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Considerações éticas

No documento Telessaúde e Demências (páginas 35-40)

O presente estudo foi autorizado pela Comissão de Ética do CHUCB (anexo 1). Durante a sua realização foram respeitados os princípios éticos e legais. Os questionários são anónimos e foi pedido a todos os participantes a leitura e assinatura do formulário de consentimento informado. A informação recolhida não é do tipo ideológico, político, sexual ou íntimo, por isso considera-se que não representa qualquer risco, físico ou mental para os entrevistados.

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Resultados

Esta dissertação contém um questionário com questões de Telessaúde que foca especialmente 3 subtipos (sob o ponto de vista de serviço oferecido): Teleconsulta, Telemonitorização e Teleformação. As próximas subsecções são um resumo dos conceitos e ideias pertinentes encontradas na literatura sobre estas modalidades de Telessaúde. Depois são descritos os resultados das respostas aos questionários dos profissionais de saúde e dos Cuidadores.

A Teleconsulta

A Teleconsulta é uma consulta realizada à distância com recurso às tecnologias de informação. A Plataforma de Dados de Saúde Live (PDS Live), é o sistema disponível no SClínico para a realização de Teleconsultas em tempo real com recurso ao vídeo e possibilidade de partilha de informação (por exemplo imagens e resultados de exame) em contexto clínico. (4) A Teleconsulta e utilização de PDS Live é facilitada pelo Registo de Saúde Eletrónico (RSE). Este agrega os contactos do cidadão com o sistema de saúde, acessível ao próprio, tal como aos profissionais de saúde e entidades prestadoras de serviços de saúde envolvidas nos seus cuidados. Possibilita uma gestão da saúde com maior qualidade, segurança e eficiência. (4)

Isto não significa que estas ferramentas estejam a ser usadas no seu potencial máximo. De acordo com o “Inquérito nacional aos serviços de saúde envolvidos na prestação de cuidados a pessoas com Demência” (17), apenas um dos serviços hospitalares menciona uma consulta conjunta das especialidades de Neurologia e Psiquiatria, ainda que muitas das instituições tenham uma consulta específica para Demências. Isto é, as consultas que tratam de Demências continuam na sua maioria a ser presenciais e unidisciplinares.

“Perante a suspeita de défice cognitivo ou Demência, 88,9 % dos serviços participantes no inquérito referenciaria preferencialmente para Neurologia e 7,7 % para Psiquiatria”. (17) E o tempo de espera pode ser um fator decisivo para decidir entre uma e outra especialidade. Para isso podemos consultar o Tempo Médio de Espera dum determinado hospital para uma determinada especialidade. As figuras 3 e 4 representam o tempo médio de espera para as consultas de Neurologia e Psiquiatria, respetivamente, pedidas pelos cuidados de saúde primários e entidades externas (consultado em abril de 2019). O Tempo Máximo de Resposta Garantido (TMRG) para a triagem “Prioritário” deverá ser no máximo de 60 dias e para a triagem “Normal” de 150 dias. (18)

15 Figura 3 - Tempo médio de espera para a consulta de Neurologia no CHUCB (18)

O tempo de resposta para a consulta Normal de Neurologia do CHUCB é superior ao recomendado.

Figura 4 - Tempo Médio de Espera pela Consulta de Psiquiatria no CHUCB (18)

Já para a especialidade de Psiquiatria, a consulta demora menos de metade do tempo de espera recomendado.

Existem muitos utentes a precisar de rastreio cognitivo por sintomas compatíveis com algum Síndrome Demencial. E estudos comprovam que “remote assessment with standard Mini

Mental State Examination and Geriatric Depression Scale using Tele-Health methods yielded similar results to direct assessments”. (19) Por comparação com outras especialidades, na

maior parte das vezes uma consulta de Neurologia necessita de pouco exame físico, especialmente após uma primeira consulta. Sendo assim, o follow-up de Neurologia é uma consulta que pode ser bastante adaptável a uma Teleconsulta. (19)

A Telemonitorização

“Todos os utentes na sala de operações cirúrgicas, na unidade de terapia intensiva cardiológica e no departamento de reanimação são normalmente monitorizados por dispositivos médicos eletrónicos que verificam em tempo real parâmetros vitais, tais como: tensão arterial, frequência cardíaca, frequência respiratória, glicemia, oximetria, entre outros. Com todos os utentes monitorizados e a telemetria visível dentro duma única sala, pode-se reduzir o número de profissionais de saúde a cuidar dos utentes.” (6) Este princípio

16 de atuação dentro duma UCI pode e já é aplicada em doenças crónicas e geríveis no domicílio. Tem como propósito a deteção de sinais e sintomas precoces de descompensação, proporcionando uma oportunidade de intervenção antes de o utente necessitar de hospitalização. (4)

Assim, os utentes afetados pela doença de Alzheimer que estão a maior parte do seu tempo sozinhos, quer no próprio domicílio quer em lares (institucionalizados), beneficiam não só de monitorização dos parâmetros vitais, mas também de videomonitorização para evidenciar comportamentos incorretos ou perigosos. (6)

A introdução de novas tecnologias num local onde residem idosos pode estar associada ao preconceito de que a tecnologia elimina o “fator humano” do serviço. Isto é particularmente frequente quando a tecnologia está implícita em serviços de saúde ou sociais. “Assistive

technology can never replace human contact and interaction and it should never be used for this purpose. Doing so may lead to feelings of isolation and loneliness for the person with dementia. It is also important to be aware that assistive technology will not eliminate risk. It can only assist people in improving their safety and wellbeing, not provide perfect solutions.” (20) A tecnologia permite fazer uma melhor gestão de recursos, ao alertar quando e onde é necessário o fator humano, em vez de visitas de rotina diárias pré- programadas e muitas vezes desnecessárias. Esta gestão de recursos passa por articulação duma estratégia conjunta entre Polícia, Bombeiros, Serviços de Saúde. (21) Ao ajudar na segurança e na monitorização direcionam o contacto humano para a vertente preventiva em vez de interventiva das situações agudas e subagudas (que passam a ser triadas com mais celeridade), o que não substituí o contato mas sim modifica-o.

Infelizmente o processo demencial vai escalando. Existem aproximadamente 800.000 pessoas com Demência no Reino Unido, e muitas delas irão chegar a um estadio de doença que não estarão seguras a viver em suas casas, e terão que ser acomodadas em Lares. A pensar nisto, em 2009, Inglaterra desenvolveu um Estratégia Nacional para a Demência – “Living Well with

Dementia” - que ajuda as pessoas com Demência a manter a sua independência e a qualidade

de vida na própria casa. Isto permite que em estadios mais iniciais, a independência não seja perdida “à força” por se mudarem para uma instituição. (22) Os sensores tanto podem servir para assegurar a independência do utente por mais tempo como para reduzir a carga de preocupação da família ou dos Cuidadores informais. Têm o potencial para reduzir admissões hospitalares desnecessárias ou a mudança precoce para uma instituição. (22)

Na tabela seguinte é feita uma breve descrição dos meios de Telemonitorização evidenciados na parte 3 do questionário desta dissertação. Segundo Kerr, Cunningham, & Martin, este conjunto de sensores possuem características que podem ajudar os utentes com Demência (e não só).

17 Tabela 2 - Sensores que constam das opções de resposta da pergunta sobre Telemonitorização em ambos os questionários (23)

Sensor Uso Pendente com

botão

Pedir ajuda ao pressionar o botão que tem num pendente à volta do pescoço. É acionado o serviço de assistência ao qual está conectado. Sensor de

enurese

Alertar Cuidadores, formais ou informais, para um episódio de incontinência. Permite estudar padrões de micção para prevenir novos episódios de incontinência. Promove o cuidado da pele e preserva a dignidade individual. Ajuda na prevenção de infeções urinárias de recorrência, uma das causas mais frequentes de choque séptico no idoso.

Sensor de abertura de

portas

Sensores de contato ou infravermelhos que alertam para a abertura de porta, diminuindo o risco de ficar perdido porque permite atuação imediata. Sensores de temperatura, monóxido de carbono, fumo e inundação

Detetam níveis perigosos destes parâmetros na divisão em que estão implementados, o que alerta um sistema que desliga automaticamente estas fontes de perigo.

Dispensa de medicação

Alarme que dispara quando a medicação não é tomada à mesma hora todos os dias. Este aviso pode estar incorporado num smart watch. Sensor de queda Deve ser colocado na roupa do utente todos os dias, e é ativado quando

existe uma mudança gravitacional brusca.

Para além dos sensores mencionados, também existem os sensores de sinais vitais. já usados no contexto de outras patologias, que podem ser comorbilidades destes utentes.

Estes sensores não são uma alternativa ao cuidado direto de profissionais e Cuidadores, mas sim uma ajuda ao seu trabalho, pois têm o potencial de reduzir visitas “de rotina” não necessárias naquele momento ou consultas “de rotina” quando a doença está estável e controlada. No entanto, “Research confirm that many carers are unaware of the availability

of telecare. Simple solutions can provide a great sense of relief to family members and carers.” (23) A sensação de segurança é dada pelo aumento da autonomia de utentes e

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A Teleformação

A Teleformação é uma aula/tutoria/workshop realizada à distância, e permite a capacitação dos profissionais e famílias (Cuidadores informais). (4) Os conhecimentos em saúde mudam rapidamente e fornecer saúde com base na melhor evidência científica requer padronização de conduta dos profissionais de saúde. (6) A resposta por meio de seminários presenciais com créditos para os profissionais de saúde/participantes certificando o sucesso de aprendizagem: a) desloca fisicamente profissionais de saúde e desvia-os das atividades diárias; b) sobretudo em países de grande extensão territorial, é muito dispendioso porque tem que se disponibilizar transportes, acomodações e seguros; c) requer recursos humanos para uma logística bem coordenada. O uso de televideoconferência dirigida para uma lista de destinatários ou também de acesso em streaming online evita a deslocação, sendo barata e tecnicamente fácil. (6)

No documento Telessaúde e Demências (páginas 35-40)

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