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Conflitos externos e conflitos internos: o árduo caminho da unificação

3.2 A formação da Aliança Libertadora: eleições, mobilizações e dissidências

3.2.1 Conflitos externos e conflitos internos: o árduo caminho da unificação

O ano eleitoral de 1924, tal qual o polêmico processo eleitoral de 1922, contou com diversas acusações sobre práticas de perseguições e violências contra os oposicionistas190. Durante todo o ano de 1924, o jornal Correio do Povo apresentou um conjunto de denúncias e insatisfações dos “libertadores” sobre os problemas percebidos na situação política estadual191. As notícias publicadas pelo jornal porto-alegrense eram múltiplas: dificuldade no alistamento eleitoral e na obtenção dos respectivos títulos para que os eleitores pudessem votar192, perseguição contra antigos chefes militares de 1923193, múltiplos casos de violência contra os opositores, principalmente contra indivíduos identificados pela utilização dos famosos “lenços encarnados”194, entre outras.

Os casos de violências políticas pelo interior do estado se multiplicaram nas páginas do jornal através de episódios ocorridos em diversas cidades como Uruguaiana195, Rosário do

190 Segundo José Fernando Kieling (1984), ao analisar as notícias publicadas pelo jornal Correio do Sul de Bagé, as diversas perseguições realizadas contra oposicionistas em 1924 podem ser entendidas como uma prática operada pelo PRR com o intuito de embaraçar o alistamento eleitoral (KIELING, 1984, p.36-40). Luiza Helena Kliemann afirma que as eleições de 1924 transcorreram tranquilamente (KLIEMANN, 1981, p.93). Ao que tudo indica, o ano de 1924 foi tão tumultuado quanto os meses que antecederam a guerra civil de 1923.

191 As denúncias, polêmicas e notícias reproduzidas pelo Correio do Povo sobre este tema, em grande parte eram transcritas de outros jornais de tendências abertamente oposicionistas, como por exemplo, o Correio do Sul de Bagé, Correio da Serra de Santa Maria, e principalmente, a Última Hora de Porto Alegre.

192 Sobre fraudes eleitorais, manipulação do alistamento eleitoral e outras práticas existentes na Primeira República no Rio Grande do Sul, ver as contribuições de Loiva Otero Félix (1987) e Eduardo Rouston Jr (2012). 193 Leonel Rocha em carta para Antunes Maciel durante os diálogos de aproximação entre PRR e as oposições em 1927, comenta que durante o ano de 1924, “queimaram minha casa e mandaram assassinar minha família oficial [...] sem armas depois da Revolução de 23 eu passei a maior parte do tempo dormindo nos matos, minha casa constantemente vivia rondada pelos assassinos deles e agora dizem que querem me tirar dos sacrifícios para que eu tenha uma boa vida.” (DAL FORNO, 2012, p.44).

194 O tradicional lenço vermelho era um signo de identificação dos popularmente chamados “maragatos” desde os episódios da revolta de 1893. Por sua vez, os adeptos de PRR, vestiam o lenço branco e após o lançamento da obra Antônio Chimango (1915) escrita por Ramiro Barcellos como sátira à carreira de Borges de Medeiros, passaram a vulgarmente ser chamados de “chimangos”,.

Sul196, Quaraí197, Erechim198, Bagé199, Canguçu200, São Gabriel201, ou ainda em Palmeira das Missões onde a extremidade da situação levou Felippe Portinho e Assis Brasil a entrarem em contato com Borges de Medeiros temendo um “derramamento de sangue” nos quadros políticos locais diante das repetidas ameaças sofridas por Leonel Rocha e seus correligionários202. Situação similar ocorreu em Passo Fundo em que a sede do diretório da Aliança Libertadora foi alvo de um suposto ataque por parte de soldados da Brigada Militar, gerando contundentes protestos203. Também em Passo Fundo ocorreu o polêmico episódio envolvendo João Rodrigues Menna Barreto, antigo general do movimento de 1923, e alguns oficiais vinculados aos Corpos Provisórios da Brigada Militar. No início de fevereiro Menna Barreto teria trocado tiros e ferido mortalmente um destes soldados, acarretando na prisão do “ex-chefe bandoleiro”. Na busca por solucionar o problema e libertar seu irmão, Sabino Menna Barreto telegrafou ao Ministro Setembrino de Carvalho comunicando a situação e pedindo que intercedesse em favor do chefe oposicionista204. Barreto permaneceu detido por diversos meses e o caso foi levado às últimas instâncias do Supremo Tribunal Federal na busca por um habeas corpus de libertação do prisioneiro205.

Os problemas com a atuação de juízes encarregados pelo alistamento dos votantes e diversos outros atritos em torno das questões eleitorais também estiveram extremamente presentes, como em casos em São Francisco de Paula206 e São Borja207. Cabe igualmente lembrar os recorrentes problemas encontrados durante as eleições municipais, em que reiteradamente lideranças oposicionistas protestaram contra a organização e realização das eleições que não obedeciam às diretrizes do Pacto de Pedras Altas e não se adequaram aos ditames da lei eleitoral federal, como foram os casos de Soledade, onde no distrito municipal em que as oposições possuíam maioria do eleitorado, as mesas eleitorais simplesmente não foram organizadas208, entre outras cidades, como Canguçu209, Santa Maria210, Dom Pedrito211, Uruguaiana212.

196 Correio do Povo, Porto Alegre, 02/07/1924, p.2 197 Correio do Povo, Porto Alegre, 07/02/1924, p.1 198 Correio do Povo, Porto Alegre, 27/02/1924, p.1 199 Correio do Povo, Porto Alegre, 02/03/1924, p.1 200 Correio do Povo, Porto Alegre, 23/05/1924, p.3 201 Correio do Povo, Porto Alegre, 11/03/1924, p.2

202 Correio do Povo, Porto Alegre, 18/03/1924, p.1; 19/03/1924, p.1; 21/03/1924, p.1 203 Correio do Povo, Porto Alegre, 12/04/1924, p.1

204 Correio do Povo, Porto Alegre, 15/02/1924, p.1 205 Correio do Povo, Porto Alegre, 11/06/1924, p.1 206 Correio do Povo, Porto Alegre, 21/03/1924, p.1 207 Correio do Povo, Porto Alegre, 13/05/924, p.1 208 Correio do Povo, Porto Alegre, 21/08/1924, p.1 209 Correio do Povo, Porto Alegre, 25/07/1924, p.4

Todos os problemas acumulados no primeiro semestre de 1924 passaram a gerar uma descrença coletiva acerca dos resultados da guerra civil e as reais garantias oferecidas pelo acordo de paz e pelo Ministro Setembrino de Carvalho em torno da lisura do pleito eleitoral de maio. A preocupação levou Assis Brasil a telegrafar ao Ministro de Guerra solicitando um maior empenho e proximidade no acompanhamento da situação política do Rio Grande:

Apesar da negativa oficial, é uma realidade o terrorismo das autoridades e provisórios agredindo e ameaçando os oposicionistas, bem como dos juízes, dificultando o alistamento. Os meus amigos em muitas localidades, garantem que o triunfo eleitoral depende da plenitude das garantias. Na falta destas, começa a alastrar a decisão de abandonar as urnas. Prevejo que os meus conselhos serão impotentes para evitar esse pernicioso resultado213

O temerário aviso de Assis Brasil chegou de fato a se tornar realidade em algumas localidades como, por exemplo, em Palmeira das Missões, onde os adeptos da AL, diante das ameaças sofridas e da impossibilidade de alistarem seus eleitores, decidiram por não comparecer às urnas no mês de maio214, tendo os candidatos oposicionistas não alcançado nenhum voto nas mesas eleitorais do município215. A grave crise de insegurança e desconfiança com as eleições federais levou o Ministro Setembrino de Carvalho a se posicionar publicamente sobre o assunto. Em um manifesto intitulado “Ao Povo Rio-Grandense”, publicado no dia 27 de Abril de 1924 no Correio do Povo, Setembrino comunicou que chegara no estado para “satisfazer o solene compromisso que assumiu” de “colaborar na efetivação dos meios assecuratórios do livre exercício do direito do voto”, e com isto fazia um “fervoroso apelo” para que “os nobres conterrâneos exerçam o direito de voto sem impor quaisquer restrições a liberdade alheia, nem sapear a vitória eleitoral com os recursos da violência”216.

Além das ocorrências de violências e perseguições, os aliancistas também necessitaram solucionar diversos casos de dissidências internas em suas fileiras. Uma destas cisões ocorreu no interior do Partido Federalista de Porto Alegre devido às disputas pela liderança do grupo217 e as tomadas de posição em relação aos aliancistas e seus candidatos.

210 Correio do Povo, Porto Alegre, 26/07/1924. p.1 211 Correio do Povo, Porto Alegre, 29/07/1924, p.4 212 Correio do Povo, Porto Alegre, 02/09/1924, p.1 213 Correio do Povo, Porto Alegre, 07/03/1924, p.1 214 Correio do Povo, Porto Alegre, 01/05/1924, p.1 215 Correio do Povo, Porto Alegre, 11/05/1924, p.4 216 Correio do Povo, Porto Alegre, 21/04/1924, p.3

217 O Partido Federalista já entrou na década de 1920 com múltiplas divisões em seu interior. Segundo Rouston, o partido era cindido por três alas: os seguidores de Raul Pilla, os de Rafael Cabeda e os de Francisco Antunes Maciel, sendo que as duas últimas mantiveram-se à margem da disputa eleitoral de 1922 (ROUSTON, 2012, p.172). A ala de Maciel mudou de posicionamento e se aproximou da tendência unificadora apoiando a guerra

Em artigo transcrito pelo Correio do Povo, Raul Pilla procurou elucidar o caso com o objetivo de que os adversários não se utilizassem da dissidência para atacar o projeto de unificação das oposições. Segundo explicação de Pilla, durante o congresso dos federalistas da capital no início do ano foram eleitos os correligionários responsáveis pela comissão diretiva da agremiação, na qual a presidência coube a ele. Além disto, os próprios presentes no evento, em sua maioria, optaram pela completa solidariedade à Aliança Libertadora. A eleição e a postura do diretório acarretou na dissidência de Antônio Moraes Fernandes que fundou e liderou o Centro Federalista Raphael Cabeda, órgão autônomo ao partido e contrário a uma coligação com os demais oposicionistas. Para Raul Pilla era preciso deixar claro que a postura de Moraes Fernandes não representava as aspirações e intenções da esmagadora maioria da agremiação federalista da capital218.

O Centro Federalista passou a atuar de maneira independente visando angariar adeptos para sua causa. No dia 28 de Março, a agremiação realizou nas dependências do Cinema República na Rua dos Andradas, uma conferência com “o orador Dr. José Júlio Silveira Martins, candidato federalista por este distrito” que falaria sobre o tema da “Reação necessária – O assalto ao Federalismo”219. Naquele momento, o grupo assumia publicamente um rompimento com os aliancistas e lançava seu próprio candidato para as próximas eleições, além de deixar claro através do tema da palestra qual a sua postura frente às tentativas de unificação de todas as tendências oposicionistas do estado. A imprensa noticiou a conferência política que contou com a presença de algumas lideranças federalistas, como Moraes Fernandes, Benjamin Avellino, Olympio Duarte e Álvaro Porto Alegre e tendo sido tema da palestra a missão dos federalistas frente ao novo cenário político oposicionista220. Com o mesmo objetivo, através da “Seção Livre” do Correio do Povo do dia 4 de Abril, Antônio Moraes Fernandes publicou um artigo intitulado “O Federalismo ameaçado”, criticando a Aliança Libertadora e exaltando a trajetória de lutas e os ideais do histórico Partido Federalista no Rio Grande do Sul. Segundo o autor, a “coligação de todos os elementos da oposição gaúcha” para as próximas eleições federais representava uma “tendência infeliz de, num esforço brusco, verdadeiramente traiçoeiro” transformar “o tradicional partido federalista em novo partido assisista”221. Com o intuito de apontar as contradições da unificação oposicionista, o Centro também mandou publicar no jornal um discurso de Plinio Casado

civil e compondo a Aliança Libertadora, já os “cabedistas” jamais aceitaram a união com republicanos dissidentes.

218 Correio do Povo, Porto Alegre, 15/03/1924, p.1 219 Correio do Povo, Porto Alegre, 28/03/1924, p.1 220 Correio do Povo, Porto Alegre, 30/03/1924, p.3 221 Correio do Povo, Porto Alegre, 06/04/1924, p.4

(dissidente republicano que transformou-se em deputado federal pela Aliança e uma das principais lideranças das oposições) durante uma convenção do PRR em anos anteriores. No discurso Casado, na época membro do PRR, elogiava eloquentemente o seu partido e criticava os adeptos da agremiação federalista222.

Em resposta a todas as críticas realizadas por Moraes Fernandes e sua agremiação, Raul Pilla mandou publicar um longo artigo intitulado “Ao Federalismo de Porto Alegre”, no qual conclamou todos os adeptos da agremiação na capital a irem “unidos as urnas como unidos fomos à revolução”:

O dever do federalismo é um só no atual momento: cerrar fileiras em torno da chapa da Aliança Libertadora. Distrair votos é dispersar forças, é mais ainda, pô-las ao serviço do despotismo, conspurcando para sempre a honra do Partido223

Durante este contexto de desentendimentos entre os federalistas de Porto Alegre foi realizado o segundo encontro da AL entre as lideranças responsáveis pela comissão executiva. No encontro ocorrido em 14 de Abril em São Gabriel foi elaborada uma proclamação oficial e foram estabelecidos os candidatos concorrentes ao pleito federal, anteriormente consultados segundo uma eleição prévia realizada no primeiro congresso de janeiro. O texto com os candidatos e a proclamação foi reproduzido no Álbum dos Bandoleiros acompanhado das fotografias dos representantes e também em reportagem do jornal Correio do Povo224. As candidaturas ficaram estabelecidas da seguinte forma

Senador: J.F. de Assis Brasil, proprietário, residente em Pedras Altas

Deputados: 1º Circulo: Lafayette Cruz, engenheiro, residente em Porto Alegre; Plinio de Castro Casado, advogado, residente em Porto Alegre; Wenceslau Escobar, proprietário, residente em Porto Alegre; 2º Circulo: Arthur Caetano da Silva, advogado, residente em Passo Fundo; João Baptista Lusardo, médico, residente em Uruguaiana; 3º Circulo: Antônio Baptista Pereira, proprietário, residente no Rio de Janeiro; Arthur Pinto da Rocha, advogado, residente no Rio de Janeiro; Francisco Antunes Maciel, proprietário, residente em Pelotas225

Ciente dos riscos de conflitos que a definição dos nomes acarretaria, a “Proclamação” da comissão alertou que era “provável que algum digno correligionário não veja contemplado o nome, ou nomes de sua predileção”, mas que não era “materialmente possível contemplar todos os correligionários meritórios” e que se acreditava que não “faltará bom senso e patriotismo para se conformar com a decisão da autoridade suprema”. O texto ainda expunha uma longa crítica e um contundente pessimismo sobre a situação político-eleitoral do estado,

222 Correio do Povo, Porto Alegre, 20/04/1924, p.5 223 Correio do Povo, Porto Alegre, 22/04/1924, p.4 224 Correio do Povo, Porto Alegre, 20/04/1924, p.1

demonstrando a descrença em torno das condições para a realização de um pleito livre no mês de maio.

A recepção da chapa de candidaturas estipulada pela AL foi elogiada em grande parte das localidades, com exceção de alguns casos, como em Livramento, onde a seleção dos concorrentes foi questionada em decorrência da ausência de federalistas importantes como Paulo Labarthe e Gaspar Saldanha, além da desgostosa presença do histórico rival da família Cabeda, Pinto da Rocha226. Os seguidores de Cabeda que dominavam o diretório federalista naquele município, já haviam se negado a apoiar a candidatura de Assis Brasil para presidente do estado em 1922, sob o pretexto de que se aliar aos assisistas significaria a morte dos ideais parlamentaristas de Gaspar Silveira Martins e Rafael Cabeda. O mesmo grupo, no final dos anos de 1920, manteve-se intransigente sobre a dissolução do partido em aderência completa ao Partido Libertador (FRANCO, 2007, p.169).

Em resposta à chapa oficial lançada pela Aliança Libertadora, os dissidentes federalistas de Porto Alegre, aliados aos correligionários de Livramento, lançaram de forma independente seus próprios candidatos: “Senador: Paulino Vares, proprietário, residente em Livramento; Deputado: Dr. José Júlio Silveira Martins, advogado, residente no Rio de Janeiro.”227. O apelo de Moraes Fernandes (presidente do grupo e signatário do lançamento da chapa) para angariar os votos dos correligionários evocava justamente um apelo em torno da figura simbólica de Gaspar Silveira Martins:

Os votos dos verdadeiros continuadores da obra política de Silveira Martins, o maior dos rio-grandenses, só podem ser dados a companheiros laureados nas pugnas do liberalismo republicano [...] Por isto mesmo, o Centro Federalista, foi buscar no seio do partido duas individualidades que representam a figura máxima do extraordinário condutor de homens que foi Silveira Martins – nosso guia insubstituível e grande

chefe redivivo -.”228 (Grifo meu)

Tratava-se de um apego e culto irrestrito ao herói de um passado de lutas políticas que talvez explique a ausência de fotografias daquele antigo líder no Álbum dos Bandoleiros. Para os federalistas mais conservadores, a presença de novas lideranças partidárias como Assis Brasil ou Raul Pilla, significava o desaparecimento dos princípios de seu “guia insubstituível”, cultuado e seguido mesmo após décadas de sua morte. Já para as novas lideranças que ascendiam no próprio meio federalista e nas oposições como um todo unificado, tal qual no objetivado pelo discurso difundido pelo álbum fotográfico, os novos tempos demandavam novos posicionamentos, mobilizações e heróis.

226 Correio do Povo, Porto Alegre, 16/04/1924, p.2 227 Correio do Povo, Porto Alegre, 24/04/1924, p.1 228 Correio do Povo, Porto Alegre, 24/04/1924, p.1

Os correligionários vinculados a Raul Pilla e ao Diretório Federalista de Porto Alegre, preocupados com a confusão que as diferentes chapas poderiam causar no eleitorado federalista redigiram uma série de avisos publicados diariamente na capa do Correio do Povo na semana das eleições. O comunicado “prevenia os correligionários” sobre quem eram os candidatos indicados pela Aliança Libertadora e apoiados pelo Diretório, reiterando a importância de evitar “possíveis enganos e a inútil dispersão de votos”229. Em outro artigo da “Seção Livre”, um leitor chamado Antenor Lemos escreveu questionando Moraes Fernandes sobre quem, além dele próprio, compunha a diretoria do tal Centro Federalista e em que assembleia as tais candidaturas propostas haviam sido discutidas e votadas, acusando Fernandes de agir como um “autocrata” tal qual Borges de Medeiros230,

Em entrevista concedida ao jornal Correio do Sul de Bagé e transcrita pelo Correio do Povo, Assis Brasil também se posicionou sobre o assunto ao comentar sobre a escolha dos candidatos e as dissidências ocorridas em torno da chapa eleitoral aliancista. Sobre a dificuldade da definição dos candidatos, declarou que as escolhas teriam sido difíceis devido ao merecimento de tantos correligionários, mas que a comissão executiva seguiu os votos previamente indicados pelos delegados de diversos municípios que se fizeram presentes no primeiro encontro político de São Gabriel. Ainda acrescentou que o voto entre os adeptos da Aliança era “verdadeiramente livre”, ficando ao encargo da consciência de cada um o significado do “enfraquecimento das forças da comunidade pela dispersão de votos pela mera predileção”. Sobre a existência de rompimentos entre os aliancistas, como por exemplo, entre os “cabedistas” de Livramento, Assis lamentou a discordância e argumentou que os dissidentes estavam no seu direito de afastamento da comunhão caso não concordassem com ela, mas que a Aliança Libertadora não reconhecia nem “cabedismo” ou “assisismo”, e sim era formada por todos “os elementos da oposição ao despotismo imperante”, assim como questionava a magoa dos dissidentes, tendo em vista que um dos candidatos para deputado era justamente Antunes Maciel, federalista de longa data e o “mais íntimo companheiro do saudoso Cabeda”231.

Para além de todos estes problemas e conflitos ocorridos ao longo das mobilizações da Aliança Libertadora, a atuação e formação do grupo também encontrou solidariedades, concordâncias e aspectos positivos. Neste sentido, alguns temas e personagens parecem ter

229 Correio do Povo, Porto Alegre, 02/05/1924, p.1; 03/05/1924, p.1 230 Correio do Povo, Porto Alegre, 25/04/1924, p.4

conquistado a maioria da simpatia e adesão entre todas as vertentes e lideranças oposicionistas, formando as principais fontes de unidade do grupo.