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Conhecimento angélico e os seis dias da criação

A questão relativa à natureza dos dias apresentados no relato do Génesis é inserida no

De genesi ad literram logo no Livro I, quando Agostinho considera o “dies unus” e pergunta

se ele não abarcaria o tempo todo

255

. Depois de considerar várias opções que poderiam

constituir a discussão acerca do verdadeiro sentido das coisas ocultas no texto, insiste em dar

continuidade à sua incansável busca por respostas às questões postas pelos maniqueus acerca

da natureza dos três primeiros dias, uma vez que somente no quarto dia foram criados o sol, a

lua e as estrelas

256

. Apresenta aqui uma hipótese, já antes referida nos dois comentários

anteriores

257

, que identifica a Tarde como fim de uma obra acabada e a Manhã como o começo

255 De gen. ad litt. I, XVII, 33 (CSEL 28/1, p. 24): «Sed huic luci succedentem noctem, ut uespera fieret, quo pacto

intellecturi sumus? A tenebris uero qualibus talis lux dividi potuit, dicente scriptura: et diuisit deus inter lucem ac tenebras? Numquid iam erant peccatores et stulti decidentes a lumine ueritatis, inter quos et in eadem luce permanentes diuideret deus, tamquam inter lucem et tenebras, et lucem uocans diem ac tenebras noctem, ostenderet se non operatorem peccatorum, sed ordinatorem distributione meritorum? An hic dies totius temporis nomen est, et omnia uolumina saeculorum hoc uocabulo includit ideoque non dictus est primus, sed unus dies? Et facta est enim uespera, et factum est, inquit, mane dies unus, ut per hoc quod facta est uespera, peccatum rationalis creaturae; quod autem factum est mane, renouatio eius significata uideatur».

256 De gen. contr. Manich. I, 14, 20 (PL 34, 183): Et dixit Deus, Fiat sidera in firmamento coeli, sic ut luceant

super terram, et dividant inter diem et noctem, et sint in signa, et in tempora, et in dies, et in annos; et sint in splendorem in firmamento coeli, sic ut luceant super terram. Et sic est factum. Et fecit Deus duo luminaria, maius et minus: luminare maius in inchoationem diei, et luminare minus in inchoationem noctis, et stellas. Et posuit illas Deus in firmamento coeli, sic ut luceant super terram, et praesint diei et nocti, et dividant inter diem et noctem. Et vidit Deus quia bonum est. Et facta est vespera, et factum est mane dies quartus. Hic primo quaerunt quomodo quarto die facta sint sidera, id est sol, et luna, et stellae. Tres enim dies superiores quomodo esse sine sole potuerunt, cum videamus nunc solis ortu et occasu diem transigi, noctem vero nobis fieri solis absentia, cum ab alia parte mundi ad orientem redit? Quibus respondemus, potuisse fieri ut tres superiores dies singuli per tantam moram temporis computarentur, per quantam moram circumit sol, ex quo procedit ab oriente quousque rursus ad orientem revertitur. Hanc enim moram et longitudinem temporis possent sentire homines etiamsi in speluncis habitarent, ubi orientem et occidentem solem videre non possent. Atque ita sentitur potuisse istam moram fieri etiam sine sole antequam sol factus esset, atque ipsam moram in illo triduo per dies singulos computatam. Hoc ergo responderemus, nisi nos revocaret quod ibi dicitur: Et facta est vespera, et factum est mane, quod nunc sine solis cursu videmus fieri non posse. Restat ergo ut intellegamus, in ipsa quidem mora temporis ipsas distinctiones operum sic appellatas, vesperam propter transactionem consummati operis, et mane propter inchoationem futuri operis; de similitudine scilicet humanorum operum, quia plerumque a mane incipiunt, et ad vesperam desinunt. Habent enim consuetudinem divinae scripturae de rebus humanis ad divinas res verba transferre».

257De gen. ad litt. imp. XII, 36 (PL 34, 235): «Et dixit Deus, fiant luminaria in firmamento coeli, ut luceant super

terram, et dividant inter diem et noctem; et sint in signis et temporibus, et in diebus, et annis; et sint in splendorem in firmamento coeli, ut luceant super terram. Quarto die luminaria facta sunt, de quibus dicitur, et sint in diebus: quid sibi ergo volunt tres dies transacti sine luminaribus? aut cur ista erunt in diebus, si etiam sine istis dies esse potuerunt? An quia evidentius productio illa temporis et morarum intervallum motu istorum luminarium distingui ab hominibus potest? An ista dierum et noctium enumeratio ad distinctionem valet inter illam naturam quae facta non est, et eas quae factae sunt: ut mane nominaretur propter earum speciem factarum; vespera vero propter privationem? Quoniam quantum attinet ad illum a quo facta sunt, speciosa atque formosa sunt: quantum autem in ipsis est, possunt deficere, quia de nihilo facta sunt; et in quantum non deficiunt, non est eorum materiae, quae ex nihilo est, sed eius qui summe est, et illa facit esse in genere atque ordine suo»; Cf. De gen. contr. Manich. I, 14, 20 (PL 34, 183).

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de uma nova obra: «A tarde em todo o tríduo, antes de serem criados os luzeiros, interpreta-se

talvez, sem qualquer absurdo, como o término da obra realizada, e a manhã, como a significação

de uma futura operação»

258

.

Ao longo do Livro IV do De genesi ad litteram Agostinho retoma expressamente a

questão apresentada no Livro I, agora para apresentar a sua versão mais trabalhada e definitiva:

«Voltemos de novo à questão que nos parecia ter saído no primeiro Livro; assim, perguntemos

do mesmo modo como foi possível à luz dar as voltas necessárias para mostrar a alternância

diurna e noturna, não somente antes dos luzeiros do céu, que foi denominado firmamento, antes

que, finalmente, fosse criada qualquer espécie da terra ou do mar, que permitisse o circuito da

luz, seguindo-a a noite por onde ela tivesse passado»

259

. Será exatamente aqui que a reflexão

terá como ponto de partida a consideração acerca do sétimo dia, que inviabiliza a explicação

nos moldes do esquema antes adotado e exige um outro tipo de argumentação. Com efeito,

Agostinho reconhece a dificuldade, chegando mesmo a confessar que seria mais fácil admitir a

sua ignorância diante desta questão do que correr o risco de se colocar contra as palavras da

Escritura, para ele, tão claras

260

, e dizer que «o sétimo dia é diferente da sétima repetição

daquele dia que Deus criou»

261

. Na verdade, vai em busca de uma argumentação que possa ser

adequada a todos os dias, inclusive o sétimo, sem que, para isso, se tenha que negar a veracidade

da Escritura que afirma tanto a conclusão das obras criadas nos seis dias, como o descanso no

sétimo dia: «Ou Deus não criou o sétimo dia ou criou algo depois dos seis dias, ou seja, o sétimo

dia; e seria falso o que está escrito, ou seja, que Deus concluiu todas as obras no sexto dia e que

descansou no sétimo de todas as suas obras. Porque certamente isso não pode ser falso, resta

que a presença daquela luz, a qual Deus fez como dia, repetiu-se em todas as suas obras todas

258 De gen. ad litt. I, XVII, 35 (CSEL 28/1, p. 26): «Vespera autem in toto illo triduo, antequam fierent luminaria,

consummati operis terminus non absurde fortasse intellegitur; mane uero, tamquam futurae operationis significatio».

259 De gen. ad litt. IV, XXI, 38 (CSEL 28/1, p. 120): «Rursus ergo ad eam quaestionem relabimur, de qua in primo

libro exiisse uidebamur; ut item quaeramus quomodo circuire potuerit lux ad exhibendam diurnam nocturnamque uicissitudinem, non solum antequam coeli luminaria, sed antequam ipsum coelum quod firmamentum appellatum est, factum esset, antequam denique ulla species terrae uel maris, quae circuitum lucis admitteret, sequente nocte unde illa transisset».

260 De gen. ad litt. IV, XXI, 38 (CSEL 28/1, p. 120): «Sed nunc diei septimi consideratione commoniti facilius est,

ut nos ignorare fateamur, quod remotum est a sensibus nostris, quonam modo lux illa quae dies appellata est, uel circuitu suo uel contractione et emissione, si corporalis est, uices diurnas nocturnasque peregerit uel, si spiritalis est, condendis creaturis omnibus praesentata sit suaque ipsa praesentia diem, noctem uero absentia, uesperam initio absentiae, mane initio praesentiae fecerit, quam ut in re aperta contra divinae scripturae uerba conemur, dicendo aliud esse diem septimum, quam illius diei quem fecit Deus septimam repetitionem».

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as vezes em que se mencionou o dia e no próprio sétimo dia, no qual descansou de suas

obras»

262

.

Segundo Aimé Solignac, podemos refazer a argumentação de Agostinho colocando em

primeiro lugar a sua compreensão que identifica o dia como a luz espiritual, ou a natureza

angélica

263

, primícias da criação. Sendo assim, para Agostinho, a alternância entre tarde e

manhã, bem como a sucessão dos seis dias, devem ser reportadas ao movimento dessa natureza,

ao ritmo do seu conhecimento:

Se aquela luz, que foi criada em primeiro lugar, não é corporal, mas espiritual, assim como foi criada depois das trevas, isso se entende que de sua informidade se voltou para o criador e foi formada. Assim também depois da tarde se fez manhã, quando, após o conhecimento de sua natureza própria, pelo qual conhece que não é o que Deus é, volta-se para louvar a luz, que é o próprio Deus, por cuja contemplação é formada»264.

Teríamos, primeiramente, o seguinte movimento na formação da natureza angélica,

adequado ao primeiro dia: conversão para o criador – o que supõe e implica a formação do anjo

– caracterizando o Dia; o anjo volta o olhar para si mesmo, vendo-se distinto do criador,

caracterizando a Tarde; depois de conhecer-se, o anjo volta de novo para Deus para louvá-Lo,

caracterizando a Manhã

265

.

Para os outros “cinco dias” teríamos o mesmo esquema, repetindo o tríplice movimento

do conhecimento angélico

266

, com apenas uma diferença relacionada agora ao conhecimento

dos seres criados depois dele: o anjo conhece, no Verbo, as coisas que vão ser criadas -

262 De gen. ad litt. IV, XXI, 38 (CSEL 28/1, p. 121): «Alioquin aut non creauit Deus septimum diem, aut aliquid

creauit post illos sex dies, id est ipsum diem septimum; falsumque erit quod scriptum est, in sexto die consummasse omnia opera sua, et in septimo requieuisse ab omnibus operibus suis. Quod utique quoniam falsum esse non potest, restat ut praesentia lucis illius, quem diem Deus fecit, per omnia opera eius repetita sit, quoties dies nominatus est, et in ipso septimo in quo requieuit ab operibus suis».

263 Cf. De gen. ad litt. I, IX, 17 (CSEL 28/1, p. 13); De gen. ad litt. I, XVII, 32 (CSEL 28/1, p. 24).

264 De gen. ad litt. IV, XXII, 39 (CSEL 28/1, p. 122): «Ut si lux illa quae primitus creata est, non corporalis sed

spiritalis est, sicut post tenebras facta est, ubi intellegitur a sua quadam informitate ad creatorem conuersa atque formata, ita et post uesperam fiat mane, cum post cognitionem suae propriae naturae, qua non est quod Deus, refert se ad laudandam lucem, quod ipse Deus est, cuius contemplatione formatur». Cf. SOLIGNAC, Aimé. Exégèse et

Métaphysique. Genèse 1, 1-3 chez saint Augustin, op.cit., p.164.

265 Cf. SOLIGNAC,A. AGAËSSE, P. La connaissance angélique et les jours de la création, op.cit., p. 647. Nota-se

aqui a semelhança desse esquema com os três momentos da constituição do Nous de Plotino (Enéadas V, 1, 6; 2,1). Para além de não se puder negar que Agostinho se tenha inspirado nas Enéadas, de Plotino, é preciso ressaltar que o faz de maneira bem livre e independente.

266 De gen. ad litt. IV, XXII, 39 (CSEL 28/1, p. 122): «Et quia caeterae creaturae, quae infra ipsam fiunt, sine

cognitione eius non fiunt, propterea nimirum idem dies ubique repetitur, ut eius repetitione fiant tot dies, quoties distinguuntur rerum genera creatarum, perfectione senarii numeri terminanda».

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caracterizando o Dia; conhecimento das coisas já feitas – caracterizando a Tarde; conversão do

anjo para Deus para louvá-Lo pelas coisas realizadas - caracterizando a Manhã do dia

seguinte

267

. Assim, aquilo que é dito, e que nós entendemos como uma sucessão de seis dias é,

segundo Agostinho, a representação do conhecimento angélico apresentado como que seis

vezes, perfazendo como que seis dias, embora fosse um único dia

268

. O dia sétimo entra nesse

esquema pela sexta repetição que fez da manhã, pela qual finda o sexto dia e começa o sétimo,

como coroamento do ritmo das alternâncias, pelo conhecimento do repouso de Deus

269

.

Do exposto acima, podemos inferir, de acordo com a constituição dos dias do relato

genesíaco relacionada aos diversos aspetos do conhecimento próprio da natureza angélica, as

diferentes características atribuídas a cada uma das especificidades do conhecimento diurno,

vespertino e matutino:

Os santos anjos, nos quais foi criada a sabedoria primeira de todas as coisas e aos quais nos igualaremos depois da ressurreição se nos mantivermos até o fim no caminho – o qual é para nós o Cristo – veem sempre a face de Deus e gozam do Verbo de Deus, seu Filho Unigênito igual ao Pai; sem dúvida, foram os primeiros a conhecer no Verbo de Deus o conjunto das criaturas, no qual tendo a primazia, eles foram criados. No Verbo, conheceram as razões eternas de todas as coisas, mesmo das que foram criadas no tempo, como estão naquele pelo qual todas as coisas foram criadas. Em seguida, na própria criatura, que conheceram como que olhando para baixo e referindo-a ao louvor daquele em cuja verdade incomutável veem, como que de um lugar elevado, as razões pelas quais a criatura foi criada. Lá, no Verbo, os anjos contemplam como se

267 De gen. ad litt. IV, XXVI, 43 (CSEL 28/1, p. 125): «Sed dies ille, quem fecit Deus, per opera eius ipse repetitur,

non circuitu corporali, sed cognitione spiritali, cum beata illa societas angelorum et primitus contemplatur in uerbo Dei, quo dicit Deus: Fiat; atque ideo prius in eius cognitione fit, cum dicitur: Et sic est factum; et postea rem ipsam factam, in ea ipsa cognoscit, quod significatur facta uespera; et eam deinde cognitionem rei factae ad illius ueritatis laudem refert, ubi rationem uiderat faciendae, quod significatur facto mane».

268 De gen. ad litt. V, V, 15 (CSEL 28/1, p. 147): «Hunc omnem ordinem creaturae ordinatae dies ille cognouit; et

per hanc cognitionem sexies quodammodo praesentatus tamquam sex dies exhibuit, cum sit unus dies, ea quae facta sunt, in creatore primitus, et in ipsis consequenter agnoscens, nec in ipsis remanens, sed eorum etiam cognitionem posteriorem ad Dei referens dilectionem, uesperam et mane et meridiem in omnibus praebuit; non per moras temporum, sed propter ordinem conditorum»; De gen. ad litt. IV, XXXV, 56 (CSEL 28/1, p. 136): «Dies ergo ille, quem Deus primitus fecit, si spiritalis rationalisque creatura est, id est ngelorum supercoelestium atque uirtutum, praesentatus est omnibus operibus Dei hoc ordine praesentiae, quo ordine scientiae, qua et in uerbo Dei facienda praenosceret et in creatura facta cognosceret, non per interuallorum temporalium moras, sed prius et posterius habens in connexione creaturarum, in efficacia uero creatoris omnia simul».

269 De gen. ad litt. IV, XXVI, 43 (CSEL 28/1, p. 125): «Huius ergo diei, cuius et uespera et mane secundum supra

dictam rationem accipi potest, sexta repetitione consummata est universa creatura factumque est mane, quo finiretur sextus dies et unde inciperet septimus uesperam non habiturus, quia Dei requies non est creatura: quae cum per dies caeteros conderetur, aliter in seipsa facta cognoscebatur, quam in illo in cuius ueritate facienda uidebatur, cuius cognitionis quasi decolor species uesperam faciebat. Non itaque iam forma ipsius operis dies, et terminus uespera, et alterius operis initium mane, in hac rerum conditarum narratione debet intellegi; ne cogamur contra scripturam dicere, praeter sex dies conditam diei septimi creaturam, aut ipsum diem septimum nullam esse creaturam».

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fora o dia, e por isso a harmoniosa unidade deles, pela participação na própria Verdade, cria o dia em primeiro lugar. Aqui, na criatura, contemplam como se fora a tarde; mas em seguida se faz a manhã - o que se pode perceber em todos os seis dias – porque a ciência angélica não permaneceu naquilo que foi criado, senão que o refere em seguida ao louvor e à caridade daquele no qual é conhecido não como criado, mas que seria criado; e permanecendo nesta Verdade é o dia270.

O conhecimento diurno, específico da natureza angélica

271

, consiste no conhecimento

do conjunto da criação nas razões eternas que estão no Verbo de Deus; um conhecimento que

precede, assim, a existência real das coisas e é mais perfeito do que o conhecimento que se terá

das realidades criadas, já que estas não reproduzem exatamente as ideias eternas do Verbo. Este

conhecimento, por ser mais perfeito, é comparado ao Dia, enquanto o menos perfeito equivale

à Tarde

272

. Expresso no Génesis com o termo fiat, depois objetivado na mente dos anjos e

significado pelas palavras et sic est factum

273

. Assim a inteligência angélica torna-se o espelho

onde são refletidas as razões eternas das coisas que serão criadas

274

.

O conhecimento vespertino comporta o conhecimento da criatura nela mesma; é o

conhecimento pelo qual o anjo se vê a si mesmo ou vê os outros seres em suas respetivas

naturezas; conhecimento inferior à contemplação das ideias no Verbo, mas superior ao

270 De gen. ad litt. IV, XXIV, 41 (CSEL 28/1, p. 123): «Quapropter, cum sancti angeli, quibus post resurrectionem

coaequabimur, si uiam - quod nobis Christus factus est - usque in finem tenuerimus, semper ideant faciem Dei, uerboque eius unigenito filio, sicut patri aequalis est, perfruantur, in quibus prima omnium creata est sapientia, procul dubio uniuersam creaturam, in qua ipsi sunt principaliter conditi, in ipso uerbo Dei prius nouerunt, in quo sunt omnium, etiam quae temporaliter facta sunt, aeternae rationes, tamquam in eo, per quod facta sunt omnia: ac deinde in ipsa creatura, quam sic nouerunt, tamquam infra despicientes, eamque referentes ad illius laudem, in cuius incommutabili ueritate rationes, secundum quas facta est, principaliter uident. Ibi ergo tamquam per diem, unde et concordissima unitas eorum eiusdem ueritatis participatione dies est primitus creatus, hic autem tamquam per uesperam: sed continuo fit mane - quod in omnibus sex diebus animadverti potest - quia non remanet angelica scientia in eo quod creatum est, quin hoc continuo referat ad eius laudem atque caritatem, in quo id non factum esse, sed faciendum fuisse cognoscitur; in qua ueritate stando dies est». Cf. De gen. ad litt. IV, XXII, 39 (CSEL 28/1, p. 122); De gen. ad litt. IV, XXXV, 56 (CSEL 28/1, p. 136); ARTEAGA-NATIVIDAD, Rodolfo. La creación

en los comentarios de San Agustín al Génesis, op.cit., pp. 114-115.

271 Cf. De gen. ad litt. IV, XXIV,41 (CSEL 28/1, p. 123).

272 De gen. ad litt. IV, XXIII,40 (CSEL 28/1, p.122): «Multum quippe interest inter cognitionem rei cuiusque in

Verbo Dei, et cognitionem eius in natura eius; ut illud merito ad diem pertineat, hoc ad vesperam».

273 De gen. ad litt. IV, XXVI, 43 (CSEL 28/1, p. 125): «Sed dies ille, quem fecit Deus, per opera eius ipse repetitur

non circuitu corporali, sed cognitione spiritali, cum beata illa societas angelorum et primitus contemplatur in uerbo Dei, quo dicit Deus: fiat, atque ideo prius in eius cognitione fit, cum dicitur: et sic est factum, et postea rem ipsam factam in ea ipsa cognoscit quod significatur facta uespera».

274 Para Aimé Solignac estaríamos diante da primeira distinção entre o incriado e o criado: a visão que os anjos

têm no Verbo das formas eternas e incriadas das coisas e o reflexo dessas formas na mente angélica, que pertence ao plano do criado (SOLIGNAC, Aimé. «Exégèse et Métaphysique. Genèse 1, 1-3 chez saint Augustin», op.cit., p.166). Entretanto, seguindo Arteaga, parece mais correto assinalar essa distinção primeira no momento anterior, quando o anjo se conhece em sua própria natureza como distinto de Deus, na tarde do primeiro dia (Cf. De gen.

ad litt. IV, XXXII, 50. CSEL 28/1, p. 131); De gen. ad litt. IV, XXII, 39 (CSEL 28/1, p. 122); ARTEAGA- NATIVIDAD, Rodolfo. La creación en los comentarios de San Agustín al Génesis, op.cit., p. 115).

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conhecimento humano das coisas

275

. A natureza angélica conhece as coisas nas razões causais,

presentes nos elementos do mundo, e que vem a ser a reprodução criada das razões incriada

contidas no Verbo

276

. Isso significa que o anjo conhece os seres em sua razão íntima, razão que

é a raiz da inteligibilidade dos seres, ao mesmo tempo que encerra o programa do futuro

desenvolvimento das coisas

277

.

O conhecimento matutino refere a própria natureza e as criaturas percebidas ao louvor