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Capítulo 4. Funcionamento da ETAR

4.4. Consequências Negativas dos Problemas Detetados

Após identificação dos problemas que provocam instabilidade na operação da ETAR, faz-se uma análise do seu impacto, a nível ambiental, em relação à própria empresa de exploração e aos técnicos responsáveis.

(1) Caudal afluente à ETAR

Um dos principais problemas observados na ETAR é incapacidade no tratamento de caudais afluentes acima de um determinado intervalo de valores, provocando o transbordo do reator biológico, e o arraste de lama nos decantadores. Esta situação prejudica o tratamento por microfiltração nos tamisadores, levando à acumulação de lamas na água de reutilização para as lavagens de serviço. Contudo, uma das estratégias que os responsáveis adotam para minimizarem esses efeitos negativos, é o aumento do set-point máximo do Canal de Parshall, de modo a que a descarga aconteça no trop-plein do poço do pré-tratado, para desta forma se efetuar o pré- tratamento ao caudal afluente, evitando que a descarga contenha elevada quantidade de sólidos

Capítulo 4. Funcionamento da ETAR 55 suspensos e gorduras. Esta situação crítica poderá estar relacionada com o dimensionamento das bombas submersíveis, que elevam o caudal para o reator biológico, ou com problemas na admissão do caudal através da entrada submersa no compartimento periférico do tanque biológico.

(2) Tanque de desarenamento/desengorduramento

A insuficiência verificada na remoção da areia pelas bombas de membrana dupla, pode ser devida à pressão de sucção não ser suficiente para remover a areia depositada. A acumulação de areia, exige uma manutenção regular em termos de limpeza/desobstrução dos tanques, envolvendo custos mais elevados para a empresa.

(3) Digestor aeróbio de gorduras

Como o digestor de gorduras não se encontrar a funcionar (Figura 24), as gorduras após encaminhadas por gravidade para o poço onde deveria ocorrer a sua digestão, são bombeadas para a estação elevatória da água residual pré-tratada, tendo que ser retiradas manualmente pelo operador. A imagem da Figura 25 mostra a acumulação de gorduras no poço do pré-tratado.

Esta acumulação de gordura pode ser considerada insignificante, pois não está a afetar a qualidade do efluente tratado.

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Figura 24. Digestor aeróbio de gorduras. Figura 25. Acumulação de óleos e gorduras na Estação

Elevatória do esgoto pré-tratado.

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(4) Tratamento biológico

Observa-se que a valas de oxidação, apresentam um excesso de lamas, escuras e estáveis à sua superfície (Figura 26). Como causas aparentemente mais prováveis, poderá indicar uma elevada idade das lamas, assim como o tempo de retenção hidráulica.

A variação da idade das lamas irá modificar todo o processo de desempenho do sistema de lamas ativadas, incluindo as taxas de nitrificação, a produção de lamas, a sua estabilidade e a taxa de consumo de OD [28]. É necessário uma idade das lamas elevada neste tipo de tratamento, por causa do alcance de determinados objetivos específicos como a nitrificação, no entanto se for excessiva pode resultar em problemas relacionados com a separação sólido-líquido nos decantadores e os custos de arejamento são mais elevados para manter o excesso de biomassa.

(5) Tanque de água filtrada para reutilização

Os problemas relacionados com a água filtrada para reutilização têm a ver com o caudal bombeado não ser suficiente para suprir todas as necessidades de utilização e com a paragem do grupo hidropressor, quando as lamas atingem a cisterna de armazenamento. Esta situação prejudica o tratamento de lamas, já que o filtro banda e o espessador mecânico, sem lavagem regular da tela filtrante não podem funcionar.

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(6) Desidratação das lamas

As interrupções verificadas com o funcionamento do filtro banda afetam o processo de purga e consequentemente a recirculação, que terá que ser aumentada para evitar um aumento excessivo no manto de lamas dos decantadores. Este facto prejudica o sistema, aumentando mais a concentração de MLSS no reator, acumulando lamas “velhas”. No entanto, as lamas devem ser removidas frequentemente, para manter um nível de MLSS constante no sistema [22].

(7) Corrosão em superfícies metálicas

A água residual urbana apresenta uma composição propícia à formação de odores, uma vez que inclui proteínas, hidratos de carbono, óleos, gorduras e ureia [3]. A hidrólise, oxidação ou decomposição microbiológica podem originar compostos com odores indesejáveis [29]. Segundo Joher et al. (1996) [30], Walsh (1996) [31], Vincent (2001) [32] e Karageorgos et al. [27], a ocorrência de odores desagradáveis numa ETAR está associada à presença, predominante, de amoníaco (NH3), sulfeto de hidrogénio (H2S); mercaptanos (mercaptano de metilo (CH3 SH));

aminas (metilaminas, etilaminas, escatol e indol) e ácidos gordos voláteis (como o ácido fórmico, acético e butírico).

(8) Lamas na superfície dos decantadores

O aparecimento de pequenas partículas, semelhantes a cinza flutuante na superfície do decantador secundário pode ser atribuído a um fenómeno conhecido por ashing. Esta ocorrência é geralmente devido a células mortas, lama e partículas de gordura, tendo como causas prováveis [33]: a ocorrência da desnitrificação no clarificador; a razão F/M muito baixa; e o licor misto com um teor invulgar de gordura.

Se os níveis de OD forem suficientemente baixos e se existir alguma matéria orgânica disponível, ocorrerá a desnitrificação, produzindo o azoto como subproduto. Este gás é pouco solúvel em água, formando bolhas gasosas, que causam a ascensão das lamas ativadas no decantador [9]. Os problemas de desnitrificação são mais acentuados durante os meses mais quentes, podendo ser mais graves se as lamas filamentosas estiverem presentes, devido à possibilidade de aprisionamento de bolhas de azoto nestas lamas [9].

Capítulo 4. Funcionamento da ETAR 58 Segundo Tim Hobson (2009) [17], este fenómeno ocorre devido à idade das lamas ser bastante elevada. Estas lamas podem provocar o aparecimento de partículas finas em suspensão (pin floc), podendo resultar num efluente turvo [13]. Estas suposições podem ter como consequência, a saída de lamas com o efluente decantado, ultrapassando os parâmetros de qualidade em termos de SST. Contudo, lamas flutuantes de quantidade relativamente reduzida tal como o caso da ETAR, podem ser facilmente controladas pelos septos existentes nos decantadores que excluem a saída das lamas com efluente.