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Conflito de interesses nas deliberações assembleares da companhia aberta O tema do conflito de interesses nas deliberações assembleares de companhias

abertas enseja importantes desafios concretos, inclusive porque as decisões do Colegiado da Comissão de Valores Mobiliários – CVM têm variado bastante em função da polêmica e complexidade inerentes à questão.

A discussão centra-se na proibição de voto prevista no artigo 115, parágrafo primeiro, da Lei de Sociedades Anônimas (Lei n. 6.404/76) e na caracterização das hipóteses de benefício particular e conflito de interesses ali previstas, diante de casos concretos envolvendo contratos entre partes relacionadas e operações societárias em geral. A falta de um direcionamento claro por parte da CVM, assim como o amplo rol de deliberações assembleares capazes de ensejar conflitos de interesses, contribuem para a incerteza jurídica existente e evidenciam a necessidade de trabalhos (i) exploratórios,

112 que se proponham a sistematizar e a explicar as práticas adotadas no Brasil e

internacionalmente, inclusive à luz dos princípios e regras de Governança Corporativa; de resolução de problemas concretos enfrentados na prática societária; e (iii) de estudos de caso, inclusive daquele objeto de julgamento por parte do Colegiado da CVM.

O que se busca é responder questões como as que seguem:

Em que consiste o conflito de interesses nas deliberações assembleares das sociedades anônimas em geral? Quais seus impactos na companhia aberta?

Quais os referenciais que vêm sendo utilizados na prática para a identificação de situações de conflito de interesses envolvendo acionistas de companhias abertas? Esses mesmos referenciais têm sido empregados para identificar situações de conflito de interesses envolvendo Conselheiros de Administração e Diretores?

Como a Lei de Sociedades Anônima disciplina os conflitos de interesses, tanto em uma (acionistas), como em outra (administradores) hipóteses?

Qual o tratamento dado ao tema em outros ordenamentos jurídicos? Quais as semelhanças e diferenças dignas de nota e como impactam a prática societária?

Quais os problemas e questões controvertidas decorrentes da disciplina legal do conflito de interesses? Os julgados da Comissão de Valores Mobiliários – CVM e do Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional –CRDFN vêm provendo soluções adequadas?

Como o tema é endereçado pelas normas editadas pela CVM, pelos julgados de seu Colegiado e por decisões de autoridades análogas no exterior? Existe espaço para normas de autorregulação em sentido amplo, e para normas contratuais em sentido estrito, disciplinando a questão?

Quais as estratégias que vêm sendo adotadas na prática para mitigar os problemas decorrentes do conflito de interesses? É conveniente recomendar um novo rumo de ação, a fim de endereçar os desafios verificados na experiência brasileira?

113 27.2. Acordos de acionistas de companhias abertas

Os Acordos de Acionistas, regidos pelo disposto no artigo 118 da Lei de S/A, são amplamente utilizados pelas companhias abertas brasileiras, especialmente como instrumento de exercício do poder de controle.

A questão da vinculação dos votos dos membros do Conselho de Administração eleitos pelas partes signatárias, prevista nos parágrafos oitavo e nono daquele dispositivo legal, ainda é objeto de grande controvérsia; contrapondo, de um lado, o dever de atendimento ao interesse social e atuação independente dos administradores e, de outro, a busca de uma maior estabilidade e previsibilidade no exercício do poder de controle.

O tema apresenta importantes intersecções entre Direito Contratual e Direito Societário, que carecem de melhor compreensão na prática profissional, devendo ser notada a adoção – por vezes desmesurada e não criteriosa – de usos, costumes e soluções contratuais provenientes do direito estrangeiro. Nesse sentido, parece existir espaço para trabalhos voltados à sistematização dessas mesmas práticas, assim como à resolução de problemas concretos enfrentados por profissionais atuantes tanto na negociação e estruturação de Acordos de Acionistas, quanto no contencioso arbitral, judicial e administrativo (CVM) deles resultante. Existe, igualmente, uma ampla casuística que está a merecer mais atenção, a fim de que se encontre respostas a quesitos como os que seguem: Quais as funções dos Acordos de Acionistas nas companhias abertas? Qual sua relevância prática e impacto na prática societária e do mercado de valores mobiliários?

Quais os principais desafios enfrentados pelas companhias abertas em que se verifica a existência de Acordos de Acionistas, especialmente no que se refere à exequibilidade das cláusulas pactuadas e ao pleno atendimento do dever de transparência e divulgação de informações? E os principais desafios enfrentados pelos acionistas signatários desses pactos, com ênfase nos procedimentos de tomada de decisão, vinculação do exercício do direito de voto, exercício do direito de preferência para aquisição de ações e resolução de impasses e demais controvérsias?

114 normas específicas da Lei de Sociedades Anônimas e as normas gerais sobre Direito das

Obrigações e Direito Contratual contidas no Código Civil? Quais as particularidades da disciplina jurídica do tema no Brasil, frente ao tratamento dispensado por ordenamentos jurídicos de outros países?

Qual o emprego usual e quais as cláusulas mais comuns na prática dos Acordos de Acionistas de companhias abertas? Como conciliar o fato de que muitas delas são provenientes do direito estrangeiro?

Quais as práticas usualmente adotadas para implementar os mecanismos de vinculação e de autotutela do voto das partes e dos membros do Conselho de Administração eleitos por signatários de Acordos de Acionistas de companhias abertas?

Como equacionar o conflito existente entre a vinculação do voto dos acionistas e membros do Conselho de Administração e os deveres de lealdade e independência previstos na Lei de Sociedades Anônimas?

Quais as estratégias mais eficientes para solucionar impasses no seio das Reuniões Prévias das partes signatárias de acordos de acionistas? As clausulas usuais de desempate (e.g. buy or sell, shotgun, dentre outras) são mesmo as mais eficientes?

27.3. As chamadas “ações de classe” envolvendo companhias abertas brasileiras, no