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A CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL NO MUNICIPIO DE CARAPICUÍBA E A QUESTÃO DE GÊNERO

Neste capítulo, faremos uma revisão bibliográfica para falar sobre a fundação da cidade de Carapicuíba, em São Paulo. Um dos primeiros núcleos habitacionais no período colonial, a Aldeia de Carapicuíba foi fundada pelo padre Jose de Anchieta em 1580. Esse primeiro aldeamento foi substituído por uma pequena povoação de comerciantes que abasteciam as fazendas em volta. Carapicuíba tornou-se um importante centro folclórico e até hoje apresenta algumas manifestações culturais resultantes das junções e trocas do período inicial com as várias influências ocorridas.

Falamos da implantação da Igreja Congregação Cristã do Brasil no município de Carapicuíba, de seus primeiros templos. Para isso, foi preciso uma pesquisa de campo, já que a igreja não tem nenhum registro oficial da sua chegada e expansão

pela cidade. Entrevistamos os membros mais antigos da igreja que juntos formaram a memória da denominação no município. Memória que já está desfalcada pela morte dos mais velhos que lembravam ainda dos tempos de pioneiros, como Sr. Salvador, um dos mais antigos cooperadores de Carapicuíba, por exemplo.

Depois de falar da igreja, nosso maior desafio de pesquisa é falar sobre as relações de gênero no interior da Congregação em Carapicuíba: como se dão os discursos normativos na prática para se preservar a relação que é nitidamente machista e excludente. Utilizaremos referenciais de pesquisadoras e pesquisadores que formularam teorias sobre gênero. Os depoimentos de mulheres da igreja permearão as teorias e conceitos na tentativa de elucidar o que ocorre no dia-a-dia e de também tornar mais agradável a leitura.

Como vimos, a Igreja Congregação Cristã no Brasil chegou ao nosso país com Luigi Franscescon, italiano e imigrante nos EUA, onde se converteu ao protestantismo histórico e em seguida ao pentecostalismo. O nascimento da igreja em nosso território se deu na cidade de Santo Antonio da Platina, no Paraná, porém, foi em São Paulo, no bairro do Brás, que a igreja se firmou, a partir de uma cisão da Igreja Presbiteriana. “As Igrejas Pentecostais conservam praticamente todas as características das Igrejas não-litúrgicas, e a elas acrescentam a ênfase nos dons espirituais. Desse modo o que distingue as Igrejas pentecostais é o acento que colocam na emoção mística religiosa.15

A Igreja se constituiu no período que Paul Freston denominou de primeira

onda, referindo-se as etapas do movimento vindo da América do Norte, tendo

juntamente, com a Assembléia de Deus, a condição de sair na frente na conquista de fiéis para a nova forma de se cultuar e pelos próximos quarenta anos sem nenhuma concorrência mais organizada:

O pentecostalismo brasileiro pode ser compreendido com a história de três ondas de implantação de igrejas. A primeira onda é a década de 1910, com a chegada da Congregação Cristã (1910) e da Assembléia de Deus (1911) (...). A segunda onda pentecostal é dos anos 50 e início de 60, na qual o campo pentecostal se fragmenta, a relação com a sociedade se dinamiza a três grandes grupos (em meio a dezenas de menores) surgem: a Quadrangular (1951), Brasil para Cristo (1955) e Deus é Amor (1962). O contexto dessa

15 Cf. Antonio Gouvêa MENDONÇA; P.VELASQUES FILHO, Introdução ao

pulverização é paulista. A terceira onda começa no final dos anos 70 e ganha força nos anos 80. Suas principais representantes são a Igreja Universal do Reino (1977) e a Igreja Internacional da Graça de Deus (1980) (...) O contexto é fundamentalmente carioca. 16

A consolidação desse pentecostalismo clássico vai ocorrer num contexto bastante adequado para a sua proposta, ou seja, no Brasil de 1910, ainda majoritariamente rural. Era nas poucas cidades grandes do país que se refletia de forma mais visível as recentes transformações que haviam sacudido o país e o despertado de sua letargia: a Abolição da Escravatura, a Proclamação da República e a Promulgação da Constituição de 1891, fatos que repercutiram profundamente na história do país. A incorporação de parte da mão-de-obra escrava ao trabalho assalariado, novas relações políticas advindas do novo regime republicano, reorganização da vida social, política e econômica.

Atualmente, a Igreja Congregação Cristã no Brasil é a segunda igreja pentecostal em número de fiéis no Brasil, espalhada por todo o território brasileiro com maior presença nos estados de São Paulo e do Paraná, além de Rondônia e Mato Grosso, que receberam muitos paranaenses nos últimos anos. Foi superada pela Assembléia de Deus na década de 50, mas quando se fala de uma unidade identitária, a Igreja Congregação Cristã no Brasil é sem dúvida a maior no meio pentecostal brasileiro. Isso porque a Assembléia de Deus é dividida em vários ministérios regionais que acabam fragmentando o poder. Não apresentando uma unidade, mostrando que são várias Assembléias de Deus, cada uma com uma identidade própria, cada pastor em suas unidades religiosas define com suas comunidades a sua própria ação religiosa.

A Congregação Cristã é vista e entendida por todos como única no seu campo, não importando a localização, sua pedagogia fundante é a mesma e pode ser reconhecida como tal, seja num culto no sertão da Bahia ou no interior do Rio Grande do Sul, ou ainda no centro da cidade de São Paulo. Os discursos têm unidade, os procedimentos, as vestimentas, enfim toda a preparação, o desenvolvimento e a conclusão dos trabalhos religiosos são respeitados rigorosamente.

16 Paul FRESTON, Breve historia do Pentecostalismo brasileiro, in: Alberto ANTONIAZZI, Nem anjos nem demônios, p. 70

A análise sobre a mulher da Igreja Congregação Cristã no Brasil em Carapicuíba nas últimas duas décadas deve ser feita a luz dos dados desse município, desde a sua fundação até a organização e consolidação dessa Igreja em seu território, onde se expandiu a ponto de ser uma expressão muito significante.

Para sua gente, em grande parte migrante de várias regiões do Brasil, com suas ressignificações possíveis e necessárias para se integrar a nova vida, a religião é um dos fatores determinantes para se concretizar a nova leitura.