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5 DISCUSSÃO

5.3 CONSERVAÇÃO DA ESPÉCIE

Como foi apontado anteriormente, a faixa de distribuição da espécie alterou e vem contraindo desde o LGM, além do habitat natural de S. adstringens ter sido bastante

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fragmentado nas últimas décadas. Devido a isto, há uma tendência de que a diferenciação genética entre as subpopulações aumente ainda mais, pois o fluxo gênico não parece ser suficiente para manter a conexão entre elas. Embora o barbatimão tenha uma ótima adaptação ao fogo e consiga se estabelecer em regiões degradadas, é necessário mitigar as ações de desmatamento do Cerrado, para que esta e tantas outras espécies não sofram perdas de diversidade genética. As ações antrópicas, associadas às mudanças climáticas, impactam diretamente na biologia das espécies, especialmente endêmicas, impedindo-as de se adaptarem e colonizarem novos ambientes (Velazco et al., 2019).

As mudanças climáticas no futuro não são muito otimistas para a espécie, como observado em dados de modelagem de nicho (Barbosa et al., 2019) e de filogeografia (Braga, 2019), assim como revelado no presente estudo. O aumento da temperatura não deve causar a extinção de S. adstringens (Figura 15), entretanto o cenário RCP 4.5 apresenta um possível risco à sobrevivência da espécie em alguns locais. É importante destacar que a modelagem fornece apenas estimativas, entretanto, os modelos preditivos não indicam uma expansão da espécie ao longo do espaço geográfico, mas sim, reduzem as áreas de adequabilidade para a porção sudeste do Cerrado (Barbosa et al., 2019), que pode não fornecer as condições ideais para o estabelecimento da espécie. Dessa forma, as estratégias de conservação in situ devem ser prioridade e, quando não for possível, a conservação ex situ é uma ótima alternativa, caso as condições de cultivo sejam adequadas. Como destacado nesta tese, a maioria das subpopulações avaliadas não estão localizadas em áreas de proteção ambiental e algumas delas, inclusive, pertencem a regiões bastante degradadas pela agropecuária. Por isto, é necessário lançar mão de programas de conservação e melhoramento, a fim de garantir a manutenção da diversidade genética de S. adstringens.

Pensando em S. adstringens como uma espécie de interesse econômico e, portanto, um valioso recurso genético, é importante traçar estratégias eficientes para a conservação e uso desta espécie, pensando não somente na dinâmica evolutiva, mas também na interação ecológica desta com outras espécies. Como mencionado anteriormente, o barbatimão manifesta um baixo sucesso reprodutivo (Ortiz et al., 2003), além de sofrer alta incidência de ataques de insetos a suas sementes, comprometendo o estabelecimento dos indivíduos (Corrêa, 2007). Todas essas questões, em conjunto com as mudanças climáticas, devem ser levadas em consideração para que um programa de melhoramento logre êxito.

A produção de taninos é o alvo do setor econômico, principalmente visando o desenvolvimento de fitoterápicos. As concentrações desses polifenóis nas plantas são

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diretamente relacionadas com temperatura e a precipitação (Santos et al., 2006; Corrêa et al., 2012; Zhang et al., 2019). Dessa forma, o aumento da incidência desses fatores ambientais pode afetar a produção dessas substâncias. Além disto, vale ressaltar que esses mesmos fatores são responsáveis pela perda de adequabilidade em algumas áreas de distribuição da espécie (Barbosa et al., 2019). Assim, as subpopulações localizadas na porção ocidental do Cerrado precisam de uma maior atenção no que concerne às medidas de conservação. Informações mais robustas poderão ser levantadas a partir da identificação de regiões gênicas e marcadores SNP (Polimorfismo de Nucleotídeo Único ou Single Nucleotide

Polimorphism) que estejam relacionados à produção de metabólitos secundários em

barbatimão (Souza, 2019). Abordagens como essa, aliadas a estudos de genética quantitativa, podem fornecer informações mais concretas sobre os efeitos da seleção natural sobre os caracteres adaptativos e, consequentemente, sobre aspectos evolutivos que não foram tratados neste estudo.

Iniciativas para conservação ex situ da espécie já foram tomadas (veja Corrêa et al., 2012), abrangendo regiões geográficas que não foram avaliadas nesta tese. Neste sentido, as subpopulações que foram apontadas como prioritárias para a conservação de S.

adstringens, com exceção de CRIGO (que já possui exemplares na RPPN EcoCerrado),

podem servir como uma complementação à variabilidade genética preservada nessa coleção de germoplasma, sendo indicadas para coleta de sementes e futura implementação. Adicionalmente, as subpopulações indicadas como prioritárias tais como TERGO, POSGO, MOSGO e CRIGO estão localizadas em áreas ameaçadas pelas mudanças climáticas, em regiões de perda de adequabilidade. Ademais, CHCGO se destacou com a maior frequência de alelos privados. Todas essas regiões indicadas, além de complementar a conservação ex

situ, são importantes para implementação de conservação in situ. Além disto, BAMMG foi

a única subpopulação de Minas Gerais a ser indicada como prioritária (Figura 16).

Como medidas de conservação são muito onerosas e nem sempre é possível garantir a conservação in situ de recursos genéticos, pode-se recorrer a um menor número de áreas a serem protegidas. Como TERGO encontra-se às margens do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, consequentemente está sendo conservada in situ e, portanto, não seria necessário coletar sementes dessa localidade para fins de conservação ex situ. Assim, sugere-se priorizar as subpopulações com maior número de alelos privados, tais como CHCGO, MOSGO e POSGO, a fim de garantir uma maior variabilidade genética na coleção de germoplasma já existente ou em futuras.

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Em síntese, este estudo trouxe alguns esclarecimentos quanto à distribuição da diversidade genética em S. adstringens, tanto a nível histórico e, principalmente, em escala contemporânea. As subpopulações aqui avaliadas apresentaram alta estruturação genética que sofre influência de componentes geográficos e climáticos, bem como de fatores microevolutivos. Padrões semelhantes foram encontrados para outras espécies da mesma família e que se encontram no Cerrado, tais como baru (Collevatti et al., 2013) e jatobá-do- cerrado (Braga et al., 2019). Os padrões encontrados para essas espécies contam histórias importantes sobre o bioma, pois cada uma manifesta padrões de distribuição diferentes e, mesmo assim, tiveram respostas semelhantes no decorrer do tempo, provavelmente devido às mesmas pressões seletivas e efeitos de deriva genética e fragmentação da paisagem, que podem comprometer a persistência das espécies vegetais a longo prazo (Collevatti et al., 2013). Além disto, os níveis de diversidade genética e sua distribuição nas populações podem ser reconfigurados ou até mesmo haver perda de polimorfismos caso não sejam tomadas medidas eficientes para conservação e manejo, principalmente considerando as subpopulações que se encontram em regiões de baixa adequabilidade ambiental no futuro. Para tanto, foram sugeridas áreas importantes para coleta e conservação de germoplasma a curto e longo prazos, que serão ferramentas valiosas para o melhoramento genético da espécie e manejo mais eficiente, garantindo altos níveis de diversidade genética em S.