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3.2 COMPETÊNCIA

3.2.4 Conflito de Competência

Da análise das características para fixação da competência pode ocorrer de dois ou mais juízes se considerarem simultaneamente competentes ou incompetentes para apreciar o feito.

Extrai-se do artigo 115 do Código de Processo Civil que:

Art. 115. Há conflito de competência:

I - quando dois ou mais juízes se declaram competentes; II - quando dois ou mais juízes se consideram incompetentes;

III - quando entre dois ou mais juízes surge controvérsia acerca da reunião ou separação de processos.30

Nos casos do inciso I, quando dois ou mais juízes se declaram competentes, há conflito positivo de competência, quando o caso é de dois ou mais juízes recusarem a competência há um conflito negativo.31

Aqui é importante destacar o que Marinoni e Arenhart chamam de “princípio da competência sobre a competência”.

De acordo com esse princípio (chamado, pelos alemães, de Komptenz-Kompetenz), todo juiz tem competência para apreciar sua competência para examinar determinada causa. Trata-se de decorrência inevitável da cláusula que outorga ao magistrado da causa o poder de verificar a satisfação dos pressupostos processuais. Se a competência é um destes pressupostos, é natural que o juiz da causa tenha o poder de decidir (ao menos em primeira análise) sobre sua competência. Evidentemente, essa análise, feita pelo magistrado a respeito de sua competência (ou sobre a ausência dela), não vincula outros juízes, mesmo porque também estes detêm idêntica prerrogativa.32

Assim, tendo por base o princípio da competência sobre a competência, nos casos de incompetência absoluta, o juiz poderá, de ofício, declinar a competência para o juiz que tenha como competente.

O conflito pode ter início, ainda, por iniciativa das partes ou do Ministério Público, de acordo com o que prevê o Código de Processo Civil:

Art. 116. O conflito pode ser suscitado por qualquer das partes, pelo Ministério Público ou pelo juiz.

Parágrafo único. O Ministério Público será ouvido em todos os conflitos de competência; mas terá qualidade de parte naqueles que suscitar.

30 BRASIL, 1973, loc. cit.

31 THEODORO JUNIOR, 2007, p. 221. v. 1. 32 MARINONI; ARENHART, 2008, p. 48.

Art. 116. O conflito pode ser suscitado por qualquer das partes, pelo Ministério Público ou pelo juiz.

Parágrafo único. O Ministério Público será ouvido em todos os conflitos de competência; mas terá qualidade de parte naqueles que suscitar.

[...]

Art. 118. O conflito será suscitado ao presidente do tribunal: I - pelo juiz, por ofício;

II - pela parte e pelo Ministério Público, por petição.33

Nos casos de incompetência relativa, como já visto, caberá ao réu argui-la por meio de exceção em conformidade com o artigo 112 do Código de Processo Civil “argui-se, por meio de exceção, a incompetência relativa”34, desta forma não pode o juiz declarar de ofício.

De qualquer maneira, a primeira análise referente à arguição de incompetência, em regra, será feita pelo juiz da causa.

Há, contudo, importante exceção ao princípio da competência sobre a competência, estampada nas súmulas 150, 224 e 254 do Superior Tribunal de Justiça:

Súmula 150 - COMPETE A JUSTIÇA FEDERAL DECIDIR SOBRE A EXISTÊNCIA DE INTERESSE JURÍDICO QUE JUSTIFIQUE A PRESENÇA, NO PROCESSO, DA UNIÃO, SUAS AUTARQUIAS OU EMPRESAS PÚBLICAS.35

Sumula 224 - Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o Juiz Estadual a declinar da competência, deve o Juiz Federal restituir os

autos e não suscitar conflito.36

Súmula 254 - A decisão do Juízo Federal que exclui da relação processual ente federal não pode ser reexaminada no Juízo Estadual.37

O entendimento consolidado do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que a decisão do juiz federal sobre o interesse da União no processo (ou a ausência de interesse) prevalece sobre a do juiz estadual38, portanto, declinando o juiz federal a competência à justiça estadual, não pode o magistrado que recebeu o processo suscitar o conflito negativo de competência.

Da mesma forma, quando em processo que tramita no juízo estadual for chamada

33 BRASIL, 1973, loc. cit. 34 Ibid.

35 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula 150. Brasília, DF. Disponível em:

<http://www.stj.jus.br/SCON/pesquisar.jsp>. Acesso em: 4 maio de 2010.

36 Id. Súmula 224. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/pesquisar.jsp>. Acesso em: 4 maio

de 2010.

37 Id. Súmula 254. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/pesquisar.jsp>. Acesso em: 4 maio

de 2010.

a União ou entidade autárquica ou empresa pública federal a intervir no processo, não pode o juiz apreciar a possibilidade de tal intervenção, devendo declinar a competência ao juiz federal, que analisará e decidirá sobre o interesse da União no feito e, consequentemente, se este deve ser processado perante a justiça estadual ou a justiça federal.

Para melhor esclarecer, cumpre citar Pereira:

Mais delicada a solução quando a União (ou outro ente com foro privilegiado) intervenha na causa por determinação própria. Estando a demanda em curso na Justiça Estadual, a Súmula 150 do STJ [...] recomenda que haja automática modificação de competência, deferindo-se ao juízo federal a atribuição para decidir sobre a legitimidade da intervenção. Porém, “a decisão do Juízo Federal que exclui

da relação processual ente federal não pode ser reexaminada no Juízo Estadual”

(Súmula 254 do STJ).39

A intervenção da União em processos que tramitam na justiça estadual é quase que corriqueira nas ações em que a parte autora objetiva o recebimento gratuito de medicamentos.

Ocorre, amiúde, de a parte autora ajuizar ação com tal objeto contra o Município e o Estado-Membro no juízo estadual e, entendendo o Estado que a União é solidariamente responsável na prestação a saúde, em sede de contestação, a chama para integrar o pólo passivo da demanda, deslocando a competência ao juízo federal.

Neste ponto, cabe estudar as figuras do litisconsórcio e do chamamento ao processo para melhor compreensão do tema, no que concerne à possibilidade da intervenção provocada pelo Estado-Membro.

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