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4.1. EXPERIÊNCIAS DOS COORDENADORES DE CURSO NOS PROCESSOS DE

4.1.1. Conhecimentos em Relação ao SINAES

Esta categoria tem por objetivo apresentar os conhecimentos e visões dos coordenadores de curso entrevistados em relação ao Sistema Nacional de Avaliação da

Educação Superior. O SINAES, instituído pela Lei n° 10.861 de 2004, busca promover a melhoria da qualidade da educação superior através da promoção de três grandes processos de avaliação: a avaliação de instituições, avaliação de cursos de graduação e a avaliação de desempenho dos estudantes. De modo a garantir a qualidade dos cursos e instituições de educação superior, estas avaliações são o referencial básico para o Ministério da Educação promover os processos de regulação, que compreendem entre outros, os processos de autorização, reconhecimento e renovação de reconhecimento de cursos superiores de graduação.

Conforme Carvalho (2009) a aprovação da Lei do SINAES representou um passo decisivo para a institucionalização da avaliação da educação superior no Brasil, uma vez que conferiu ao sistema o amparo legal necessário para instituí-lo como uma política de Estado, com a peculiaridade de definir de forma detalhada princípios e procedimentos a serem seguidos nos processos avaliativos.

Quando questionados em relação a sua visão sobre o SINAES, a grande maioria dos entrevistados o consideram um sistema necessário e complexo, mas com falhas. Entretanto, observando as respostas durante as entrevistas, foi possível perceber que quando se falava em SINAES a grande maioria dos entrevistados fazia menção apenas a avaliação externa dos cursos, demonstrando assim uma possível limitação da visão destes em relação a todo o processo de avaliação ao qual o sistema se propõe.

Eu acho que é algo positivo mas tem falhas. Principalmente eu acho que tem que ver a realidade do curso com o que tá sendo avaliado. (Entrevistado 1)

Para mim o SINAES é uma sigla, de fato eu não tenho muito conhecimento. (Entrevistado 2)

Eu penso ser um sistema bastante complexo. Ele é complexo pela amplitude, pela dimensão que ele assume. Mas como eu tive a oportunidade de vivenciar os dois lados, eu sei o quanto ele foi pensado de forma a captar as informações de forma mais ampla que realmente ele puder. Então ele é complexo, ele é difícil de compreender para alguns, mas ele foi pensado, muito bem pensado, na amplitude, na magnitude que exige a educação superior. (Entrevistado 3)

Todo o processo ele é meio provocativo assim, no sentido de que tu tem que levantar os dados do curso. Tem que fazer o teu dever de casa, que tu vai preencher o relatório e a comissão in loco ela vem, ela vem conferir as coisas, conferir e fazer alguma triangulação para ver, para procurar os furos. (Entrevistado 6)

Conforme Paula (2009), o SINAES é uma realidade que, de alguma forma, pode determinar, influenciar e interferir nos processos de gestão administrativa e acadêmica das IES, consequentemente no trabalho do coordenador de curso. Assim, é de suma importância

que coordenadores de curso, enquanto gestores estratégicos, tenham amplo conhecimento do funcionamento e aplicação do SINAES, bem como do bom uso dos resultados por ele gerados para a promoção de melhorias de seus cursos.

A ideia de uma visão limitada do SINAES é percebida novamente quando os entrevistados foram questionados se já haviam ouvido falar sobre avaliação e regulação, antes de passarem pelo processo como coordenadores de curso. Nas respostas, todos afirmaram que sim, entretanto sempre limitados ao termo avaliação, sem mencionar a regulação, e sem fazer referência a forma como uma complementa a outra.

Sim. Porque eu já tinha acompanhado toda a avaliação em 2013. Porque o nosso curso foi avaliado em 2013, e eu era a vice coordenador. (Entrevistado 2)

Sim. Eu tinha ouvido falar em função de que eu participei de duas montagens, se é que dá para dizer assim, de campus da UFSM. Mas eu nunca tinha tido diretamente este contato, apenas pela fala de outros colegas que tinham passado enquanto acadêmicos por avaliação de curso, como professores de outras universidades, inclusive instituições privadas, onde eles relatavam que sempre tem esse ar assim do medo da avaliação. (Entrevistado 4)

Quando questionados sobre a diferença entre avaliação e regulação, e a forma como elas se complementam, os entrevistados afirmaram em sua grande maioria desconhecer o que seria a regulação, entretanto alguns fizeram a associação do termo à regras, mas sem demonstrar de que forma os processos de avaliação e regulação se complementam.

Bem, a princípio a avaliação é verificar o que está acontecendo e a regulação fazer os ajustes necessários para retomar o caminho. (Entrevistado 7)

Então assim, te respondendo à pergunta, assim num plano mais abrangente e acho que eu não tenho conhecimento. (Entrevistado 2)

A avaliação vem para verificar. É feita para verificar. E a regulação você define regras para manter, agora se você vai verificar se está sendo mantido. (Entrevistado 8)

Olha! O que eu entendi é que a regulação é o que regulamenta o curso. Imagino que seja isso. E a avaliação é um, vamos dizer assim, os questionamentos sobre como o curso está funcionando. (Entrevistado 5)

A regulação são as coisas mínimas que tu deve atender, as regras mínimas. (Entrevistado 8)

Mas eu imagino que deva ser assim, regulação no sentido de que ela, posso estar errada. Mas imagino que uma regulação no sentido de verificação se ela está atendendo, ou continua atender aqueles requisitos mínimos para funcionamento. Imagino que seja isso. Mas eu não tenho uma noção assim, um estudo disso assim profundo. (Entrevistado 4)

Para Carvalho (2009), a implementação do SINAES depende exatamente da superação do desafio de estabelecer a articulação da avaliação com os processos de regulação. Essa articulação se reveste de especial complexidade na educação superior no Brasil, pois nem sempre as distinções entre as funções regulatórias e avaliativas estiveram bem definidas na política de educação superior e na legislação que a ampara.

A regulação na educação superior, na visão de Verhine (2015), é controle exercido pelo Estado, através de diretrizes de governo. Essa regulação tem como características a aplicação e acompanhamento de regras e normas de caráter obrigatório. Assim, o Estado, através de seu poder regulador, firma normas de funcionamento e organização para a educação superior, e verifica o cumprimento dessas pelas IES, através da avaliação, buscando assim garantir um padrão mínimo de qualidade do ensino superior.

Para Meneghel, Robl e Silva (2006, pg. 93) a compreensão da interface entre avaliação e regulação, nos diversos processos que visam à construção de uma educação superior de qualidade, demanda apreender o significado de cada um destes conceitos.

Conforme Ribeiro (2015), a avaliação proposta pelo SINAES possuí dois modelos, um com caráter formativo e outro com caráter regulatório. O primeiro busca aprimorar continuamente o trabalho das IES através de diagnósticos, já o segundo busca garantir um padrão mínimo de qualidade para a permanência das IES e cursos no Sistema Federal de Ensino Superior. No mesmo sentido, Ricardo Martins aponta que, num processo de regulação, as dimensões de verificação e controle são insuficientes para assegurar a qualidade ou fomentar sua melhoria permanente. Para isso faz-se necessária uma avaliação contínua que “considere a totalidade das dimensões envolvidas nas IES, dos seus programas e cursos de formação, bem como das demais atividades por elas desenvolvidas.” (MARTINS, 2005, p. 42).

Portanto, é de extrema importância a promoção de ações visando a propagação do conhecimento do SINAES entre coordenadores de curso, bem como de que forma os processos de avaliação e regulação devem interagir e se complementar, de modo que juntos possibilitem a promoção de ações que busquem melhorias e aumento da qualidade da educação superior.