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2.2 Conceituando recursos e capacidades estratégicos

2.3.2 A conexão entre IC e conhecimento

Com esse processo analítico, o resultado do esforço de IC é o conhecimento estratégico (TYSON, 1998). A definição de conhecimento deste estudo segue a proposta de Nonaka, Toyama e Konno (2000), que defendem que o conhecimento se divide em dois tipos: tácito e explícito. O conhecimento explícito é aquele que pode ser expresso em um sistema de comunicação formal e pode ser compartilhado, ou seja, aquele contido em manuais, livros, documentos oficiais, entre outros. Já o conhecimento tácito não pode ser encontrado nessas formas porque é pessoal e não pode ser expresso em sua totalidade. Em outras palavras, conhecimento tácito está enraizado nas pessoas, suas emoções, experiências, valores, entre outros. Esse tipo de conhecimento, por ser empregado automaticamente, está internalizado nas pessoas e essas não conseguem, por vezes, explicar o que sabem. De acordo com Tsoukas (2002), essa visão a respeito de conhecimento tácito baseada em Polanyi (1962), defende que todo conhecimento, de alguma forma, é pessoal. Por conta disso, envolve mecanismos sensoriais em sua aplicação e aquisição, ou seja, demanda experiência para que seja memorizado e exercitado. Esse é o caso, especialmente, do conhecimento tácito. Um exemplo comum utilizado por esses autores é o conhecimento sobre como andar de bicicleta. Para conseguir o equilíbrio em duas rodas, são necessários cuidadosos movimentos para balancear o peso do corpo de forma adequada. Mas, é comum que alguém explique, com palavras, o que

é necessário fazer para se obter o equilíbrio adequado? Obviamente que, exceto pessoas dotadas de bom conhecimento científico, a maioria das pessoas não consegue explicar como parar em cima de uma bicicleta. Elas simplesmente sabem por que aprenderam à base de tentativas e erros. O conhecimento, assim, está enraizado de tal maneira que não conseguem expressá-lo formalmente.

Uma característica do conhecimento tácito é sua maior conexão com ações, em comparação ao explícito (TSOUKAS, 2002). Segundo a crítica de Tsoukas (2002) a Nonaka, Toyama e Konno (2000), o conhecimento explícito por si só não permite a ação. É preciso que o indivíduo passe pela experiência de aplicação desse conhecimento explícito para, então, internalizar e apreender tal conhecimento. Isso se deve ao fato da experiência prover nuances intrínsecas ao conhecimento tácito que, por sua definição, não pode ser totalmente expresso. Ainda, segundo Tsoukas (2002), sempre é necessária a participação de alguém com um mínimo nível de conhecimento para que a internalização ocorra. Isso pode ser entendido, por exemplo, como alguém que saiba o idioma no qual a informação está escrita.

Essa definição de conhecimento se alinha com o conceito de criação de conhecimento: socialization, externalization, combination, internalization - SECI (NONAKA; TOYAMA; KONNO, 2000). Esse conceito prevê que existem quatro maneiras do conhecimento transitar entre tácito e explícito, com uma interação intensiva entre as pessoas. A primeira é a socialização, que engloba o compartilhamento de conhecimento tácito entre pessoas mediante troca de experiências. Em seguida há a externalização, que compreende a articulação do conhecimento tácito em explícito para que possa ser compartilhado com outras pessoas. É importante destacar que ao externalizar o conhecimento, esse se torna cristalizado. A terceira forma é a combinação, que trata da conversão de conhecimento explícito em estruturas mais complexas para disseminação posterior. Por fim, a internalização é a conversão do conhecimento explícito em tácito, quando os indivíduos tem contato com conhecimento explícito e o aplicam, gerando aprendizado e, portanto, conhecimento tácito.

Assim, em termos de criação de conhecimento estratégico, a IC foi assumida neste estudo como uma função capaz de facilitar a transição do conhecimento nas formas anteriormente mencionadas por intermédio de seu processo de coleta, análise e disseminação (DISHMAN; CALOF, 2008). Os relatórios gerados pela IC, bem como as informações por ela armazenadas, representam, por exemplo, o conhecimento explícito. Já as opções que esses relatórios proporcionam aos executivos (DISHMAN; CALOF, 2008), por exemplo, foram consideradas como conhecimento tácito. Dessa forma, a IC pode ser considerada como uma função capaz de explicitar conhecimento tácito e fomentar a geração de conhecimento tácito.

Abordar a IC como conhecimento faz sentido principalmente por conta da característica de análise envolvida em seu processo. De acordo com Alavi e Leidner (2001), muita informação sem nenhuma interpretação é inútil. Castro e Abreu (2007) vão além e propõem que esse excesso de informação pode causar maior incerteza. Diante desse cenário, a interpretação de informações com o objetivo de reduzir o volume e atender às necessidades do processo de administração estratégica pode ser observado na função de IC. Essa perspectiva pode ser tomada, uma vez que a interpretação, ou análise, resulta em conhecimento que, por sua vez, possibilita a ação (ALAVI; LEIDNER, 2001). Outra visão do tipo de conhecimento gerado pela IC é mencionada por Earl (2001) que, em seu estudo de diferentes escolas de gestão do conhecimento, identifica a escola estratégica como aquela em que o conhecimento é parte importante do processo estratégico da organização.

A abordagem do produto da IC por meio dos conceitos de conhecimento é importante pelo fato desse último poder ser uma fonte de vantagem competitiva (BOLLINGER; SMITH, 2001). Entretanto, conhecimento é algo perecível (ALAVI; LEIDNER, 2001) e, portanto, deve ser exercitado e renovado constantemente, por meio de um mecanismo como o SECI. Neste estudo, a IC foi considerada como retentora desse exercício, sempre alimentando a organização com conhecimento atualizado. É oportuno notar que a IC gera tanto conhecimento tácito como explícito, como será visto logo adiante.

2.3.3 O processo da IC

Dishman e Calof (2008), ao estudarem as práticas de diversas organizações, identificaram o que seria o ciclo de inteligência, baseado em cinco fases: planejamento e direcionamento, coleta das informações, análise, comunicação e feedback. Essas fases podem ocorrer em ciclos, como ilustrado na figura 2.3.3.1, sendo que a fase de feedback proporciona uma revisão no planejamento e direcionamento da atividade de IC à medida que as necessidades dos decisores mudam.

Figura 2.3.3.1 – Ciclo de inteligência.

Fonte: elaborado pelo autor com base em Dishman e Calof (2008).

De acordo com Castro e Abreu (2007) o ciclo de inteligência pode não ser suficiente. A explicação para isso é que o foco restrito dos Key Intelligence Topics (KITs), ou itens de monitoramento, pode não ser suficiente para cumprir a função da IC de identificar oportunidades e ameaças. Segundo esses autores, é necessário agregar à abordagem dos KITs um acompanhamento mais abrangente do ambiente externo em busca de oportunidades e ameaças que não estejam cobertas por estes. Mesmo assim, isso não invalidaria a abordagem do ciclo de inteligência, até para questões que não sejam relacionadas diretamente aos KITs definidos (CASTRO; ABREU, 2007). Em outras palavras, o ciclo de inteligência é apenas uma forma de retratar o processo de IC, que inclui as atividades mencionadas acima. Nesse sentido, Abreu (2006) propôs quatro tipos de abordagens para uma função de IC, a saber: 1) visão não dirigida; 2) visão condicionada; 3) procura informal e 4) procura formal. As duas primeiras representam uma quebra com relação ao ciclo tradicional, apresentado adiante, enquanto que apenas a quarta forma de abordagem considera o ciclo tradicional. A terceira forma de abordagem adiciona uma fase de validação da fonte após a coleta da informação.

Não obstante as críticas, a ênfase para identificação do processo de IC neste estudo se dará no ciclo de IC por conta de sua popularidade. Retomando, então, o ciclo de IC, a

2) Coleta das