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CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA COMO FORMA DE AUXILIAR AQUISIÇÃO DAS REGRAS ORTOGRÁFICAS

CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E SISTEMA BRAILLE:

CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA COMO FORMA DE AUXILIAR AQUISIÇÃO DAS REGRAS ORTOGRÁFICAS

Já que as regras ortográficas são necessárias para que haja comunicação, é preciso solucionar os “erros” de ortografia presentes na escrita do deficiente visual. Referências ainda não foram encontradas sobre como tratar os “erros” de ortografia das crianças cegas. No entanto, as pesquisas de Capovilla e Capovilla (2000), Cárnio e Santos (2005), Barrera e Maluf (2003), Cardoso-Martins (1999) constataram a importância da consciência fonológica para a aquisição das regras ortográficas, em crianças videntes, inclusive com Síndrome de Down. A partir disso, levantamos a seguinte hipótese: atividades que contribuam para o desen- volvimento da consciência fonológica podem favorecer também a diminuição dos erros ortográficos nas produções escritas das crianças cegas.

Entende-se por Consciência Fonológica (CF) a habilidade metalinguística de tomada de consciência das características formais da linguagem. Noutros termos, consciência fonológica é entender que a linguagem oral está organizada e segmentada: em frases, palavras, sílabas e fonemas e que estes fragmentos se repetem e formam palavras e frases. Esta mesma organização está presente na linguagem escrita com mais um fator agregado: a relação entre som e letra. A CF pode, por esta razão, ser divididas em sub-habilidades de acordo com a capacidade para perceber características e particularidades da linguagem como: a) rimas e aliterações; b) frases (organização e segmentação); c) palavras; d) sílabas e; e) fonemas (NASCIMENTO, 2004).

Os resultados da pesquisa de Barrera e Maluf (2003) mostraram uma correlação positiva, bastante significativa, entre os níveis de CF e de aquisição da linguagem escrita, sobretudo no que se refere às crianças de cinco e seis anos. A pesquisa de Capovilla e Capovilla (2000) verificou os efeitos do trabalho com exercícios de CF em crianças com baixo nível socioeconômico e constatou que elas apresentaram melhor desempenho na escrita. Na pesquisa de Cárnio e San- tos (2005) foi constatado que através de um programa de estimulação fonoaudiológica, crianças do ensino público fundamental apresentaram evolu- ção de CF. O estudo realizado por Cardoso-Martins (1999) investigou a relação entre a CF e a habilidade de leitura na Síndrome de Down e observou influên- cias positivas do desenvolvimento dessa consciência para a aquisição da escrita.

Podemos dizer, então, que o trabalho envolvendo exercícios para o desen- volvimento de consciência fonológica tem resultados satisfatórios. Dessa forma, buscamos desenvolver uma investigação de como exercícios de CF podem ser dirigidos às crianças, primeiramente, cegas para posteriormente estender o tra- balho para adolescentes e adultos. Nossa hipótese, como já apontado no come- ço deste trabalho, é que se a criança fizer exercícios de CF, na escrita Braille, vai apreender muitas regras de ortografia da língua portuguesa. É claro que os exercícios sozinhos não resolvem os problemas de ortografia. É preciso que a criança leia livros e outros materiais em Braille, sempre que possível. Porém, exercícios com rimas e aliterações podem auxiliar a criança não-vidente a reco- nhecer, na escrita, as partes das palavras que repetem a mesma forma ortográ- fica (O rato disse para o gato: – Posso fazer seu retrato?) e até mesmo observar que sons iguais se escrevem de formas diferentes (MEL e CÉU, por exemplo).

Outra questão que pode ser resolvida com o trabalho de CF, utilizando o sistema Braille, é evitar a aglutinação de palavras. Isto é, ao se trabalhar com a “leitura” de frases de forma sistematizada e pausada, a criança cega vai observar que as palavras da frase são separadas. Para isso seria proposto formar frases a partir de fichas em Braille de modo que a criança manipule as palavras escritas de forma convencional. Aqui poderia entrar como coadjuvante as manchetes de jornais e revistas, adequadas à idade da criança tanto no sentido do conteúdo (semantismo) quanto no sentido sintático (tamanho).

Enfim, a proposta é constituir exercícios que promovam a CF para as crianças cegas, buscando auxiliá-las na aquisição da ortografia oficial da Norma Padrão. Dessa maneira, acreditamos que estas crianças podem até escolher ou- tros suportes de comunicação, a gravação, por exemplo, mas estará apta tam- bém a se utilizar do sistema de escrita voltado especificamente para ela.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste artigo, iniciamos com a definição do que se entende por deficiência visual como ponto inicial da nossa discussão. A seguir tratamos do sistema de escrita voltado para pessoas cegas, ressaltando algumas das suas características principais. Depois abordamos a questão da ortografia e da sua importância na comunicação escrita tanto para videntes quanto para cegos. Por fim, apontamos os resultados de trabalhos de consciência fonológica em crianças videntes e bus- camos fazer uma reflexão acerca de um trabalho com crianças cegas.

Acreditamos que com o percurso realizado trazemos à discussão a ques- tão do trabalho com a ortografia oficial para crianças que utilizem o sistema Braille. Acreditamos que saber escrever dentro das regras exigidas para a escrita é importante tanto para o percurso escolar quanto para a inserção no mercado de trabalho. No entanto, não é dizendo que elas erram que teremos uma escrita satisfatória. É preciso criar meios para que adquiram a ortografia da Norma Padrão. Acreditamos que além de leitura de livros em Braille, trabalhar com exercícios de consciência fonológica poderá facilitar bastante o processo de apre- ensão das regras de ortografia.

REFERÊNCIAS

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