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4 USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA POR ABANDONO DE LAR CONJUGAL E

4.1 HISTÓRICO DA CULPA NO BRASIL NAS DISSOLUÇÕES DE SOCIEDADES

4.1.1 Conduta conjugal culposa

Segundo Martins (2012), a principal característica da separação-sanção, que encontra fundamento legal no artigo 1.572 do atual Código Civil, “consiste na apuração da culpa pela prática da infração matrimonial penalizando-se o cônjuge que tenha infringido culposa e gravemente alguns dos deveres do casamento, comprometendo a possibilidade da vida em comum”.

Art. 1.572. Qualquer dos cônjuges poderá propor a ação de separação judicial, imputando ao outro qualquer ato que importe grave violação dos deveres do casamento e torne insuportável a vida em comum.

§ 1o A separação judicial pode também ser pedida se um dos cônjuges provar ruptura da vida em comum há mais de um ano e a impossibilidade de sua reconstituição.

§ 2o O cônjuge pode ainda pedir a separação judicial quando o outro estiver acometido de doença mental grave, manifestada após o casamento, que torne impossível a continuação da vida em comum, desde que, após uma duração de dois anos, a enfermidade tenha sido reconhecida de cura improvável.

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Como sanção, tem-se o divórcio fundado no adultério, na sevícia, na tentativa de morte, na conduta desonrosa, nas injurias. Como remédio, na prolongada separação de fato, ou na enfermidade mental incurável do outro cônjuge. (CAHALI, 2011, p. 61).

§ 3o No caso do parágrafo 2o, reverterão ao cônjuge enfermo, que não houver pedido a separação judicial, os remanescentes dos bens que levou para o casamento, e se o regime dos bens adotado o permitir, a meação dos adquiridos na constância da sociedade conjugal. (BRASIL, 2002).

Assim, no instituto da separação, o cônjuge que desejasse se separar poderia imputar ao outro qualquer motivo que violasse os deveres do casamento e tornasse insuportável a vida em comum (separação-sanção). Em outras palavras, fazia-se necessária a discussão da culpa, devendo o cônjuge autor imputar ao outro a culpa pelo fim da sociedade conjugal. Os deveres dos cônjuges estão também elencados no artigo 1.566, do Código Civil, quando dispõe que: “Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: I - fidelidade recíproca; II - vida em comum, no domicílio conjugal; III - mútua assistência; IV - sustento guarda e educação dos filhos; V - respeito e consideração mútuos”. (BRASIL, 2002).

Deste modo, a violação dos aludidos deveres autorizava o cônjuge inocente a requerer a separação judicial. Nesse sentido, menciona Coelho (2012, p. 131) que “o cônjuge cujo comportamento caracterizava grave violação dos deveres do casamento e tornava insuportável a vida em comum era o culpado pela relação”.

São exemplos que podiam ensejar a grave violação dos direitos matrimoniais (separação-sanção): o adultério, a tentativa de morte, a sevícia ou a injúria grave, o abandono voluntário de lar conjugal durante um ano contínuo, a condenação por crime infamante e a conduta desonrosa. (COELHO, 2012, p. 129).

Ainda para o cônjuge culpado havia as devidas punições, quais sejam: perda do direito de pleitear alimentos, perda do direito de continuar utilizando o sobrenome do outro e, por fim, perda da guarda dos filhos menores. Destarte, as punições de perda do direito aos alimentos e do direito ao uso do nome de casado, embora de forma mitigada, ainda persistem no Código Civil, de 2002, respectivamente, nos artigos 1.7044, 1.5785, bem como os motivos que pudessem caracterizar a impossibilidade de vida em comum. (art. 1.5736).

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Art. 1.704. Se um dos cônjuges separados judicialmente vier a necessitar de alimentos, será o outro obrigado a prestá-los mediante pensão a ser fixada pelo juiz, caso não tenha sido declarado culpado na ação de separação judicial. Parágrafo único. Se o cônjuge declarado culpado vier a necessitar de alimentos, e não tiver parentes em condições de prestá-los, nem aptidão para o trabalho, o outro cônjuge será obrigado a assegurá-los, fixando o juiz o valor indispensável à sobrevivência. (BRASIL, 2002).

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Art. 1.578. O cônjuge declarado culpado na ação de separação judicial perde o direito de usar o sobrenome do outro, desde que expressamente requerido pelo cônjuge inocente e se a alteração não acarretar: I - evidente prejuízo para a sua identificação; II - manifesta distinção entre o seu nome de família e o dos filhos havidos da união dissolvida; III - dano grave reconhecido na decisão judicial. § 1o O cônjuge inocente na ação de separação judicial poderá renunciar, a qualquer momento, ao direito de usar o sobrenome do outro. § 2o Nos demais casos caberá a opção pela conservação do nome de casado. (BRASIL, 2002).

Somente a partir de 2007, com a Lei 11.441 que alterou o Código de Processo Civil, passou-se a admitir a separação consensual mediante escritura pública, desde que o casal não tivesse filhos menores ou incapazes7.

Assim, conclui-se que a separação podia se dar de duas maneiras, sendo amigável ou litigiosa. Caso fosse amigável, ambos os cônjuges requereriam ao juiz que decretasse o cancelamento da sociedade conjugal, e o vínculo conjugal somente se desfazia com o divórcio, passado algum tempo. No segundo caso, um dos cônjuges imputava ao outro a culpa pelo fim do matrimônio. (COELHO, 2012, p. 128).

Sobretudo, os prazos do divórcio foram cada vez mais sendo reduzidos, sendo que o artigo 226, parágrafo 6º, da Constituição Federal de 1988, passou a dispor o seguinte:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos. (BRASIL, 1988).

Assim, se antes eram necessários três anos de separação judicial, ou cinco anos de fato para se divorciar, agora seria necessário somente um ano de separação judicial, ou dois anos de separação de fato. Tal dispositivo foi absorvido pelo Código Civil, em seu artigo 1.5808.

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