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Conservação e Restauro no século XX – funcionalidades (III Fase)

II. 1.1.3.2 O Palácio Real de Queluz e o Palácio Real do Alfeite

II.1.3. Conservação e Restauro no século XX – funcionalidades (III Fase)

O início do século XX ficou marcado por acontecimentos revolucionários relevantes, sendo exemplo supremo a Proclamação da República em 5 de Outubro de 1910.

279Acta nº 29 da Câmara dos Senhores Deputados de 16 de Junho de 1908, consultada e retirada do site http://debates.parlamento.pt/page.aspx?cid=mc.cp2 em 17 de Setembro de 2008; “… No Alfeite, que é

uma bella e rendosa propriedade, gastaram-se em 1897-1898, pagando o Ministério das Obras Públicas, 32.327$885 réis. Do Alfeite tirava o rei D. Carlos, proveniente da venda de areias 4:5000$000 réis, e isto o levava a não consentir que se prolongasse o caminho de ferro do Barreiro a Cacilhas, com medo que lhe estragassem o commercio (…)”.

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Este processo revolucionário foi determinante também para o futuro do Palácio Real do Alfeite e suas propriedades.

Para analisarmos as transformações ocorridas nesse período no Palácio Real do Alfeite devemos examinar minuciosamente a documentação e plantas do Arquivo da Torre do Tombo.

Perscrutámos igualmente o Arquivo Histórico do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, o Arquivo do Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana (ex-DGEMN) e o Arquivo da Direcção de Infraestruturas da Marinha.

Este capítulo termina com a extinção da CANIFA. Fica por estender este estudo às campanhas realizadas sob a direcção da Marinha, permitindo aproximar o estudo académico do actual edifício.

II.1.3.1. Ministério da Fazenda

Em 1910, o rumo do Palácio Real do Alfeite e das suas propriedades muda substancialmente, devido ao advento da República e consequente apropriação dos bens reais pelo Ministério das Finanças.281

O Palácio Real do Alfeite e as suas propriedades são, desta forma, entregues ao Ministério do Fomento, para que a sua exploração passasse a ser feita pela Direcção- Geral da Agricultura. 282

A parte agrícola da Quinta do Alfeite, incluindo as suas dependências, oficinas, gado e alfaias agrícolas, é anexa à estação agronómica.283

281

Decreto do Diário do Governo. Nº 33 de 1910-11-12, p. 382.

282

Decreto do Diário do Governo Nº 193 de 1911-8-19, p. 3504; Acta nº 21 da Câmara dos Deputados de 27 de Dezembro de 1911, p.26, Acta nº 118 da Câmara dos Deputados de 24 de Maio de 1912, p.7, Acta nº 125 da Câmara dos Deputados de 01 de Junho de 1912, pp.12-14, Acta nº 126 da Câmara dos Deputados de 03 de Junho de 1912, p.6, Acta nº 127 da Câmara dos Deputados de 04 de Junho de 1912, p.3, Acta nº 128 da Câmara dos Deputados de 05 de Junho de 1912, p.1 e 11, Acta nº 138 da Câmara dos Deputados de 19 de Junho de 1912, p.20, Acta nº 140 da Câmara dos Deputados de 21 de Junho de 1912, p.1 e 4, Acta nº 67 da Câmara dos Deputados de 08 de Abril de 1913, p.12, 15 e 25, Acta nº 105 da Câmara dos Deputados de 21 de Abril de 1913, p.24, 59, 60, 63, 72 e 73, Acta nº 43 da Câmara dos Deputados de 26 de Fevereiro de 1914, p.11, Acta nº 106 da Câmara dos Deputados de 26 de Maio de 1914, pp.8-9, Acta nº 127 da Câmara dos Deputados de 25 de Junho de 1914, p.14 Acta nº 113 do Senado da República de 18 de Junho de 1912, p.8, Acta nº 122 do Senado da República de 25 de Junho de 1912, pp.17-18, consultadas e retiradas do site http://debates.parlamento.pt/page.aspx?cid=mc.cp2 em 17 de Setembro de 2008.

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Mas o Palácio Real do Alfeite permaneceu sob a alçada do Almoxarifado, apesar da expropriação dos terrenos anexos e equipagem agrícola.284

Esta radical mudança foi alvo de comentário num periódico de 1912, em que o narrador descreve as alterações que tal decisão acarretou.285

Perante os resultados frustrantes que se vieram a revelar e perante a pressão exercida pelo clima político-económico, social e financeiro do país, é debatida em sede de Governo uma outra proposta no que diz respeito ao Alfeite, fazendo uso da extraordinária vertente de lazer existente.286

Proposta recusada como comprova a intervenção do Ministro do Fomento, Sr. Aurélio da Costa Ferreira,287 o que prolonga a agonia da experiência agronómica.288

283

Acta nº 127 da Câmara dos Deputados de 04 de Junho de 1912, consultada e retirada do site

http://debates.parlamento.pt/page.aspx?cid=mc.cp2 em 17 de Setembro de 2008: “…A quinta do Alfeite,

por decreto de 18 de Agosto, 30 de Setembro e 11 de Outubro de 1911, ficou pertencendo À Estação Agronómica de Lisboa,(…)”.

284 Carlos Malheiro DIAS, “Vicissitudes de uma Quinta Real: um passeio ao Alfeite” in Anais do Clube

Militar Naval, Lisboa, Clube Militar Naval, Janeiro-Março 1959, p. 128: “O Alfeite transformado em uma Escola Prática de Agricultura, ou o que quer que seja de semelhante, sem condição alguma para ensaios de culturas produtivas, e onde um pessoal diplomado se entretém a semear em terras de charneca centeio e milho à custa da nação, eis, certamente, uma extravagância que denuncia hábitos de esbanjamento pouco próprios de um regime que se quer fazer respeitar por normas de administração parcimoniosa.”

285

Carlos Malheiro DIAS, “Vicissitudes de uma Quinta Real: um passeio ao Alfeite” in O Dia, Lisboa, Abril 1912; Republicado “Anais do Clube Militar Naval”, Clube Militar Naval, Lisboa, Janeiro-Março 1959, p.127: “As laranjeiras do pomar tinham desaparecido. As videiras das ramadas tinham sido

arrancadas. Troncos de eucaliptos jaziam sobre as terras recém-lavradas e secas. … A vinha do Pagador desaparecera, como os laranjais. … Isto agora está tudo mudado. É tudo pessoal da direcção da Agricultura. Parece que fizeram da quinta uma Escola Prática. Temos um agrónomo, um regente agrícola, um silvicultor, um chefe de matas… Desde que era a Direcção-Geral da Agricultura que semeava milho e centeio no Alfeite e arrancava vinhas e os laranjais, não havia razão para estranheza….”

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Acta nº 127 da Câmara dos Deputados de 04 de Junho de 1912, consultada e retirada do site

http://debates.parlamento.pt/page.aspx?cid=mc.cp2 em 17 de Setembro de 2008: “No estado pouco

próspero da fazenda pública não é licito insistir em experiencias caras e de resultados reconhecidamente improfícuos”

A despesa anual conhecida pelo orçamento em discussão eleva-se a 3:364$000 réis, fora o cortejo de agrónomos, silvicultores, regentes agrícolas, etc., com os seus ordenados e respectivas ajudas de custo, e tudo isto para semear milho em areais (…)”.

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António Aurélio da Costa Ferreira (n. 1879 m. 1922). Formou-se na Faculdade de Filosofia em 1899 e na Faculdade de Medicina em 1905, ambas na Universidade de Coimbra. Foi vereador na Câmara Municipal de Lisboa entre 1908 e 1911, deputado por Setúbal nas eleições legislativas de 28 de Agosto de 1910, e director da Casa Pia em 1911. Assumiu a pasta do Fomento de 16 de Junho de 1912 a 4 de Janeiro 1913. Em 1914, criou, em Santa Isabel, o primeiro Instituto Médico-Pedagógico. Leccionou na Escola Normal de Lisboa entre 1915 e 1918. Foi sócio fundador da Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia. Partiu para Moçambique, para realizar estudos antropológicos e, sob influência de uma grave depressão nervosa, suicidou-se, em Lourenço Marques.

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Acta nº 140 da Câmara dos Deputados de 21 de Junho de 1912, consultada e retirada do site

http://debates.parlamento.pt/page.aspx?cid=mc.cp2 em 17 de Setembro de 2008: “Pelo que diz respeito

ao parque do Alfeite, …, creio que será melhor aproveitar o parque para uma estação agrária, porque, para recreação, temos nós terrenos á farta. Precisamos de aproveitar os terrenos para uma boa e eficaz

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Em 1913, regulamentou-se por lei sobre o Posto Agrário do Alfeite, apesar do evidente falhanço da experiência agrícola nos terrenos do Alfeite. 289

Esta proposta pretendia regulamentar, nos seus artigos 187º e 188º, o quadro de pessoal que pertenceria ao Palácio e Quinta do Alfeite.290

A experiência agrícola levada a cabo no Alfeite só terminará com a viabilização da opção de implementar nesse local o Arsenal da Marinha, actualmente o Arsenal do Alfeite.

O descerrar deste processo permite que a Marinha tome posse gradualmente do Palácio Real do Alfeite e propriedades anexas, consoante a magnitude do projecto foi crescendo.

II.1.3.2. Marinha

Assim, em 1918, o Palácio Real do Alfeite é transferido para a posse da Marinha, na sequência do processo de instalação do Arsenal na margem sul do Tejo, procurando dar corpo a antigos projectos e estudos, e perante a necessidade de desocupar a Ribeira das Naus do antigo Arsenal da Marinha.

Nesse sentido, foi criada a Junta Autónoma para a construção do Arsenal, que teve como primeiro presidente o Contra-Almirante António Torquato Borja Araújo.