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CONHECIMENTO SENSÍVEL: SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO

No documento TESE PRONTA 26 03 2011 (páginas 55-59)

2. ASPECTOS PSICO-SOCIAIS E COGNITIVOS DA APRENDIZAGEM

2.1. CONHECIMENTO SENSÍVEL: SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO

O conhecimento sensível, também conhecido como «conhecimento empírico» ou «experiência sensível», tem a sensação e a percepção como formas principais, dentro da lógica que, na realidade, só se tem sensações sob a forma de percepções, isto é, de sínteses de sensações (Russ,1994).

Os dados da literatura mostram que Jung (1971) conceituava a sensação como a função psicológica que transmite o estímulo físico à percepção, enquanto Feldman (2007, p. 89), define-a “como processos pelos quais nossos órgãos sensoriais recebem informação do ambiente.”

Além disso, se, por um lado, Locke (1632-1704) e Berkeley (1685-1753) sustentavam que se tem contacto apenas com as próprias ideias, conhecendo-se o que quer que exista unicamente por intermédio das próprias experiências, por outro lado, Russ (1994) afirma que as sensações são as experiências que consistem em apreender determinados dados dos sentidos e é a partir dessa experiência que se pode ter outras experiências sensoriais e que se pode mudar de ideias.

O termo «sensação» pode ser usado em dois sentidos diferentes, podendo significar o que se sente ou o sentir algo que se pretende significar. Uma paisagem, por exemplo, não é uma soma de partes que estão próximas umas das outras, mas é a percepção de coisas que formam um todo complexo e com sentido.

56 Assim, a sensação engloba os processos pelos quais os sentidos recebem informações do ambiente e é a recepção, interpretação, análise e integração recebidos no cérebro através dos órgãos sensoriais. A sensação e a percepção constituem um processo contínuo, iniciando- se com a recepção do estímulo a interpretação da informação pelo cérebro.

A percepção do mundo possui forma e sentido e ambos são inseparáveis do sujeito que percepciona, sendo, portanto, uma relação do sujeito com o mundo exterior e não uma reacção fisiológica de um sujeito, a um conjunto de estímulos externos, nem uma ideia formulada pelo sujeito. Essa relação proporciona sentido ao percepcionado e ao experimentador, e um não existe sem o outro Jung (1971).

Em contrapartida a percepção envolve toda a personalidade, a história pessoal, a afectividade, os desejos e paixões. Assim a percepção é uma maneira fundamental dos seres humanos estarem no mundo (Chauí, 2004).

Para essa percepção do mundo faz-se uso dos sistemas sensoriais, em que cada sistema é nomeado de acordo com o tipo da informação ou sensação que fornece: visão, audição, tacto, paladar, olfacto. Portanto, o primeiro contacto com o ambiente é através da sensação e a seguir ao seu processamento nos centros cerebrais, a percepção (Luria, 1981).

Luria (1981) afirma que, nestes processos mentais, que incluem sensações, percepção, linguagem, pensamento, memória, não podem ser considerados simples faculdades localizadas em áreas particulares e concretas do cérebro, mas como sistemas funcionais complexos, ou seja, são organizados em sistemas de zonas que trabalham de modo combinado, em papéis diferentes, e até mesmo distanciados. Assim, estes processos são baseados e mediatizados por ajudas externas e encontram-se relacionados a imagens do mundo exterior, sendo, assim, impossível pensar que possam ser localizados em áreas precisas e restritas do cérebro.

2.1.1. Sensação

Em termos conceituais a «sensação» é um fenómeno psíquico elementar, que resulta da acção de estímulos externos sobre os órgãos dos sentidos do ser humano, em que, entre o estado psicológico actual e o estímulo exterior há um factor causal e determinante ao qual denomina-se sensação, havendo uma concordância entre estas sensações e os estímulos que as produzem (Tiberghien, 2002).

57 Na literatura contemporânea, a sensação é considerada como a detecção da presença de um estímulo e da sua codificação no sistema nervoso, fazendo a interpretação, o reconhecimento e a compreensão do que foi sentido: Neste contexto, Tiberghien (2002, p.363) afirma que “a sensação é uma estrutura consciente que resulta da estimulação de um órgão sensorial definido, de um nervo sensorial ou de uma área sensorial do cérebro”, sendo, inicialmente, resultado da estimulação de receptores sensoriais, que fazem a transdução de uma energia física particular em sinais biológicos como os potenciais de acção.

Para perceber as informações do meio, o ser humano possui os cinco sentidos (figura 26), que determinam a forma como se orienta no ambiente.

Fig 26. Os Sentidos Humanos de Sensação.

Fonte: Jeffeson B. Macedo (2008)

Nessa perspectiva, a forma como se percebe o ambiente envolve complexos processos físicos, como reacções químicas, estímulos eléctricos, mentais e outros, como a memória e a cognição.

2.1.2. Percepção

A percepção é conceituada como um mecanismo ou função pelo qual se percebe um objecto do meio exterior, através das sensações oriundas dos órgãos dos sentidos. A maior parte das percepções conscientes provém do meio externo, pois as sensações dos órgãos internos não são conscientes na maioria das vezes (Lúria, 1981).

58 Assim, a percepção é o valor agregado que o cérebro organizado confere às informações sensoriais brutas, envolvendo memória, experiência e processamentos cognitivos sofisticados.

Sadock (2008, p.237) define percepção como um “processo de transferência de estimulação física em informação psicológica; processo mental pelo qual os estímulos sensoriais são trazidos à consciência”. No entanto, para Hegel (2001), a percepção é uma mistura de determinações sensíveis e reflexivas, enquanto Lagneau (1851-1894) descreveu a percepção como o acabamento da representação e a rectificação de dados sensíveis, que resultam, ambos, de um juízo.

Numa perspectiva intelectual, conforme afirma Chauí (2004), a percepção é um acto realizado pelo intelecto do sujeito conferindo organização e sentido às sensações, o que, de certo modo, assemelha-se às afirmações de Lagneau (1851-1894).

Neste sentido, a percepção corresponde a uma apreensão de uma situação objectiva baseada nas sensações, acompanhada de representações e, frequentemente de juízos.

Assim sendo, ao contrário da sensação, a percepção não é uma fotografia dos objectos do mundo determinada exclusivamente pelas qualidades objectivas do estímulo. Contudo, na percepção acrescenta-se, aos estímulos, elementos da memória, do raciocínio, do juízo e do afecto, portanto, integra-se às qualidades objectivas dos sentidos outros elementos subjectivos e próprios de cada indivíduo. Desse modo, não é uma simples adição de estímulos locais e temporais captados pelos órgãos dos sentidos. Trata-se da ponte que une o objectivo ao mundo do sujeito. Trata-se da ponte que une o objectivo ao mundo do sujeito. Assim, é sempre, ao mesmo tempo uma passagem do objecto ao sujeito, no sentido em que conduz da sensação à subjectividade.

As sensações envolvem predominantemente elementos neuro-fisiológicos, enquanto percepções, envolvem sobretudo os elementos psicológicos.

A experiência ou consciência do mundo revela que não se tem apenas sensações isoladas dele, pelo contrário, o que chega à consciência são configurações globais, dinâmicas e perfeitamente integradas de sensações (Jung,1971).

Como afirma Chauí (2004, p.122), a percepção relaciona-se directamente com a forma da realidade apreendida, enquanto a sensação relaciona-se com os fragmentos esparsos

59 dessa mesma realidade.

Na teoria empirista de Hume, cit. Chauí (2004), a percepção é a única forma de conhecimento e todo conhecimento é percepção com suas duas vertentes: as impressões, que são sensações, emoções e paixões e as ideias, que são as imagens das impressões.

Se a sensação relaciona-se com o fundamental da realidade, na percepção esse fundamental organiza-se de acordo com estruturas específicas, conferindo originalidade pessoal à realidade apreendida.

Assim sendo, a percepção proporciona dados sobre o fisicamente sentido, porém esses dados variam de acordo com as condições do fundo pessoal e a forma percebida passa a transcender o objecto simplesmente sentido, sendo mais do que a soma dos sentidos.

Desse modo, a percepção pode ser modificada em consequência de condições pessoais momentânea, dependendo da fadiga, da ansiedade ou do afecto, por exemplo

Neste contexto, no acto perceptivo distinguem-se dois componentes fundamentais: a «captação sensorial» e a «integração significativa», a qual permite o conhecimento consciente do objecto captado. Portanto, as percepções serão subjectivas por existirem na consciência e objectivas pelo conteúdo que fornece a sensação (Ballone, 2001).

Num ambiente novo, onde tudo é interessante, o campo de percepção amplia-se até aos limites possíveis da sensibilidade, ou seja, o interesse do indivíduo pelo objecto altera a sua acuidade perceptiva, via consciência.

No documento TESE PRONTA 26 03 2011 (páginas 55-59)