• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II: CONSERVAÇÃO DOS SOLOS

II. 3 3 Conservação do Solo e Alterações Climáticas

O recurso solo, tal como anteriormente referido, consiste num elemento de enorme importância para o sistema climático. O combate à degradação do solo através da adoção de medidas de conservação, bem como a recuperação de áreas degradadas poderá desempenhar um papel fundamental para a Humanidade, no que diz respeito aos mecanismos responsáveis pelas mudanças climáticas.

De acordo com os relatórios realizados pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), pode-se constatar que os cenários de previsões são alarmantes e que urge a necessidade de proceder à aplicação de medidas práticas que contribuam para a diminuição desta ameaça ambiental e socioeconómica.

Figura 22 - Alteração da temperatura do ar de superfície e de precipitação (Extraído de

http://echanges.fc.ul.pt/projetos/adaptforchange/docs/AVizinho_AdaptForChange_Mertola_18Nov.pdf )

Portugal não é exceção, “é preciso preparar Portugal para um futuro

necessariamente diferente e dotar toda a população e os decisores da informação e conhecimento necessários para garantir a viabilidade do território, das condições de vida da população e da Natureza” (Liga para a proteção da Natureza [LPN], 2014, p. 1).

As previsões apontam para o aumento da temperatura média anual e da frequência de ocorrência de fenómenos extremos, tais como seca, cheias, riscos de incêndio. Relativamente a Portugal evidenciam o aumento da temperatura média anual, especialmente das máximas, originando o aumento da intensidade e frequências de onda de calor e frio, aumento do risco de incêndios. Diminuição da precipitação média anual, menor probabilidade de ocorrência de fenómenos de precipitação ao longo do ano facilitando o aumento e frequência e intensidade das secas. Verifica-se ainda o aumento da subida do nível médio da água do mar e maior frequência dos fenómenos extremos.

O aumento das temperaturas pode causar a perda de humidade de solo e consequente perda de vegetação, contudo este aumento de temperaturas pode proporcionar noutras áreas um aumento de vegetação, o que permite ao solo melhorar a sua função de captador e reservatório de carbono. No entanto o aumento da temperatura (figura 22) e do período de luz solar vão provocar impactes no ciclo de vida da vegetação e da sua capacidade de realizar a fotossíntese, causando assim consequências a nível de fertilidade dos solos.

A diminuição da frequência de períodos de precipitação e aumento da frequência de fenómenos de seca extrema, podem causar secagem dos solos, ficando mais suscetíveis à erosão, provocando a libertação de gases com efeito de estufa que nele estavam armazenados.

Assim, a adoção de práticas de conservação e a recuperação de áreas degradadas podem contribuir para a mitigação das alterações climáticas. Podem ser a reflorestação, em conjunto com a adequação das culturas ao solo. O combate às alterações climáticas pode contribuir não só para proteger e preservar o solo, mas também para capturar e reservar o carbono (Carbono orgânico do solo, COS), uma vez que a previsão é o aumento de emissões de CO2 (figura 23). Estas medidas permitem ainda o aumento da

humidade, podendo até criar microclimas, permitindo reduzir os impactes e vulnerabilidade aos fenómenos extremos.

Figura 23 - Evolução da Temperatura e CO2 (Extraído de

http://echanges.fc.ul.pt/projetos/adaptforchange/docs/AVizinho_AdaptForChange_Mertola_18Nov.pdf )

O regresso à adoção de métodos tradicionais agrícolas contribui para uma menor ou quase nula lavoura do solo, uma maior diversidade de culturas ao invés das atuais monoculturas e a utilização de estrume, contrariando assim os efeitos devastadores causados pela utilização de fertilizantes químicos.

A mobilização dos solos deve ser realizada perpendicularmente ao declive contribuindo para a diminuição dos riscos de erosão, aumentar a capacidade de absorção de água, e diminuir a necessidade de rega. Os socalcos tradicionais constituem um bom exemplo visto que contribuem não só para a preservação do recurso solo, mas também para uma maior e melhor capacidade de absorção de água. O recurso à sementeira direita em que a mobilização mecânica é mínima ou praticamente nula, consiste numa medida que previne a erosão e aumenta a presença de humidade do solo através da diminuição da evaporação.

Por sua vez, quanto mais complexo e diversificado for um ecossistema, maior é a sua capacidade de resiliência, perante diversos fenómenos extremos, uma vez que os diferentes elementos presentes no sistema através das suas funções contribuem para o equilíbrio do mesmo. A escolha de espécies a cultivar desempenha também um papel

fulcral. “Os sistemas mistos, globalmente designados por agroflorestais, que combinam

árvores com culturas ou pastagens, podem dar um contributo positivo para satisfazer os requisitos mencionados e promover uma agricultura sustentável na Europa do futuro”,

(Eichhorn et al., 2006 apud Martins, 2015, p. 42. Assim a opção por espécies silvestre do mediterrâneo e espécies cujas características vão de encontro aos novos cenários climáticos, reduz a vulnerabilidade das explorações agrícolas.

A cobertura vegetal proporciona não só a proteção do solo em relação à erosão hídrica e eólica, como melhora a disponibilidade de água, pois esta reduz a ocorrência de fenómenos de evaporação.

A conservação dos solos revela-se fundamental como medida de adaptação e mitigação às alterações climáticas, uma vez que a gestão e utilização do solo tem consequências diretas e indiretas na suscetibilidade e risco aos diferentes cenários de alterações climáticas. Desta forma, é essencial proceder ao aumento de matéria orgânica viva, bem como regenerar o solo, combatendo os impactes erosivos e climáticos, contribuindo para uma maior capacidade de resiliência por parte das populações.

Figura 24 - Capacidade de adaptação às alterações climáticas, impacte potencial das alterações

climáticas, potencial de vulnerabilidade às alterações climáticas (da esquerda para a direita). (Extraído de https://www.srgbennett.com/blog/)

Documentos relacionados