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Considerações acerca do estado civil e alfabetização dos nubentes

Capítulo IV – A questão dos casamentos: pluralidade étnica e integração

1.5 Considerações acerca do estado civil e alfabetização dos nubentes

Em que medida os pais tentavam controlar os casamentos dos seus filhos, para terem genros e noras do mesmo grupo? Para aqueles imigrantes solteiros, que vieram sem os pais (geralmente homens), este controle era mais complicado, visto que, do país de origem, dificilmente os pais controlariam seus casamentos aqui no Brasil.

Apesar de já termos explorado, em alguma medida, os dados referentes ao estado civil dos nubentes na análise acerca da idade média dos nubentes ao casar e ocupação do noivo, faremos agora uma apresentação mais detalhada do estado conjugal dos nubentes em relação ao local de moradia.

No município de São Carlos, a grande maioria das uniões ocorria obviamente entre pessoas solteiras. Na tabela abaixo apresentamos a razão entre o número observado e o número esperado dos casamentos segundo o estado civil dos nubentes.

Tabela 22

Distribuição da razão entre o número observado e o número esperado de casamentos segundo o estado civil dos nubentes. São Carlos, 1890 a 1939.

Estado civil da noiva

Estado civil do noivo solteira viúva Total

solteiro 2533 (1,0) 59 (0,4) 2592

viúvo 122 (0,6) 82 (7,9) 204

Total 2655 141 2796

Fonte: Fundação Pró-Memória da Prefeitura de São Carlos. Habilitações de Casamentos, 1890 a 1939.

Obs: a razão está entre parênteses

Na diagonal da Tabela 22 estão os casamentos homogâmicos. Há que ser ressaltado porém, que a razão notada para os re-casamentos é bem maior do que a notada para os casamentos entre solteiros, o que demonstra uma maior propensão à homogamia entre os nubentes viúvos do município de São Carlos.

No entanto, um outro fato interessante de se analisar nos chama a atenção nesta tabela 28, a saber aquela relativa aos re-casamentos de homens viúvos com mulheres solteiras e vice-versa. De acordo com as razões apresentadas nesta tabela,

notamos uma maior propensão dos homens viúvos se re-casarem com mulheres solteiras do que o contrário.

Segundo o local de moradia podemos afirmar que a homogamia continua presente tanto entre os solteiros como entre os viúvos, porém, no meio urbano (em comparação com o meio rural) temos uma propensão maior de homens viúvos e mulheres viúvas se casarem com mulheres e homens solteiros. Portanto, o meio urbano, pela intensidade e diversidade de relações que possibilita entre os diferentes indivíduos, parece favorecer a ocorrência de casamentos entre indivíduos de estado civil diferentes.

Ao longo das décadas notamos que a razão para os homens viúvos que se re- casaram com mulheres solteiras variou entre 0,6 e 0,7, sendo que a maior razão foi notada na segunda e terceira décadas, com 0,7 em cada uma. Já para as mulheres viúvas que se re-casaram com homens solteiros a razão variou entre 0,4 e 0,6, notando que a variação ocorreu na segunda e terceira décadas do período, em 0,6 e 0,5, respectivamente. Portanto, os viúvos possuem maior oportunidade de se re-casarem com mulheres solteiras do que mulheres viúvas se re-casarem com homens solteiros.

Bassanezi (1988) também notou esta mesma tendência em seu estudo sobre os casamentos na fazenda Santa Gertrudes (hoje um município próximo a Rio Claro – SP). Aliás esta é uma tendência, segundo Segalen (citado por Bassanezi), tanto no Brasil como em outros países do mundo.

Para finalizarmos este item, faremos uma exposição do conjunto de dados referentes à instrução dos nubentes. Porém, antes de iniciarmos a exploração dos casos com dados válidos para esta variável é bom salientarmos que a maioria das assinaturas de ambos os nubentes não é firme e nítida e isso, em certa medida, pode indicar que muitas daquelas pessoas que foram classificadas como alfabetizadas poderiam apenas saber desenhar o próprio nome e nada mais. Por isso, toda vez que falarmos em

indivíduos alfabetizados estaremos nos referindo àquele conjunto de pessoas que pelo menos souberam assinar o nome e não necessariamente aquelas que, efetivamente, soubessem ler e escrever fluentemente na língua portuguesa. A tabela 23 nos indica a porcentagem de nubentes alfabetizados em toda a amostra segundo as diferentes nacionalidades.

Tabela 23

Porcentagem de nubentes alfabetizados segundo a nacionalidade. São Carlos, 1890 a 1939.

Nacionalidade do noivo

Instrução brasileira italiana portuguesa espanhola outras Total

noivo alfabetizado 73,7% (1659) 58,7% (571) 57,5% (134) 62,2% (98) 81,4% (59) 69,1% (2521) noiva alfabetizada 49,3% (1830) 24,4% (438) 19,5% (77) 16,0% (94) 52,2% (46) 42,8% (2485)

Fonte: Fundação Pró-Memória da Prefeitura de São Carlos.Habilitações de Casamentos, 1890 a 1939. Obs: o denominador está entre parênteses.

Esta tabela nos indica que entre os noivos estrangeiros, aqueles de outras nacionalidades são os mais alfabetizados, sendo este grupo seguido pelos espanhóis, italianos e portugueses. É interessante notarmos aqui a alta porcentagem de noivos espanhóis alfabetizados, visto que a historiografia sobre imigração sempre nos apontou que, entre os estrangeiros, os espanhóis eram os que possuíam as menores porcentagens de alfabetizados (Klein, 1989). Já entre as noivas estrangeiras, aquelas de outras nacionalidades são as mais alfabetizadas, vindo em seguida as italianas, portuguesas e as espanholas. A maior diferença de alfabetizados pertencentes a uma mesma nacionalidade é observada para os nubentes espanhóis.

Vejamos agora como nubentes alfabetizados e analfabetos se comportam nas escolhas matrimoniais do período na tabela 24.

Tabela 24

Número de casamentos segundo a alfabetização dos nubentes e as décadas do período. São Carlos, 1890 a 1939.

Alfabetização da noiva

Décadas do período Alfabetização do noivo não sim Total

1890 – 1899 não 210 (1,2) 29 (0,4) 239 sim 155 (0,7) 132 (1,5) 287 Total 365 161 526 1900 – 1909 não 218 (1,3) 18 ( 0,3) 236 sim 139 (0,7) 122 (1,6) 261 Total 357 140 497 1910 - 1919 não 198 (1,3) 15 (0,2) 213 sim 183 (0,8) 144 (1,5) 327 Total 381 159 540 1920 – 1929 não 125 (1,6) 18 (0,3) 143 sim 209 (0,8) 265 (1,2) 474 Total 334 283 617 1930 - 1939 não 32 (2,4) 15 (0,4) 47 sim 129 (0,8) 385 (1,0) 514 Total 161 400 561

Fonte: Fundação Pró-Memória da Prefeitura de São Carlos. Habilitações de Casamentos, 1890 a 1939. Obs: a razão entre o número observado e o número esperado está entre parênteses.

As razões apresentadas na tabela 24 nos indicam que os casamentos de indivíduos analfabetos tendem a ser, ao longo das décadas, crescentemente endogâmicos, especialmente nas duas últimas. Já os nubentes alfabetizados também possuem uma tendência endogâmica, porém declinante nas duas últimas décadas, em relação as três primeiras.

Mesmo com as razões para casamentos entre alfabetizados e analfabetos (homem e mulher) estarem indicando certa repulsa, gostaríamos de chamar a atenção para um fato. De modo geral, notamos que, em relação à mulher alfabetizada, o homem alfabetizado se casa mais com mulher analfabeta ao longo de todas as décadas do que o contrário, ou seja, mulher alfabetizada se casar com homem analfabeto. Portanto, a mulher alfabetizada, parece ser mais restritiva que o homem alfabetizado no momento de se casar.