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5.1 OS EDITORIAIS DA FSP E OS DIÁLOGOS NA COLÔMBIA

5.1.2 Conquistas e avanços

Apesar da categoria “desafios e obstáculos” concentrar a maior parte das unidades que compõem os editoriais da Folha de S. Paulo, não é possível admitir que o jornal se posiciona contra o processo e seus possíveis resultados. Como já avaliado, o veículo critica pontos específicos das tratativas (Parece um péssimo cálculo/ Convém manter certo ceticismo, portanto/ Não será trivial reiniciar as conversas em termos mais duros, ...), mas isso não cria uma argumentação única contra os objetivos dos diálogos.

Os dados resultantes da categorização mostram que 22,2% das unidades de registro (32 das 144 unidades constituintes totais) se encaixam como observações positivas em relação ao processo, enquadrando-se na categoria “conquistas e avanços”. Nesta delimitação, constata-se uma tendência dos editoriais do periódico paulistano em ressaltar as proximidades do fim do conflito e, mais especificamente, o avanço do texto do acordo.

Se para mirar o acordo a partir de um viés crítico a FSP problematiza as estratégias políticas condutoras das tratativas e emprega impressões adversas atribuídas à população colombiana, para se impor em relação às conquistas e aos avanços o jornal se apresenta mais

enfático (bem-vindo diálogo de paz com vistas a encerrar o violento conflito/ o tão esperado fim de uma guerra/ é animador constatar). Uma diferença que se percebe é o emprego de elementos semânticos, como adjetivos e advérbios, para enfatizar a relevância do processo.

Enquanto no gênero informativo o estilo jornalístico ancora-se na perspectiva da objetividade e da imparcialidade para sustentar seu caráter comercial, “sem demarcar suas contradições de valores e de interesses nas relações socioeconômicas e políticas” (FIGARO, 2014, p. 28), o mesmo não se repete nos formatos do gênero opinativo, em que os recursos linguísticos são mobilizados como exigência específica da modalidade, “cuja finalidade é avaliar os acontecimentos” (MELO; ASSIS, 2016, p. 47).

Já as construções semânticas (em grifo na tabela 9) que denotam interpretação otimista dos editoriais da Folha de S. Paulo acerca do processo de acordo de paz entre as Farc e o governo da Colômbia servem, em sua grande maioria, para qualificar acontecimentos relativos aos diálogos. São, ao mesmo tempo, uma forma de evidenciar o progresso das tratativas e reforçar o prisma do jornal em relação aos entendimentos:

TABELA 9 – ANÁLISE EDITORIAIS FSP

Unidade de registro (UR) Editorial

Em outubro de 2012, o governo colombiano e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) iniciaram complexo e bem-vindo diálogo de paz com vistas a encerrar o violento conflito civil que já dura meio século.

Tiro no pé das Farc (16/06/2015)

O aperto de mão entre Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, e Rodrigo Londoño, líder das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), assinalou o provável e há muito desejado fim de um conflito armado que, em 50 anos, deixou mais de 220 mil mortos e marcou a história do país.

Colômbia em busca de paz (14/10/15)

Foi dado na última semana um dos passos mais importantes e delicados para a conclusão do acordo de paz entre as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o governo colombiano.

Vítimas colombianas (21/12/2015)

Parece ser a maneira mais adequada de fechar um longo capítulo de violência que marcou de forma profunda toda a sociedade colombiana.

Essência do acordo de paz (24/06/2016)

Se o pacto vier a ser ratificado pelo voto popular, representará o tão esperado fim de uma guerra que já dura mais de 50 anos e provocou a morte de cerca de 250 mil pessoas, além do deslocamento de quase 8 milhões.

O preço da paz (27/08/2016)

Os primeiros sinais, felizmente, suscitam algum alento. Lamentável discórdia (05/10/2016) Tanto o governo Santos como o comando das Farc mostraram-se

empenhados em encontrar uma solução.

Lamentável discórdia (05/10/2016) De fato, ainda que imperfeito, o acordo que ele encampa traz o

inestimável benefício de encerrar um conflito civil que parecia não ter fim.

A fase mais difícil (25/12/2016)

Num momento em que o mundo se vê tomado por uma onda de tensões, é animador constatar avanços no processo de paz na Colômbia.

Paz colombiana (08/09/2017)

FONTE: A autora (2019).

A constatação de que a Folha de S. Paulo se posiciona como entusiasta do processo também encontra subsídio na maneira como o jornal endossa o sentido de progresso do avançar das discussões: estabelecendo sintonia com o fim do conflito e realçando o entendimento entre os principais polos do diálogo. Para isso, as Farc - que diante de impasses eram isoladas enquanto agente do processo - ganham papel central nas negociações, a qual agora é fruto de uma negociação partilhada. Parte-se do pressuposto que as tratativas conduzidas por representantes das Farc e o governo colombiano por si só já carregam uma perspectiva otimista por trazer como consequência imediata o final no embate mais longevo da América Latina. Mas se defende que os editoriais agregam valor a esta perspectiva, mais uma vez, pela escolha dos recursos linguísticos utilizados.

No que diz respeito ao tratamento do avanço do acordo e seus pontos específicos, nota-se uma perspectiva positiva diante da adoção de verbos que indicam ações e/ou posições afirmativas. Ainda que este trabalho não se proponha a oferecer uma análise lexical do objeto, é interessante observar a estratégia da qual o jornal lança mão para ressaltar aspectos convenientes dos diálogos e os pontos acordados. Usados como “ponto de articulação da sentença” (LAGE, 2001, p. 40), os verbos também indicam tomadas de posição no jornalismo.

TABELA 10 – ANÁLISE EDITORIAIS FSP

Unidade de registro (UR) Editorial

Quase quatro anos após o início das tratativas, o acordo de paz entre o governo da Colômbia e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) aproxima-se de seus momentos finais.

Essência do acordo de paz (24/06/2016)

Trata-se de encerrar uma guerra que, durando mais de 50 anos, provocou a morte de 250 mil pessoas e o deslocamento de quase 8 milhões.

Essência do acordo de paz (24/06/2016)

Segundo governo e Farc, seria um acordo "definitivo" para pôr fim a

meio século de conflito que matou mais de 200 mil pessoas. Nova chance à paz (18/11/2016) Após negociar por quase um ano e meio apenas esse item, chegou-se a

um entendimento sobre as reparações às vítimas do conflito que já dura mais de 50 anos e matou cerca de 220 mil pessoas.

Vítimas colombianas (21/12/2015)

Também se alcançou um acordo sobre a instalação de um sistema jurídico especial para julgar quem tenha praticado crimes na guerra civil -tanto guerrilheiros como paramilitares e agentes do Estado.

Vítimas colombianas (21/12/2015)

Superou-se desse modo o impasse que atravancava a negociação. Vítimas colombianas (21/12/2015) Definiu-se que o fim das hostilidades ocorrerá num prazo de 180 dias

após a assinatura do acordo e que a entrega das armas se dará de forma gradual, em três momentos durante esses seis meses.

Essência do acordo de paz (24/06/2016)

Em contrapartida, o governo colombiano se comprometeu a garantir a segurança dos ex-guerrilheiros contra seus grupos rivais

(ex-paramilitares, milícias inimigas) assim que a rebelião terminar.

Essência do acordo de paz (24/06/2016)

Também se negociaram a interrupção do plantio de coca pelas Farc e os termos da reparação às vítimas, que inclui a criação de um tribunal especial para julgar crimes e o estabelecimento de uma comissão da verdade.)

Essência do acordo de paz (24/06/2016)

FONTE: A autora (2019).

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