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2.2 Informação Incompleta

2.2.1 Congresso informado

Considere agora que, quando o Presidente decide mandar ou não o projeto ao Congresso, ele ainda não saiba sua popularidade no momento da reeleição. Apesar disso, quando o projeto vai a plenário para ser votado, os congressistas já estão cientes

7 Nessa definição encaixa-se a obrigatoriedade de a lei passar por várias sessões de votação, ou ainda alguma imposição acerca do tempo mínimo necessário para a tramitação da lei.

da popularidade do Presidente. A forma extensiva desse jogo está descrita nas figuras 2 e 3. Na figura 2 temos o jogo caso seja escolhido um Congresso governista e na figura 3 o caso do Congresso oposicionista. Note que as utilidades continuam sendo mostradas na sequência anterior, ou seja: eleitores, Presidente e Congresso, respectivamente. A única alteração com relação à figura 1 é a estrutura temporal.

Agora a natureza seleciona a popularidade do Presidente após sua decisão de mandar ou não a proposta de reforma ao Congresso. Com isso o Presidente tem agora que fazer o cálculo de sua utilidade esperada, pois a informação sobre o  realizado não é mais disponível no momento que ele toma sua decisão.

Novamente iremos analisar os nós mais próximos dos nós terminais primeiro, de maneira a achar o equilíbrio por indução retroativa. A estrutura da resolução é a mesma da empregada na seção anterior, com a mesma divisão das regiões de :   0,

0   c e   c.

Como o jogo se mantêm inalterado após a decisão do Presidente de mandar ou não o projeto para o Congresso, as decisões tomadas pelos agentes abaixo do nó 1 nas figuras 2 e 3, são idênticas às analisadas no caso de informação completa. Por esse motivo já sabemos a decisão tomada pelos agentes nos nós 4 a 9 das figuras 2 e 3.

No tocante à decisão presidencial sobre mandar ou não a proposta, as estratégias se alteram. Agora o Presidente só vê uma distribuição de probabilidades, não o valor de  realizado. Consequentemente, o Presidente não pode tomar decisões contingentes a  , como fazia no caso de informação completa. Para analisarmos suas decisões, vamos primeiro computar qual será sua utilidade esperada se ele resolver não

mandar o projeto para apreciação dos congressistas. No próximo passo, vamos achar sua utilidade esperada para o caso de o Presidente mandar seu projeto para votação. Por fim, iremos comparar os payoffs para determinar as decisões do Presidente titular. Temos que analisar dois casos: um Congresso governista e um oposicionista, retratados pelas figuras 2 e 3, respectivamente.

Ao se deparar com um Congresso governista, o Presidente tem a certeza de que seus projetos sempre serão aceitos pelos motivos expostos no modelo de informação completa. Como a sua utilidade ao mandar a proposta é sempre maior do que se não mandar independente do valor de , ele sempre manda seu projeto para o Congresso (

m). Novamente, sem o peso da oposição para fiscalizar o governo, o Presidente irá escolher desviar recursos para uso privado, mas as reformas sempre serão enviadas e aprovadas.

Agora iremos analisar o caso de um Congresso oposicionista. O Presidente deve decidir se envia ou não a proposta para o Congresso. Se não mandar o projeto, o Presidente só perde a eleição se seu  for menor que zero. Em compensação, o Presidente ganha apenas R se for reeleito. A utilidade esperada do Presidente titular é expressa como:

Prob [0]0Prob[ 0] R = R 2 (4)

Se o Presidente decidir mandar a proposta, ele sabe que o Congresso agirá de acordo com a descrição feita na seção anterior. A isso soma-se o fato de que o Presidente preferirá não desviar recursos do projeto, pela mesma razão apresentada no modelo de informação completa. Assim sendo, no caso de   0 , o Presidente não é

eleito mas recebe V pela aprovação da proposta concomitante com a não reeleição. Na região de popularidade intermediária, em que 0   c , o Congresso rejeita a proposta e força a perda da eleição pelo Presidente titular. Dessa forma, o ganho de utilidade do Presidente para popularidades intermediárias é nulo. Se   c , o Presidente é reeleito e a proposta passa, o que dá a utilidade de RV para o titular. Portanto, a utilidade esperada do Presidente se enviar a proposta para um Congresso oposicionista é:

Prob[  0 ]V Prob[0    c]0Prob [  c]RV  = 2−cV 1−c R

2 (5)

Comparando as utilidades descritas pelas funções (4) e (5), temos que o Presidente decide enviar o projeto ao Congresso oposicionista se, e somente se, (5) for maior do que (4), ou seja:

V  c

 2−c R (6)

Analisando a inequação (6), vemos que o Presidente toma sua decisão com base na comparação entre V, R e c . Se a desigualdade for revertida, o Presidente preferirá não mandar a proposta ao Congresso. Considere V como o valor de V que iguala a inequação (6).

Um aumento em c requer que V seja maior, pois quanto maior o custo de não passar o projeto maior deve ser a recompensa V por aprová-lo, uma vez que o Presidente está, em última instância, trocando uma loteria na qual ele ganha menos ( R) mais freqüentemente (basta  ser maior do que zero), por outra que paga mais ( RV), mas em menos estados da natureza (   c ).

A análise de R dá o mesmo resultado. Todavia, as causas por trás disso são outras. Quando há um aumento de R, o custo de oportunidade pela troca da loteria aumenta. Na verdade, o pagamento pela aprovação do projeto (V) fica relativamente menor em comparação com R.

O problema informacional permite a possibilidade de o Presidente enviar um projeto e ele não ser aprovado. Isso ocorre porque o titular não tem a informação precisa sobre sua popularidade na data da reeleição. Apesar disso, se uma proposta fosse aprovada no caso de informação completa, então ela seria aprovada nesse caso também. Em outras palavras, o Presidente se depara com uma das alternativas: ou envia ta proposta ao Congresso ou não envia nenhuma proposta. Se for enviada, apenas a proposta que fosse aprovada no caso de informação completa será aprovada nesse caso.

Temos agora que analisar a escolha dos eleitores no início do primeiro período, quando eles decidem o nível de oposição no Congresso. Esse nó de decisão precede o nó 1 das figuras 2 e 3. Caso os eleitores decidam por um Congresso governista, as mesmas conclusões do caso de informação completa se mantêm, ou seja, os eleitores recebem como utilidade esperada:

Prob[0]Prob[0]E [∣0] = 1 4 (7)

Já no caso de escolherem um Congresso oposicionista, o resultado depende da comparação entre (4) e (5). Se (6) não é satisfeita, o Presidente não irá remeter o projeto ao Congresso e, por isso, os eleitores irão receber zero se   0 e receberão  se   0 . Em outras palavras, a utilidade esperada dos eleitores nesse caso é:

Prob [0]0Prob[ 0] E [∣0 ] = 14 (8)

Comparando (7) com (8), se a condição definida em (6) não é satisfeita, então é melhor para os eleitores elegerem um Congresso governista, pois   0 . Se os parâmetros são tais que o Presidente não remete o projeto ao Congresso, os eleitores preferem eleger um Congresso governista e garantir um acréscimo de  para todos os possíveis valores de . Se elegessem um Congresso oposicionista, a reforma não seria implantada, porque o Presidente não a mandaria para votação. Esse é o caso onde o custo político da falta de consenso é tão grande que há muitos estados da natureza nos quais um Congresso oposicionista barraria as reformas (o intervalo onde ocorre a não aprovação das reformas, 0   c, é muito grande).

Por outro lado, quando a condição (6) é satisfeita, o Presidente sempre envia a proposta. Para valores de  pertencentes ao conjunto [−1,0], a reforma é implantada e os eleitores recebem V. Se 0   c, os eleitores ganham utilidade zero pois a reforma não é aprovada pelo Congresso e o candidato da oposição ganha as eleições. Valores maiores de  ou seja, com   c, as propostas são aprovadas e os eleitores recebem V. Assim, a utilidade esperada dos eleitores para o caso onde (6) é satisfeita e um Congresso oposicionista é eleito pode ser descrita como:

Prob[0]V Prob[0c]0Prob [c] E [ ∣c ]V  =  2−cV

2 

1−c2 4 (9)

Para definir a escolha dos eleitores quando a condição (6) é satisfeita, devemos comparar (7) com (9). Se (7) for maior do que (9), é melhor para os eleitores escolherem um Congresso governista. Por outro lado, se (9) for maior do que (7), a melhor escolha

dos eleitores é um Congresso oposicionista. Comparando ambas utilidades esperadas, temos que é melhor para os eleitores um Congresso oposicionista se:

2−cV

2 −

c2

4   (10)

Como podemos ver na inequação (10), se c aumenta, os incentivos dados aos eleitores para escolherem um Congresso oposicionista diminuem. Isso é mais um reflexo do fato que o número de casos possíveis onde a reforma é barrada aumenta (0   c). Os resultados da estática comparativa com V e  são os usuais. Um crescimento de V aumenta os incentivos dados para a eleição de um Congresso oposicionista e um crescimento de  tem o efeito contrário.

Na situação analisada aqui, o Presidente perde parte do poder que ele tinha no caso de informação completa. Antes, o Presidente só perdia as eleições quando 0. Agora, podem haver casos onde o Presidente perca a eleição sempre que c. Isso ocorre se as condições (6) e (10) forem satisfeitas. Se isso ocorrer, o Presidente enfrenta um Congresso oposicionista e manda a reforma. Sempre que c acontecer, o Presidente perde as eleições porque o Congresso barra as reformas, ao contrário do caso de informação completa, onde o Presidente previa a rejeição da proposta e decidia não enviá-la. Esse é um caso onde há troca de grupos no poder mas as instituições permanecem as mesmas, similarmente ao que ocorre em Acemoglu e Robinson (2006a). A diferença é que o resultado é atingido apenas com a dinâmica do processo de competição eleitoral, sem supor investimento em poder político feito pelas elites dominantes.

devem ser satisfeitas, além do fato que  não pode estar no conjunto [0,c]. No caso de informação completa, bastava que (3) fosse satisfeita e que ∉[0, c]8. Por esse motivo, a máxima produção é atingida mais raramente.

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