• Nenhum resultado encontrado

3. REVISÃO DE LITERATURA

3.3. Conjuntura do Mercado Lácteo

As análises contidas nessa secção são referentes aos anos de 2013 e 2014, uma vez que os dados utilizados no estudo correspondem ao período de agosto/2013 a julho/2014.

O comportamento dos preços do leite pagos aos produtores apresentou-se de forma bastante distinta ao longo de 2013. No primeiro semestre, o cenário era semelhante ao de 2012, cuja produção cresceu apenas 0,6%, pior taxa desde 1998, em função do desestímulo causado pelos preços baixos e os custos elevados associados a problemas climáticos na região Nordeste. Já no segundo semestre, os preços aos produtores aumentaram de forma expressiva em função da baixa oferta, o que contribuiu para a recuperação da produção, que fechou o ano com alta de 6,04% (IBGE, 2014).

O preço médio do leite em 2013 foi de R$/l 1,08, alta de 10,5% ante o ano anterior, em valores deflacionados pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) de dezembro/2014. Já em 2014, os preços começaram melhores, porém não apresentaram crescimento significativo no período de entressafra da região Centro-Sul, conforme dados da Figura 2. De acordo com a pesquisa trimestral do IBGE, a captação do leite inspecionado cresceu 7,3% no acumulado até setembro, aumentando a oferta. Por outro lado, o menor crescimento econômico do país impediu o aumento da demanda, o que resultou em queda abrupta dos preços do leite no último trimestre do ano, conforme observado na Figura 3. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Escola Superior Luiz de Queiroz (ESALQ), o preço médio de 2014 ficou 1,2% menor que do ano anterior, com valor de R$/l 1,07.

Na Figura 3, é possível observar que entre 2012 e 2013 os produtores passaram por um longo período de descapitalização, em função do crescimento dos custos de produção e em oposição aos preços do leite. Apesar de essa relação ter melhorado no final de 2013, o ano de 2014 voltou a apresentar descompasso entre os respectivos índices.

Figura 2 - Comportamento do preço bruto do leite pago aos produtores – média Brasil (valores deflacionados pelo IGP-DI de dezembro/2014).

Fonte: CEPEA/ESALQ; FGV(2015)

Figura 3 - Evolução do índice de preço do leite e do custo de produção (base100 = abril/2006).

Fonte: CEPEA/ESAQL, Embrapa Gado de Leite (2015).

De acordo com Gomes (2003), dentre os itens que compõem os custos de produção de leite, a mão de obra e o concentrado representam mais de 50% do

desembolso dos produtores. Em 2014, os preços do milho e do farelo de soja, principais ingredientes da ração concentrada, apresentaram estabilização nos preços, o que contribuiu para menores incrementos no dispêndio com o insumo. Entretanto, em relação à mão de obra, além de haver incremento no salário mínimo de 9,0% e 6,8%, em 2013 e 2014, respectivamente, a oferta no campo foi reduzida, o que elevou ainda mais os gastos com esse item.

No cenário internacional, em 2013 os principais países exportadores também passaram por problemas climáticos: seca na Nova Zelândia e inverno frio e úmido na Europa. Além disso, a elevação dos custos com alimentação concentrada contribuiu para atenuar a oferta de leite. Não obstante, a China seguiu mantendo constante a sua demanda, importando quase 400 mil toneladas de leite em pó. A combinação desses fatores associados aos baixos estoques mundiais fez com as cotações do leite em pó integral na Oceania aumentassem 45,7% frente ao ano anterior (CNA, 2013).

Conforme observado na Figura 4, o ciclo de alta nos preços das principais commodities lácteas encerrou-se em abril de 2014, iniciando uma trajetória de queda acentuada, atingindo valores próximos aos de 2009 no final do ano, período em que o mundo sofria os impactos da crise financeira iniciada nos Estados Unidos.

Figura 4 - Comportamento dos preços do leite em pó integral e desnatado na Oceania e União Europeia

As cotações do leite em pó na Oceania e União Europeia, maiores exportadores do produto, saíram de US$ 5.000/tonelada no início de 2014 para US$ 2.400/tonelada no final (UNITED STATES DEPARTAMENT OF AGRICULTURE, 2015). Além da maior oferta de leite no mundo estimulada pelas maiores preços do período anterior, no mês de agosto a Rússia proibiu as importações de produtos alimentícios na Ucrânia. Tal fato intensificou a queda nos preços das commodities lácteas, visto que a União Europeia era uma das maiores fornecedoras desses produtos para a Rússia. Vale ressaltar que este país figura como o segundo maior importador de lácteos do mundo, atrás apenas da China,

Desde o início de 2009, o Brasil não apresentava superávit na balança comercial de produtos lácteos, como ocorreu no mês de abril/2014, cujo saldo foi de US$ 14,3 milhões. A elevada oferta do início do ano, combinada ao alto preço das commodities lácteas nesse período e à desvalorização do câmbio nacional contribuíram para esse resultado. Apesar do segundo melhor desempenho das exportações brasileiras da história, o país fechou o ano com déficit de US$ 102,7, valor 78,5% menor que de 2013, resultado da queda de 24,7% das importações e aumento de 195,3% das exportações, conforme dados da Figura 5 (MDIC, 2015).

A queda nas importações ocorreu em função de problemas na oferta da produção argentina e uruguaia, principais origens dos lácteos importados pelo Brasil, além de restrições às exportações por parte do governo Argentino. Quanto às exportações, 80% do valor foi de leite em pó e leite condensado. Desse total, 65,8% tiveram como destino a Venezuela (MDIC, 2015).

O melhor desempenho da balança comercial de lácteo contribuiu para amenizar as pressões de baixa sobre o preço do leite ao longo de 2014.

Figura 5 - Evolução da balança comercial de lácteos.

Fonte: MDIC (2015).