Configuração atual do ramo automobilístico

Que tipo de transformações este ciclo de investimentos produziu na indústria automobilística paulista? Aqui pretendemos explorar sua configuração, que culmina com o quadro atual, enfatizando seus elementos estruturais e sua dinâmica, em particular, a distribuição regional das plantas para o Estado de São Paulo.

O processo de configuração demarcado pela nova etapa de desenvolvimento do setor automobilístico para o Estado de São Paulo, a partir dos anos 90, sinaliza três importantes dinâmicas de investimentos demarcados pelas empresas: as novas entrantes, as consolidadas no setor e as que passaram por processos de remodelação/expansão.

Novas entrantes. São aquelas montadoras que estão se instalando no país pela primeira vez. Estas empresas se notabilizaram por projetos modestos, cujo volume de inversão destas empresas é bastante inferior, comparado aos projetos de montadoras em outros estados.

Quadro 2.1a – Novas entrantes

Empresa Atividade Investimento Localização Data

Toyota Automóveis 150 Indaiatuba 1998

Honda Automóveis 100 Sumaré 1997

Land Rover41 Jipes e

comerciais 200 São Bernardo do Campo 1998 Emme-Lotus42 Automóveis 40 Pindamonhangaba 1997 Fonte: Anfavea (2010) e Arbix.

41

Encerrou atividades em 2004.

42

Consolidadas. São montadoras já instaladas no país e que estão realizando investimentos em novas plantas de produção, buscando incorporação de novos espaços.

Quadro 2.1b – Consolidadas

Empresa Atividade Investimento Localização Data

General Motors Componentes 500 Mogi das Cruzes 1999

Volkswagen Motores 250 São Carlos 1996

Fonte: Anfavea (2010) e Arbix.

Remodelação/expansão. Indica o investimento de empresas instaladas em plantas antigas. Também podemos situar neste movimento os processos de reestruturação/atualização das unidades e etapas de produção, encaminhados pelas empresas.

Quadro 2.1c – Remodelação/expansão

Empresa Atividade Investimento Localização Data

Ford Remodelação 850 São Bernardo do Campo 1997

General Motors43 Caminhões 70 São José dos Campos 1996 Fonte: Anfavea (2010) e Arbix.

Estes movimentos foram os de maior relevância no processo de retomada do crescimento industrial deste setor. Face às condições estruturais do Estado, conseguiu produzir vários eventos em simultâneo, como a entrada de novas empresas, a instalação novas plantas de empresas já existentes e o reinvestimento em plantas. Também verificamos a realização de outros eventos, de menor impacto, porém com reflexos importantes sobre a atividade produtiva, particulares à dinâmica que está sendo proposta. Nesse quadro podemos apontar a instalação de um escritório da Renault na cidade de São Paulo, um Centro de Design para América Latina; a transferência de plantas de unidades já instaladas para outras em processo de instalação (Volks, GM e Ford), a criação de Centros de Distribuição para atender redes em âmbito de América Latina, investimentos em serviços (logística, marketing, financeiro e social), com um peso maior para

43

ênfase institucional e uma tendência para a flexibilização de atividades. Esta fábrica que está sendo proposta nos anos 90 guarda importantes diferenças em relação à velha fábrica dos 60.

Importantes aspectos no interior do recente processo de conformação da indústria automobilística no Brasil merecem destaque, embora não seja objeto de análise no presente estudo. A maior parte destes investimentos se realiza com um braço financeiro. Cada montadora está associada a um banco especializado, que fornece crédito aos consumidores para a aquisição de veículos. Outro aspecto diz respeito à face produtiva, onde a fábrica assume um viés de prestação de serviços, com fortes laços de terceirização e relativa precarização de atividades. Estas discrepâncias destoam com maior nitidez quando ingressamos no campo das relações de trabalho no interior das fábricas, reforçadas pelas reformas recentes como o banco de horas e a PLR.

Percebemos que a maioria destes investimentos realizados fora do Estado de São Paulo parece estabelecer algum tipo de complementaridade com a indústria automobilística deste estado. De fato, a disputa que se acompanhou nos anos 90 restringiu-se ao âmbito da guerra fiscal. Estes investimentos têm características bastante comuns, como a localização às margens de grandes vias de acesso, próximas a zonas de distribuição (aeroportos e portos), de áreas tecnológicas e não necessariamente apresentam um poder multiplicador sobre a região, como o verificado no complexo industrial do ABC paulista. Talvez, uma das características mais acentuadas deste processo recente tenha sido a busca por uma experiência laboral e sindical distinta a do ABC.

No Quadro 2.2 observamos a configuração atual do setor automobilístico no Estado de São Paulo. É importante ressaltar a dimensão estrutural desde setor, que reúne seis montadoras, situadas em 13 cidades, com uma alta diversidade de plantas e encadeando uma grande rede de fornecedores de insumos e serviços. Isto sugere a emergência de novos perfis, novos atores e dinâmicas, estabelecendo novas relações.

Quadro 2.2 - Configuração industrial/espacial do setor automobilístico do Estado de São Paulo.

Empresas Unidades Industriais Produtos/Serviços Atividades Data

Ford São Bernardo do Campo Taubaté

Tatuí

Automóveis, comerciais leves, caminhões Componentes, motores, transmissões Campo de provas

Fundição, usinagem e montagem.

Transmissão de motores e componentes de chassis. Laboratório de emissões. 1967 1967 1978 General Motors

São Caetano do Sul

São José dos Campos

Mogi das Cruzes Indaiatuba Sorocaba

Automóveis, comerciais leves

Automóveis, comerciais leves

Complexo Industrial e Comercial Campo de prova (Cruz Alta) Centro de distribuição de peças

Fundição, preparação CKD para exportação, motores e transmissões

Fundição, montagem

Manufatura (estamparia), peças linha descontinuada Pista de testes

Suprimento, apoio logístico.

1930

1956

1999 1974 1996

Honda Sumaré Automóveis Fundição, usinagem, estamparia, montagem de motores, injeção de plásticos, divisão peças, solda, inspeção final

1997

Mercedes- Benz

São Bernardo do Campo Campinas

Caminhões, ônibus Centro de Treinamento

Remanufatura de peças, pós-vendas

Motores, eixos, câmbios

Atividades de assistência técnica, pós-venda, comercialização de peças, treinamento e desenvolvimento da rede de concessionários.

1955 2000

Renault São Paulo Renault Design América Latina Laboratório de criação e desenvolvimento de pesquisa e produtos.

2008

Toyota São Bernardo do Campo Indaiatuba

Autopeças Automóveis

Desenvolvimento projetos, fabricação, forjaria Montagem

1962 1998

Volkswagen São Bernardo do Campo Taubaté

São Carlos

Automóveis, comerciais leves Automóveis

Motores

Estamparia, armação, pintura, montagem final PD Montagem

Fundição

1959 1976 1996

Devemos ressaltar uma vez mais que, estes novos espaços se colocam com fortes vinculações à fábrica paulista, se assim podemos nos referir às montadoras situadas no Estado de São Paulo.

Na seção seguinte, buscando maior luz destes movimentos, examinaremos a questão institucional no setor automotivo do Estado de São Paulo: as características, as relações e os atores.