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CAPÍTULO 5 ANALISANDO AS AULAS SOBRE O SISTEMA DE NUMERAÇÃO DECIMAL

5.1. Conhecendo a dinâmica de aula observada

Durante o período de oito meses, observamos a dinâmica de aula desenvolvida pela professora participante da pesquisa que utilizava o livro didático de Matemática no processo de ensino do SND. Inicialmente, queremos familiarizar o leitor com aspectos gerais observados na dinâmica de aula da referida professora.

Primeiramente, gostaríamos de contextualizar a organização física da sala de aula. Como a sala era pequena, a professora organizava as carteiras em fileiras duplas ou triplas. Mas, mesmo assim, ficava pouco espaço para circulação das crianças e da professora na sala. As crianças, muitas vezes, passavam por cima das mesas e cadeiras para conseguirem

alcançar os seus lugares. A professora caminhava com dificuldade entre as carteiras para acompanhar e corrigir as atividades dos estudantes. Apenas uma única vez, durante o período de observação, que a turma foi organizada em grupos de quatro alunos para jogar bingo.

Embora a disposição das carteiras possibilitasse a socialização de conhecimentos, a professora orientava para que os estudantes respondessem sozinhos às atividades e não permitissem que o colega olhasse sua tarefa, conforme os extratos de observação a seguir que tratam de uma atividade de composição de número com material dourado (primeiro extrato) e uma situação de jogo de bingo (segundo extrato).

Atividade de composição de número:

P4 – Façam em silêncio, senão o colega vai ouvir. [...]. Cada um faz o seu e

deixa o colega pensar.

(Observação 04, 17/05/2007)

Situação de jogo de bingo:

P - Olha, não pode perguntar pro amigo como é o número não, tá? Cada um marca a sua cartela.

(Observação 05, de 25/05/2007)

Em situações como essas em que ocorreram os extratos transcritos acima, nas quais se trabalhava a escrita e a composição numérica, consideramos que seria interessante que os discentes pudessem trocar idéias com os colegas, tirar dúvidas, confrontar hipóteses e/ou confirmá-las. Em outras situações também percebemos a mesma orientação: o preenchimento da tabela numérica, a resolução de problemas. Nessas situações, a professora sempre evitava

4 Nesse trabalho, adotamos a seguinte legenda nos diálogos estabelecidos nos extratos de aula: P – Professora; A

– Aluno (apenas um aluno. Alunos diferentes recebem numeração diferenciada num mesmo extrato); AA – Alunos (mais de um aluno).

que houvesse qualquer troca de comentários entre as crianças. Isso talvez tenha se dado pelo fato da professora considerar importante que os alunos tentassem sozinhos organizar suas idéias sobre o conteúdo.

Ainda em relação ao ambiente de sala de aula, encontramos alguns cartazes referentes à matemática fixados na parede no período da pesquisa. Eram relacionados ao tempo (relógio e calendário), à numeração par e ímpar, ao emprego dos sinais de igual (=), diferente (=), maior que (>) e menor que (<) em situações de comparação de números com apenas um dígito. Nenhuma tabela numérica esteve exposta na sala, durante as observações, para consulta dos alunos e reflexão das regularidades do sistema, nem outro cartaz que possibilitasse reflexões sobre o SND, como, por exemplo, contendo as dezenas e/ou centenas exatas.

Uma outra percepção que tivemos foi a freqüência de palavras de ordem ditas pela professora. Algumas pareciam, pelo contexto em que eram ditas, ter como objetivo incentivar os alunos a fazer as atividades, a prestar atenção à explicação do conteúdo, como: “Atenção”; “Vamos lá”. Outras pareciam estar mais relacionadas à preocupação com a ordem e a disciplina na sala de aula, como: “Calma”; “Pronto?” “Vou falar bem baixinho”, “Agora... atenção”. Havia uma preocupação constante em manter a turma atenta aos exercícios e, ao mesmo tempo, em silêncio.

Também percebemos uma preocupação com a organização da sala de aula. Freqüentemente a professora, durante a aula, mudava os estudantes de lugar, reorganizava a disposição das carteiras, com o objetivo de que os alunos atentassem para a explicação do conteúdo. Isso se dava em função de conversas, muitas vezes paralelas, brincadeiras e movimentações dos alunos.

Em relação ao trabalho pedagógico, foi possível perceber a organização de aula exposta na Tabela 01, a seguir. Essa organização está baseada nas observações de aula e diz respeito às aulas observadas com duração de quatro horas. Quando as aulas tiveram duração de duas horas ou menos em função de reuniões de professores, ensaios, trabalho com outras áreas de conhecimento e paralisações sindicais, essa rotina chegou até o momento do recreio.

Tabela 01: Organização do trabalho pedagógico observado

Horários Organização do trabalho pedagógico

13:00 às 13:15 Entrada (na quadra)

13:15 às 13:30 Organização da turma e chamada

13:30 às 14:00 Correção da tarefa de casa (quando teve)

Atividade de classe / Apresentação de conteúdo novo 14:00 às 15:00

Correção da atividade de classe

15:00 às 15:30 Recreio

Atividade de classe / Apresentação de conteúdo novo 15:30 às 16:20

Correção da atividade de classe

16:20 às 17:00 Atividade de casa (quando teve)

Em dois momentos durante as aulas, observamos uma rotina diferente da exposta na tabela acima, que foram os dias em que foi trabalhado o bingo e confeccionado o material dourado de papel, atividades que serão descritas mais adiante.

A maioria das atividades de classe e de casa foi feita no livro didático ou a partir dele. Das quatorze aulas observadas sobre o SND, a professora fez uso do livro didático de Matemática em dez delas. Nas outras quatro foram realizados jogo de bingo e atividades no caderno.

O caderno foi usado em três tarefas de classe (escrita de seqüência numérica; problemas de estruturas aditivas; algoritmo das estruturas aditivas para trabalhar as operações inversas) e uma tarefa de casa (composição e decomposição de número com material dourado desenhado no quadro).

Assim, o livro didático de Matemática foi freqüentemente usado em sala de aula. Ainda podemos salientar que o uso do livro didático, em relação à abordagem do sistema de numeração, seguiu a seqüência proposta pelos autores do livro. A professora realizou todos os exercícios propostos, na ordem proposta. Apenas ao trabalhar as estruturas aditivas, a professora não seguiu a mesma seqüência do livro. Em alguns momentos, ela pulou páginas e exercícios, talvez pelo grande número de atividades com operações existentes na obra.

Quanto à apresentação de conteúdos/conceitos novos, ocorreu a partir do livro didático. O próprio SND foi apresentado a partir da leitura de história em quadrinhos trazida pelo livro. A ordem das dezenas foi introduzida através de leitura de história cotidiana de agrupamento em base dez, também trazida pelo livro. Assim como a ordem das centenas, as centenas exatas e as operações de adição e subtração, com ou sem recurso. Apenas as operações inversas foram trabalhadas a partir de atividade resolvida de forma coletiva no quadro branco. Essa apresentação de conteúdo/conceito novo tanto ocorreu no primeiro horário de aula, quanto no segundo, como visto na Tabela 01, acima, já que era seguida a seqüência do livro. No momento em que acabavam as atividades do conteúdo/conceito que

estava sendo trabalhado e havendo tempo de aula, ela passava para o conteúdo/conceito seguinte.

Como vimos, o livro didático de Matemática era muito usado em aula, no entanto, um problema constatado foi que alguns alunos o esqueciam em casa. Em toda aula de matemática havia dois ou três alunos sem o livro. Para que esses alunos não ficassem sem fazer as atividades, a professora comumente reproduzia no quadro branco os exemplos e atividades do livro e solicitava-lhes que escrevessem no caderno, garantindo que todos pudessem participar da aula e evitando que esses alunos atrapalhassem a aula com interesses e conversas paralelas. Ou então, ela simplesmente registrava no quadro branco as páginas do livro que foram trabalhadas na classe e as que eram passadas como tarefa de casa para que eles escrevessem no caderno e respondessem em casa. Isso atrapalhava um pouco a aula, pois os alunos que estavam sem o livro, muitas vezes, ficavam conversando ou brincando, levando a professora a interromper a aula para restabelecer a ordem na sala.

Quando os alunos estavam fazendo as atividades, a professora costumava caminhar pela sala de aula, passando de banca em banca, conferindo como os alunos estavam respondendo as atividades. Ela também tinha a prática de corrigir individualmente as atividades dos alunos, tanto de classe quanto de casa, tanto do livro quanto do caderno. No próximo capítulo, o leitor encontrará um tópico que trata especificamente da prática de correção de atividades adotada pela professora.

Assim, a dinâmica de aula desenvolvida pela participante contribuiu para a análise do trabalho realizado com o Sistema de Numeração Decimal, discutido a seguir.