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(BAIRRO) IMPLANTAÇÃO DATA DE QUANTIDADE DE MONITORES

3.3. Análise das condicionantes de funcionamento dos infocentros 1 CONDICIONANTES POLÍTICO-SOCIAIS

3.3.2 CONDICIONANTES MATERIAIS

Os condicionantes materiais, de acordo com Paro (1995), se referem às condições objetivas em que se desenvolvem as práticas e as relações no interior da instituição.

Embora não se deva esperar que mesmo condições ótimas de trabalho proporcionem, por si, a ocorrência de relações democráticas e cooperativas, da mesma forma não se deve ignorar que a ausência dessas condições pode contribuir para o retardamento de mudanças no sentido do estabelecimento de tais relações. (PARO, 1995, p. 301.)

Com isso, Paro (1995) explica que falta de material didático, espaço físico impróprio para suas funções, móveis e equipamentos deteriorados, formação inadequada do corpo docente, falta de recursos materiais e financeiros para fazer frente às necessidades mais elementares podem deixar para segundo plano a preocupação das pessoas em criar medidas no que se refere a um ambiente cooperativo e participativo.

O autor ressalta, todavia, que não se deve fazer de tais dificuldades mera desculpa para não se desenvolver qualquer tentativa de superar tal condição ou pressionar o Estado no sentido dessa superação. Sobre esse aspecto, buscou-se apurar informações sobre os recursos financeiros e indícios disponíveis para o pleno exercício da atividade a que o Programa se propõe.

Percebeu-se que à medida que o infocentro era criado, disponibilizava-se uma cópia do Guia para a Inclusão Digital (2008) para subsidiar os usuários quanto às características gerais do NavegaPará, orientações sobre o uso do infocentro e o conteúdo programático para a oficina de informática básica a partir de software livre.

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As atividades devem ser desenvolvidas respeitando os horários de acesso para que os cidadãos possam elaborar e enviar currículos; pesquisar na Internet; criar endereços eletrônicos (e-mails); enviar e receber mensagens; realizar trabalhos diversos; confeccionar cartões e avisos entre outros. Nos infocentros, essas atividades serão monitoradas e adaptadas à realidade da comunidade em que estão localizadas, criando oportunidades e construindo um espaço seguro para garantir a inclusão digital. (PARÁ, 2008, p. 11)

De acordo o Guia, os infocentros eram salas ocupadas com microcomputadores para uso de software livre. Tal opção foi tomada para que fossem operados sob uma solução de hardware de baixo custo e tem o intuito de facilitar a utilização do computador pelos cidadãos.

O software livre caracteriza-se pela liberdade dada ao usuário para executar, distribuir e repassar as alterações feitas nos programas de computador sem a permissão dos proprietários. Para tanto é necessário ter acesso ao código fonte do programa, o qual não é disponibilizado pelos softwares comerciais como o Macintosh, da Apple.

Os computadores dos infocentros funcionam com uma solução chamada Ubuntu Linux, baseada no sistema operacional Debian (GNU/Linux), que inclui programas como BrOffice.org e navegador Firefox. O sistema é projetado para ser operado com baixo custo20. A ferramenta permitiu que sua aparência fosse personalizada com a identidade visual do NavegaPará. Os programas livres utilizados eram BrOffice.org, navegador Firefox, dentre outros.

As máquinas poderiam ser utilizadas para o acesso à Internet, produzir trabalhos e documentos, desenvolver pesquisas escolares. Além disso, nos espaços também seria possível o desenvolvimento de atividades sociais das comunidades abrangidas, servindo “como centros de produção de cultura, conhecimento e cidadania” (PARÁ, 2008, p. 12).

As despesas com os infocentros são pagas em co-participação entre as instituições parceiras e o Governo do Estado. No Centro Comunitário Nova Marambaia, o monitor afirma que é comum fazer coleta entre os alunos para a compra de material para as oficinas, como papel e tinta para as impressoras, além de canetas específicas para o quadro branco. Ele

20 Os programas de computador estão incluídos no âmbito dos direitos autorais. Com isso, ficam proibidos a

reprodução, a cópia, o aluguel e a utilização de cópias de programas de computador feitas sem a devida autorização do titular dos direitos autorais. A desobediência configura pirataria e sujeita ao infrator à pena de reclusão de até quatro anos. Fonte: BRASIL. Lei 9609 de 19 de fevereiro de 1998. Publicada no Diário Oficial da União em 20 de fevereiro de 1998 e retificada no dia 25 de fevereiro de 1998.

74 também analisa a demanda de usuários que o local recebe, para a quantidade de computadores ofertada no espaço.

Cinquenta computadores, três monitores trabalhando numa mesma sala com cinquenta computadores, eu acho que resolveria a situação, que aí sim daria pra fazer um trabalho de peso, e principalmente de qualidade, se fosse dessa forma (EVERALDO CHAVES21, 39 anos, pedagogo, monitor).

Os infocentros Lar Fabiano de Cristo e Centro Comunitário Nova Marambaia possuíam cada um uma sala onde funcionava a estrutura do local. Os espaços refrigerados contavam com 19 e 20 computadores para utilização dos usuários durante as oficinas de microinformática.

Eu tenho uma carência de manutenção atualmente, como por exemplo, quando um teclado dá um problema entendeu? Eu não posso ficar preso a esse teclado, quando ele dá um problema exatamente na aula, então tenta manter. Olha as questões dessas cadeiras pra você ter uma ideia, essas cadeiras todas elas com o passar do tempo elas rompem aqui atrás, aí todas ficam danificadas, dessa última turma que acabou aqui, que terminou agora o que foi que eu fiz? Eu peguei todas essas cadeiras, desparafusei todas elas, consertei elas uma por uma, todas elas estão funcionando, eu mesmo. Por que eu não tenho uma manutenção que faça isso (EVERALDO CHAVES, 39 anos, pedagogo, monitor).

Apenas os monitores do Lar Fabiano de Cristo e da Biblioteca Arthur Vianna estavam regularizados no Programa para recebimento das bolsas-auxílio no valor de R$ 350,00. O monitor do Centro Comunitário Nova Marambaia, o qual lecionava para três turmas a cada três meses estava desvinculado do Programa, aguardando novo edital. O conselho gestor informou que procurava fornecer uma ajuda de custo ao monitor com a verba arrecadada com o aluguel do salão de festas do local e com as mensalidades simbólicas de outros cursos ofertados para a comunidade.

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É da verba do próprio centro, que o presidente tá me pagando, ele me ajuda com a questão da passagem de ônibus, que serve como vale transporte pra mim e mais um valor que eu possa pelo menos né, digamos assim me manter, e manter a questão do material, por que de vez enquanto (sic) eu tiro do meu próprio bolso, pra poder comprar o material. Mas na verdade é assim quando você faz uma coisa com amor é bem diferente, é isso que me motiva a questão de gostar mesmo do trabalho, é porque é um trabalho. A inclusão digital é hoje em dia é uma necessidade, ela não é mais uma questão de luxo, as pessoas tem uma visão muito pequena da coisa (EVERALDO CHAVES, 39 anos, pedagogo, monitor).

A análise buscou identificar as estratégias de cada espaço para viabilizar financeiramente a manutenção do espaço. Com isso, percebeu-se que o CCNOMA solicitava a cada inscrição realizada que o usuário doasse dois quilos de alimento não perecível afim de angariar donativos para outras ações da instituição.

Neste sentido, buscou-se compreender de quem parte e de que maneira é dado o suporte para o funcionamento dos infocentros. No discurso dos entrevistados ficou evidente que ao Estado é atribuída a motivação financeira para que os espaços fossem mantidos. Apesar dos resultados animadores dos infocentros escolhidos, durante a pesquisa de campo foram encontradas unidades desativadas, desvinculadas do Programa, sendo desencontradas as informações a respeito da sua expansão.