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O marco conceitual do Ensino para a Compreensão - EpC, assim como as pesquisas sobre sua aplicabilidade, foi desenvolvido em Harvard graduate School of

Education, por Martha Stone Wiske e colaboradores, em um projeto de pesquisa

denominado Project Zero.

O Project Zero teve duração de seis anos e, nesse período, foi evidenciada e descrita a base teórica do marco conceitual do EpC, seu método, o produto derivado de seu uso em diversos cenários de aprendizagem, seu encadeamento na formação docente e as mudanças advindas na escola(2). O EpC está pautado nos estudos de Friedrich Froebel, Johann Friedrich Herbart e Johann Pestalozzi e, em especial, nos estudos de John Dewey referente à compreensão de escolarização democrática(3).

Froebel ressaltou o aspecto do aperfeiçoamento da aprendizagem e da compreensão a partir de experiências significativas de ensino-aprendizagem, afirmando que as vivências educacionais sustentam-se umas nas outras, formando uma rede de relações, portanto, “quanto mais significativas forem as várias experiências, mais amplo o potencial educacional” e ainda, entendendo ser fundamental a continuidade do processo de aprendizagem, estimulava que as crianças repetissem frequentemente tais vivências, pois acreditava que a cada contato, novas percepções iriam emergir, ampliando assim a compreensão(3).

Herbart entendia a aprendizagem como processo de relação, onde cada nova etapa deveria se agregar à etapa precedente, sendo essa integração o alicerce para prosseguir a aprendizagem, esse processo deveria ter relação direta com o interesse do aprendiz, possibilitar a expansão da aprendizagem de forma contínua na escola ou fora dela(3).

Pestalozzi defendia que as situações de aprendizagem estão relacionadas às vivências do aprendiz, portanto, os objetos reais de uso diário e a ligação desses com “outros objetos e ideias, são a base para a compreensão”, pois o interesse do estudante é fundamental para o start da aprendizagem e da apreensão do conhecimento(3).

Dewey ressaltou ser imprescindível para uma “nova pedagogia” que os educadores fossem impelidos a associar os conteúdos desenvolvidos na escola às atividades diárias dos alunos. Para ele, a separação que predominava “entre a escola e a vida” é a responsável pela limitação na educação. Acreditava na “excelência em educação como crescimento em compreensão, capacidade, autodescoberta, controle de acontecimentos e habilidade para definir o mundo (3-

p.23)”.

O EpC, como apresentado anteriormente, não é considerado como metodologia de ensino, mas sim como um marco conceitual pautado em diversos estudos que concebem a aprendizagem como construção interna, flexível e de integração de significados a partir da participação ativa do indivíduo que aprende e considera a flexibilidade cognitiva do aluno e a clara interdependência entre os saberes, como pontos fortes para a promoção da aprendizagem colaborativa e interdisciplinar.

A compreensão é definida por Perkins(4 p.37 e 39) como sendo:

a capacidade de pensar e agir de maneira flexível com o que se sabe (...) ter um desempenho flexível com esse tópico – explicar, justificar, extrapolar, relacionar e aplicar de maneiras que vão além do conhecimento e da habilidade de rotina. Compreender é uma questão de ser capaz de pensar e agir de modo flexível quanto àquilo que você sabe.

Os conteúdos ensinados ao aluno precisam ser significativos para que sejam apreendidos e aprendidos, possibilitando, assim, seu uso em circunstâncias diversas, tanto nas atividades acadêmicas, como no seu dia a dia, instigando o estudante a buscar novos conhecimentos e entrelaçá-los, formando uma teia de saberes.

Nesse sentido, Perrone (3 p.19) afirma que:

A ideia de que aquilo que os alunos aprendem precisa ser internalizado e pode ser usado em muitas circunstâncias diferentes dentro e fora da sala de aula, servindo de base para o aprendizado contínuo e prolongado, sempre repleto de possibilidades – há muito tem sido endossado como uma meta educacional primordial nas escolas. Raramente, no entanto, tal meta virou norma.

Assim, o ponto central do Projeto Zero segundo Wiske(2) foi o

desenvolvimento do marco conceitual, respondendo às quatro questões citadas anteriormente, 1) Que tópicos vale a pena compreender?; 2) O que os alunos devem compreender sobre eles?; 3) Como podemos fomentar a compreensão?; 4) Como podemos saber o que os alunos compreendem?

Esse marco conceitual está pautado na definição dos tópicos geradores, estabelecimento de metas de compreensão, desempenhos de compreensão e na avaliação contínua.

Os tópicos geradores são assuntos ou tópicos essenciais e básicos ao desenvolvimento do estudante e que tenham relação com as suas vivências e interesses, que permitam uma abordagem por diversos ângulos e que sejam relacionados às paixões dos professores. Esses temas geradores respondem então ao primeiro questionamento:

1) Que tópicos vale a pena compreender?

Este primeiro questionamento define o que vale a pena compreender, organizando um currículo em torno de tópicos geradores que são centrais à matéria, acessíveis e interessantes para os alunos, e estejam relacionados às paixões do professor (2 p.12-13).

As metas de compreensão estão diretamente ligadas aos tópicos geradores e são balizadas por um verbo no infinitivo que mostre de maneira clara e objetiva o que se espera que o aluno compreenda. Essas metas precisam ser conhecidas e compreendidas pelos estudantes.

2) O que os alunos devem compreender sobre eles?

A segunda questão esclarece o que os alunos irão compreender formulando as metas de compreensão explícitas, focalizadas em idéias e questões fundamentais à disciplina, tornando-as públicas, a alunos, pais e outros membros da comunidade escolar (2 p. 12-13).

Os desempenhos de compreensão refletem os desempenhos esperados do aluno em relação às metas de compreensão.

A terceira estimula a compreensão dessas metas por parte dos alunos engajando os aprendizes em desempenhos de compreensão que requerem deles ampliar, sintetizar e aplicar o que sabem. Desempenhos de compreensão ricos permitem aos alunos aprender e expressar-se por meio de inteligências e formas de expressão múltiplas; eles não só desenvolvem, mas também demonstram compreensão (2 p. 12-13).

A avaliação contínua deve ser realizada ao final de cada atividade, tendo por baliza o desempenho do estudante em relação às metas de compreensão estabelecidas.

4) Como podemos saber o que os alunos compreendem?

E a quarta mede a compreensão dos alunos realizando avaliação contínua de seus desempenhos. Tais avaliações são mais eficientes em termos educacionais quando ocorrem com frequência, baseiam-se em critérios públicos diretamente relacionados a metas de compreensão, são conduzidos pelos alunos e pelos professores e geram recomendações construtivas para melhorar desempenhos. Avaliações contínuas instruem o planejamento e medem a compreensão dos alunos (2 p. 12-13).

A retomada pela busca do ensino para a compreensão, no final do século XX, mostra-se como uma forma de oposição ao currículo tradicional, “orientado a habilidades”, que prevalece na escola e da constatação de que os estudantes não estão sendo educados para desenvolver o pensamento crítico, que lhes permita a resolução de problemas, o desempenho em situações complexas e tão pouco, o desenvolvimento de atividades produtivas diante das transformações do mundo(3).

RESGATANDO A INSERÇÃO DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E

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