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1- INTRODUÇÃO

4.2 A Conferência e o Seminário

A conferência é uma técnica desenvolvida por um único aluno, que apresenta os seus conhecimentos sobre um tema que pesquisou, individualmente. O conferencista compartilha saberes e demonstra a sua capacidade de compreensão, expressão e argumentação sobre o tema que aprofundou estudos. É uma prática valiosa para o processo de formação de adolescentes, pois, desde cedo, aprendem a utilizar a palavra, dirigindo-se a um público que poderá se colocar, concordando ou descordando do conferencista.

Para que se tenha um público amplo, convites são preparados pelo conferencista e distribuídos para alunos e professores de outras salas, pessoas da comunidade escolar, familiares, jornalistas, entre outros. O ambiente é preparado para que seja um momento valorizado por todos. O aluno-conferencista é o protagonista, que discorre sobre o seu tema, lendo um texto, mostrando materiais, gráficos, desenhos, ou seja, tudo que possa ser útil para tornar clara a sua exposição. Terminada a explanação geral, os participantes “fazem perguntas, a que o autor responde, se puder![...] Se não, serão realizadas pesquisas complementares, que são anotadas na agenda” (FREINET, 1995, p. 110).

Para que todos tenham acesso as principais idéias da conferência, o autor deverá publicar o seu texto, com antecedência, nos murais da escola (FREINET, 1995, p. 101), prática que mobiliza a preocupação com o aperfeiçoamento da escrita, tornando-a comunicável e funcional, facilitando, conseqüentemente, a leitura.

Uma publicação de Ocampo (1997, p. 10) oferece orientações preciosas sobre cada uma das etapas da técnica da Conferência, que o autor afirma “promueve el trabajo com las inquietudes proprias de los niños pues por naturaleza llegan a preguntarse el por qué, el cómo

y el cuándo de muchas cosas, satisfaciendo de esta manera su curiosidad natural”18. O trabalho se inicia com a seleção do tema e encerra-se com a avaliação da conferência, contando com a análise daqueles que participaram da exposição, especialmente os colegas de turma do conferencista.

Durante a nossa pesquisa não aconteceu nenhuma conferência, realizada por aluno do ensino de 5ª a 8ª séries, o que atribuímos pela ausência do trabalho a partir de Complexos de Interesses, pela predominância da organização grupal para o desenvolvimento das pesquisas, mas, sobretudo, pelo fato dos educadores ainda não terem uma imagem de representação do conhecimento que os tornem convencidos “que el niño puede ser agente de su próprio aprendizaje.”19 (OCAMPO, 1997, p. 33). Ao tratarmos da conferência, queremos ressaltar a sua importância e o quanto pode contribuir para o enriquecimento das experiências dos alunos, sendo oportuna a sua inserção no processo de ensino e aprendizagem.

Em relação aos seminários, técnica desenvolvida por um grupo de alunos que estuda, em conjunto, um determinado tema, pudemos acompanhar trabalhos bem desenvolvidos, inclusive alguns foram apresentados durante reuniões de pais/mães.

Os alunos da 7ª série chegaram a falar, durante seminários, sobre temas como a globalização da economia e meio ambiente, o que podemos verificar nas fotografias abaixo. Para o seminário, as providências são iguais aquelas tomadas para a conferência, porém, trata- se de um trabalho cooperativo, que envolve mais de um aluno. Ficamos impressionados com o desempenho de um dos grupos que se apresentou durante um seminário e vimos que seria positivo se levassem aquele trabalho para o III Encontro Estadual de Educadores Freinet do RN, realizado nos dias 08 e 09 de novembro de 2002.

18

Promove o trabalho a partir das curiosidades das próprias crianças, que por natureza começam a se perguntarem o porquê, como e quando de muitas coisas, satisfazendo desta maneira sua curiosidade natural. 19

A apresentação dos alunos no Encontro Estadual, seria uma forma viva de falarmos sobre a viabilidade das Técnicas de Freinet. Acertamos com os alunos e com o professor orientador do trabalho, que teve uma rápida passagem pela Escola Freinet, sendo substituído por E10. Todos concordaram e o seminário entrou na programação do evento, na parte voltada para as Comunicações de Trabalhos (ANEXO – N), tendo sido um sucesso e elogiado pelos educadores que participaram daquele momento.

Tanto a conferência quanto o seminário acontecem sempre que um aluno ou um grupo coloca essas técnicas nos seus planos de trabalho. Poderão ocorrer mais de uma vez, durante a semana ou até mesmo não acontecer nenhuma vez, depende do volume de produção da turma.

Os benefícios dessas técnicas fazem delas importantes aliadas dos processos de ensino e aprendizagem, atribuindo à palavra o poder de ser instrumento de socialização de diferentes assuntos, que são expostos para a reflexão de um grupo maior.

Numa de suas tantas e sábias reflexões, Freire (1996, p. 152-159) diz que “Ensinar exige disponibilidade para o diálogo”. Transpondo esta asserção para a práxis da Conferência e do Seminário das salas de aula freinetianas, pudemos entender que são técnicas que pressupõe a auto-exposição dos alunos-conferencistas, que somente se sentirão encorajados se, no cotidiano escolar, as relações forem permeadas pela concepção de que, na vida e na escola, o ser humano tem o direito de errar. Para se colocar sobre um tema, o aluno não tem como preocupação a memorização de um aglomerado de possíveis respostas. Fala sobre o que estudou, percebendo-se incompleto e aberto para questionar e ser questionado.

A segurança de falar em público sobre um determinado objeto de estudo, deverá advir de uma pedagogia que defende a idéia de que se sabe sobre muitas coisas e se desconhece sobre tantas outras. Que entende o Homem como um sujeito ativo, que a cada dia aperfeiçoa as suas experiências, realiza tateios e constrói conhecimentos novos. Ao mostrar-se, lançando- se na tarefa de comunicar as suas descobertas, ao mesmo tempo, o aluno abre-se “ao mundo e aos outros à procura de explicação, de respostas a múltiplas perguntas ” (FREIRE, 1996, p. 153).

Propostas como estas inauguram uma nova lógica, que rompe com a prática do aluno ir à escola, unicamente, num determinado horário de aulas, geralmente num dos turnos do dia, como se tivesse que ter o momento certo para pensar. A sala de aula é autorizada a estender- se para outros espaços, até mesmo fora da escola. Uma conferência ou um seminário poderá ser realizado num turno que não é aquele que o aluno estuda, regularmente, e em locais dos mais diversos, onde possam atrair públicos dos mais diversos. No ensino de 5ª a 8ª séries estas

técnicas poderão ser das mais eficazes, dado o estágio avançado de autonomia, que espera-se perpassar o desenvolvimento dos adolescentes.

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