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4.3 Política de Atendimento para Criança e Adolescentes Vítimas de Violência

5.1.1 Conselho Tutelar: Funcionamento e Atribuições no Município de Picos/PI

No presente capítulo pretende-se dar uma visão acerca da criação do Conselho Tutelar (CT) no Município de Picos no Estado do Piauí, suas atribuições legais e seu funcionamento, para que se possa situar a importância do seu papel na garantia dos direitos da criança e da adolescência e entender a razão de tomar como sujeitos de pesquisa os conselheiros tutelares.

O Conselho Tutelar é uma das maiores conquistas sociais na busca da proteção e efetivação de direitos das crianças e dos adolescentes, sendo uma instituição pública e social de grande importância.

Considerando que o Conselho Tutelar constitui-se num órgão essencial do Sistema de Garantia dos Direitos(Resolução nº 113 do CONANDA), tendo sido concebido pela Lei nº

população infanto-juvenil.

A Resolução 139, de 17 de março de 2010, revoga a Resolução 75 que estabelece parâmetros para a criação dos Conselhos Tutelares, observando o Art. 131 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que tem como missão ―zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e dos adolescentes‖, assim como reza o Art. 132, que todo município brasileiro deve instaurar e fazer funcionar um Conselho Tutelar. Deste modo, a importância do Conselho Tutelar para a defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes consiste em um trabalho constante e ativo. Complementarmente, dentre as ações do Conselho Tutelar está disposta na Resolução 139, de 2010 no Capítulo IV do Art.24,25 e 26:

Art. 24. O Conselho Tutelar exercerá exclusivamente as atribuições previstas no artigo 136 na Lei nº 8.069, de 1990,não podendo ser criadas novas atribuições por ato de quaisquer outras autoridades do Poder Judiciário, MinistérioPúblico, do Poder Legislativo ou do Poder Executivo municipal, estadual ou distrital.

Art. 25. A atuação do Conselho Tutelar deve ser voltada à solução efetiva e definitiva dos casos atendidos, com oobjetivo de desjudicializar, desburocratizar e agilizar o atendimento das crianças e dos adolescentes, ressalvado odisposto no art. 136, incisos III, alínea 'b', IV, V, X e XI, da Lei nº 8.069, de 1990.

Parágrafo único. O caráter resolutivo da intervenção do Conselho Tutelar não impede que o Poder Judiciário sejainformado das providências tomadas ou acionado, sempre que necessário.

Art. 26. As decisões do Conselho Tutelar proferidas no âmbito de suas atribuições e obedecidas as formalidadeslegais, têm eficácia plena e são passíveis de execução imediata.

O Conselho Tutelar de Picos foi criado através da Lei Municipal Nº.1721, de 12 de dezembro de 1992, tendo como instrumento legal para a criação, organização e funcionamento do Conselhos Tutelar em Picos, a Lei Municipal e o Regimento Interno, sendo que esse último propõe o funcionamento do Conselho. O Estatuto da Criança e do Adolescente, estabelece que o CT será composto de 05 (cinco) membros, escolhidos pelo voto facultativo dos cidadãos da comunidade, para um mandato de 04 (quatro) anos. Em Picos, após a criação do Conselho Tutelar,Cujas suas atribuições são de acordocom Art. 136 do Estatuto, o Conselho Tutelar é responsável pelas seguintes atribuições:

I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII;

II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no art. 129, I a VII;

III - promover a execução de suas decisões, podendo para tanto:

a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança;

IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente;

V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;

VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional; VII - expedir notificações;

VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adolescente quando necessário;

IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente;

X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Constituição Federal;

XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou suspensão do poder familiar, após esgotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos profissionais, ações de divulgação e treinamento para o reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e adolescentes. (Incluído pela Lei nº 13.046, de 2014)

Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do convívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal entendimento e as providências tomadas para a orientação, o apoio e a promoção social da família. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)

Estas atribuições são dos Conselheiros Tutelares, para que eles possam trabalhar de forma adequada, na busca de proteção da criança e ao adolescente, devendo ser aplicadas sempre que os direitos reconhecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente forem ameaçados ou violados, em razão da ação ou omissão da sociedade ou do Estado; falta, omissão ou abuso dos pais ou responsáveis e quando necessário as medidas de proteção aplicáveis pelo Conselho Tutelar são as previstas no art. 101, incisos de I ao VIII:

I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;

III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;

IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente;

V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;

VII - acolhimento institucional; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)

Sendo que a única medida do Art. 101, em que o Conselho Tutelar não pode executar, esta é uma medida exclusiva do Tribunal de Justiça é a:

IX - colocação em família substituta. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Parágrafo único. O abrigo é medida provisória e excepcional, utilizável como forma de transição para a colocação em família substituta, não implicando privação de liberdade.

§ 1º O acolhimento institucional e o acolhimento familiar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis como forma de transição para reintegração familiar ou, não sendo esta possível, para colocação em família substituta, não implicando privação de liberdade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)

§ 2º Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e das providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da criança ou adolescente do convívio familiar é de competência exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração, a pedido do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual se garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa.(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)

§ 3º Crianças e adolescentes somente poderão ser encaminhados às instituições que executam programas de acolhimento institucional, governamentais ou não, por meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela autoridade judiciária, na qual obrigatoriamente constará, dentre outros:

De acordo com os princípios do Estatuto da Criança e do Adolescente, o Conselho Tutelar é estabelecido por Lei Municipal, apesar de sua complexidade, pois de um lado tem sua origem na força da sociedade civil que defendem a proteção à Criança e ao Adolescente, por outro, ainda que explicito no Estatuto da Criança e do Adolescente dos Art. 131 a 140, ele só é executado por vontade do Poder Executivo, Municipal.

Os Conselheiros Tutelares, afirmaramque suas atividades são remuneradas, sendo um serviço público relevante com dedicação exclusiva, com carga horária diária de 8 (oito) horas e em regime de plantão, de acordo com as escalas de trabalho.

Além disso, é garantido na Lei Orçamentária Municipal previsão de recursos a serem destinados às necessidades do Conselho Tutelar, atualmente o Conselho Tutelar do município de Picos, encontra-se passando por dificuldades, anteriormente o CT ficava vinculados administrativamente a SEMTAS, as quais asseguravam condições ao adequado funcionamento do Conselho Tutelar e, incluindo local de trabalho com atendimentoseguro e

(papel, internet, linha telefônica, computadores, etc...), segundo relatos apenas de dois Conselheiros, era um período em que tinham mais resolutividade e autonomia para o desenvolvimento das atividades diárias.

Em 2014, com a mobilização do Ministério Público e os Conselhos de Direito e Tutelar, ocorre a implantação do suprimento do Fundo da Infância e Adolescência (FIA), em Picos, até então, se existia não funcionava como preconizado pela lei.

Porém em 2015, por decreto do Prefeito em exercício, o Conselho Tutelar passou a ser vinculado administrativamente ao Gabinete do Prefeito, dando um reconhecimento da importância e não um desmerecimento, considerando a prioridade da Criança e do Adolescente, apesar disso, o FIA ficou vinculado a SEMTAS e o CT e o Conselho de Direitos ao Gabinete do Prefeito. Este é o retrato atual da situação,causando assim muitos transtornos e entraves em algumas atividades que deveriam ser resolvidas e trabalhadas, nas Políticas Públicas para as Crianças e os Adolescentes dentro do município de Picos.

O Brasil de modo geral, o Estado do Piauí e, em especial, Picos,possui uma quantidade e variedade de problemas sociais que atingem suas famílias e nossas Crianças e Adolescentes, denunciam a violação de seus direitos garantidos pela lei vigente. Segundo Consoante Rosário (2002), o Conselho Tutelar assume atribuições de grande importância social porque o cuidado com o próximo e a proteção com o outro não fazem parte de nossa cultura.

Apesar das dificuldades de encontrar os dados sobre os atendimentos de Violência Doméstica no Conselhos Tutelar de Picos, que vão desde o acesso às estatísticas, a ausência de sistematização dessas informações até a não padronização do instrumental de registro dos atendimentos, segundo os parâmetros do SIPIA, é possível mapear algumas situações marcantes que demonstram a gravidade e a intensidade da problemática da violação de direitos de crianças e adolescentes do município, Dados estatísticos colhidos pelo CT em Picos/PI.

2013 2014 2015 2016

Crianças 195 151 109 149

Adolescentes 207 168 124 163

Total 402 319 233 312

Fonte: Conselho Tutelar de Picos-PI, 2016

Ao observarmos na Tabela 6 – é possível analisarmos que houve mais casos de violação dos direitos das crianças e adolescentes no ano de 2013 e que teve uma maior ocorrência em adolescentes com 207 ocorrências, já em 2015 foram registrados o menor número de casos em relação aos outros anos, totalizando 233 registros pelo Conselho Tutelar em Picos/PI. Estes dados faz um contraponto com os dados do registro do SINAN, expostos pelas Instituições de Atendimento, apresentando discrepâncias, mais vale ressaltar que os casos atendidos pelas Instituições são obrigatoriamente registrados pela saúde através do SINAN. Esse dado reflete que a saúde até cumpre com a notificação compulsória, mas não legitima o CT, pois parece não notificar ao órgão. Em relação aos dados do Conselho Tutelar, os casos que chegam são atendidos, registrados em formulários próprios do Conselho Tutelar e feitos os encaminhamentos embora com algumas dificuldades.