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4. METODOLOGIAS

4.1. Para a identificação das redes socioespaciais do Conjunto Vitória

4.1.1. O Conjunto Vitória

O bairro de Petrópolis está localizado na parte alta - área de tabuleiros - da cidade de Maceió-AL e tem em seu entrono os bairros: Santa Amélia, Tabuleiro dos Martins, Santa Lúcia, Jardim Petrópolis, Santo Amaro, Canaã, Chã da Jaqueira e Chã de Bebedouro (Figura 1).

Figura 1 - Localização do Bairro de Petrópolis em Maceió-AL.

Fonte: Adaptação a partir da Base Cartográfica da Cidade de Maceió-AL, 2015.

Conforme o Plano Diretor da cidade de Maceió, este bairro faz parte dos Macrozoneamentos: Macrozona Prioritária para Implantação de Infra-Estrutura Urbana no tabuleiro; Macrozona de Restrição à Ocupação; Macrozona de Expansão Intensiva. Os Macrozoneamentos determinam as ações públicas voltadas a esta localidade, além de direcionar o uso e a ocupação do solo (MACEIÓ, 2006).

Neste sentido, para o bairro do Petrópolis, as diretrizes para a urbanização procuram implementar ações que estimulem sua ocupação, principalmente em áreas próximas a Av. Durval de Goes Monteiro, ligada tanto ao uso residencial (Figura 2), quanto de atividades complementares a residência e ao comércio. Desta forma, a prefeitura considera que esta área possui potencial para ser ocupada devido a sua condição de centralidade, diminuindo os custos com a mobilidade urbana e com implantação de infraestrutura (MACEIÓ, 2006).

Figura 2 - Zoneamento do bairro de Petrópolis em Maceió-AL.

Fonte: Adaptação a partir do Mapa de Zoneamento da Cidade de Maceió-AL, 2015.

O Conjunto Vitória, conforme é conhecido e citado pelos moradores, é um assentamento precário localizado no bairro de Petrópolis, possui habitações autogestionadas em terreno objeto de disputas judiciais. Sua localização estende-se da Av. Galba Novaes de Castro e alcança encostas e grotas da região, condição comum entre muitos assentamentos em Maceió-AL (Figura 3).

Figura 3 - Localização do Conjunto Vitória. Fonte: Adaptação a partir do Google Earth, 2015.

Sua peculiaridade, entretanto, diz respeito ao alinhamento de seu traçado à rede de alta tensão da Eletrobrás (Figura 4), a qual deveria manter uma faixa de domínio de 15 metros. Esta condição tem ocasionando desentendimentos entre a companhia elétrica e a população residente, gerando uma situação de risco de eminente de retirada, além, de risco à vida.

Figura 4 - Alinhamento do assentamento com a rede de alta tensão. Fonte: Google Earth, 2015.

A data de início de ocupação não pode ser determinada com precisão, pois existem dados conflitantes entre o relato de alguns moradores e outros documentos levantados pela pesquisa. Aqueles relatam que a ocupação iniciou há mais de uma década, mas não existe registro que comprove essa afirmação na base cartográfica oficial da cidade, que teve sua última atualização em 2010. Porém, uma análise da plataforma Gloogle Earth, que permite retroceder seus dados no tempo até o ano de 2002, confirma que, neste período, já se iniciava a ocupação da área.

O povoamento desta região ocorreu em várias etapas diferentes e foi caracterizado por momentos de incerteza e instabilidade, com ameaças de despejo e reintegração de posse. Este fato marcou, não somente, a história do assentamento, mas a vida de seus moradores.

Analisando-se as imagens de 2002 foi possível identificar uma ocupação inicial com algumas edificações, espaçadas e que respeitavam a faixa de domínio da rede elétrica (Figura 5) (ALBUQUERQUE et al, 2013).

Figura 5 - Configuração Conjunto Vitória em 2002. Fonte: Adaptação a partir do Google Earth, 2015.

Em 2005, houve um acontecimento significativo que contribuiu para a ocupação do Vitória: o início da construção de um conjunto habitacional de 50 blocos de apartamentos, financiados com recursos do Programa de Arrendamento Residencial (PAR) (Figura 6).

Figura 6 - Configuração Conjunto Vitória em 2005. Fonte: Adaptação a partir do Google Earth, 2015.

Essa modificação tão substancial em seu entorno foi consequência da política municipal de adensamento na região o que acabou contribuindo para a ocupação informal das áreas circunvizinhas. O local que sofria restrições legais de uso passou a ser ocupado, alguns moradores declaram que foram residir no local enquanto trabalhavam na construção dos blocos de apartamentos.

Em 2008, próxima data disponibilizada pela plataforma Google, o Conjunto Vitória cresceu ainda mais. Nesta etapa, a área do assentamento já se assemelha bastante com sua configuração atual, apesar de ainda existirem espaços vazios entre as edificações e algumas construções inacabadas (Figura 7) (ALBUQUERQUE et al, 2013).

Figura 7 - Configuração Conjunto Vitória em 2008. Fonte: Adaptação a partir do Google Earth, 2015.

Foi também neste período, entre 2005 e 2008, que ocorreu um fato significativo da história do Conjunto: uma “invasão”. Não é possível identificar esta data com exatidão, mas o cruzamento de informações dos moradores com os dados disponíveis em jornais determina que este acontecimento ocorreu no primeiro mandato do ex- prefeito de Maceió, Cicero Almeida.

Em entrevistas com os moradores do local (que podem ser encontradas no apêndice deste trabalho), houve relatos de que, antes desta “invasão”, residia na região um número pequeno de habitantes, como se pode verificar na imagem de 2005. Essa porção inicial de construções, respeitava a faixa de domínio da Eletrobrás, e possuía uma característica de ruralidade, pois eram organizadas em pequenos “sítios”.

Porém, uma nova fase se iniciou com a chegada coordenada destas pessoas, as quais ocuparam o local. Neste período, houve a demarcação de pequenos lotes, a implantação de barracos de lona e o início da construção de algumas casas edificadas em alvenaria, que já não respeitavam a faixa de domínio da rede elétrica.

Os moradores informam que esta época foi marcada, também, por ações do governo no sentido de demolir as casas da ocupação como é comum acontecer em casos de invasão. Algumas casas foram retiradas, mas voltaram a ser construídas em um período posterior.

Em 2010, a área do conjunto estava completamente ocupada e praticamente já não havia mais espaços vazios, principalmente abaixo da rede elétrica. Além disso, as construções avançam também sobre as áreas de encosta, e os barracos de lona do início foram substituídos por casas de alvenaria (Figura 8) (ALBUQUERQUE et al, 2013).

Figura 8 - Configuração Conjunto Vitória em 2010. Fonte: Adaptação a partir do Google Earth, 2015.

Como em outros assentamentos precários de Maceió, no Vitória, as primeiras ocupações realizaram-se com construções feitas de materiais reaproveitados, como a lona. Mas, com o passar do tempo, seus moradores foram adquirindo maior confiança e estabilidade e iniciaram a construção de casas em alvenaria (ALBUQUERQUE et al, 2013).

Apesar da mudança da forma de construção das casas a condição de precariedade e vulnerabilidade não desaparece. Com isso no ano de 2012, após um período de estabilização, ocorreu outra ação do Estado para retirar os residentes do Conjunto. Desta vez a ação partiu da Eletrobrás sob a justificativa do risco iminente à vida das pessoas que se encontravam abaixo dos fios de alta tensão (TRIBUNA HOJE, 2012). A indignação dos moradores se acentuava ao perceber que em bairros formais da cidade a proximidade dos fios existe e é legitimada pelo poder público.

Ao Jornal Tribuna Hoje (2012), a Eletrobrás comunicou que esta ocupação configura em violação de seus padrões de segurança, impondo risco à vida da própria população, a qual se instalou sob as linhas de energia. Além disso, esse fato implica em dificuldade de acesso dos técnicos para realizar manutenções periódicas, explica- se na nota:

[...]desde fevereiro de 2005, tramita na justiça uma ação de manutenção na posse, tendo o primeiro mandado de reintegração sido emitido em dezembro de 2010, pela 10ª Vara Cível da Capital. Agora, em janeiro de 2012, o mandado foi renovado e a justiça determinou a desocupação do terreno com a presença do núcleo de gerenciamento de crises da Polícia Militar. (TRIBUNA HOJE, 2012, p.1).

Este fato ocasionou algumas manifestações, dos moradores, que puderam ser noticiadas pela impressa local:

O líder dos moradores identificado por Zélito informou que o terreno não seria da Eletrobras e sim da Usina Utinga Leão e de que eles não teriam este direito de fazer mais de 600 famílias desocuparem o local. “São milhares de casas de alvenaria que custaram caro para serem construídas, a gente lutou muito para levantar elas”, reclamou. (TRIBUNA HOJE, 2012, p.1).

As famílias, no entanto, permanecem assentadas. Em 2013, outro Conjunto de apartamentos foi implantando no entorno do Vitória. Foram construídos 38 blocos de apartamentos, financiados pelo Governo Federal com recursos do eixo Minha Casa Minha Vida (MCMV) do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) (Figura 9).

Figura 9 - Configuração Conjunto Vitória em 2013. Fonte: Adaptação a partir do Google Earth, 2015.

Já no ano de 2015, encontram-se construídos quatro desses conjuntos habitacionais (1 PAR e 3 MCMV-PAC) que totalizam 2.592 unidades de moradia no entorno do Vitória (Figura 10).

Figura 10 - Configuração Conjunto Vitória em 2015. Fonte: Adaptação a partir do Google Earth, 2015.

No Conjunto Vitória, ainda em 2015, há predominância de casas de alvenaria, com luz elétrica fornecida e cobrada pela Eletrobrás, porém não há saneamento (Figura 11) e a água encanada é conseguida por meio de ligações informais. Estas características somadas à proximidade da rede elétrica têm sido fatores determinantes para atestar a condição de precariedade desta localidade.

Figura 10 - Falta de Saneamento no Conjunto Vitória. Fonte: Google Earth, 2015.

4.2. Para caracterização das relações de troca que ocorrem na rede

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