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5 RESULTADOS E ANÁLISE

5.10 Conjunto das 24 Subcategorias das Crenças dos Internos

Quadro 11 – Conjunto das 24 Subcategorias das Crenças dos internos dos 28 casos gatilhos das Clínicas: Médica, Cirurgia, Tocoginecologia, Pediatria e Saúde Comunitária (Estratégia de Saúde da Família, Emergência e Saúde Mental). Sobral, 2012

Casos-Gatilhos Total Subcategorias Total

Clínica médica 8 Salvador 2

Conhecimento-credo apostólico Limite profissional 2 Isenção de culpa Esperança Confiança 8

Clínica cirúrgica 3 Não foi localizada Sistema Sistema 2 Tocoginecologia 4 Conhecimento-incerteza Sistema Não identificado Consciência limpa 3 Pediatria 2 Conhecimento Isenção de culpa 2 Saúde Comunitária-

Emergência 4 Sistema-instituição Preconceito

Atendimento centrado no paciente Limite profissional 4 Saúde Comunitária- Estratégia de Saúde da Família 6 Falta de vínculo 2

Falta de Educação em Saúde Sem preconceito

Sistema Respeito

5

Saúde Comunitária-

Saúde Mental 1 Relação médico paciente 1

Total 228 24

Fonte: dados da pesquisa.

Embora dois dos oito internos se sintam salvadores os outros reconhecem o limite, mas indicaram que o sistema de saúde não ajuda na formação

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de vínculo com os pacientes, principalmente nas Clínicas Cirúrgica, Tocoginecologia e Estratégia de Saúde da Família.

Estão apresentadas as seis narrativas: duas da Clínica Médica, duas da Tocoginecologia, uma da Estratégia de Saúde da Família e uma da Emergência, com nossa interpretação.

Está destacada uma narrativa da Tocoginecologia de IO11

Terceira Narrativa: interno IO11 - Tocoginecologia

Adulta grávida, cujo gatilho foi: recusa em ser atendida na presença do interno em hospital-escola. A crença do interno de que o sistema de saúde é inadequado.

“Uma funcionária do Hospital estava grávida e sentindo algumas dores no baixo ventre. Estava com medo de ser início de abortamento, no primeiro trimestre. Ela fez a fichinha como é de rotina na admissão da maternidade e foi para a sala de exames para ser atendida e ser avaliada por um obstetra. Estava o staff, uma residente e eu de interno. E havia um enfermeiro e uma auxiliar de enfermagem. Quando a paciente entrou, pediu para ficar só ela e o médico, eu estava atendendo a paciente e disse: “claro, você tem direito”. E eu saí, de boa vontade, inclusive, porque eu entendi que era direito dela ter privacidade, porque ia se sentir envergonhada. Só que quando eu saí, eu pensei: “isso pode até ser um hospital escola, mas não é um hospital de ensino, porque com certeza, em outra Fortaleza a paciente não poderia dizer isso. A paciente iria responder, provavelmente, a um questionário na admissão, informar que ali era um hospital universitário, se ela dissesse: “eu não quero que esse médico me atenda”, eles diriam: “por favor, procure outro hospital, porque esse é um hospital universitário.” E porque eu estou falando isso? Estou falando isso porque um staff estava falando o seguinte na mesa do almoço para alguns colegas e eu estava ouvindo por tabela. Ele falou que aqui não é hospital universitário coisa nenhuma, porque se ele algum procedimento errado, quem vai responder é ele que fez. Já no hospital universitário, o paciente não é do médico, o paciente é do hospital, então quem responde é o hospital. Não é o médico, não é o residente, não é o interno, não é ninguém. E realmente, refletindo, é verdade. Aqui, claro, a gente não vai criticar porque é o nosso hospital de ensino, que bem ou mal, estamos aprendendo a prática médica. Até porque o que vai nos lapidar mesmo é a residência. Aqui foi

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um hospital geral que de certa forma diferenciado porque ele não é público. Embora atenda ao Sistema Único de Saúde, e que ele foi transformado à força, entre aspas, num hospital de ensino. Então, por isso, que uma das coisas é que isso influencia diretamente no estágio de um internato, porque com certeza num hospital universitário não há toda essa má vontade. Não há essa falta de engajamento com relação ao paciente para dá um parecer, por exemplo, como há aqui. Tem um cirurgião aqui no hospital que ele não aceita interno entrar nas cirurgias dele. Ele está errado, do ponto de vista legal? Acho que não, ele pode estar errado do ponto de vista ético, do ponto de vista moral, de guardar aquele conhecimento para si, ter esse pensamento meramente capitalista, quer receber para isso, mas se você se colocar no lugar dele, ele não está totalmente errado não. Claro que ele nunca vai se colocar no lugar da gente porque ele é incapaz disso por características inatas. Mas ele não está totalmente errado não”.

Interpretação nossa

O aluno entende, equivocadamente, que o paciente tem que aceitar ser avaliado num hospital-escola por estudante, obrigatoriamente. Em contrapartida, nem mesmo o médico assistente tem responsabilidade pelo procedimento e sim o hospital. Embora respeite o direito da paciente, acredita que, em um hospital-escola, o paciente já entra consentindo que será avaliado por eles e se responsabiliza por isso. Que o direito é em primeiro lugar do médico/interno/residente, uma vez que o objetivo maior é o aprendizado; aprendizado este centrado na doença e assimétrico quanto à posição do staff/interno e paciente.

Compreende a instituição como um sistema inadequado de ensino que não o protege desse constrangimento e é valioso o testemunho da atitude que ele espera do paciente em um hospital-escola.

Em decorrência, assume um papel que Hafferty e Castellani (2010) denominam “camaleão”, assumindo um valor formal, na medida em que ele diz concordar em respeitar o direito da paciente, mas por outro lado considera que ele também tem direito como interno.

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5.11 Conjunto das 25 subcategorias das Atitudes dos Internos