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CAPÍTULO 4: VARIÁVEIS GEOAMBIENTAIS CONDICIONANTES DE PROCESSOS

4.6 CONDICIONANTE ANTRÓPICO: VIAS DE CIRCULAÇÃO

4.6.1 Introdução

A ação antrópica interfere na dinâmica natural dos sistemas ambientais, geralmente acelerando a velocidade de mudanças da condição natural. De acordo com Santoro (2012), a degradação acelerada do solo é indicativa de uso e manejo mal conduzidos que comprometem a sua manutenção, bem como o seu potencial para usos futuros. Bigarella (2007) menciona que as alterações provocadas pelo ser humano nas vertentes têm levado vastas áreas a procurarem um novo equilíbrio através de extensos movimentos de massas.

Dentre as principais ações antrópicas indutoras dos processos erosivos e dos movimentos de massa podem-se destacar: remoção da cobertura vegetal natural para uso agropecuário; manejo inadequado de solos produtivos; lançamento e concentração de águas pluviais e/ou servidas; vazamentos na rede de abastecimento, esgoto e presença de fossas; execução de cortes com geometria inadequada (altura/inclinação); execução deficiente de aterros (compactação, geometria, fundação); lançamento de lixo nas encostas; vibrações produzidas por tráfego pesado; e traçado inadequado do sistema viário e sistemas de drenagens mal concebidos e mal executados (AUGUSTO FILHO, 1994; SANTORO, 2000; MARCELINO, 2003; BIGARELLA, 2007; SANTORO, 2012).

Segundo Forman e Alexander (1998) e Bigarella (2007), as redes rodoviárias ao atravessar a paisagem desviam as águas pluviais do seu curso normal. Se um sistema de drenagem não for convenientemente estudado, haverá a intensificação dos processos morfodinâmicos (erosão e movimentos de massa) e hidrológicos locais, além de elevar o pico de fluxos fluviais e de sedimentos à jusante. A água escoa rapidamente pela superfície de vias relativamente impermeáveis, especialmente em eventos de chuvas intensas. A água da superfície é então drenada por valas laterais das vias, algumas das quais se conectam diretamente aos cursos fluviais, enquanto outras drenam para bueiros, geralmente com incisão de ravinas abaixo dos seus pontos de deflúvio/despejo na média encosta (FORMAN e ALEXANDER, 1998).

Em suma, as vias aceleram os escoamentos pluviais, intensificando processos erosivos e transporte de sedimentos, que aumentam os níveis de inundação e degradam os ecossistemas

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aquáticos (assoreamento de corpos d’água), além da perda de solo e lixiviamento de nutrientes, constituindo assim num dos principais problemas para a conservação do solo, afetando também as áreas à jusantes na bacia hidrográfica (FORMAN e ALEXANDER, 1998). Sendo assim, buscou-se nesta etapa da pesquisa analisar a densidade de vias de circulação no perímetro da APA Fernão Dias, a fim de averiguar as áreas em que a concentração de vias é mais intensa.

4.6.2 Orientação metodológica para o mapeamento da densidade de vias de circulação

4.6.2.1 Mapeamento das vias de circulação

De acordo com o anexo I do Código Brasileiro de Transito, o termo via é definido como uma superfície por onde transitam veículos, pessoas e animais, compreendendo a pista, a calçada, o acostamento, ilha e canteiro central. As vias rurais são denominadas de estradas (quando não pavimentadas) e rodovias (quando pavimentadas), enquanto as vias urbanas compreendem as ruas, avenidas, vielas, ou caminhos e similares abertos à circulação pública, situados na área urbana, caracterizados principalmente por possuírem imóveis edificados ao longo de sua extensão. Nesta perspectiva, o mapeamento de vias de circulação foi feito com base nas estradas e rodovias dentro dos limites da APA Fernão Dias (MG).

Foi utilizado como base para o mapeamento das vias de circulação o arquivo vetorial em formato shp referente ao sistema viário mencionado na tabela 4.1 e imagem do sensor TM do satélite Landsat 5. O fato de Moretti (2011) ter extraído o arquivo vetorial do sistema viário de cartas topográficas produzidas na década de 1970 (IBGE) fez-se necessário atualizar o mesmo. Para tanto, no software ArcGIS™ 10, foi gerado uma composição colorida RGB 357, por entender que esta composição facilita o reconhecimento de vias (TRENTIN, 2012). A partir daí, o sistema viário foi atualizado por meio da ferramenta editor. O mapa atualizado das vias de circulação é apresentado na Figura 4.20.

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Figura 4.20 - Mapa de vias de circulação da APA Fernão Dias (MG). Org.: Garofalo, 2013.

4.6.2.2 Mapeamento da densidade de vias de circulação

Para mapear a densidade de vias de circulação foi empregado o estimador Kernel, mesmo processo utilizado na geração da densidade de lineamentos estruturais, descrito no item 4.5.2.2.

4.6.3 Mapa de densidade de vias de circulação

Como já era de se esperar, as áreas que apresentam maiores densidades de vias de circulação são aquelas próximas aos núcleos urbanos, principalmente ao longo da rodovia Fernão Dias, com destaque para o corredor que abrange as malhas urbanas de Extrema, Itapeva e Camanducaia (Figura 4.21). Depois de concluídas as obras de duplicação da rodovia Fernão Dias, os municípios de Extrema e Camanducaia receberam novos empreendimentos industriais, contribuindo para a ocupação e o crescimento desordenado desta região - sobretudo nas áreas periféricas e regiões de entorno imediato (REI) (MORETTI, 2011).

O município de Toledo também apresenta alta densidade de vias de circulação (Figura 4.21), que abrange quase a totalidade da área do município. Esta alta densidade é resultado da alta concentração de vias não pavimentadas que atravessam áreas de cultivos anuais e pastagens

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degradadas. Se mal planejadas ou sem manutenção, essas vias aceleram os escoamentos pluviais, intensificando processos erosivos e o transporte de sedimentos.

A alta densidade de vias de circualção observada na região de Monte Verde (Figura 4.21) pode estar associada ao intenso fluxo turístico desta região, que ocorre sem planejamento e controle, promovendo a ocupação desordenada da serra.

A porção central da APA - à leste da sede de Camanducaia, à oeste da sede de Sapucaí- Mirim e ao norte do distrito de Monte Verde, é em sua maioria ocupada pela silvicultura de Pinus e Eucalipto, que demanda uma alta concentração de vias para o escoamento da madeira, as chamadas “estradas florestais”. Machado (1994) afirma que apesar da importância das “estradas florestais”, a sua construção não implica no uso de uma metodologia de alta precisão como aquelas comumente utilizadas na construção das grandes rodovias. Afirma ainda que as estradas florestais geralmente são construídas segundo aspectos de rapidez e baixo custo.

A baixa densidade em toda porção sul e na porção centro-leste da APA se dá devido aos grandes remanescentes florestais ainda preservados, além das altas declividades que dificultam a ocupação destas áreas.

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CAPÍTULO 5: METODOLOGIA PARA MAPEAMENTO DE FRAGILIDADE

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