Ao avaliar o total de comportamentos em relação aos tipos de conseqüências, pode ser
percebido que houve maior percentual de relatos de conseqüências não identificadas. A não
identificação da conseqüência dificulta a avaliação da adequação da ação do vigilante e assim,
perpetua a forma de agir que aprendeu no curso: ações que devem ser emitidas independentes do
contexto no qual está inserido. Dessa forma, a tendência é que os vigilantes continuem agindo de
forma a executar o que aprenderam, sem questionar ou considerar as condições antecedentes e
conseqüentes decorrentes de sua ação, pois não aprenderam a avaliar em que situações devem agir
de maneira a avaliar se o que sucedeu após a ocorrência de sua ação foi uma conseqüência
adequada ou não.
Em relação aos comportamentos que se apresentam com o maior percentual de ações
seguidas de conseqüências não identificadas, pode ser identificado que são: “aumentar segurança na
(relatadas por todos os sujeitos), “relacionar-se educadamente com moradores e outras pessoas”
(relatada por todos os sujeitos, exceto B), “registrar ocorrências do condomínio” (relatada por todos
os sujeitos, exceto D) e “cuidar da segurança física dos moradores”(relatada por todos os sujeitos,
exceto C). Esses comportamentos envolvem ações relacionadas a cumprimentar moradores e
visitantes, anotar ocorrências em local apropriado (livro de ocorrências), auxiliar morador a
transportar as compras, colocar cloro na piscina e outras atividades que não estão relacionadas à
atividade de segurança física e patrimonial, orientar morador quanto a riscos, observar entrada e
saída de moradores e visitantes, entre outros.
O fato da não identificação pelos vigilantes das conseqüências das ações relacionadas a
essas atividades pode estar relacionado ao fato de em algumas escolas de formação de vigilantes
serem ensinadas apenas ações, sem considerar as relações com os aspectos ambientais envolvidos.
Dessa forma, o vigilante é ensinado a agir, independente das variáveis presentes, e as respostas
passam a ser sempre as mesmas. Ao aprender apenas o que fazer, sem aprender a considerar os
aspectos que interferem nesse fazer, o vigilante ignora alguns riscos aos quais está exposto, sem
conseguir identificar de forma eficaz as condições ambientais envolvidas, responsáveis por esses
riscos. Uma das atividades descritas pelo sujeito A é colocar cloro na piscina: no verão, o vigilante
fica responsável por manter o nível adequado de cloro na piscina. É preciso considerar que o
vigilante, para poder exercer essa atividade, desloca-se da guarita e que, durante esse período a
guarita fica sem vigilante. Aumentam, assim, os riscos de acontecerem invasões ou danos ao
patrimônio, aumentando os riscos à segurança física dos moradores e do patrimônio. O mesmo risco
acontece quando o vigilante auxilia o morador a transportar as compras, pois também a guarita fica
sem vigilância.
Do mesmo modo que o percentual de comportamentos nos quais há conseqüências não
identificadas (44% - Figura 31), é possível perceber que o percentual de relatos de comportamentos
em que são indicadas conseqüências coerentes com a função (42% - Figura 31) também é relevante.
relação aos demais tipos de conseqüências são: “conferir documentos e ou identificar
desconhecidos”, “lidar com prestadores de serviço”, “lidar com festa no condomínio”, “cuidar da
segurança das instalações do condomínio” (relatados por todos os sujeitos), “evitar barulho
excessivo no condomínio” (relatado pelos sujeitos A, D e E) e “solicitar auxílio às pessoas”
(relatado pelos sujeitos B, C e E), o que pode ser verificado na Figura 32. Esses comportamentos
envolvem situações ambientais relacionadas a regras e punições definidas para organizar a
convivência entre os moradores e demais pessoas que circulam pelo condomínio.
A Figura 31 mostra que os sujeitos A (24%), E (21%) e C e D (19%) apresentam com os
maiores percentuais de indicação de classes de comportamento. O sujeito B apresentou o menor
percentual de indicação de classes de comportamento (17%).
A conseqüência não identificada (Sº) foi a mais indicada pelos sujeitos, sendo o maior
percentual desse tipo de conseqüência relatado pelos sujeitos E (12%), B (9%) e C (com 8%). O
sujeito A relatou que 8% das respostas tiveram conseqüências não identificadas e o menor
percentual foi apresentado pelo sujeito D (7%).
A conseqüência coerente com a função (S+) apresenta um percentual próximo ao de
conseqüência não identificada (Sº), sendo o maior percentual desse tipo de conseqüência relatado
pelo sujeito A (13%) e o menor pelo sujeito B (5%). Os sujeitos D, E e C apresentaram os
percentuais 9%, 8% e 7%, respectivamente.
A conseqüência contrária à função (S-) apresentou o menor percentual de indicações
(14%), sendo o maior percentual desse tipo de conseqüência apresentado pelos sujeitos C (4%), A,
B e D (3%). O menor percentual de conseqüência contrária à função foi apresentado pelo sujeito E
13 3 8 42 14 44 5 3 9 7 4 8 9 3 7 8 1 12 0 10 20 30 40 50 S + S - S o S + S - S o S + S - S o S + S - S o S + S - S o S + S - S o
S uj. A S uj.B S uj.C S uj.D S uj.E T OT AL
T ipos de c ons equênc ias por s ujeito e total de c ada tipo de c ons equênc ia P o rc en ta g em d e o co rr ên ci as
Figura 31. Distribuição das porcentagens dos tipos de conseqüências (S+, S- e Sº) por sujeito (A,
B, C, D, E).
A Figura 32 apresenta as classes gerais de comportamento e respectivas porcentagens de
ocorrência de cada uma delas com os tipos de conseqüência (S+, S- e So) relatados pelos vigilantes
patrimoniais. As classes gerais de comportamento que apresentam maior percentual de sub-classes
de comportamento são “Garantir segurança às instalações do condomínio” com 22,4%,
distribuídos em 11,6% de conseqüências coerentes com a função (S+), 8,6% de classes com
conseqüências não identificadas (So) e 2,2% de conseqüências contrárias à função (S-); “Aumentar
segurança na entrada do condomínio” com 19%, distribuídos em 13% de classes com
conseqüências não identificadas (So), 4% de classes com conseqüências coerentes com a função
(S+) e 2% de conseqüências contrárias à função (S-); “Garantir segurança física aos moradores”
com 14,5%, distribuídos em 8,2 % de classes com conseqüências não identificadas (So), 4,1% de
classes com conseqüências coerentes com a função(S+) e 2,2% de conseqüências contrárias à
função (S-); “Lidar com prestadores de serviço” com 8,5%, distribuídos em 6% de conseqüências
coerentes com a função (S+), 2% de classes com conseqüências não identificadas (So) e 0,7% de
conseqüências contrárias à função (S-); “Conferir documentos e ou identificar desconhecidos”
1,1% de conseqüências contrárias à função (S-) e 0,3% de classes com conseqüências não
identificadas e “Lidar com festa no condomínio” com 6%, distribuídos em 4,9% de conseqüências
coerentes com a função (S+), 1,1% de classes com conseqüências não identificadas.
As demais classes gerais de comportamento aparecem com valores percentuais inferiores a
5% e são: “Evitar barulho excessivo no condomínio” com 4,9%, distribuídos em 2,6% de
conseqüências coerentes com a função (S+), 1,5% de conseqüências contrárias à função (S-) e
0,7% de classes com conseqüências não identificadas; “Realizar atividades não relacionadas à
segurança do condomínio “com 4,7%, distribuídos em 3,3% de classes com conseqüências não
identificadas (Sº), 1,1 % seguidas de conseqüências contrárias à função (S-) e 0,3 % de classes com
conseqüências coerentes com a função (S+); “Relacionar-se educadamente com moradores e
outras pessoas” com 3,3%, distribuídos em 2,6% de classes com conseqüências não identificadas
(Sº), 0,7% de conseqüências coerentes com a função (S+); “Solicitar auxílio às pessoas” com
2,9%, distribuídos em 2,6% de conseqüências coerentes com a função (S+), 0,3% de classes com
conseqüências não identificadas (Sº); “Cuidar do patrimônio físico” com 2,5%, distribuídos em
1,1% seguidas de conseqüências contrárias à função (S-), 0,7% de conseqüências coerentes com a
função (S+) e 0,7% de classes com conseqüências não identificadas (Sº); “Registrar ocorrências do
condomínio” com 2,3%, distribuídos em 2% de classes com conseqüências não identificadas (Sº),
0,3% de conseqüências coerentes com a função (S+); “Informar situações ao síndico ou ao
responsável pela segurança do condomínio” com 1,4%, distribuídos em 0,7% de conseqüências
coerentes com a função (S+), 0,7% de classes com conseqüências não identificadas (Sº);
“Atividades que aumentam os riscos aos moradores” com 0,6%, distribuídos em 0,3% seguidas de
conseqüências contrárias à função (S-), 0,3% de classes com conseqüências não identificadas (Sº);
“Negar ajuda a morador” com 0,3%, distribuídos em 0,3% seguidas de conseqüências contrárias à
0 4 4,5 0,7 2,6 11,6 4,1 0,7 4,9 6 0 0,3 0,3 0,7 2,6 0,3 2 1,1 1,1 1,5 2,3 2,3 0 0 0,7 0,3 1,1 0 0 0 0,3 13 0,3 0,7 0,7 8,6 8,2 0,7 1,1 2,2 0 3,3 2 2,6 0,3 0 5 10 15
Atividades que aumentam os riscos aos moradores Aumentar segurança na entrada do condomínio Conf erir documentos e ou identif icar desconhecidos Cuidar do patrimônio f ísico Evitar barulho excessivo
no condomínio Garantir segurança às instalações do condomínio
Garantir segurança f ísica aos moradores Inf ormar situações ao síndico ou ao responsável
pela segurança do condomínio Lidar com f esta no
condomínio Lidar com prestadores de
serviço Negar ajuda a morador Realizar atividades não relacionadas à segurança do condomínio Registrar ocorrências do condomínio Relacionar-se educadamente com moradores e outras pessoas Solicitar auxílio às pessoas
Sº
S-
S+
Figura 32. Representação percentual dos tipos de conseqüências que se seguiram às classes de
3.6 Novas investigações são necessárias para verificar possíveis relações entre as dificuldades