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TEXTO 08: Sem título

4. DISCUSSÕES CONCEITUAIS

4.1 Conscientização

Freire, no livro Conscientização (1979) propõe uma reflexão a respeito das relações sociais em que coloca o indivíduo como agente de transformação do contexto em que se situa. Na primeira parte do livro, a biografia de Freire retrata toda a sua trajetória de militância política por uma educação libertadora. Esta abordagem mais uma vez vem a questionar de que forma eu vejo o aluno diante do contexto social

quando ele não encontra espaço para a atuação. A disciplina que leciono pode orientá-lo a ser um cidadão consciente e responsável pelos atos no momento em que suas ações podem agir sobre o mundo em busca de sua libertação. Neste aspecto, o estímulo e a percepção de pesquisar, conduzem-me para uma reflexão de uma práxis que discuta sobre as identidades dos meus estudantes, partindo da valorização cultural, a expressão de uma ideologia que favorece a coletividade. Acreditar numa educação libertadora é adotar princípios de que o ser humano é importante pela própria singularidade. Isto significa valorizá-lo por ser um sujeito que constitui história e que participa ativamente de um contexto social.

Freire (1979) considera o ser humano como “inacabado”. Ele defende a democratização da cultura conciliada com as relações de trabalho, ou seja, as relações identitárias constituídas em cada realidade social nas quais o aluno se situa, promoverão condições favoráveis a aprendizagem.

“A educação é um ato político” (Freire: 1996, p. 110). A reflexão desse pensamento condiz com o compromisso do professor em sala de aula. Sou político e disso eu não abro mão. Não há neutralidade para aquilo que penso ou atuo na práxis pedagógica. É impossível diante da contemporaneidade, o indivíduo calar-se diante das controvérsias políticas de ações ao favorecimento daqueles que lucram à custa do sacrifício da sociedade e aceitar tudo que lhe é imposto. A ética é o princípio de valor que se estabelece na tomada de decisões, numa ação conjunta em benefício para todos sem violar quaisquer tipos de princípios.

O espírito rebelde ressurge com mais força de lutar quando nos deparamos com as situações de enfrentamento a todo sistema de opressão. A sabedoria está em encará- los de frente, superando os medos e as dificuldades de cabeça erguida. Para Freire (1996, p. 87):

É preciso, porém, que tenhamos na resistência que nos preserva vivos, na compreensão do futuro como problema e na vocação para ser mais como expressão da natureza humana em processo de estar sendo, fundamentos para nossa rebeldia e não para nossa resignação em face das ofensas que nos destroem o ser. Não é na resignação, mas na rebeldia em face das injustiças que nos afirmamos.

Resignar alimenta a violência de pessoas que ainda não acreditam em mudanças. Se os meus alunos são marginalizados quero que o meu trabalho os leve a refletir a consciência crítica para se questionar e reverter o próprio papel. Superar os obstáculos que a vida nos impõe enquanto agentes transformadores é uma maturidade que se renova cotidianamente para assumirmos atitudes de rebeldia por uma educação que nos

liberta. A atuação do sujeito viabiliza de ser o anunciador e denunciador frente às ações tomadas no compromisso de mudanças.

Embora nas relações entre dominador e dominado resultem a dependência dos valores impostos para aqueles que têm o poder em mãos, condicionada historicamente por uma hierarquia social, a transformação está voltada para a prática social do indivíduo. É preciso evitar movimentos para aquilo que Freire (1979) denomina de “cultura do silêncio”, que subjaz na aceitação assimilada dos oprimidos. A falta da coletividade da classe trabalhista representa a inferioridade do homem a estar em plena subserviência às vontades do que é manipulável perante as ordens que lhe são impostas.

O contexto histórico localiza a posição do indivíduo frente à realidade. Para tanto, há de se reconhecer a abstração em que status ele ocupa na classe social. Este reconhecimento possibilitará ao sujeito a desconstrução daquilo que lhe foi imposto e implicará a movimentação crítica da busca pela libertação, ou seja, Freire (1979) discute que a partir do momento em que o sujeito se reconhece na condição social vivida de inferioridade, a libertação se dará na descodificação abstrata do que ele acreditava, e a partir do conhecimento surgirão novas representações comportamentais e posicionamento crítico diante das situações vivenciadas.

O professor é um agente social. Além de estar inserido na tecnologia global, ele desenvolve atividades que podem mudar a vida do outro. Para isso, o dinamismo da língua escrita é dar funcionalidade e mobilização ao aluno a desenvolver seus saberes na era da informação. O pensamento Freiriano de relacionar a prática educativa ao contexto político, vem à tona de situar o aluno a participar ativamente das mudanças do seu próprio meio enquanto ser atuante em prol da coletividade.

Dessa maneira, não se trata de redescobrir o mundo ou compreendê-lo simplesmente da forma como é apresentado. O professor necessita espontaneamente aproximar-se desta realidade para se autodescobrir, mesmo que neste primeiro momento a realidade se apresente no estágio de percepção. Aos poucos, a consciência plena se constituirá quando o indivíduo for inserido como agente transformador, paralelamente estará exposto a novas descobertas e construção destes sentidos. A apreensão se dará pelo objeto cognoscível em que assumindo a posição epistemológica chegará a criticidade de compreender aquilo que ele procura.