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2 A INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA

2.3 Condomínio industrial

Após sofrer constantes pressões por redução de custos e pela eficiência do processo produtivo, a indústria automobilística tem aperfeiçoado técnicas que vão além dos limites do just-in-time. Tal fato tem forçado a reavaliação das atividades da sua cadeia produtiva, principalmente em termos de agregação de valor e onde e como isto tem sido feito.

A busca de melhor desempenho global tem se convertido em novos desafios e oportunidades à indústria automobilística, incluindo o atendimento a novos mercados, a rápida introdução de novos produtos, o estreitamento nas relações e a diminuição dos canais de comunicação nas cadeias produtivas.

O lay-out das novas plantas de empresas da indústria automobilística tem apresentado não somente as instalações das montadoras, mas também as instalações de alguns fornecedores.

A terceirização crescente das montadoras tem levado a um extremo cuidado no planejamento e organização do fornecimento de peças. É neste contexto que se fortalece a tendência à busca de máxima aproximação dos fornecedores, seja próximo ou no interior da própria empresa montadora, formando o Condomínio Industrial.

Segundo Salerno et al (1998), Condomínio Industrial é caracterizado pela localização de alguns fornecedores muito próximos à montagem final, muitas vezes

dentro da área da própria montadora, favorecendo com maior eficácia à política do just- in-time com fornecedores, através da entrega mais rápida e freqüente de peças, melhorando a sincronização da produção.

O Condomínio Industrial é um “conjunto dinâmico de empresas ligadas entre si por uma rede de fluxos e localizadas próximas à planta da montadora, e em alguns casos na própria unidade industrial da montadora” (Miura et al, 1998, p.92).

Conforme PPGA (2001), a proximidade física dos fornecedores locais tem importância relativa no que diz respeito à gestão de estoques (custos), co-design (desenvolvimento de novos produtos em conjunto) e qualidade. Para muitas empresas, a proximidade é vista como vantajosa porque facilita o abastecimento confiável, ágil e de baixo custo.

Um dos exemplos internacionais pioneiros de Condomínio Industrial foi a decisão da GM norte-americana, a partir de 1992, de emprestar parte de sua área em plantas nos EUA para a instalação de fornecedores. Este programa foi chamado de Internalização Estratégica de Fornecedores (Miura et al, 1998).

A proximidade geográfica com os fornecedores diretos é tida como um fator relevante para a localização das novas plantas de montagem instaladas recentemente no Brasil. Este é o caso da Mercedes-benz em Juiz de Fora, a GM em Gravataí, a VW/Audi em São José dos Pinhais, a Ford em Camaçari, entre outras.

“ Através da desverticalização e da terceirização, estas reduzem drasticament e os custos próprios de capital fixo e de giro, repassando-os para os fornecedores. A nova estrutura de suprimento tende a acentuar a diferenciação entre os fabri cantes de autopeças, atribuindo aos fornecedores de primeiro nível (com acesso direto às montadoras) um papel chave no funcionamento e na disseminação de inovações ao longo da cadeia produtiva” (Laplane e Sarti, 1995, p.54) .

Nos Condomínios Industriais implantados por algumas empresas, a localização dos fornecedores está ligada diretamente à logística da montadora, sendo por ela projetada.

Uma característica fundamental neste arranjo é a presença da montadora como coordenadora do projeto. Esta empresa é quem decide quais produtos serão fornecidos, que empresas devem fornecer os produtos, a localização dos fornecedores e como deverá ser a entrega dos produtos, bem como a freqüência das entregas, especificações técnicas do produto e seu preço.

Segundo Richard Christensen (Autodata, 2001), diretor de manufatura de GM americana:

“Com o modelo de condomínio industrial adotado pela General Motors na fábrica de Gravataí (RS), cada automóvel produzido terá um custo de US$ 1 mil abaixo dos fabri cados pela empresa nos Estados Unidos. O segredo da manufatura enxuta, na prática, implica algum grau diferenciado de automação, a existência de módulos de produção e montagem e a presença, muito próxima, de empresas sistemistas de autopeças, dezesseis em Gravat aí, contra trezent as de São Caetano do Sul – SP, espalhadas pelo país”.

A participação direta dos fabricantes de peças desde o desenvolvimento do projeto até a assistência pós-venda também é o conceito adotado pela Ford para a fábrica construída na Bahia para os modelos da família Amazon (novo Fiesta e EcoSport). “O fabricante de peças deverá estar bem próximo da montadora, se possível debaixo do mesmo teto”, afirma Mauro Luiz Correia, Gerente de Manufatura do complexo industrial de Camaçari (Autodata, 2001).

Na estrutura do Condomínio Industrial, o fornecedor é encarregado de entregar a montadora sistemas completos, com várias peças agregadas, para facilitar a montagem dos veículos. Essas empresas recebem componentes e matéria-prima de outros fabricantes, que podem estar instalados em qualquer parte do país. Depois, é tudo entregue em módulos à montadora, prontos para a montagem final.

“ Novos arranjos logísticos foram implementados, como o denominado caminho do leite (milk run), quando as montadoras contratam operadores logísticos que vão aos fornecedores diariam ente buscar peças – um

caminhão, em determinada hora, passa em diversos fornecedores próximos e o lote combinado deve estar disponível. Assim é otimizado o custo logístico, sem que sejam incorridos grandes estoques de um mesmo componente” (Salerno et al, 1998, p.20).

O sistema de coleta milk run permite a transferência da responsabilidade para os fornecedores de menor porte, sem, para tanto, por em risco a falta de peças na produção da montadora. Sem falar no fato de que, ao buscar o produto diretamente do fornecedor, a montadora elimina uma série de custos inerentes à entrega em si, tais como espera na porta da montadora, chegada em horário não planejado, enfim, situações que geram desperdícios de tempo e estoques intermediários. Neste novo esquema de fornecimento, a montadora marca o dia e o horário em que vai recolher as peças, enquanto o fornecedor produz exatamente a quantidade solicitada (PPGA, 2001).

Existe, também, um esforço dos fornecedores sistemistas para a capacitação de seus fornecedores. Algumas empresas possuem programas de capacitação de fornecedores e outras, oferecem orientação técnica e realizam avaliações periódicas, com a finalidade de respeitar as normas e padrões mundiais.