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CAPÍTULO 3 VISÃO GERAL DO SETOR AUTOMOBILÍSTICO NO BRASIL

3.2 CONDOMÍNIO INDUSTRIAL E CONSÓRCIO MODULAR

A proximidade das instalações entre fornecedores de autopeças e montadoras tem se mostrado uma questão de suma importância, pois impacta diretamente nos custos logísticos e no gerenciamento dos estoques de ambas as partes. Relacionados principalmente com a importância da proximidade e com o fornecimento em subconjuntos, os conceitos de condomínio industrial e consórcio modular são fundamentais para o entendimento do processo de mudança das relações na cadeia produtiva automobilística.

No condomínio industrial alguns fornecedores, escolhidos pela montadora, estabelecem suas instalações nos arredores da planta da montadora e passam a fornecer componentes ou subconjuntos completos (DIAS, 1998). Esse sistema é vantajoso principalmente para aqueles componentes que possuem alto custo logístico. A opção pelo fornecimento em subconjuntos estimula a utilização do sistema just-in-sequence.

O consórcio modular, também considerado uma forma extrema de condomínio industrial, propõe que os fornecedores de subconjuntos se localizem no mesmo terreno da montadora. Foi criado com o objetivo de transmitir aos fornecedores a responsabilidade pela montagem na linha de produção de todos os componentes dos veículos lá produzidos, e, portanto, conseguir redução nos custos e estoques. Nessa configuração não há funcionários da montadora na linha de montagem e os investimentos relacionados a esta atividade são compartilhados entre montadora e fornecedores também conhecidos como modulistas.

O conceito de consórcio modular derivou da dissolução do acordo da Autolatina (parceria da Ford com a Volkswagen), e teve como premissa a incorporação dos fornecedores como parceiros, visando à

diminuição de custos variáveis e fixos, além da diminuição do investimento, já que tanto a operação de montagem, quanto suas respectivas instalações, layout e logística seriam de responsabilidade do parceiro. O projeto previa que à VW caberiam as áreas de engenharia do produto, controle de qualidade, distribuição, comercialização e logística do produto final. A implementação do consórcio modular ocorreu entre os anos de 1996 e 1997 na planta da VW de Resende, destinada à produção de ônibus e caminhões. A divisão do produto em módulos foi realizada pela engenharia da VW, com vistas a viabilizar a entrega de grandes partes da fabricação à responsabilidade de uma empresa (ou parceiro) e, simultaneamente, racionalizar o processo de fabricação. Devido ao alto volume de ativos dedicados à fábrica de Resende, foram firmados com os fornecedores, contratos de longo prazo, entre 5 e 12 anos. (DIAS, 1998).

Atualmente, no Brasil, o consórcio modular está limitado a apenas uma planta da Volkswagen que fabrica caminhões em Resende. Nesta fábrica os fornecedores de subconjuntos se localizam no terreno da montadora e são responsáveis pela montagem do veículo. A grande vantagem para a montadora, neste caso, é a diminuição significativa de custos relativos a equipamentos uma vez que os fornecedores consorciados são totalmente responsáveis pelos seus módulos, e o grande risco para os fornecedores é a exclusividade dos investimentos em módulos a um só cliente, que fica dependente da escala de produção prevista para esse cliente e de seu desempenho para que haja retorno do capital. (DIAS, 1998; BUIAR, 2000).

Segundo Buiar (2000) atualmente quase todas as novas fábricas planejam seu funcionamento em sistema de condomínio, que é tipicamente vantajoso para componentes de alto custo logístico.

Na configuração de condomínio industrial a localização de cada fornecedor é definida pela montadora de acordo com a sua logística. A montadora também define como serão feitas as entregas, com que freqüência e com quais especificações.

O condomínio industrial é resultado de um conjunto de fatos, como a desverticalização, a concentração no core business, o fornecimento em subconjuntos, o just in time seqüenciado, a necessidade de redução de custos, o controle maior sobre a qualidade, a redução no

número de fornecedores e conseqüente aumento do poder de barganha das montadoras e das facilidades oferecidas pelos governos locais que estimularam os agrupamentos (BUIAR, 2000, p. 129).

De acordo com Dias (1998) os critérios para seleção dos fornecedores que participarão do condomínio são determinados, normalmente, pelos fatores:

- Políticas de global ou follow sourcing4.

- Fornecedor deve possuir um volume considerável para investimento. - Ser empresa globalizada.

- Possuir experiência em fornecimento de subsistemas e em co-design.

Buiar (2000) complementa os critérios mencionados por Dias (1998) quando afirma que a estratégia que permeia a escolha das empresas participantes de um condomínio industrial baseia-se, fundamentalmente, em produtos com custo logístico elevado, seja porque têm volume espacial considerável, em relação ao seu valor agregado (caso dos painéis, bancos, tanque de combustível, escapamentos, pára- choques), seja porque apresentam risco de deterioração no transporte (como os estampados, bancos e peças pintadas em geral).

A autora ainda afirma que o peso dos custos logísticos na estrutura de custos de um produto e a economia advinda da adoção de um sistema de entregas seqüenciado são diretamente proporcionais às chances do fornecedor desse produto se instalar num condomínio industrial.

Outro ponto que deve ser levado em consideração para as empresas que participam dos condomínios é a redução de custos fixos para todos os participantes. Em geral os serviços de restaurantes, central telefônica, limpeza, manutenção, segurança são compartilhados por todos.

4O global sourcing consiste na importação pelas montadoras de partes produzidas por empresas de

autopeças que são suas fornecedoras nos seus países de origem.O follow sourcing consiste na abertura nos países em desenvolvimento de filiais das empresas de autopeças que já atuam como fornecedoras das montadoras em seus países de origem.

Buair (2000) observa que tantos nos projetos de consórcio e condomínio, os ganhos são diferenciados para montadoras e fornecedores. Para as montadoras, os ganhos são de curto prazo e para as os fornecedores os benefícios são de longo prazo, daí a participação restrita a empresas de grande porte que podem despender uma grande soma de capital com retorno a posteriori. O objetivo destas formas de organização é permitir que a montadora possa focar em apenas um conjunto limitado de tarefas operacionais e gerenciais, constituindo, para isto, uma rede de fornecedores competentes. Estes fornecedores estão localizados dentro dos próprios condomínios, estão nacionalmente instalados (outsourcing) ou são parte de uma rede de fornecimento mundial (global sourcing).