativa para clima de segurança, condições de trabalho e percepção da gerência da unidade e do hospital. Os dados qualitativos referente a cultura de segurança concordaram quase na totalidade com os achados numéricos, confirmando e, até mesmo, explicando alguns resultados quantitativos. Embora o objetivo dessa pesquisa fosse investigar a percepção dos trabalhadores, inevitavelmente há de considerar que nos relatos fica evidente que os profissionais transferem para a gerência da unidade e da instituição a responsabilidade pela

segurança do paciente, fato esse que deve ser considerado na avaliação desses resultados.