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As ideias da presente seção são resumidas de Erden, von Krogh e Nonaka (2008) e têm importância pela sua relação direta com o contexto da pesquisa aqui relatada, na qual foram estudados diferentes grupos que trabalham em diferentes processos produtivos e que utilizam intensamente o conhecimento tácito em suas atividades no ambiente operário. Apesar da atenção dada ao conhecimento tácito do indivíduo, raramente trabalhos acadêmicos focam no Conhecimento Tácito do Grupo (ERDEN; VON KROGH; NONAKA, 2008, p. 5).

O conhecimento tácito do grupo é a capacidade que o grupo tem de agir como um corpo único, usando sua consciência coletiva tanto em situações familiares como naquelas não familiares e complexas na ausência de regras ou orientações explícitas (ERDEN; VON KROGH; NONAKA, 2008, p. 9).

Desse modo, o conhecimento tácito do grupo é construído socialmente por meio de interações entre indivíduos ou entre indivíduos e seus grupos, além do indivíduo operando isoladamente. A Socialização ocorre, por exemplo, na tradicional relação em que o aprendiz aprende por meio de “mão na massa”, ou em encontros informais fora do local de trabalho, de forma que o conhecimento tácito inclui visão de mundo, modelos mentais e verdade mútua que podem ser criadas e compartilhadas (ERDEN; VON KROGH; NONAKA, 2008, p. 6). De acordo com esses autores, o Conhecimento Tácito do Grupo apresenta seis características principais, quais sejam:.

1. Ser socialmente construído;

2. Ser profundamente enraizado na ação;

3. Ser dependente da diversidade e sinergia de seus membros;

4. Ser incorporado nas rotinas, normal e cultura de grupo e enraizado no comprometimento, ideais, opiniões e emoções. Rotinas, normal e cultura de grupo emergem como resultado de experiências compartilhadas e orientam o senso coletivo;

5. Capacitar o grupo no sentido de concordar com a melhor ação para o “bem comum” e achar o meio para realizá-la;

6. Possibilitar a improvisação coletiva, que é a capacidade do grupo em cooperar e agir espontaneamente em situações de incerteza ou não rotineiras.

Existem diferentes níveis na qualidade do conhecimento tácito do grupo (ERDEN; VON KROGH; NONAKA, 2008, p. 10-11): reunião de pessoas, ação coletiva, Phronesis e improvisação coletiva (Figura 3). Os mesmos são descritos, respectivamente, a seguir.

1. Reunião de pessoas, na qual os membros são desconhecidos entre si e sem nenhuma experiência compartilhada, há fraco laço de grupo, não há uma identidade e/ou alguma memória compartilhada, compreensão ou normas que podem ser incorporadas ao grupo (ex: formação de time de basquete formado com os melhores dos estados);

2. Ação Coletiva diferencia-se do nível anterior por ganhar exposição para eventos compartilhados e pelo desenvolvimento de experiências compartilhadas (agindo coletivamente);

3. Sabedoria (Phronesis) é a habilidade do grupo em achar os meios para alcançar uma dada meta e efetivá-la;

4. Improvisação coletiva consiste na capacidade do grupo de cooperar e agir espontaneamente mesmo em situações não rotineiras ou de incerteza. Esse nível de qualidade está relacionado ao expertise para atividades do grupo de trabalho, à forma pela qual seus membros exprimem cooperação e verdade, à relação do contexto de trabalho e efetiva improvisação, tal qual cultura de experimentação, comunicação e informação em tempo real e treinamento (VERA; CROSSAN, 2005 apud ERDEN; VON KROGH; NONAKA, 2008, p. 13).

Figura 3: Níveis de qualidade do conhecimento tácito do grupo

Fonte: Erden, von Krogh e Nonaka (2008)

Amir e Roberts (2008) apresentam diferentes formas de Conhecer, que podem se integrar aos níveis de qualidade de conhecimento Tácito do Grupo, no caso analisando Comunidades de Práticas. São eles o Conhecer baseado na Tarefa, no Profissional, na Criatividade e no Virtual (Quadro 4).

Trabalhos teóricos e empíricos mostram que a criação do conhecimento não pode ser separada do contexto no qual ela é criada (ERDEN; VON KROGH; NONAKA, 2008, p. 5; VON KROGH; ICHIJO; NONAKA, 2001; GILMOUR, 2003). Lee e Choi (2003) indicam a necessidade de fatores organizacionais para estimular e favorecer a disseminação e compartilhamento do conhecimento entre projetos, a fim de estimular atividades específicas para esse objetivo.

Frank e Echeveste (2013) indicam que as barreiras de Transferência e Compartilhamento do Conhecimento são abordadas de maneira dispersa na literatura e podem ser sintetizadas em quatro barreiras:

1. Pessoal, relativa aos fatores do indivíduo e do grupo, com as competências, técnicas, motivações, estratégias;

2. Tecnológica, que engloba as infraestruturas de TI, a acessibilidade para o usuário, os equipamentos. Está relacionada às atividades de registrar o conhecimento, fluxo de informação;

3. Organização do Trabalho, que aborda as estratégias e práticas referentes ao desenvolvimento do produto, com seus métodos e atividades;

4. Ambiente Externo, que envolve o relacionamento com o meio e influência no contexto e que é referente à interação face a face para troca de conhecimento tácito, distância geográfica entre os membros das equipes.

Quadro 4: Formas de conhecer das pessoas e grupos

Conhecer baseado na

tarefa (artesão)

Experiência, conhecimento, know-how inserido, e consciência cinestésica são responsáveis pelo cultivo do conhecimento compartilhado. Os aprendizes aprendem pela replicação de um conjunto de tarefas dentro de

um cenário tecnológico, social e cultural particular. A dinâmica social sustenta o conhecimento, os colegas compartilham uma linguagem especifica, relatam historias, constroem fortes laços de reciprocidade,

confiança e dependência.

Conhecer profissional

A prática envolve relações implícitas, convenções tácitas, regras de domínio, intuições reconhecidas, entendimentos compartilhados. As interações sociais incluem comunicação verbal, uso de artefatos e em menor grau coordenação de movimentos. O conhecimento das redes é

garantido pela presença de profissionais, a troca de conhecimento é informal, isto ressalta a importância de processos sociais informais com laços sociais fracos para construir, sustentar e disseminar o conhecimento

das práticas.

Conhecer criativo

Um grupo é formado para experimentar como um novo conhecimento está constituído, podendo ir além dos limites da organização. Cita-se como exemplo, grupos de cientistas, acadêmicos, engenheiros, consultores, time

de desenvolvimento de produtos. Esse tipo de comunidade tem o desafio do alinhamento porque está ausente de dinâmicas sociais de coesão. Os projetos têm vida curta em que as tarefas e as identidades dos profissionais

não são compartilhadas através do trabalho conjunto. A autonomia, improvisação, expertise individual e a orientação ao objeto prevalecem. As ferramentas de colaboração têm que ser feitas entendendo que a dinâmica

social se baseia na integridade profissional, reputação, laços fracos e arranjo de arquitetura de colaboração.

Conhecer virtual

As comunidades online não são homogêneas. Existem por meio de sites pouco estruturados até muito complexos visando a troca de conhecimento.

Mas, existem dois tipos de interação online e relação ao conhecimento situacional (CoP): projetos que buscam inovação que podem envolver um

grande número de participantes; e grupos de interesse fechados que se defrontam com problemas específicos e são organizados conscientemente

como comunidades de conhecimento. O avanço na TI está tornando a socialização cada vez mais próxima, de maneira que pode ser usado por

comunidades de práticas virtuais. Fonte: Amin e Roberts (2008)

Evangelou e Karacapilidis (2005, p. 254) apresentam, em estudo cuja delimitação é a interação homem-computador, fatores relacionados ao compartilhamento do conhecimento em sistemas de Gestão do Conhecimento. Esses sistemas estão relacionados ao contexto sóciocultural e tecnológico (Quadro 5) e são influenciados por reforços catalisadores positivos e negativos (Quadro 6) para a criação desse contexto.

Quadro 5: Fatores de comportamento para compartilhamento do conhecimento

Individual Organizacional

Contexto sócio cultural

• Inteligência • Cultura conhecimento organizacional

• Cognição • Papéis funcionais

• Ambições • Comprometimento e coerência do

time

• Reciprocidade • Segurança

• Habilidades de cooperação e

comunicação • Senso de propósito comum

• Motivação • Códigos, valores e objetivos

compartilhados

• Estrutura e divisão de trabalho e autoridade

Contexto tecnológico

• Campo de experiência: educação, treinamento e experiência de trabalho

• Infraestrutura tecnológico

• Capacidade profissional e

competência • Funções do KMS, estética e estrutura

• Domínio do problema • Segurança

Fonte: Evangelou e Karacapilidis ( 2005, p. 255)

Quadro 6: Catalisadores de compartilhamento do conhecimento de contexto sócio cultural

Reforço negativo Reforço Positivo

• Dilema do “conhecimento é poder” • Estabelecimento de relações construtivas

• Enfoque conhecimento baseado na

hierarquia • Respeito da identidade social e individual

• Subestimação do conhecimento para

ser compartilhado • Cultivação do senso de “proposta compartilhada” • Julgamento negativo e perda de

reputação e respeito • Compreensão e Linguagem e comum

• Manipulação do conhecimento

compartilhado • Esclarecimento das regras e escopos

• Abuso ou perda de propriedade

literária • Construção de reputação

• Perda da capacidade de absorver • Tarefas de acordo com interesses • Perda de segurança e

confidencialidade • Medidas e recompensa de cooperação

• Laços e comprometimento • Desenvolvimento de cultura de

compartilhamento

• Distinção das capacidades entre empregados e tecnologia

• Códigos, objetivos e valores compartilhados.

• Reciprocidade • Comprometimento • Verdade

Fonte: Evangelou e Karacapulidis ( 2005, p. 257)

Cummings e Teng (2003) afirmam que o sucesso na Transferência de Conhecimento e seu compartilhamento aumentam proporcionalmente ao número de atividades de transferência realizadas, reforçando, assim, a importância de criação e implantação de mecanismos para esse fim. Essas atividades podem ser orientadas pelos fatores analisados nesta pesquisa. Existem mecanismos que podem influenciar nesse compartilhamento como os indicados por Frank e Echeveste (2012), que indicam, por exemplo, o registro em lições aprendidas.

3. MODELO DE GESTÃO DA PRODUÇÃO BASEADO NO

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