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O conhecimento pode ser do tipo reificado e consensual. O primeiro relaciona-se com pensamento científico que se organiza e mantém-se restrito, fechado e indiscutível, especializado. O segundo está relacionado com o conhecimento que é obtido, reorganizado e através das conversações torna-se consensual e com uma nova objetividade. Esse conceito traz o contexto do senso comum, de uma manifestação cognitiva elaborada para a formação de conhecimento organizado e prático pautando uma correlação comum de troca de vivências para um determinado grupo social. (CAMARGO, PADILHA e SILVA, 2011; SÁ, 1998; MONTEIRO e VALA, 2004). A interatividade e o sistema de interpretação dos conteúdos mentais e verbais compartilhados dirigem nossa relação com todos ao nosso redor, com os conceitos que recebemos e dissipamos, a expressão dos grupos, as transformações e a estruturação manifestadas por todos os membros, dessa forma, o conhecimento especializado, científico, tão distante da população em massa pode tornar-se conhecimento de senso comum na população e todas as características exibidas consciente ou inconscientemente é a expressão de conceitos adquiridos nessa interatividade formando identidades sociais e comportamentais (MOSCOVICI, 2007).

Através da vivência das formações das identidades sociais, todo conteúdo imagético, pensado, discutido ou mesmo vivido por coerção imposta pela própria base desse grupo social, de acordo com Spink (1993) e Moscovici (1978), são repensados, recitados e reapresentados. Isso indica e esclarece que todo conteúdo revelado já existia anteriormente em seu campo de memória, tornando-se simplesmente concreto e familiar. A mesma autora ilustra que toda representação social é engendrada pela integração cognitiva de dois processos que acontecem simultaneamente: A ancoragem e a objetivação. A partir do momento que o indivíduo ou o grupo depara-se com informações que são perturbadoras, não existentes ou ameaçadoras, existe a tendência da pessoa realizar a ancoragem, uma classificação, uma categorização através de conteúdos que já existem em seu campo mnemônico e poder favorecer que aquilo que era perturbador torna-se familiar e dominado pelo seu campo emotivo e afetivo. A objetivação enfatiza a necessidade de tornar esse objeto representado, esse fenômeno, em algo concreto, ou seja, como ocorre simultaneamente, transformará o abstrato em concreto, naturalizando esse fenômeno através de critérios culturais e normativos, e dissipando-se para a familiarização cada vez mais intensa desse fenômeno para o grupo social (MOSCOVICI, 1978; MONTEIRO e VALA, 2004; OLIVEIRA, 2014).

Para os indivíduos na sociedade tudo o que parece distante de seu conhecimento, fora de sua capacidade de compreensão, não classificado e não rotulado torna-se uma ameaça e para não ser descartado necessita estabelecer relações entre categorias e rótulos, ou seja, buscará algumas possibilidades existentes em sua memória para comparar, relacionar e submeter aquele novo conteúdo em uma imagem conhecida para si, o contexto imagético de objetos e fenômenos sociais (OLIVEIRA, 2014).

Nos estudos da representação social, Moscovici traz a ideia de que essa representação tem duas faces, a simbólica ou dos sentidos e a figurativa. Essa fase figurativa relaciona-se exatamente com a concretude dessa transformação, o sair do abstrato e cristalizar os conteúdos antes tão distantes e mesmo não nomeados (MOSCOVICI, 2007). Para o psicólogo social, Sá (2002) refere trazer algo de um universo desconhecido para o conhecido, ou seja, objetivar, ocorre em três fases distintas:

- Seleção e contextualização: Os indivíduos apropriam-se do conhecimento por contas dos critérios da vivência em seu campo social, cultural; essa Vivência faz uma construção seletiva de sua realidade, lembrando que na sociedade nem todos têm acesso às informações ou mesmo compreendem;

- formação de um núcleo figurativo: recorre às informações que se formaram e estão armazenadas em seu campo de memória, no decorrer da vida;

- naturalização dos elementos do núcleo figurativo: momento em que o abstrato se torna concreto e a partir desse momento passa a ser parte da própria realidade.

Entende-se assim que objetivação e ancoragem não acontecem em momentos distintos e sim em processo contínuo de transformações, desenvolvendo-se concomitantemente e dão sentido àquilo que é representado. A representação é sempre a partir de algo ou de alguma coisa, no entanto, nem todo objeto social é uma representação (SÁ, 2002). Assim, para a realização de pesquisas e estudos científicos rigorosos, existe a necessidade de considerar e elencar critérios bem específicos. Wagner (1998), apontou alguns critérios para as identificações das representações sociais e suas definições, derivados de um caráter em caráter sócio genético que teoricamente seriam supostos e estariam relacionados com a formação de processos e produtos sócio representacionais. O autor aponta que apesar de não serem amplamente aceitos nas academias, se forem vistos de maneira adequada e oportuna poderiam ser excelentes meios de valorizar e determinar maior rigor e atitudes dos pesquisadores das teorias das representações sociais.

I. Consenso funcional - Tem a função de manter a unidade do grupo e auto categorizações para manter as interações de seus membros;

II. Relevância – A representação traz um objeto social de relevância para a manutenção desse grupo, os atores sociais em questão;

III. O critério da prática, principalmente a prática de comunicação. Nesse contexto essa representação existirá se existir uma manifestação reflexiva nesse contexto e utilizada no dia a dia, por exemplo, a prática de comunicar algo e debater, discutir, refletir a existência de algo ou alguma coisa.

IV. Critério de holomorfose. Essa caracterização explicita a importância da diferenciação entre uma representação individual daquela que é social. A ideia de pertença a um grupo objetiva e determina atitudes e comportamentos típicos e reflexões próprias daquele agrupamento e normalmente todos os membros esperam determinadas atitudes ou comportamentos fundados, pois as crenças são projetadas para quem pertence a esse meio, todo conteúdo comunicacional foi reagrupado e reapresentado de maneira que todos compreendam, diferente de conhecimentos e projeções que permanecem somente no indivíduo e acabam não

fazendo parte da realidade rotineira e funcional do grupo. A holomorfose, portanto, apresenta metas de pertença do grupo, com o desenvolvimento de contextos geracionais de senso comum, consensual para todos que ali se apresentam.

Importante salientar que nem todos esses critérios estão presentes, pois existem diferenciações estruturais e funcionais que diferenciam a formação dessas representações, por exemplo, objetos que são culturalmente construídos, ou objetos que dirigem condições contemporâneas ou mesmo objetos de ideias cientificamente socializadas (WAGNER, 1998). É nessa conjuntura de diferenciação que é apontado o contexto híbrido da formação da representação social no âmbito da saúde.

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