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2.6 Síndrome de Burnout

2.6.2 Consequências do burnout

As experiências proporcionadas pelo stress/burnout podem provocar no indivíduo respostas fisiológicas, cognitivo-afetivas e comportamentais, e no que respeita ao burnout, conclui-se que a sua aparição pode produzir sérios problemas para os trabalhadores, para os clientes e para a própria instituição.

No primeiro trabalho realizado sobre o síndrome de burnout, Freudenberger (1974, cit. in Gil-Monte & Peiró, 1997) assinalou que os indivíduos ‘atacados’ pela síndrome caracterizam-se por manifestações de sentimentos de cansaço e fadiga, enxaquecas frequentes, alteração gastrointestinais, insónias, alterações respiratórias, facilidade em se aborrecerem, frustram-se com frequência, da mesma forma que lhes custa a reprimir as suas funções, gritam facilmente, mostram-se inflexíveis, negam-se a verbalizar os seus problemas, entre outras características.

No que respeita ao âmbito organizacional Firth, Mcintre, McKeown e Brittan (1986, cit. in Gil-Monte & Peiró, 1997) assinalam que as consequências a este nível também se traduzem em atitudes negativas face aos sujeitos que constituem o seu objetivo de trabalho e sobre o próprio trabalho, como absentismo, o uso de álcool e o abuso de outras drogas, pessimismo, apatia, escassa ou nula motivação laboral, baixa implicação laboral, irritabilidade face aos colegas e aos destinatários do seu trabalho, preocupação excessiva pelo conforto e o bem-estar laboral, tendência a racionalizar os fracassos e a culpar os outros, resistência à mudança, crescente rigidez e baixa criatividade.

Gil-Monte e Peiró (1997) referem, que partindo destes e outros trabalhos efetuados no sentido de se conhecer as consequências do burnout, estas podem-se agrupar em dois tipos: consequências para os indivíduos e consequências para a organização. As consequências para o indivíduo referem-se, sobretudo, a um deterioramento da saúde dos profissionais e das suas relações interpessoais fora o âmbito laboral.

No caso concreto dos professores, as consequências do burnout não se manifestam apenas no campo pessoal/profissional, mas também no contexto escolar e na relação com os alunos. Quando os professores adotam atitudes negativas, estas podem catalisar uma deterioração na qualidade da relação professor-aluno (Farber, 1991; Rudow, 1999 cit. in Carlotto, 2002).

2.6.2.1 Consequências para a saúde – Manifestações Psicossomáticas

A análise dos sintomas que surgem na literatura como sendo os mais relacionados com o burnout, permite afirmar que aparecem implicados a todos os sistemas do organismo. Um dos estudos correlacionais mais explícitos entre a falta de saúde e a síndrome de burnout, foi realizado por Galembiwsk et al (1986, cit. in Gil-Monte & Peiró, 1997), em que os autores aplicaram o Maslach Burnout Inventory (MBI) para averiguar a síndrome de burnout e para avaliar a falta de saúde num conjunto de 19 sintomas agrupados em quatro fatores definidos como: agitação, debilitação, problemas do tipo cardiovascular e problemas de sono. A amostra utilizada era constituída por 1535 trabalhadores da administração pública do Canadá. Os resultados obtidos permitiam verificar que as três dimensões que caracterizam o burnout estavam significativamente relacionadas com o conjunto de sintomas referido, em que os sentimentos de esgotamento emocional alcançaram o índice de correlação mais intenso, seguindo-se as atitudes de despersonalização e, por último, a falta de realização pessoal.

Assim, e tendo em conta outros dados obtidos em estudos similares, pode-se concluir que se manifestou uma tendência de associação entre a síndrome de burnout e a falta de saúde, independentemente dos instrumentos, das amostras e das nacionalidades das mesmas.

2.6.2.2 Consequências sobre as relações interpessoais e extralaborais

As consequências da síndrome de burnout sobre as relações interpessoais, associam-se a atitudes e comportamentos de caracter negativo desenvolvidos pelos sujeitos (e.g. não verbaliza, cinismo, agressividade, isolamento, irritabilidade, etc.), assim como, o esgotamento emocional. Desta forma, este padrão de conduta induz a um deterioramento das relações e uma tendência de aumento dos conflitos interpessoais.

Em diferentes estudos os sujeitos que experimentam a síndrome de burnout indicam que têm um grande número de conflitos familiares. E de uma forma empírica verifica-se que altas pontuações nas escalas do Maslach Burnout Inventory (MBI) associam-se significativamente com um maior número de tensões em torno da vida familiar, tanto de carácter emocional como comportamental.

Maslach (1982, cit. in Gil-Monte & Peiró, 1997) refere que as consequências do

burnout não terminam quando o sujeito deixa o trabalho, pelo contrário, afetam a sua vida

privada, em que levados por uma atitude de isolamento e de falta de verbalização, evitam falar das suas preocupações laborais e recusam-se, igualmente, a discutir os problemas familiares, o que gera barreiras e uma convivência aberta e sincera, dando a sensação de que o indivíduo amplia a sua situação laboral para a familiar, comportando-se constantemente como um profissional. Uma outra consequência que tem impacto sobre a família tem a ver com a insensibilidade do sujeito como a consequência das atitudes de despersonalização. Pode, também, ocorrer casos em que o profissional se envolve completamente, desprezando, deste modo, as relações ao nível familiar, deixando-as para segundo plano.

2.6.2.3 Consequências para a organização

As consequências mais importantes e que se repercutem no seio da organização, devido ao burnout, são fundamentalmente uma baixa satisfação laboral, o absentismo laboral elevado, a propensão para o abandono do posto e/ou da organização, baixa implicação laboral, assim como um baixo interesse pelas atividades desenvolvidas a nível profissional, o deterioramento

da qualidade do serviço da organização, um aumento dos conflitos interpessoais com chefias, colegas e clientes da organização, aumento da rotação laboral e um aumento dos acidentes de trabalho (Gil-Monte & Peiró, 1997).

2.6.2.4 Baixa Satisfação Profissional

De

acordo com Peiró, Luque, Meliá e LosCertales (1991, cit. in Gil-Monte & Peiró, 1997) a satisfação laboral de uma forma sintética pode dar-se quando as pessoas têm uma ideia mais ou menos definida acerca de como creem que deveriam ser as coisas no seu trabalho e os aspetos importantes relacionados com ele. As pessoas sabem do que gostam e como gostariam que fossem as coisas. Estas ideias são comparadas com a realidade e dessa comparação surge um juízo e uma atitude associada: as pessoas estão mais ou menos satisfeitas.

De acordo com Maslach e Leiter (2008, cit. in Vladut & Kállay, 2010) a síndrome de

burnout tem uma relação significativa com a satisfação laboral e no que respeita às três

dimensões que caracterizam a síndrome a satisfação está negativamente relacionada com os sentimentos de esgotamento emocional e de despersonalização e, positivamente, com os de realização pessoal.

2.6.2.5 Propensão para o abandono da organização

A relação entre o burnout e a propensão para o abandono da organização é significativamente positiva, e quanto às dimensões da síndrome, a propensão para o abandono da organização está positivamente relacionada com os sentimentos de esgotamento emocional e de despersonalização e negativamente com os sentimentos de realização pessoal (National Institute for Occupational Safety and Health, 2002).

O abandono da organização por parte dos seus colaboradores tem importantes consequências, negativas, para a mesma. Entre essas consequências podemos incluir custos económicos, perda de eficácia e eficiência da organização no alcance dos seus objetivos, alterações nas redes de comunicação, implantação inadequada de políticas organizacionais, entre outras.

Segundo Carlotto (2002) os professores com altos níveis de burnout pensam com frequência em abandonar a profissão. Em alguns casos os professores abandonam a sua profissão antes da idade legal como forma de lidar com a exaustão emocional. Já os que ficam

apresentam níveis de produtividade muito abaixo do seu potencial, evidenciando problemas na qualidade do trabalho (Maslach & Goldberg, 1998, cit. in Carllotto, 2002).

2.6.2.6 Absentismo Laboral

Os elevados níveis de absentismo constituem uma das principais consequências da síndrome de burnout no trabalho.

A relação entre o burnout e o absentismo, encontra-se teoricamente justificada. Os autores Maslach e Jackson (1981) e Maslach e Leiter (2008, cit. in Vladut & Kállay, 2010) afirmam que existe uma relação significativa do burnout com o absentismo.

2.6.2.7 Deterioração da Qualidade do Serviço da Organização

A deterioração da qualidade do serviço como consequência do burnout deriva de componentes atitudinais e sobretudo das atitudes de despersonalização. Verifica-se que a diminuição da satisfação e da motivação laboral, juntamente com o deterioramento do rendimento dos profissionais no trabalho, especialmente com a qualidade deste, e o incremento da frustração, pode condicionar o desenvolvimento de atitudes pouco positivas e de desinteresse. Assim, verifica-se que os profissionais tendem a tratar os seus clientes/alunos como objetos e problemas e não como seres humanos, e desta forma, a qualidade do serviço pode deteriorar-se consideravelmente (Gil-Monte & Peiró, 1997).

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