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CONSIDERAÇÕES ACERCA DA METODOLOGIA UTILIZADA

Esta pesquisa tem como norte metodológico as narrativas discursivas, complementada pela análise de texto, não obstante, tratar-se-á de levar em consideração a afirmação de Bourdieu – o que não significa alinhar-se com a sua perspectiva metodológica - em quanto:

Descobrir no decorrer da própria atividade científica, incessantemente confrontada com o erro, as condições nas quais é possível tirar o verdadeiro do falso, passando de um conhecimento menos verdadeiro a um conhecimento mais verdadeiro (BOURDIEU, 2004, p. 17)

É uma pesquisa qualitativa porque acreditamos que a metodologia da narrativa será adequada pelo seu caráter de corte qualitativo.

A narrativa procede etimologicamente do latim narratio, tratando-se da ação e efeito de narrar, ou seja, contar uma história verídica ou fictícia, e tem como personagem principal o narrador.

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No original: “modo en que se infunde e interpreta la información actúa sobre las representaciones y constituye un elemento central en la construcción de miradas e imágenes de la sociedad, en la configuración de interpretaciones legitimadas y en la expresión del juego de las diferencias entre diversos actores sociales. Ello incide en la sensación de inseguridad y en la construcción de respuestas”.

Por sua parte, o texto narrativo, é “una cadena de acontecimientos, en relación

de causa-efecto, que tiene lugar en un tiempo y un espacio” (CARMONA; RAMÓN, 2010, p. 186).

Todo texto narrativo articula uma história, considerada como uma cadeia de acontecimentos e indivíduos implicados no relato, e um discurso, ou seja, por onde se expressa ou se comunica o conteúdo, o relato.

O relato, por sua parte, faz referência explícita ao discurso, é o enunciado atualizado, neste caso, pelo telejornal, considerado em sua totalidade, e que apresenta um começo, uma sequência temporal de acontecimentos e um final, que aparece por um sujeito empírico da enunciação, autor de um enunciado-relato e um espectador modelo capaz de atualizá-lo mediante a cooperação interpretativa.

Tendo como norte orientador o pensamento de Mason (1996), acredita-se que a pesquisa qualitativa e a perspectiva das narrativas se correspondem nos seguintes aspectos: fundamentam-se em uma posição filosófica que é amplamente interpretativa no sentido em que se interessam nas formas em que o mundo social é interpretado, compreendido, experimentado e produzido, se sustentam em métodos de análise e explicação que abrangem a compreensão da complexidade, o detalhe e o contexto. Também são compatíveis porque a sua solidez se encontra em um conhecimento que se especializa na informação da dinâmica dos processos sociais, da mudança e do contexto social, como também em sua habilidade para contestar o como? e o porquê?

Não se pode deixar de salientar que a pesquisa qualitativa valoriza a importância da construção do mundo social desde que emprega dados ―naturais‖ para localizar as sequências interacionais - o como - nas quais se desenvolvem os significados dos participantes - o que -.

Para Marshall e Rossman (1999, p. 2-8), a pesquisa qualitativa, além de ser interpretativa, está assentada na experiência das pessoas, igualmente como as narrativas. Por tal motivo, o processo de investigação supõe a imersão na vida cotidiana da situação selecionada para estudar, e como descritiva e analítica, privilegia as palavras das pessoas e seu comportamento observável como dato primário, permitindo explorar não só a linguagem, mas também os significados culturais. (VASILACHIS DE GIALDINO, 2009, p. 25-28).

Por outro lado, a investigação qualitativa analisa o conhecimento dos atores sociais e suas práticas e leva em conta que os pontos de vista e as práticas são diferentes devido às diferentes perspectivas subjetivas e aos dissímiles conhecimentos sociais

vinculados com elas. A investigação qualitativa privilegia a profundidade sobre a extensão na interpretação das experiências vitais.

A pesquisa qualitativa se interessa pela forma em que o mundo é compreendido, experimentado e produzido, pelo contexto e pela perspectiva dos participantes, pelos seus sentidos e seus significados, por seus relatos e sua experiência vital e biográfica, tenta fazer o caso individual significativo no contexto da teoria, esta focalizada na prática real, situada.

A pesquisa qualitativa se fundamenta:

[...] na comunicação, na coleção de histórias, narrativas e descrições das experiências dos outros. Essas experiências e perspectivas subjetivas não devem, contudo, ser analisados isoladamente da organização social. (MORSE, 2005c, p. 859 apud VASILACHIS DE GIALDINO, 2009, p. 31, tradução nossa).35

Como assinala Atkinson (2005), as narrativas, neste caso o telejornal, como gênero de ação e de representação verbal na vida cotidiana, devem ser consideradas como instâncias da ação social, como atos de fala ou sucessos com propriedades comuns, estruturas recorrentes, convenções culturais e gêneros reconhecíveis. As histórias apresentadas nos telejornais como fatos, ocorrências, são formas da ação social com sentido, construídas em circunstâncias concretas, cuja realização tem lugar em determinados contextos e que ocupam um lugar relevante entre as diversas formas nas que se desenvolve a vida cotidiana.

Este trabalho propõe-se compreender o contexto particular no qual os participantes atuam e a influência que tal contexto exerce sobre suas ações, como também compreender os processos pelos quais os sucessos e as ações têm lugar.

Acreditamos que a pesquisa qualitativa é especificamente relevante para o estudo das relações sociais em um momento como o atual, caraterizado por uma mudança social rápida e constante, vinculado à diversificação e à pluralidade de mundos da vida, com representações discursivas discordantes e múltiplas, de seus conflitos ligados com a mudança e/ou com a ordem social e, portanto, com a possibilidade de que determinados atores sejam motores dessa mudança, no caso concreto, a mídia televisiva e os telejornais com seus discursos e representações sociais.

35No original: ―en la comunicación, en la recolección de historias, narrativas y descripciones de las

experiencias de otros. Esas experiencias y perspectivas subjetivas no deben, sin embargo, analizarse de manera aislada respecto de la organización social”.

Também acredita-se que a investigação qualitativa, ao interessar-se pelas pessoas, por suas perspectivas subjetivas e experiências, por suas ações, interpretando- as de forma situada e colocando-as no contexto social e particular em que têm lugar, é uma ótima parceira para a metodologia das narrativas.

Esta parceria na presente pesquisa de trabalho se acrescenta desde o momento em que Silverman (2000, p. 8) robustece-a ao afirmar que a investigação qualitativa prefere a “análisis de las palabras y de las imágenes antes que el de los números [y]

privilegia los significados antes que el comportamiento” (VASILACHIS DE

GIALDINO, 2009, p. 34), permitindo experimentar o mundo de maneira similar à dos participantes, em outras palavras, caminhar com seus sapatos, tratando de manter a distância analítica a fim de analisar criticamente a situação, devendo ter presente que seus valores, crenças, desejos, expectativas, influem na percepção e na construção da realidade que estuda, por quanto é necessário guardar a máxima weberiana da neutralidade valorativa. Portanto, os pressupostos a serem mantidos têm a ver com a natureza da realidade (o ontológico), pois a realidade é construída desde os meios de comunicação, a relação do sujeito que investiga com o que está sendo estudado (o epistemológico), pois aqui se tratará de minimizar a distância entre mim como investigador e quem forma parte da minha pesquisa. O papel dos valores na investigação (o axiológico) é reconhecer a influência dos próprios valores no processo de pesquisa e, por último, o processo de investigação (o metodológico) significa trabalhar indutivamente.

Foi selecionado este método pela sua menor rigidez no planejamento, já que este vai se adequando e consolidando enquanto a pesquisa vai sendo construída. Também, porque, além de conhecer o tema, permite aprofundar as questões tratadas, a fim de clarificar os conceitos (GOULART, 1996, p. 163) e as relações entre os meios de comunicação e a representação social dos menores.