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Conhecendo as crianças do estudo cientificamente – a relação EU-ISSO

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS À LUZ DA TEORIA

5.2 Conhecendo as crianças do estudo cientificamente – a relação EU-ISSO

experimentadas pelas crianças que requerem cuidados especiais.

Essa busca por captar o fenômeno intuitivamente, compartilhando a experiência vivida pelas crianças, permitiu que elas se sentissem à vontade para expor seus sentimentos e sensações resultantes do adoecimento e do tratamento. Considerando o vínculo e a confiança, construídos entre ela e as crianças, foi estabelecida uma relação autêntica EU-TU.

Ante essas considerações, procurou expressar a forma pela qual o seu conhecimento subjetivo e vivencial, adquirido durante os encontros com as crianças, a partir de uma presença EU-TU verdadeira, proporcionou a compreensão intuitiva do fenômeno, mediante chamados e respostas, característicos de um diálogo genuíno, vivido com cada criança, considerando-se suas prioridades, o potencial humano e os recursos disponíveis.

No final de vários encontros, a pesquisadora percebeu que havia uma relação empática com as crianças. O ambiente humano, construído durante esses encontros, revelava um estar- melhor que nascia de uma situação compartilhada. Isso permitira o conhecimento humano do eu e do outro, em sua singularidade, através de uma relação imediata com o TU, em que “Entre o EU e o TU não há fim algum, nenhuma avidez ou antecipação, e a própria aspiração se transforma no momento em que passa do sonho para a realidade. Todo meio é obstáculo. Somente quando todos os meios são abolidos é que acontece o encontro”120:13.

Ao considerar os pressupostos da Teoria Humanística, de que cada TU deve tornar-se irremediavelmente um ISSO, mediante a análise e a descrição da relação EU-TU vivenciada, será apresentada a relação dialógica entre as crianças e a pesquisadora, com base no objetivo proposto e mediante os seus discursos inseridos neste estudo. Ressalte-se que, nessa fase, tanto a relação EU-TU quanto a relação EU-ISSO aconteceram, simultaneamente, durante todo o período em que a pesquisadora esteve em contato com as crianças. Não obstante, ao se concluir essa fase, permanecia a relação EU-ISSO, por meio da qual compreendeu como acontecia a relação dialógica entre ela e as crianças.

5.2Conhecendo as crianças do estudo cientificamente – a relação EU-ISSO

Depois de compreender e vivenciar intuitivamente o fenômeno experenciado pelas crianças participantes da investigação, fundamentadas no objetivo proposto, será apresentada a relação dialógica entre elas e a pesquisadora, com ênfase nos discursos que expressaram durante a coleta dos dados.

O material empírico foi categorizado nas seguintes temáticas: Sentimentos de crianças com câncer: importância dos Cuidados Paliativos pediátricos; Vivências de crianças durante o tratamento oncológico: importância dos Cuidados Paliativos pediátricos e suas respectivas subcategorias: a busca por minimizar as repercussões diante do tratamento oncológico e a fé em Deus diante da situação vivenciada como força e esperança de cura; Situações vivenciadas pela criança com câncer em busca do diagnóstico: importância da relação dialógica; A importância da brincadeira nos Cuidados Paliativos para a criança com câncer: valorização da alegria, do diálogo e da companhia.

Ressalte-se que a relação EU-ISSO120 estabeleceu-se nessa fase do estudo, centrada numa relação sujeito-objeto e caracterizada como o mundo em que se deve e se pode viver e que oferece toda a espécie de atrações e de estímulos de atividades e de conhecimentos. Essa relação descreve a capacidade de se conhecer o homem e de ele estabelecer relações, transcendendo o próprio EU, relembrando, refletindo e experienciando suas relações passadas “EU-TU” com um ISSO que, nesta investigação, foi categorizado, analisado e interpretado de maneira a acrescentar o conhecimento científico.

Os discursos das crianças participantes do estudo foram construídos mediante a interpretação da pesquisadora diante das estórias contadas por elas, dos relatos advindos da fase de inquérito, respaldados na utilização do referencial teórico já abordado. É importante abalizar que, as crianças, ao narrarem a estória sobre uma criança com câncer, em seus discursos descreviam para além da experiência vivenciada pela criança do desenho, ou seja, a sua própria experiência durante todo o processo de adoecimento e tratamento, sua visão de mundo, o universo e cotidiano vivido enquanto pessoas com câncer.

Nesse contexto, as crianças expressaram diferentes temas, conteúdos e tramas que fizeram ou fazem parte do seu percurso de vida em seu processo de adoecimento, na perspectiva de superar a doença e os efeitos colaterais do tratamento. Saliente-se que, durante a elaboração dos desenhos solicitados pela pesquisadora, elas criavam um personagem. Algumas estórias, inicialmente, são narradas na terceira pessoa, e com o desenrolar dos fatos relatados, a estória passa a ser narrada na primeira pessoa, referindo-se à própria experiência, por percorrer diversas fases adaptativas desde a confirmação do diagnóstico. Esse foi um caminhar de intensa dor e sofrimento.

Alguns símbolos foram utilizados na apresentação dos resultados, tais como: colchetes com reticências [...]; colchetes [ ]; parênteses ( ) e aspas “ ”. Os colchetes com reticências foram empregados para indicar supressões nos discursos das crianças feitas pela pesquisadora.

Tais supressões foram realizadas durante a transcrição dos discursos para a tematização e, posteriormente, para a subcategorização.

Os colchetes com reticências aparecem no interior de um trecho, de uma oração, entre uma frase e outra, ou entre parágrafos. Já os colchetes sem reticências foram preenchidos com intercalações da pesquisadora, com a intenção de explicar o que foi falado pela criança. Os parentes foram utilizados para delimitar o sujeito responsável pelo discurso e, por isso, foram apresentados com a identificação da idade.

A seguir, serão apresentados os títulos das estórias criadas pelas crianças durante a coleta da técnica de desenho-estória. Na sequência, serão apresentadas e discutidas as categorias temáticas provenientes das estórias contadas por elas do Núcleo de Apoio à Criança com Câncer, baseadas nos Cuidados Paliativos, mediante a técnica do desenho- estória.

O quadro 1 contém os títulos das estórias criadas pelas crianças durante a coleta da técnica de desenho-estória. O primeiro título refere-se à estória contada a partir da solicitação da pesquisadora para a realização do desenho livre. Já o segundo título foi criado pelas crianças para a estória contada, após realização de um desenho que lembrasse a criança com câncer.

Quadro 1: Título das estórias contadas pelas crianças

Nome Desenho livre Desenho temático

Azul Minha vida Amor

Amarelo A mudança de uma família De uma queda de uma criança Laranja A natureza boa A criança que está com câncer Marrom A casa da criança Tratamento ruim

Rosa A família O câncer não é contagioso

Preto A criança dodói Estória da criança que sofre muito Vermelho O Natal com a família A vida de uma criança

Verde Eu e minha mãe ao ar livre Hospital mais feliz

Violeta Amor Os meus amigos do hospital Cinza O amor da casa da criança O sofrimento de uma criança Bege A casa que eu gostaria de ter A criança que quer ficar boa

Material empírico do estudo, João Pessoa – PB, 2014.