• Nenhum resultado encontrado

2.2 O paradigma estrutura-conduta-desempenho (ECD)

2.2.3 A conduta das empresas da ind ústria

O segundo conceito do paradigma ECD a ser apresentado é a conduta.

Segundo Bem (1991, p.530), ela pode ser expressa como sendo o comportamento que as firmas apresentam no mercado no que se refere a preços, produção,

características do produto, despesas de venda e pesquisa. Além disso, a mesma é

responsável por estabelecer um elo entre a estrutura e o desempenho.

Assim, a conduta consiste nas políticas da empresa em relação aos mercados

concorrênciais em que a empresa se encontra, seja esta uma política efetiva ou

potencial. É avaliando a conduta da empresa que serão demonstradas as políticas

de fixação de preços e produção, bem como a fixação de padrões de qualidade e

políticas de ação ou coação da empresa (BEM,1991).

Segundo Leite (1998), a conduta de mercado diz respeito aos processos de decisão e as relações intra-industriais, bem como aos padrões de comportamento

que as firmas assumem para se ajustar ou se adequar ao mercado no qual elas operam.

Leite (1998) também afirma que existem amplas variações de conduta das

empresas e que a maioria dos trabalhos empíricos realizados tem como objetivo

determinar os padrões de comportamento que estão associados a estrutura de

mercado (determinante da conduta) e ao desempenho de mercado (determinado pela conduta).

No modelo teórico adotado neste trabalho, considera-se como conduta

(estratégias) das empresas, os gastos com propaganda, pesquisa e

desenvolvimento (P&D), o modo de fixação dos preços, os investimentos, os

acordos, as fusões e os contratos entre as empresas, e de uma forma complementar

as estratégias genéricas de Porter e de Mintzberg, descritas a seguir.

2.2.3.1 As estratégias competitivas de Porter

A palavra estratégia é um termo criado pelos antigos gregos, e para eles

significava magistrado ou comandante chefe militar. Um dos clássicos mais antigos,

que retrata as estratégias militares, é a obra de Sun Tzu, denominada “A arte da

guerra”1, onde descreve sobre os terrenos e condições enfrentadas na guerra e

recomenda ações específicas para cada situação.

Os primeiros ensaios acadêmicos sobre estratégia foram produzidos por

docentes e discentes da Harvard Business School. Entre os vários estudos

acadêmicos desenvolvidos por essa escola, destacam-se os da área de organização

industrial (OI), especialmente um denominado paradigma ECD (estrutura, conduta e desempenho) já citado acima, do qual Mason (1939), Bain (1959) e Porter (1980),

nesta ordem cronológica, contribuíram para a construção.

Em 1980, Porter define as estratégias competitivas como ações ofensivas ou

defensivas para criar uma posição defensável em uma indústria, e com elas

enfrentar as forças competitivas. Genericamente, pode-se definir como estratégia,

segundo Porter (1986), para as empresas utilizarem como forma de competição no

mercado, a liderança em custo, a diferenciação e o enfoque. Também segundo o

autor, as empresas que aplicam apenas uma estratégia conseguem melhor

desempenho.

1

As empresas que procuram uma estratégia híbrida ou que fracassam na

busca por uma das estratégias foram por ele designadas como stuck-in-the-middle

(expressão traduzida para o português como meio-termo). O fato de uma empresa

ser classificada no meio-termo não significa que ela não emprega métodos e armas

competitivas típicas de uma ou mais das estratégias genéricas, mas apenas que a

sua estratégia como um todo carece de consistência interna (SILVA, 2003). A seguir

descrevem-se as estratégias genéricas de Porter (1980), conforme a Figura 3.

Figura 3 – Estratégias genéricas de Porter (1980) Fonte: Adaptado de Porter (1980).

a) Estratégia de liderança de custos

Objetiva-se com esta estratégia obter uma vantagem sustentável em termos

de custo sobre os demais competidores e utilizá-la como forma de vender produtos a

um preço mais baixo do que o dos competidores. Neste sentido, uma vantagem de

custo propicia uma maior lucratividade, a não ser quando é totalmente utilizada

como um esforço agressivo de redução de preços a fim de tomar o mercado das

empresas rivais.

A estratégia com base na redução de custos é uma importante alternativa

para um produtor ganhar mercado ou defender a sua parcela de mercado contra eventuais concorrentes, pois os produtos com mais baixo preço tem uma vantagem

significativa no que se refere a obter a preferência de compradores cuja decisão de

consumo seja sensivelmente influenciada pelo preço.

Enfoque no custo Liderança de custos

Enfoque na diferenciação

Diferenciação

Alvo Estreito Alvo amplo

Custo mais baixo Diferenciação

Vantagem competitiva Escopo

Ainda é preciso, neste caso, que a empresa mantenha-se atenta com relação

ao uso da tecnologia, pois a utilização de novas tecnologias podem propiciar

vantagem em relação à redução de custos tanto por parte da empresa já

estabelecida no mercado como por parte de novas entrantes.

b) Estratégias de diferenciação

A estratégia de diferenciação pode ser utilizada quando as preferências dos

consumidores forem tão diversas que não possam ser satisfeitas por um bem

padronizado. Para que a diferenciação de um produto seja bem sucedida é

necessário conhecer o comportamento dos consumidores, para aprender o que eles

consideram importante e adquirir desta forma vantagem em relação ao concorrente.

A estratégia de diferenciação bem sucedida permite a empresa: obter um

preço mais alto pelo seu produto, vender mais unidades e ganhar uma lealdade

maior dos compradores com relação a sua marca.

A diferenciação aumenta a lucratividade da empresa toda vez que as receitas

obtidas através dos atributos de diferenciação dos produtos forem superiores aos

custos necessários para realizá-la. Proporciona ainda uma proteção contra as firmas

rivais, isto porque os consumidores se tornam mais fiéis à marca ou ao modelo de

que gostam mais e, normalmente, estão dispostos a pagar mais por ele.

c) Estratégia de enfoque

Quando a concorrência é intensa, a estratégia baseada na especialização e

enfoque assume considerável importância. A utilização da estratégia de enfoque tem

início com a escolha do nicho onde os compradores possuam preferências ou

exigências únicas. O nicho pode ser definido em termos de características únicas,

pelas exigências de utilização dos produtos, ou pelas características físicas do

produto que são atrativas para os membros desse nicho. A vantagem competitiva

baseada nesse tipo de estratégia consiste tanto na utilização de custos mais baixos

do que os competidores, quanto na capacidade de oferecer aos compradores desse nicho um produto diferente dos demais competidores.

A primeira estratégia de enfoque, ou seja, a baseada em custos mais baixos

depende de existir um segmento de mercado no qual as exigências dos

compradores possam ser atendidas de forma mais barata que os demais competidores do mercado. Já a segunda estratégia de enfoque, ou seja, a baseada

na diferenciação, depende de haver um segmento do mercado no qual os

consumidores do produto exijam produtos com atributos bastante específicos.

O sucesso de determinada empresa no atendimento do nicho de mercado desejado gera uma defesa contra as forças competitivas, pois, os concorrentes que

procuram atender diversos segmentos de mercado não têm a mesma capacidade de

satisfazer os consumidores da empresa que adota a estratégia de enfoque. Além

disso, a estratégia de atender um nicho de mercado atua como uma forte barreira à

entrada; torna difícil o aparecimento de bens substitutos; e reduz o poder de

barganha dos clientes mais poderosos.

Vários foram os estudos desenvolvidos utilizando as tipologias de Porter

(1980), como pode ser comprovado na revisão de literatura sobre estratégia

empresarial realizada por Miller e Dess (1993), em um período de cinco anos (1986

a 1990) nos artigos publicados no Strategic Management Journal. No referido

período, o trabalho de Porter (1980) – Estratégia Competitiva – foi citado,

aproximadamente, na metade dos artigos publicados, demonstrando a proliferação e

aceitação das idéias do autor.

Ao utilizar a tipologia de Porter (1980) para estudar a indústria automobilística

brasileira, em estudo recente, Silva (2007) relacionou o posicionamento estratégico

competitivo das empresas com a formação de grupos estratégicos e o desempenho

dos mesmos. Constatou que as empresas que apresentaram os melhores desempenhos são as que optaram por uma das estratégias genéricas propostas por

Porter (1980), no caso a de Diferenciação; e as empresas que obtiveram os piores

resultados foram as que não apresentaram uma estratégia definida (stuck-in-the-

middle), evidenciando assim ainda a validade deste modelo.

2.2.3.2 Estratégias competitivas de Mintzberg

Mintzberg (1988) entende que a maioria das tipologias estratégicas

explicitadas são falhas, seja porque focam de forma muito estreita em alguns tipos

especiais de estratégias, ou porque propõem agregações arbitrárias. Mintzberg

(1988) propôs uma nova tipologia de estratégias genéricas (Figura 4), derivadas a

partir do conceito de diferenciação e com um nível de detalhamento maior que as

Segundo Silva (2003), pode-se definir as estratégia genéricas de Mintzberg

como sendo:

 Diferenciação por qualidade - Esta estratégia se caracteriza por oferecer um

produto que, embora não fundamentalmente diferente, é melhor que o dos

concorrentes: (a) maior confiabilidade, (b) maior durabilidade ou (c) desempenho superior. Ao contrário da diferenciação por imagem, que Mintzberg entende como

derivada de investimentos em propaganda e promoção, a diferenciação por

qualidade advém dos atributos do próprio produto em si.

Figura 4 – Estratégias genéricas de Mintzberg (1988) Fonte: Elaborada pelo autor.

 Diferenciação por design (projeto) - Uma forma de diferenciar um produto é

oferecê-lo ao mercado com características distintas dos produtos concorrentes.

Trata-se, na verdade, de oferecer um produto diferente em substituição aos da

concorrência. A diferença básica desta estratégia para aquela de diferenciação por

qualidade é que a diferenciação por design busca efetivamente oferecer algo

diferentee não simplesmente ou necessariamente melhor.

 Diferenciação por suporte - Uma forma de diferenciar o produto, sem

necessariamente alterar seus atributos intrínsecos, é oferecer algo mais junto com o

produto. Em geral, a ampliação do nível de serviços agregados (prazo de entrega

Não-diferenciação

Preço

Imagem Suporte Design Qualidade

menor, financiamento à venda, assistência técnica) ou a oferta de produtos

complementares.

 Diferenciação por imagem - Uma vez que um dos atributos de um produto é

a forma como os consumidores o percebem em comparação com os produtos

concorrentes ou substitutos, uma empresa pode diferenciar seu produto ao desenvolver uma imagem que o torne distinto dos demais. Esta imagem pode ser criada através de propaganda, como também através de técnicas de promoção,

apresentação e embalagem do produto, ou inclusão de detalhes que, embora não

melhore o desempenho do produto, o torna mais atrativo para alguns clientes.

 Diferenciação por preço - Uma forma de diferenciar um produto da oferta

dos outros concorrentes pode ser, simplesmente, cobrar um preço mais baixo. Se os

demais atributos do produto forem iguais, ou não muito diferentes, dos de seus

concorrentes, os consumidores tenderão a preferir aquele que exibir um preço mais

baixo. Mintzberg insiste em afirmar que diferenciação por preço não é o mesmo que

minimização de custo (conforme Porter, 1980), posto que, em sua opinião, esta

última somente se caracteriza como uma vantagem competitiva caso se traduza num

menor preço para o mercado, ou seja, se for visível para o consumidor.

 Não-diferenciação - Trata-se de uma estratégia muito observada na prática,

a qual se baseia no fato de que é possível copiar as ações de outras empresas,

desde que o mercado ofereça espaço para produtos concorrentes e a empresa se

especialize em acompanhar e imitar os lançamentos dos concorrentes e apoiar seus

próprios lançamentos com ações inovadoras e eficientes de marketing. A estratégia

de não-diferenciação assemelha-se ao conceito de meio-termo desenvolvido por

Porter (1980). Entretanto, duas diferenças, merecem destaque em relação ao

modelo de Porter (1980):

1º) Mintzberg considera que a estratégia de não-diferenciação pode ser

desenvolvida explicitamente, enquanto Porter considera o meio-termo como um tipo residual, resultante da implementação inadequada ou ineficiente de uma das

estratégias genéricas puras; e,

2º) O contrário do que Porter supõe para o meio-termo, Mintzberg não

condena a estratégia de não-diferenciação a um desempenho inferior ao das demais

estratégias.

Em um estudo com empresas de manufatura nos Estados Unidos, Kotha e Vadlamani (1995) concluíram que a tipologia de Mintzberg (1988) teria maior clareza

e poder descritivo que a tipologia de Porter (1980). Kotha e Vadlamanin (1995) levantam as seguintes possíveis explicações para justificar os resultados: (1)

mudanças no ambiente competitivo devido ao incremento da competição global

(especialmente no setor de manufatura); e, (2) mudanças decorrentes da utilização

de novas tecnologias (por exemplo, just in time). A maior complexidade do novo

ambiente competitivo exigiria maior refinamento das tipologias de estratégias

genéricas.

Em resposta existem outros estudos que confirmaram o poder descritivo da tipologia de Porter, como o de Ferreira da Silva (1998), que destaca essa tipologia como possuindo um poder explanatório superior do que a teoria de Mintzberg (1988),

quando aplicado essas duas tipologias à indústria brasileira de seguros.

Já o estudo de Silva (2003) sugeriu que as tipologias estratégicas de Porter

(1980) e de Mintzberg (1988) seriam adequadas à classificação das estratégias das

empresas de petróleo, com destaque para a primeira, em função da parcimônia e da

unicidade de tipo estratégico (i.e., cada empresa pôde ser classificada em um, e

apenas um, dos tipos estratégicos do modelo), e para a segunda em função do

maior nível de detalhamento e poder descritivo.

De uma forma geral, o estudo de Silva (2003) cita que a tipologia de Porter (1980) se mostrou adequada à classificação das estratégias das empresas e

também sugere, ainda, que a tipologia de Mintzberg (1988) seria adequada ao

entendimento das estratégias pós-privatização das empresas pesquisadas, apesar

do fato de estas, por empregarem métodos competitivos diversos, não se

enquadrarem de forma unívoca em nenhum dos tipos estratégicos de Mintzberg, ou

seja, estas empresas apresentam uma multiplicidade de tipos estratégicos.

Vale ressaltar que diversos pesquisadores da área de Administração

Estratégica têm sugerido que os tipos estratégicos não são necessariamente

mutuamente exclusivos, sendo, portanto, possível a observação de superposições

de mais de um tipo estratégico em uma mesma empresa, sem que isto signifique

desempenho inferior (HILL, 1988).

Existem outras tipologias estratégicas desenvolvidas como a de Kim e Lim

(1988), que subdividiram a estratégia de diferenciação, basicamente considerando-a

como: diferenciação no produto (atributos específicos, qualidade) e diferenciação por

marketing (propaganda, nível de serviço). Miller e Dess (1993) propõem três tipos de

diversificadas encontraram outros três tipos de diferenciação: por qualidade

(craftsmanship), por pioneirismo (pioneering) e por força de vendas (salesmanship).

A seguir descreve-se o desempenho, conceito que compõe o paradigma ECD.

Documentos relacionados