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E CONQUISTOU TAMBÉM O REINO DE LEÃO PARA SEU FILHO: BERENGUELA GARANTE O RECONHECIMENTO DE FERNANDO III COMO

O PROJETO POLÍTICO DE UNIFICAÇÃO DOS REINOS: A ATUAÇÃO DE BERENGUELA

2.6 E CONQUISTOU TAMBÉM O REINO DE LEÃO PARA SEU FILHO: BERENGUELA GARANTE O RECONHECIMENTO DE FERNANDO III COMO

LEGÍTIMO HERDEIRO LEONÊS

No dia 11 de dezembro de 1230 foi firmado em Benavente o tratado no qual Sancha e Dulce, filhas de Alfonso IX de Leão e Teresa Sanches, abriram mão de quaisquer direitos sucessórios que dantes acreditavam possuir sobre o reino de seu pai. Berenguela preparou o caminho para que seu filho fosse o novo monarca de Leão.

Alfonso IX de Leão havia reconhecido oficialmente o filho com Berenguela como seu sucessor em dois momentos: em cúria celebrada em Benavente no ano de 1202 e em 1206, quando negociou o Tratado de Cabreros com o monarca castelhano Alfonso VIII (MARTIN, 2007, p. 8. BIANCHINI, 2012, p. 65), Jiménez de Rada atesta este direito de Fernando III ao lembrá-los: “[…] por dos veces le habían jurado los obispos, los nobles y los concejos de las ciudades por mandato de su padre […]” (HHE, 1989, p. 347).

Contudo, a posição de Alfonso IX sobre este assunto da sucessão mudava de acordo com a situação política do reino, em 1202 e em 1206 o reconhecimento de Fernando III ocorreu porque pretendia manter a paz com Alfonso VIII, no entanto, em 1211, Teresa Sanches voltou a Leão com seus filhos para ficar sob a proteção do ex marido diante dos conflitos que enfrentava com seu irmão Afonso II, rei de Portugal, e, provavelmente para tentar garantir que seu filho, também chamado Fernando, herdasse o reino. Este passou então a assinar diversos documentos ao lado do pai e era designado na documentação como seu primogênito, que em verdade o era (COSTA, 2015, p. 122).

Com a morte de Fernando, filho de Teresa, em 1214, Alfonso IX pediu a Berenguela que seu filho voltasse a Leão e, desde este ano, ele passou a figurar a documentação leonesa ao lado do pai (CALLEJA GONZÁLEZ, 1975, p. 52), o que durou até 1217 quando Berenguela transferiu-lhe a coroa de Castela, desde então Alfonso IX passou a trabalhar para que suas filhas o sucedessem, pois não pretendia uma unificação dos reinos se esta fosse liderada por um rei castelhano. No início da década de 1220, nota-se uma proteção e concessão de benefícios e cargos em Leão a Martim Sanches (1175-1226), irmão bastardo de Teresa Sanches que a apoiava contra Afonso II, além da presença constante das infantas Sancha e Dulce ao lado do pai na documentação (MARTIN, 2007, p. 10).

Consciente da possibilidade de que Sancha sucedesse Alfonso IX, Berenguela conseguiu que o papa Honório III reconhecesse que a sucessão no reino de Leão cabia a Fernando III como acordado em 1206 em Cabreros. José Manuel Nieto Soria (2003a, p. 41) e Georges Martin (2007, p. 9) acreditam que a rainha-mãe tenha feito este pedido ao papa, já que seu nome aparece no diploma pontifício com algum destaque.81

Embora a sucessão feminina fosse possível em Leão, ela seria mais facilmente aceita se a herdeira fosse casada e para isso Alfonso IX planejava o matrimônio de Sancha com João I de Brienne (falecido em 1237, rei de Jerusalém de 1210 a 1225 e imperador de Constantinopla desde 1231). O leonês havia enviado carta a Berenguela e ao filho pedindo que recebessem bem o rei de Jerusalém

81 “Nos igitur tuis, et karissime in Christo filie nostre Berengarie illustris regine matris tue precibus inclinati, actum ipsius patris tui, cum saluti eius expediat, ut, quod iurauit, inconcussam obtineat firmitatem, gratum habentes et ratum illud, sicut provide factum est auctoritatem apostolica de speciali gratia confirmamus, et presentis scripsi patrocinio communimus, te ipsius successorem legitimum declarantes” (MANSILLA, 1965, doc. 179 apud MARTIN, 2007, P. 22, NOTA 80).

quando este passase por Castela no caminho de sua peregrinação até Santiago de Compostela (SALVADOR MARTÍNEZ, 2010, p, 32). Juan de Osma narra que:

La reina doña Berenguela, mirando al futuro y, como mujer prudente previendo el impedimiento que el rey de Jerusalén podría suponer a su hijo, el rey don Fernando, en el derecho que tenía al reino leonés, si el citado rey contrajera matrimonio con otra de las hijas que el rey leonés había tenido de la reina doña Teresa, y si permanecía en el reino, prefirió dar como esposa a dicho rey a su hija Berenguela (CLRC, 1999, n.p.).

Antes de sair do território castelhano, o rei de Jerusalém já estava comprometido com a filha homônima de Berenguela. Este episódio não aparece na HHE, Jiménez de Rada só informa o destino da filha mais nova de Berenguela e Alfonso IX quando trata de seu casamento: “[…] Berenguela, que casó con Juan de Brena, quien, por herencia de su anterior esposa, rigió por un tiempo los destinos del reino de Jerusalén” (HHE, 1989, p. 294).

Georges Martin (2007, p. 10) levanta alguns questionamentos: Berenguela não teria pensado no confronto que essa atitude poderia gerar com o rei de Leão? Teria recebido algum apoio do papa para essa negociação e por isso seguiu adiante? Não chegaram a nossos tempos ou ainda não foram descobertos documentos que possam responder a estes questionamentos, mas acreditamos que a associação do reino de Castela com grandes dinastinas - a de Hohenstaufen e de Ângelos por meio de Beatriz, esposa de Fernando, além da de Poitiers e Plantageneta através da mãe de Berenguela – que favoreceram a projeção de Castela em uma política internacional, além das boas relações deste reino com o papado neste momento, contibuíram para a decisão do rei de Jerusalém.

Mas o fato é que não houve conflitos com Leão depois do ocorrido e uma vez mais Berenguela demonstrou sua inteligência política e disposição em trabalhar pela hegemonia de Castela sobre Leão tentando dificultar o casamento de Sancha e, mais que isso, exercendo uma tática de isolamento diplomático do reino de Leão.

2.7 UM ACORDO POLÍTICO ENTRE RAINHAS: BERENGUELA NEGOCIA COM